Nesse vídeo, vou encerrar a série do Manual do
Ditador. Já falei sobre todos os capítulos do livro, mas ficou pendente uma
parte do Tropico 5 para mostrar. Por isso, resolvi fazer esse vídeo extra para
resumir o livro em um único vídeo.
A ideia básica dos autores, Bruce Bueno de Mesquita
e Alastair Smith, é que os políticos, independente de partido, ideologia, época
da história, de estar em uma democracia ou em uma autocracia, querem alcançar o
poder e lá se manterem. É uma ideia simples, talvez até demais, só que parece
que muitas pessoas se esquecem disso.
Partindo disso, temos a classificação das pessoas
entre intercambiáveis, influentes e essenciais, também chamada de coalizão
vencedora. Os intercambiáveis são aqueles que têm algum poder nominal de
selecionar o líder. Os influentes aqueles que efetivamente exercem esse poder e
os essenciais aqueles cujo apoio é necessário para o líder. O comportamento do
líder e as políticas que ele adota vão depender do tamanho relativo desses três
grupos.
Por exemplo, em autocracias, a coalizão vencedora é
pequena, de forma que o líder precisa comprar o apoio de pouca gente para se
manter no poder. Assim, ele só precisa manter seus poucos apoiadores essenciais
felizes, manter o exército feliz que poderá se manter no poder por muito e
muito tempo. Essa é basicamente a receita de sucesso de ditadores de longa
data, alguns sem nenhum estudo prévio de política.
Democracias, por outro lado, se caracterizam como
uma coalizão vencedora grande, sendo muito caro comprar o apoio de todo mundo
individualmente. Nesse caso, suborno descarado não funciona e o líder precisa
de outra estratégia para alcançar e manter o poder.
O líder precisa arrecadar dinheiro para poder
gastar na compra de apoio. Por isso, uma das medidas mais urgentes para um novo
ditador é encontrar onde o dinheiro do estado está para poder gastar na compra
do apoio da coalizão vencedora antes que ele seja removido do poder, sendo que
muitos ditadores têm vida curta (política e fisicamente) por conta da demora em
chegar ao dinheiro, mas, uma vez lá, costumam ser longevos. O dinheiro pode vir
de muitas formas, a mais comum via impostos, o que requer um povo produtivo para
movimentar a economia. Porem, pode vir via ajuda externa ou recursos naturais,
temas a serem explorados mais adiante.
Na parte do gasto, o líder pode investir em bens
públicos ou em bens privados. O primeiro tipo beneficia a população como um
todo enquanto que o segundo tipo beneficia apenas os recebedores diretos dos
bens privados. Pode chamar de corrupção o gasto em bens privados. No que o
líder vai gastar depende do tamanho da coalizão vencedora, bens privados sendo
mais efetivos quando é necessário comprar o apoio de pouca gente e os bens
públicos mais efetivos quando é necessário comprar o apoio de muita gente. Um
segundo ponto é que alguns bens públicos são necessários para a produtividade
da economia, não apenas estradas e infraestrutura, mas bens intangíveis como
liberdade de imprensa, de expressão e de associação. Essas liberdades acabam
restringindo o que o líder pode ou não fazer, por isso que ditadores tentam
coibi-las e proto-ditadores começam a pavimentar o caminho da servidão
controlando a imprensa, atacado a liberdade de expressão e os meios de
comunicação.
Ajuda externa é uma maneira do autocrata se manter
no poder sem precisar da ajuda de seu povo. O país doador de ajuda externa o
faz por conta de objetivos de política externa, como manter fiel um aliado em
guerra, como na Guerra Fria. Outro exemplo é obter apoio político, como no caso
de países membros do Conselho de Segurança da ONU, que veem um aumento na ajuda
externa quando são escolhidos para ocupar esse posto. Ou ainda ajuda externa
como política comercial para contornar leis antiprotecionistas. Outra opção é
ajuda humanitária de governos, ONGs ou mesmo pessoas, esse dinheiro sendo
desviado para o ditador e seus compadres ou os bens vendidos no mercado negro,
se for esse o caso. De todo modo, essa ajuda externa auxilia o ditador do país
e prejudica o seu povo.
Recursos naturais são outra maneira do ditador
governar sem precisar que o povo trabalhe para ele, uma vez que é dinheiro
fácil com pouco investimento sendo necessário. Se quiser, o ditador pode
terceirizar completamente a exploração de recursos naturais, não precisando do
povo para nada. Isso torna uma mudança de regime muito complicada, seja por uma
revolta interna, seja por ação externa.
O exército desempenha um papel fundamental na
manutenção do poder. Afinal, são os militares que suprimem revoltas populares
que podem vir a surgir. Dessa forma, para evitar um levante, o ditador precisa
comprar o apoio dos militares e dificultar que os cidadãos se comuniquem e se
organizem politicamente, além de manter a coalizão vencedora leal. Se isso não
for possível, o ditador pode ter que abrir o regime para evitar ser morto ou
perder o poder, sendo possível democratizar o país sem necessariamente deixar o
poder.
Esse é um resumo básico do Manual do Ditador. Vou
falar agora sobre a sua relação com o Tropico 5, ou com a série Tropico em
geral. Pelo menos no modo campanha, que foi o que joguei, jogo precisa ser uma
mistura de ditador com democrata, sendo que o segundo ponto é bem forte. Você
precisa ganhar eleições e precisa atender os anseios da sociedade. Claro que
você pode comprar o apoio subornando as pessoas, mas, diferente da vida real,
isso pode ser feito sem maiores consequências e não é tão caro assim. No fim,
você precisa agir como um populista.
Dinheiro é importantíssimo, então você precisa se
preocupar com a produtividade do povo, assim como os ditadores de verdade. O
país tem recursos naturais, mas não tão abundantes que você possa depender
exclusivamente deles. Na parte de ser um ditador, você pode emitir algumas leis
e constituições que restringem a liberdade, você pode mandar o exército
reprimir protestantes ou grevistas, mas na verdade eu senti falta de ser um
ditador cruel nesse jogo.
Não sei qual o impacto de comprar o apoio dos
líderes das facções, mas seria interessante se eles tivessem maior influência
sobre o apoio que você recebe, coisa que não senti no jogo. Dessa forma, eles
seriam a sua coalização vencedora e você precisaria manter eles contentes para
se manter no poder. Na parte dos militares, essa é uma boa dica do livro, o
ditador tendo que manter os militares felizes para evitar golpes militares e
ter a ajuda deles para não ser derrubado por uma revolta. Porém, isso não ajuda
a ganhar eleições.
El Presidente recebe ajuda externa, e o segredo
aqui é jogar com todos os lados para receber ajuda de todo mundo. Por isso que
não fiz questão de fazer aliança com os Estados Unidos, porque dai eu deixaria
de receber ajuda externa da União Soviética e não sei se os Estados Unidos
compensariam isso.
No fim, temos alguns pontos em comum entre o Manual
do Ditador e o Trópico, a combinação sendo boa, porém, não perfeita. Então, uma
boa dica de leitura para quem gosta do Tropico é o Dictator’s Handbook, que não
tem em português ainda.