A Batalha de Alésia foi o confronto definitivo da
Campanha da Gália de Júlio César, campanha militar que aumentaria o prestígio
de César e sedimentaria seu caminho rumo à soberania em Roma. Além de comandar
as tropas, César ainda seria o cronista de sua campanha, a principal fonte de
informações e único relato presencial sendo do próprio César. Eram três os
elementos de poder em Roma, dinheiro, patronato e lealdade de legiões, e César
adicionaria um quarto elemento: escrever a sua própria versão da história.
Iniciada em 58 a.c., a campanha da Gália objetivava
dominar um dos mais temíveis inimigos de Roma na época, os gauleses, que alguns
séculos antes tinham saqueado Roma. Júlio César precisava pacificar a região e
reforçar o domínio romano, tendo que lidar com diversas rebeliões, a mais forte
começando em 53 a.c. Os Arvenos, uma
tribo gaulesa que vivia na região que hoje é a Auvérnia se rebelaram contra
Roma liderados pelo carismático Vercingetórix e ameaçaram seriamente o domínio
romano na região.
O que deve ser ressaltado é que não podemos falar
em gauleses de forma tão abrangente, uma vez que na verdade são várias tribos
que viviam na mesma região. Os gauleses compartilhavam uma mesma cultura e
língua, mas eram divididos em diversas tribos com uma predileção para o caos,
não para a organização. As tribos se encontravam em diferentes graus de
urbanização e de desenvolvimento social, de forma que qualquer classificação
dos gauleses era excessivamente simplificadora. A única esperança de vitória
dos gauleses era uma aliança pã-gaélica e foi o que Vercingetórix procurou
fazer. A brutalidade do domínio romano foi um dos catalisadores para essa união
e muitas tribos fizeram aliança com Vercingetórix, inclusive tribos que César
considerava aliadas dele.
César classificava como três os povos da Gália,
belgas, aquitanios e gauleses, ou celtas na língua local. Coletivamente, eram
conhecidas como Gália Comata, a parte da Gália livre do domínio romano, a área
sob domínio de Roma sendo conhecida como Província. A Gália Comata também era
conhecida como Gália Cisalpina, tinha como fronteira o rio Rubicão, que ficaria
famoso na história romana em um episódio que não será analisado aqui. A Gália
Transalpina, sob domínio romano, era importante do ponto de vista econômico por
ser uma rota terrestre para a Ibéria, onde Roma tinha grande influência. A
ameaça de tribos gaulesas e germânicas forçaria Roma a agir e seguir por
território não explorado.
César se aproveitaria da situação para fomentar o
medo contra os germânicos, que quase invadiram Roma algumas décadas atrás, e os
gauleses, que o fizeram séculos atrás. A Gália era um alvo bem atrativo para
César, que justificava a campanha como um ataque preventivo para que a região
não fosse tomada por raças guerreiras cruzando o Reno. César, na verdade,
estava de olho em glória e butim para sustentar a sua carreira política e
militar.
Os gauleses eram temidos pelos romanos por serem um
povo eminentemente guerreiro que lutava de forma indisciplinada e feroz, o que
os assustava. E caberia a César domar essa fera. Em 58 a.c., César criaria duas
legiões e sairia de Roma com seis legiões para enfrentar os helvécios, que
estavam migrando em massa para o que hoje é Saintonge, no sudoeste da Gália e
eram vistos como uma ameaça para a Província. Essa migração em massa abria
espaço para que o território antes ocupados pelos helvécios fosse ocupado pelos
germânicos e criou o argumento de César de que se a Gália não fosse tomada
pelos romanos seria invadida pelos germânicos. César derrotaria os helvécios,
mas esse seria apenas o começo da campanha da Gália que envolveria enfrentar
germânicos e gauleses.
Os detalhes sobre o que aconteceu entre 58 a.c. e
52 a.c. requerem uma série só para isso. O que importa para esse vídeo é que
César passou a enfrentar a rebelião de diversas tribos gaulesas sob o comando
de Vercingetórix, havendo confrontos em Avárico e Gergóvia, até o confronto
definitivo em Alésia
Comandantes
Opostos
De um lado, tínhamos Júlio César, futuro imperador
romano. Do outro, Vercingetórix, de quem pouco sabemos devido à sua curta
carreira como líder e à tradição dos gauleses de transmitir oralmente a
história. Possuímos bem mais informações de César até pelo fato de ele ter
escrito a sua própria versão da história, como mencionado.
Eis o que sabemos de Vercingetórix. O pai dele, Celtill,
tentou se declarar rei e acabou sendo morto por seus compatriotas, a tribo
tendo abandonado a soberania hereditária e adotado a eleição de seus líderes. César
pintou Vercingetórix como tendo ambições de ser rei e o filho de Celtill era
uma espécie de pária em sua tribo e tendo como única escapatória se rebelar
contra Roma. Para isso, recrutaria jovens guerreiros de diversas tribos
gaulesas para a sua causa. Vercingetórix era um líder carismático e, ao
contrário dos demais gauleses, metódico e não se deixava levar pelas emoções,
além de ser um bom estrategista militar. Com tudo isso, seria um adversário à
altura para César. E após a vitória em Gergóvia, Vercingetórix seria eleito
líder supremo das forças rebeldes.
César, por sua vez, tinha todas as qualidades
necessárias para ser um senhor da guerra, sendo um líder inspirador, bom
general, lutador experiente e tendo a indispensável indiferença moral para ser
um conquistador. Era apto física e mentalmente, corajoso, autoconfiante e capaz
de tomar decisões rápidas, sem deixar de ouvir opiniões de centuriões
experientes. Tudo isso ajudava a cativar seus comandados e fazer com que eles o
seguissem.
Antes da campanha da Gália, César não havia tido
experiência com grandes confrontos, mas seria auxiliado por Tito Labieno,
descrito como seu segundo em comando e braço direito. Na campanha da Gália, já
tinha 42 anos e invejava Alexandre, o Grande, que conquistara o mundo conhecido
com 30 anos. Mesmo com uma idade já avançada, César se tornaria rapidamente um
grande comandante. Entendia que cabia ao comandante exercer controle sob seus
homens e ele costumava ficar próximo o suficiente da batalha para lê-la, mas
distante o suficiente para não ser pego nos combates iniciais. Cavalgava
próximo à linha de frente para encorajar os seus homens e observar o
comportamento deles, punindo ou recompensando futuramente baseado no que via.
César desenvolveu uma grande inteligência em batalha, julgando pelo moral
exibido e pela comunicação de aliados e inimigos quais eram os pontos decisivos
da batalha e como mudar os seus rumos com a segunda e terceira linha. Sabia
inclusive quando era a hora de intervir pessoalmente para evitar uma derrota
iminente ou para desferir o golpe fatal no inimigo.
De forma temerária, César frequentemente se
posicionava próximo de seus soldados e em situações de maior perigo inclusive
dispensava o seu cavalo, indicando aos seus comandados que não havia
escapatória e que ele mesmo morreria lutando com eles. César não hesitava em
assumir riscos, mas era um jogador cuidadoso. Sabia quando era a hora de
intervir pessoalmente para evitar uma catástrofe ou para liderar os seus homens
em um último impulso para a vitória. Combinado com um pouco de sorte, era um
líder militar perfeito.
Exércitos
Opostos
A campanha da Gália seria o choque de duas formas
totalmente diferentes de organização militar, opondo o exército profissional de
Roma, disciplinado e organizado, ainda mais com as reformas empreendidas por
Caio Mário, tio de Júlio César, com os literalmente bárbaros gauleses. Outra
diferença era que os gauleses davam muita importância para ornamentos, tidos
como mostras de poder enquanto que os romanos achavam fúteis e desnecessários.
A descrição acima poderia indicar uma grande
inferioridade dos gauleses, mas o fato é que eles tinham uma reputação de serem
agressivos e terem uma longa experiência guerreira, que os tornavam inimigos
temíveis. Havia um poderoso grupo de guerreiros de elite, porém, a massa do
exército rebelde era de guerreiros não profissionais como fazendeiros, ligados
a um chefe local, mas sem grande experiência militar. Equipamentos eram
escassos e a maioria dos guerreiros usava um escudo de ferro, espada longa e
lança curta, sem muita armadura de proteção para a maioria deles. A espada
longa era uma coisa que os romanos não estavam acostumados, sendo usadas para
cortar, não perfurar, diferente da espada curta gládio. Era necessário um
guerreiro muito forte para empunhar uma espada longa e era mortal nas mãos de
um gaulês. Era menos uma arma coletiva e mais uma arma individual, diferente
das usadas pelos romanos. Era ainda uma arma reservada para os guerreiros de
elite e um símbolo de prestígio poder utilizar uma. Outra arma importante, na
visão dos gauleses, era o carnyx, uma trombeta de guerra, cujo efeito era
intimidar os inimigos, o que os próprios romanos admitiram ser efetiva nesse
intento.
Ajudava na parte da intimidação o ataque repentino
e feroz, com a tática, se é que podemos chamar assim, de se jogar contra o
inimigo selvagemente berrando e brandindo suas espadas e lanças. A disciplina
era baixa e o treinamento rudimentar, mas os gauleses podiam ser bastante
assustadores compensando com coragem e força física. Porém, isso não é
suficiente para enfrentar um exército bem organizado como o de César.
A cavalaria era um ponto forte dos gauleses, sendo
composto por guerreiros de elite com os melhores equipamentos. A disciplina não
era muito grande, mas isso até ajudava na hora de não serem perseguidos após
uma derrota.
Sobre César, ele chegou na Gália Cisalpina com três
legiões, com uma quarta legião na Gália Transalpina. Contou ainda com o apoio
de auxiliaries de aliados de Roma, como cavalaria ibérica, lanceiros numídios,
arqueiros cretas, fundeiros baléricos e até gauleses. Em 52 a.c., César
dispunha de cavalaria germânica, que seria importante, se não vital, em Alésia.
O número de legiões aumentaria para 12 ao longo da campanha, César criando
novas legiões a partir de voluntários locais para defender a província.
César teve que pagar com os lucros da guerra os
soldados que recrutava, mas logo passaria a poder usar fundos do estado. Também
foi responsável pelo treinamento, que era duro, mas pontuado por elogios aos
seus comandados para elevar o moral e reforçar os laços de lealdade,
principalmente com a Legião X. César sabia como manipular seus soldados com
palavras elogiosas e apelos a status e prestígio. Para comandar as legiões,
César indicava o seu questor e legados, tantos quantos necessários. Os legados
deviam comandar as legiões, mas acima de tudo obedecer ordens de César, que
desencorajava iniciativa pessoal. Também foram importantes os centuriões, que
comandavam as centúrias dentro das legiões na linha de frente, e, portanto,
tinham uma visão privilegiada da batalha e podiam fornecer valiosos conselhos
para César. Como havia muitos recrutas sem experiência de combate, César
precisava misturar veteranos entre os novatos para compensar as deficiências
daqueles que não tinham sido ainda testados em guerra.
Planos
opostos
Os gauleses e romanos, apesar de ambos serem
guerreiros, eram muito diferentes nesse quesito. Na distinção do autor do livro
que uso como referência, os romanos eram militaristas, prezando pela
organização e um confronto tradicional de dois exércitos, enquanto que os
gauleses eram bélicos, preferindo combates menos convencionais como emboscadas
No começo, Vercingetórix pretendia enfrentar os
romanos em batalha campal, mas após vários revezes mudaria logo de plano.
Recorreria então à estratégia de terra devastada, evitando confronto frontal e
tentando diminuir os recursos a disposição dos invasores. Os suprimentos seriam
centralizados em um local fortemente defendido, para evitar que caíssem em mãos
inimigas. As colheitas seriam feitas o mais rápido possível e depois forradas. Os
ópidos que pudessem ser capturados pelos romanos foram queimados, medida
drástica, mas melhor do que deixar que os romanos se apoderassem e escravizasse
ou matasse a população. Ópido era um termo romano para uma povoação, que não é
exatamente uma cidade, então preferi usar o termo original de História Romana
do que cidade ou outro equivalente. Era parte do plano também usar táticas de
guerrilha, emboscando os romanos em marcha, atacando a linha de suprimentos e
tentando cansar os romanos, além de tornar a guerra menos recompensadora.
Poderia dar certo com o tempo, disciplina e trabalho conjunto entre as tribos
rebeldes, mas esse simplesmente não era o jeito dos gauleses agirem.
César estava em má situação em 53 a.c., a rebelião
tendo tornado caótico o cenário na Gália. Então, ele não tinha exatamente um
plano, mas tinha que reagir à ameaça mesmo assim. Agiria de forma confiante e
decisiva, mas também um tanto temerária. A estratégia de Vercingetórix estava
dando certo, mas a disciplina romana e o comando firme de César levariam Roma
para a glória.
E vamos agora falar sobre a batalha de Alésia,
antes, falando sobre os eventos imediatamente anteriores. O começo da rebelião
de Vercingetórix foi em 53 a.c. com um ataque ao que hoje é Orleans, com a
tomada do ópido e a morte de todos os romanos que lá estavam. Isso pegou de
surpresa César, que estava no acampamento de inverno e rapidamente para a Gália
Transalpina no meio do inverno e frustrou o plano de Vercingetórix, que era
tomar vários ópidos antes que César chegasse ao fim do inverno.
Vercingetórix lutou com os romanos em batalha
campal, mas uma derrota em Noviodunum, moderna Isaccea na Romênia, fez com que
visse que essa não era uma boa ideia e iniciaria a política de terra arrasada. César
foi atraído para Avárico por Vercingetórix, que tentou levar o inimigo para
terreno difícil e desconhecido, mas César não teve problemas em chegar na
capital dos Bituriges, que não estavam dispostos a sacrificar Avárico na
política de terra arrasada. César construiria uma ponte, pois o ópido estava em
terreno alto, o que requeria uma elevação para as duas torres de cerco. A ponte
também serviria para que a infantaria atacasse quando chegasse a hora. As
muralhas do ópido eram uma mistura de pedra e madeira típica dos gauleses, para
proteger contra fogo e aríetes respectivamente.
Os gauleses não ficaram passivos ao cerco e
contra-atacaram todas as iniciativas romanas, tentando sabotar a construção da
ponte e de túneis para chegar às muralhas do ópido. Vercingetórix tentou
emboscar grupos de romanos que buscavam recursos, mas César frustraria a sua
tentativa e Vercingetórix fugiria. Pouco tempo depois, Avárico cairia.
Vercingetórix não queria defender Avárico, que
deveria ter sido abandonada e destruída. Por outro lado, queria defender Gergóvia,
que era a capital da sua tribo. César acampou ao sudeste de Gergóvia e fez o
reconhecimento de campo e veria que o ópido estava em terreno alto, o que
dificultaria a invasão. Mas se conseguisse tomar uma colina ao sul, onde hoje é
La Roche-Blanche, poderia ter uma vantagem. César conseguiu tomar a posição e rapidamente
formou um acampamento com duas legiões. Faria uma vala para conectar os dois
acampamentos. Depois, pretendia capturar mais uma colina ao oeste, Hauteurs de
Risolles.
Porém, César teria a atenção desviada por notícias
de rebelião dos Aedui na parte noroeste da Gália. Rapidamente, foi lidar com
essa situação e na volta receberia notícias de que Vercingetórix estava
atacando o acampamento romano perto de Gergóvia. Os romanos conseguiriam
eliminar a ameaça e César voltaria ao acampamento.
O plano de César para tomar o ópido era fingir um
ataque a Hauteurs de Risolles com uma pequena força e lançar do acampamento
menor um ataque frontal contra Gergóvia com a maior parte das forças romanas. O
ataque diversionista funcionou e Vercingetórix mandou reforços para a região ao
mesmo tempo em que César atacava com três legiões o ópido. O caminho até Gergóvia
foi tranquilo, alguns legionários chegaram a subir as muralhas, mas os gauleses
que tinham acaído no ataque diversionista retornaram e começaria uma batalha
entre o grosso do exército de Vercingetórix e os romanos. Cansados e
desorganizados, os romanos perderiam a batalha e seriam forçados a recuar.
Talvez tenha havido um excesso de confiança que cegou os romanos para a ameaça
que enfrentavam. No final, César perdeu 700 homens, incluindo 76 centuriões.
Ele culparia o excesso de entusiasmo e a desobediência de seus comandados e
pintaria como vitória a tomada de três acampamentos gauleses.
Noviodunum era a capital administrativa de César na
Gália, onde os romanos guardavam seus mantimentos e os reféns gauleses. O ópido
seria tomada pelos Aedui, que depois passaram a atacar a linha de comunicações
dos romanos tentando força-los a recuar para a Gália Transalpina. Porém, César
não recuaria e marcharia norte, pegando os Aedui de surpresa com a velocidade
de sua marcha. Depois, se reuniria com aliados e estava de volta com força
total. Vercingetórix mandaria um ataque de cavalaria, tentando eliminar a
cavalaria romana e reduzir a sua capacidade de obter recursos, porém, falhou.
Vercingetórix então recuaria para Alésia. O ópido
se situa em monte Auxois, uma mesa, uma área elevada de solo com um topo plano,
a 400 metros de altitude. Pelo planalto passam dois rios que erodiram a região
e criaram vales que separaram Auxois de colinas próximas, ao oeste os rios
convergindo em Plaine des Laumes, planície com várias colinas de topo
arredondado. A cidade de Alesia ocupa a parte oeste de Auxois e o acampamento
de Vercingetórix foi estabelecido a leste. Para obstruir o caminho do inimigo
na parte mais acessível, que era a face leste, Vercingetórix faria fossos e
paredes.
O exército gaulês tinha 80 mil guerreiros mais 15
mil cavaleiros. César, por sua vez, só tinha 50 mil legionários e seria nessa
batalha que mostraria ser um gênio militar para superar a desvantagem numérica.
César mandou cercar monte Auxois por completo, cortando as comunicações e
isolando os rebeldes. Os romanos fariam duas linhas de circunvalação, uma delas
cercando a colina e a segunda cercando justamente a primeira. Armadilhas eram
colocadas nas linhas de cerco, como a lillia, buraco no chão para ferir os
inimigos e atrasar seu avanço, o stimuli, uma barra de ferro colocada no chão
para perfurar o pé, e os cippi, estacas afiadas para barrar o avanço. A
estrutura romana contava com 37 quilômetros das linhas de circunvalação, 74 de
fossos, várias torres de observação e oito acampamentos. A batalha de Alésia
foi acima de tudo uma obra de engenharia para os romanos.
A razão de fazer duas linhas de circunvalação era a
possibilidade de um exército gaulês surgir para prover algum alívio para Vercingetórix
e seus homens. Esse exército viria, com o número alegado por César de 250 mil
homens e 8 mil cavaleiros. O número provavelmente está inflado, para tornar o
feito mais heroico, mas provavelmente os romanos estavam em desvantagem e mesmo
assim conseguiriam enfrentar os gauleses.
O exército de alívio avançou, a cavalaria à frente
e a infantaria logo atrás. Ao mesmo tempo, Vercingetórix descia Alésia para
cercar César. Aqui, chegaria a hora da linha dupla de circunvalação mostrar a
sua utilidade e a cavalaria germânica também mostraria o seu valor no combate
contra os equivalentes gauleses. Os dois ataques gauleses esbarrariam nas
construções romanas e seriam repelidos. O próximo ataque seria na parte
noroeste do acampamento romano, em Mont-Rea, com uma força de 60 mil homens,
segundo César, tentando tomar esse ponto por onde poderiam avançar contra os
romanos. O braço-direito de César, Tito Labieno, apareceria para auxiliar os
dois legates da região tendo ordens de segurar o máximo possível e avançar em
último recurso. Nessa parte, os romanos estavam levando a pior, mas César
conseguia vitórias em todas as outras regiões. (32)
Labieno enviaria uma mensagem para César alertando
sobre as dificuldades a noroeste e César levaria forças pessoalmente os seus
últimos reservas para um contra-ataque. Enviaria ainda a cavalaria germânica
para atacar o inimigo pelas costas. César vestia um manto vermelho como uma
forma de criar uma imagem forte para seus comandados e para o inimigo, seguindo
o exemplo de Alexandre, o Grande, e seu elmo de prata. A batalha entre César e
os gauleses foi feroz e bastante equilibrada e poderia ter dado a vitória para
qualquer dos lados, mas a cavalaria germânica apareceria para salvar o dia e
causar um bom estrago no inimigo. Em pânico, pegos lutando em duas frentes, os
gauleses fugiriam do campo de batalha e esse seria o fim da ameaça do exército
de alívio.
A situação em Alésia ficaria desesperadora com a
falta de comida provocada pelo cerco. Crianças, mulheres, idosos e doentes
seriam expulsos do ópido, o que era melhor do que canibalismo e assassinatos,
que inclusive tinha sido proposto no conselho de guerra. Os expulsos se
ofereceram para serem escravos dos romanos e alimentados como tal, mas César os
obrigaria a ficarem no pé da colina e não se sabe qual foi o fim dessas
pessoas. Sem opção, Vercingetórix se renderia e César venceria a Batalha de
Alésia.
O resultado da batalha foi praticamente o fim da
rebelião gaulesa e também o enorme enriquecimento de César e seus homens, que
puderam pilhar Alésia e outros ópidos derrotados e vender seus habitantes como
escravos. O próprio Vercingetórix seria mantido como troféu por César e levado
junto durante a volta triunfante para Roma, exibido publicamente em 46 a.c. e
depois estrangulado, 18 meses antes de César ter o mesmo destino nos Idos de
Março.
Roma nunca mais seria desafiada de forma mais
contundente pelos gauleses e Júlio César ganharia grande prestígio com a
campanha. A Gália seria uma conquista bastante importante para Roma, com vastas
áreas agriculturáveis e também um bom estoque de guerreiros que, apesar de
serem um pouco difíceis de domar, formariam boa parte do exército romano.