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A Guerra dos Sete Anos pode ser entendida como a
Guerra Mundial Zero, sendo um dos primeiros conflitos a ter impactos em uma
escala que ultrapassa um continente. Iniciou-se em 1756 apenas oito anos após
outro grande conflito europeu, a Guerra da Sucessão da Áustria, que deixou
várias questões mal resolvidas que resultariam em outra guerra, como a disputa
pela Silésia entre Prússia e Áustria e disputas colônias entre Grã-Bretanha e
França.
Apesar de haver uma continuidade com a Guerra da
Sucessão da Áustria, há diferenças importantes. Foi uma guerra de maior escala,
comprometendo mais recursos das nações envolvidas do que antes. Foi também
empreendida com alianças diferentes, a Grã-Bretanha se aliando à Prússia contra
a Áustria quando havia feito o contrário anteriormente. O mesmo ocorreu com a
França, que trocou a aliança com a Prússia para se aliar com a Áustria na
Guerra dos Sete Anos. Diversas nações se envolveram no conflito, mas os
principais eram de um lado a Áustria da rainha Maria Teresa, a França de Luís
XV e a Rússia da czarina Isabel contra a Prússia de Frederico, o Grande e a
Grã-Bretanha de George II e depois George III.
Dando caráter mundial ao conflito, a Nova França,
as colônias francesas na América do Norte, e as 13 Colônias inglesas também
entraram em conflito no mesmo período. Na verdade, as hostilidades no Novo
Mundo começaram alguns anos antes, com diversas disputas territoriais entre as
duas colônias. O conflito escalou e as metrópoles enviaram dinheiro, homens e
navios para atuarem na disputa. A Índia também era objeto de disputa entre os
dois impérios coloniais e suas Companhias das Índias. Os constantes conflitos
convenceram França e Grã-Bretanha de que precisavam de aliados para superar um
ao outro. Ao mesmo tempo, a paz selada com o Tratado de Aix-la-Chapelle era
praticamente vista como uma paz temporária e ainda havia ressentimentos da
Guerra da Sucessão da Áustria, em especial a disputa da Silésia. Nesse meio
tempo, as nações se envolveriam em intensa diplomacia que mexeria totalmente
com o tabuleiro político, de forma já mencionada.
Basicamente, Áustria queria a Silésia de volta e a
Prússia queria não apenas manter a Silésia, mas também precisaria lidar com a
Rússia, que via com preocupação o expansionismo prussiano. França e Grã-Bretanha
tinham as suas disputas coloniais, mas, além disso, a Grã-Bretanha tinha o
Eleitorado de Hanover, que garantia um voto na eleição do Sacro Imperador
Romano. O Eleitorado era alvo de cobiça da França e da Prússia e a Grã-Bretanha
precisava proteger, já que a sua perda poderia resultar em perdas ainda maiores
em seu império. Por esse motivo, a Grã-Bretanha gostaria que a Europa
permanecesse em paz para que pudesse enfrentar a França no Novo Mundo e
procuraria atuar diplomaticamente nesse sentido. Via na Rússia um possível
contrapeso contra as ambições prussianas e uma garantia ao Eleitorado de
Hanover. Após um acordo, a Rússia concordaria em enviar tropas para Hanover em
troca de um pagamento. Frederico II temia uma aliança anglo-russa e tentaria
atuar nos bastidores, jurando que não tinha ambições em Hanover. Isso daria
certo e Prússia e Grã-Bretanha assinariam acordos de defesa mútua.
Do outro lado, a Áustria não desejava uma paz
europeia, diferente dos britânicos. Queria de volta a Silésia e se sentiu
traída em sua aliança de longa data com a Grã-Bretanha após a opção de entrar
em acordo com a Prússia. Procuraria a França para um acordo e a Grã-Bretanha
tentaria argumentar que esse era meramente um acordo defensivo. A Rússia tinha
uma série de objetivos, alguns conflitantes no quadro político que se formaria,
como barrar o avanço da Prússia, com ajuda da Áustria, evitar que a França se
movimentasse contra a Áustria, conseguir com que a Polônia permitisse
movimentações de tropas russas em seu território e manter a Suécia e o Império
Otomano fora dessas disputas.
Em primeiro de maio de 1756, seria firmado o
primeiro Tratado de Versalhes entre Áustria e França, estabelecendo a
neutralidade austríaca em caso de uma guerra colonial entre França e Grã-Bretanha
e ajuda mútua em caso de ataque. O plano austríaco era que se a França
avançasse contra Hanover entraria em confronto com a Prússia, o que
enfraqueceria a proteção à Silésia. A Rússia não seria signatária do acordo,
porque os franceses temiam que a Rússia avançasse contra a Polônia, havendo uma
proximidade entre a França e a Polônia, o rei da Polônia ainda sendo Eleitor da
Saxônia. No final das contas, Polônia, França e Áustria entrariam em acordo com
a Rússia nos estágios inicia da Guerra, a França se tornando protetora da
Polônia no lugar da Grã-Bretanha e a Rússia prometendo não atacar a Polônia e
marchar sobre seu território com mínimo dano. E então teríamos a situação que
afligiria os sucessores de Frederico, o Grande, séculos depois, uma guerra em
duas frentes com França e Rússia, tendo ainda que lidar com a Áustria ao sul.
Exércitos
Opostos
O mosquete era a principal arma utilizada pelos
combatentes no século XVIII. Não era uma arma precisa, e nem era necessário que
fosse, sendo relativamente rápida de atirar comparado com as alternativas da
época. A formação padrão era a linha de frente atirar com o mosquete para
causar dano devastador a curta distância e isso levou ao alongamento das
linhas, que chegavam a sete quilômetros. Nos flancos, eram colocadas peças de
artilharia para aumentar o poder de fogo e criar uma separação entre os
batalhões de infantaria opostos. O número de linhas variava de exército para
exército e foi sofrendo alterações conforme ocorriam baixas ao longo da guerra.
As táticas mais comuns eram ou flanquear o exército inimigo ou desferir um
ataque frontal devastador.
Nesse tipo de guerra, disciplina era essencial,
pois os soldados precisavam marchar longas distâncias mantendo linhas coesas
independente do terreno que atravessavam. Precisavam se preparar rapidamente
para o combate e demora em se mobilizar poderia significar a derrota. Em
batalha, os soldados precisavam enfrentar o fogo dos mosquetes e atirar apenas
quando ordenado.
Vou agora comentar sobre exércitos específicos,
começando com a Prússia. O tamanho do exército era de 145 mil homens e era
considerado o mais eficiente em combate, sendo muito bem treinado em táticas de
marcha que renderiam vitórias a Frederico, o Grande. Os prussianos também
utilizavam com eficiência a cavalaria pesada para infligir um primeiro ataque
pesado no inimigo.
A Prússia tinha um sistema de alistamento bem
organizado, regularmente recrutando homens que seriam treinados e serviriam no
exército, com os melhores homens servindo junto com tropas regulares. Ao final
de cada temporada, voltavam a seus afazeres e seriam chamados novamente para
novo treinamento. Na guerra, os homens que treinavam com as tropas regulares se
juntavam a elas para o combate e os demais ficavam como reserva. Era um sistema
eficiente, mas a duração da guerra acabaria tornando escasso o número de homens
mais capazes e o sistema se mostrou incapaz de fornecer soldados na quantidade
e qualidade necessárias. Mercenários estrangeiros engrossariam as fileiras
prussianas, representando 25% dos soldados, e desertores e prisioneiros
inimigos acabariam servindo nos estágios finais da guerra.
Frederico foi inovador ao desenvolver a artilharia
a cavalo e usava isso e morteiros para aumentar o seu poder de fogo. A sua
grande fraqueza eram as tropas leves austríacas, Frederico falhando em
reconhecer o seu valor e pagando caro por isso. Criou o Frei-corps para lidar
com essa ameaça, mas como os soldados não tinham recebido treinamento adequado
e como eram pouco disciplinados por serem compostos por desertores e
prisioneiros, essa unidade não se mostraria efetiva em contrabalancear a
infantaria leve austríaca. Ao final da Guerra dos Sete Anos, o exército
prussiano seria reconhecido por seus contemporâneos como o modelo a ser
seguido, embora tivesse lá as suas fraquezas.
A Grã-Bretanha tinha um exército de 90 mil homens,
que aumentaria para 150 mil ao longo da guerra. Boa parte estava servindo nas
colônias e os britânicos teriam dificuldades em recrutar soldados de qualidade
e também teriam que recorrer a prisioneiros. Os britânicos tinham como grande
qualidade a capacidade de se adaptarem à situação, sendo óbvio que a formação
em linha seria ineficaz nas florestas na América do Norte. Após algumas
derrotas, acabariam aprendendo com os erros e adaptando as suas táticas para a
guerra no Novo Mundo.
A Rússia tinha um exército de mais de 300 mil
homens, embora utilizasse por volta de 90 mil em uma campanha. Essa era uma
enorme vantagem, não apenas por poder empregar mais homens no campo de batalha,
mas também por possibilitar maior uso de reservas. Porém, o exército russo era
uma enorme massa desorganizada e que tinha uma linha de suprimentos tão
ineficiente que nos acordos com a Áustria ficou estabelecido que os austríacos
cuidariam da linha de suprimentos dos russos. Isso se mostraria um grande
problema, ao impedir que os russos explorassem vitórias por não terem como dar
andamento para o confronto ou ainda terem que recuar por não terem suprimentos
para manter o território ganho. O comando do exército também não era competente
o suficiente para explorar a vantagem numérica. Reformas seriam feitas, algumas
mais atrapalhando do que ajudando, mas ao menos defensivamente os russos eram
bastante competentes, muito por conta da extraordinária coragem dos soldados
russos. O próprio Frederico observaria que se os russos soubessem explorar as
suas vitórias ele teria perdido a guerra.
A Áustria tinha um exército com 210 mil homens.
Após as derrotas que resultaram na perda da Silésia para a Prússia, os
austríacos procurariam aprender com o inimigo e melhorariam seus métodos e
treinamentos. Conhecendo o inimigo, os austríacos evitariam o confronto com os
prussianos, preferindo lutar entre colinas e florestas ao invés de campo aberto
onde poderiam ser superados pelas táticas de marcha de Frederico. Basicamente,
adotariam uma postura mais defensiva para encarar a Prússia. Lutar nessas
condições dificultaria o trabalho dos prussianos, que não poderiam explorar a
mobilidade de suas forças. O grande trunfo dos austríacos foram as tropas
leves, os corpos Grenzer, formados por soldados da região dos Balcãs. Eles eram
usados em missões de reconhecimento e busca de suprimentos e em batalha
atacavam os flancos dos prussianos. Assim como os russos, possuíam comandante
fracos que conseguiriam se manter na defensiva, mas não teriam o ímpeto para se
lançarem ao ataque. A falta de coordenação entre austríacos e russos também
seria um problema e Frederico apontaria como uma razão para a sua sobrevivência
a falta de iniciativa ofensiva dos dois inimigos.
A França passava por um momento difícil
militarmente, com um exército de 200 mil homens pouco disciplinados, com
liderança fraca, falta de oficiais competentes e sofrendo com a falta de
reformas. A exceção eram os soldados nas colônias, que conseguiram diversas
vitórias sobre os britânicos por compreenderem melhor o terreno e se adaptarem
a ele muito antes do inimigo. Nas Índias, contavam com nativos bem treinados, o
que só mais tarde os britânicos copiariam. As tropas nas colônias sofreriam ao
não receberem reforços, já que a marinha britânica tinha bloqueado o caminho e
decairiam de qualidade com o tempo. Faltaria até dinheiro para pagar os
soldados nas Índias, o que resultaria em deserções que reforçariam os
britânicos. Tentariam melhorar o treinamento ao longo da guerra, mas isso seria
tardio demais para ter algum efeito prático. Os soldados na Europa também
sofreriam com falta de pagamento, o que agravaria o problema da disciplina,
ainda mais com a escassez de oficiais de comando. Os franceses veriam o valor
das tropas leves, mas isso não teria grande impacto na Guerra dos Sete Anos.
A Guerra
A Guerra dos Sete Anos não teve um casus belli bem
definido nem nenhum evento que catalisou a guerra. Mas podemos apontar como um
começo as disputas entre Grã-Bretanha e França, que começou na América do Norte
e continuou com a disputa pela ilha de Minorca que levou os britânicos a declarar
guerra. Isso não desencadeou uma série de declarações de guerra, mas logo
ficaria claro que o conflito não ficaria restrito às duas nações. França via
que Hanover era um peso para os britânicos e se mobilizaria para um ataque, que
levaria os britânicos a recrutar tropas locais para proteger o Eleitorado.
Frederico II através de seus espiões ficou sabendo
que a Áustria e a Rússia se mobilizavam, possivelmente para tomarem o
Eleitorado de Hanover. Decidiria então atacar a Saxônia do Sacro Império Romano,
aliado da Áustria. Com um exército de 63 mil homens, empurrou para trás os
saxões com 18 mil soldados, que se refugiaram em Pirna onde ficariam cercados
pelos prussianos que tomariam Dresden e Leipzig. Tropas sob comando do príncipe
Ferdinando de Brunswick seriam enviados para a fronteira da Boêmia, para onde
os austríacos também enviariam tropas para tentarem chegar à Saxônia e acabar
com o cerco a Pirna.
Frederico acabaria assumindo o controle da situação
e enfrentaria os austríacos em Losboch. Em 1º de Outubro de 1756, austríacos e
prussianos se enfrentariam e as forças de Frederico, o Grande, acabaram
prevalecendo, mas não sem sofrer um número tão grande de baixas quanto o
inimigo. Os austríacos conseguiram enviar um corpo para auxiliar os saxões, mas
Pirna acabou se rendendo à Prússia e suas unidades incorporadas ao exército
prussiano.
Logo ficaria claro que os dois conflitos não
poderiam ficar separados e também que nenhuma solução pacífica poderia existir.
Então, Áustria e França se aliaram junto com a Rússia, enquanto Prússia e
Grã-Bretanha também transformariam acordos defensivos em ofensivos.
A Guerra dos Sete Anos transcorreria em diversos
teatros de operações. Os conflitos navais foram principalmente entre britânicos
e franceses, inclusive na América do Norte e Caribe. No Novo Mundo, os
britânicos primeiro teriam dificuldades em lutar em selvas, mas logo se
acostumariam a esse terreno e mudariam a maré até vencerem os franceses em
1760. Na Europa Ocidental, o conflito seria entre franceses, britânicos e
prussianos, tendo em vista primordialmente o controle de Hanover. Na Europa
Central, Prússia, Áustria e Rússia se enfrentariam, principalmente na Silésia,
Saxônia e Boêmia. Frederico começaria a guerra almejando a rica Saxônia e
esperava derrotar rapidamente os austríacos antes que os russos pudessem chegar
para a guerra, mas seu plano fracassaria como outros planos similares falhariam
em outras épocas. Em 1758, o plano de Frederico seria atacar os austríacos e
russos de forma a evitar que formassem uma frente unificada, mas falharia e em
1759 assumiria a defensiva. O último teatro de operações foi a Índia, onde
franceses e britânicos combaterem para dominarem o comércio na região. Os dois
lados arregimentaram tropas locais para lutarem, usando tanto nativos quanto
europeus, e as batalhas foram em uma escala menor do que no teatro Europeu. Os
britânicos conseguiram se utilizar de bloqueios navais para evitar que reforços
franceses chegassem, o que seria decisivo para uma vitória da Grã-Bretanha.
Agora, vou analisar com maiores detalhes cada
teatro de operações. Na Guerra Naval, em termos de tonelagem, tínhamos a
Marinha Real com 277 mil toneladas em 1755 e 375 mil em 1760 contra 162 mil e
depois 156 mil da França. Essa é uma bela vantagem dos britânicos, que, porém,
temiam uma aliança entre França e Espanha cuja tonelagem conjunta poderia
superar a deles. A Espanha só entraria na guerra em 1762, quando a França já
tinha sido derrotada por mar e possibilitou que a Grã-Bretanha pudesse focar no
novo inimigo.
A Marinha Real utilizou três estratégias ao longo
da guerra. A primeira era alvejar a frota comercial francesa, para reduzir o
poderio econômico do inimigo e para aumentar o seu próprio. A segunda foi
utilizar de bloqueios em suas próprias águas para restringir a área de atuação
dos franceses. A terceira foi utilizar a marinha para levar a guerra para
outros teatros de operação, como a América do Norte. A Grã-Bretanha foi capaz
de aumentar a sua frota não apenas construindo novos navios, mas tomando dos
franceses e depois dos espanhóis. Os franceses, por sua vez, foram prejudicados
pela falta de uma estratégia unificada para enfrentar os britânicos, sem haver
a definição de qual deveria ser a prioridade para a batalha naval.
Taticamente, a prática comum era de alinhar os
navios como se fazia em terra. Outra opção era a de chegar perto do inimigo e
iniciar um combate corporal. Os almirantes britânicos tinham ordens de combater
em linhas, mas depois veriam que a superioridade na mobilidade tornaria
vantajoso utilizar o combate mais próximo.
Os franceses tiveram sucesso nos estágios iniciais
da guerra naval, com vitórias em Minorca e na América do Norte. Porém, logo os
britânicos impuseram a sua superioridade naval e através das três estratégias
mencionadas sufocou os franceses na América do Norte, atacou o comércio
marítimo da França e bloqueou os franceses em suas próprias águas. A partir de
1760, os franceses já não mais procurariam a luta pelo mar, mas continuariam a
sofrer com o prejuízo no comércio marítimo. Com a França praticamente
descartada no mar, os britânicos poderiam focar em um novo inimigo que surgiria
em 1762, a Espanha.
Na Europa Ocidental, os franceses seriam obrigados
a atacar a Prússia por conta dos acordos com a Áustria. Sabendo disso,
Frederico procuraria ajuda de seus aliados para lutar contra os franceses,
principalmente visando proteger Hanover. Os britânicos não estavam muito
dispostos a enviar tropas para o continente, considerando que a guerra nas
colônias era prioridade. A solução foi o recrutamento de soldados na região,
que seriam pagos pelos britânicos. Em março de 1757, os franceses e seus
aliados austríacos e germânicos marchavam contra Hanover, com um exército de
100 mil homens contra 47 mil defensores, sendo que alguns ainda se deslocavam
vindos da Grã-Bretanha. Os franceses e aliados avançariam contra Hanover
empurrando os defensores para trás e venceriam a batalha de Hastenbeck em 26 de
julho de 1757, que teria como resultado a tomada de Hanover pelos franceses. Os
britânicos tentaram utilizar de ataques marítimos na costa francesa para tentar
desviar a atenção dos franceses e força-los a remover tropas de Hanover para
reforçar outros pontos, mas o foco ainda era a batalha na América do Norte e a
situação não seria revertida em 1757.
Na Europa Central, Frederico invadiria a Boêmia em
1757 e obteria uma vitória decisiva contra o exército austríaco. Os dois
exércitos voltariam a se enfrentar na Batalha de Praga, com nova vitória da
Prússia que terminaria no cerco de Praga. O marechal austríaco Leopold Joseph
von Daun enviaria uma força para atacar o exército prussiano. O confronto das
duas forças se daria na Batalha de Kolin, dessa vez com vitória dos austríacos.
O resultado forçaria Frederico a abandonar o cerco de Praga e recuar da Boêmia.
Na Prússia Leste, haveria confrontos entre a Rússia
e a Prússia. Com os ataques à Saxônia, o Eleitor da Saxônia e Rei da Polônia
daria permissão para que os russos marchassem em seu território para enfrentar
os prussianos. Apesar de estarem em desvantagem de 2 para 1, os prussianos
foram para o ataque. Comandados pelo marechal de campo Hans Lewaldt, os
prussianos atacaram a cidade de Gross-Jägersdorf. Foram derrotados, mas
infligiram perdas iguais a um exército numericamente superior. A Prússia
recuaria da Prússia Leste, mas os russos acabariam fazendo o mesmo.
A sorte da Prússia começaria a mudar mais ao oeste.
Na primeira e única vez em que forças francesas e prussianas se enfrentariam
diretamente, os franceses e seus aliados germânicos tinham 42 mil homens para
atacar Brandenburgo. Frederico, após deixar tropas na Silésia e levando em
conta as baixas de Kolin, tinha apenas 21 mil homens a disposição para
enfrentar o inimigo. Os franceses marcharam contra o acampamento de Frederico
em Rossbach em 4 de novembro e foram atacados por 38 esquadrões de cavalaria liderados
pelo major-general Frederick Wilhelm von Seydlitz. A infantaria prussiana logo
se juntaria ao ataque e os franco-germânicos se desorganizariam e dispersariam.
A batalha se deu muito rapidamente, o inimigo não teve tempo de reação e foi
presa fácil dos prussianos. O resultado da batalha de Rossbach foi
impressionante, os prussianos em desvantagem de 2 para 1 causando 10 mil baixas
no inimigo e perdendo apenas 548 homens.
Logo depois, Frederico teria que se voltar ao leste
para enfrentar um ataque austríaco. Os franceses não mais tentariam atacar a
Prússia, concentrando as forças em Hanover. A Silésia seria o campo para a
próxima grande batalha. Os austríacos atacaram e tomaram a capital da Silésia,
Breslávia, e Frederico lançaria um ataque com 30 mil homens mais 3 mil dentre
os remanescentes do exército que defendia a Silésia. Os austríacos tinham o
dobro dos homens e em 5 de dezembro os dois exércitos se enfrentariam em
Leuthen. Mais uma vez em desvantagem de 2 para 1, Frederico conseguiria a sua mais
brilhante vitória usando a ordem oblíqua. Frederico concentrou as suas forças
no flanco sul do inimigo e atacaria a linha inimiga seguindo para o norte. Essa
manobra proporcionou mais uma grande vitória para Frederico, que perdeu 11 mil
homens enquanto o inimigo teve 22 mil baixas. Essa foi uma vitória ainda mais
meritória do que em Rossbach porque o exército austríaco era considerado melhor
preparado e lutou com grande bravura, mas acabaram sendo derrotados. A ordem
oblíqua foi uma grande manobra, mas não teria o mesmo sucesso no futuro porque
os austríacos aprenderam com os erros. A Prússia tinha a iniciativa, mas não
podia empreender novas campanhas, pois ainda precisava se recuperar das baixas
ocorridas ao longo de 1757.
Nas Índias, franceses e britânicos disputavam uma
importante área de comércio para as suas Companhias Comerciais. Em 1757, o foco
das tensões seria Bengala, cujo nababo local era hostil aos ingleses e
procuraria uma aliança com os franceses. Haveria uma série de confrontos entre
os britânicos e as forças do nababo de Bengala e aliados franceses. A Batalha
de Plassey resultaria em vitória decisiva dos britânicos, que contaram com a
ajuda de conspiradores liderados por Mir Jaffar, que se tornaria o novo nababo
e se aliaria aos britânicos, que consolidariam uma posição forte na Índia. No
ano seguinte, as batalhas se concentrariam na região Carnática, com os
franceses ambicionando tomar Madras, mas sem sucesso. Em 1759, pouca coisa
aconteceria nas Índias. No ano seguinte, porém, teríamos a Batalha de Wandiwash
que terminaria com vitória definitiva para os britânicos e acabariam selando o
destino da frente indiana da Guerra dos Sete Anos. Em 1761, os franceses
perderiam a sua última posse nas Índias em Pondicherry.
Na América do Norte, 1757 foi um bom ano para os
franceses, que tomaram o Fort George dos britânicos. No ano seguinte, a
Grã-Bretanha viraria o jogo com duas grandes vitórias, tomando os fortes
Louisbourg e Duquesne, sem no entanto conseguindo capturar Carillon, objetivo
só alcançado no ano seguinte, quando também tomariam Quebec dos franceses. Em
1760, o plano dos britânicos de tomar Montreal quase deu errado quando boa
parte das tropas adoeceu, o que tornou Quebec presa fácil para os franceses,
mas reforços vindos pelo mar não apenas aliviaram a situação, mas também
permitiram a captura de Montreal.
Na Europa Ocidental, os britânicos não aceitaram
negociar a ocupação de Hanover e insistiriam na retomada, mas deixariam para os
prussianos esse trabalho, os britânicos apenas pagando a manutenção do
exército. Sob o comando do cunhado de Frederico, princípe Ferdinando de
Brunswick, os prussianos obtiveram uma vitória esmagadora contra os franceses,
causando 16 mil baixas entre mortos, feridos e desertores contra apenas 200
baixas sofridas. Finalmente, a Grã-Bretanha enviaria soldados para o continente
e ajudaria a proteger Hanover. A defesa dessa posição acabou tendo duas
utilidades estratégicas, protegendo o flanco direito de Frederico e desviando
tropas francesas que poderiam ter sido melhor utilizadas nas colônias. As
forças de Ferdinando e os franceses se enfrentariam em 1759 tendo em disputa
território francês e Hanover, mas nenhum dos lados ganharia muito território.
Na Europa Central, Frederico não precisava mais se
preocupar com a França, mas ainda tinha dois poderosos inimigos, Rússia e
Áustria. Frederico decidiu primeiro atacar a Áustria, pois entendia que a
Rússia só atacaria no verão. Tomou as posições austríacas na Silésia e seu
objetivo era tomar a cidade de Olmütz. Chegaria na cidade e a sitiaria, porém,
o cerco demorou tempo demais e Frederico foi obrigado a recuar ao saber que os
russos estavam em marcha. O exército Russo atravessou a Prússia Leste
destruindo tudo pelo caminho, enfurecendo os prussianos. Os dois exércitos se
encontrariam na Batalha de Zorndorf em 25 de agosto de 1758. O feroz confronto
terminaria em um empate, com 13 mil baixas prussianas e 19 mil russas. Os dois
exércitos ficariam próximos um do outro, mas não entrariam mais em confronto
nesse ano ou no próximo.
Frederico voltaria a sua atenção para a Áustria. Haveria
um grande confronto perto da vila de Hochkirch. Frederico acreditava que estava
apenas enfrentando tropas leves e esse erro de julgamento acabaria por lhe
custar a batalha, mas sem maiores consequências. Os austríacos avançariam
contra Dresden, mas reforços chegariam e expulsariam o inimigo. 1758 acabou
sendo um bom ano para Frederico, que segurou os russos na Prússia Leste e
expulsou os austríacos da Silésia e de boa parte da Saxônia, mas no acumulado
dos últimos três anos as baixas já chegavam a 100 mil homens, boa parte
composta por veteranos de guerra altamente treinados.
Já 1759 não seria um bom ano para Frederico e para
a Prússia. Sofreria a sua pior derrota até então na Batalha de Kunersdorf
contra principalmente soldados russos. Foram 19 mil baixas prussianas contra 15
mil baixas russas e austríacas. Os russos queriam aproveitar essa vitória para
se encaminharem para Berlim, mas teriam que fazer um desvio para o sul para
auxiliar forças austríacas que estavam tendo problemas com os prussianos.
Frederico não estava na melhor situação possível, tendo perdido ainda a
estratégica cidade de Dresden, mas seus inimigos foram incapazes de combinarem
esforços para aproveitarem as suas vitórias e deram mais sobrevida para a
Prússia.
Na Europa Ocidental, haveria um confronto entre os
aliados e a França na Batalha de Warburg em 31 de julho de 1760, com vitória
até confortável dos aliados. Na Batalha de Kloster Kampen, em 15 de outubro, o
resultado seria diferente, com vitória francesa, porém, com baixas em igual
número nos dois lados. No final das contas, o resultado foi pior para os
franceses, que não conseguiram vitórias que compensassem as perdas na América
do Norte ou nas Índias.
Já na Europa Central, os austríacos teriam uma
vitória na região da Silésia na Batalha de Landeshut, quando o exército do general
Loudon estava em muito maior vantagem e obteve uma vitória esmagadora, causando
10 mil baixas entre mortos, feridos e capturados de um exército de 11 mil.
Loudon juntaria forças com o marechal Daun e iria enfrentar o exército
prussiano principal com uma vantagem numérica total de 90 mil contra 30 mil.
Frederico manobraria à noite e mudaria de posição, atacando o exército de
Loudon que não recebeu ajuda de Daun e foi derrotado, perdendo 8 mil homens
contra 3 mil baixas prussianas. Frederico mostrou habilidade superior na condução
de tropas vencendo uma vez mais um exército numericamente superior. Essa
batalha acabou assegurando o controle da Silésia para a Prússia.
Em uma rara operação conjunta, austríacos e russos
atacaram Berlim e tomaram a cidade e exigiram tributos. Porém, Frederico logo
trataria de expulsar os invasores. O exército austríaco do marechal Daun
atacaria a Saxônia e Frederico reagiria, dividindo seu exército em dois corpos.
Destacaria um deles para impedir que reforços chegassem vindos de Dresden
enquanto que outro se dirigiria para o exército de Daun. Lançaria dois ataques
contra o inimigo e ambos falhariam. Porém, o corpo que tinha sido destacado
para evitar reforços atacaria os austríacos pelas costas e faria com que o
inimigo recuasse.
Os três últimos anos da guerra seriam marcados pela
exaustão militar e financeira dos beligerantes, por esforços para encerrar a
guerra nos melhores termos possíveis e pela morte da Czarina Isabel. A Prússia
adotaria de vez uma estratégia defensiva para se proteger de novas ofensivas
dos austríacos e russos. A morte da czarina seria positiva para os prussianos
já que resultou na retirada da Rússia da guerra, permitindo que se concentrasse
em um único inimigo, a Áustria. Na Europa Ocidental, a França queria tomar
Hanover, mas não teria sucesso algum nessa empreitada. França e Grã-Bretanha
teriam conversas de paz, interrompidas com a informação de que secretamente a
França negociava a entrada da Espanha no conflito. Os britânicos aproveitaram a
deixa e resolveram atacar também a Espanha, que oferecia certa ameaça naval e
essa foi a oportunidade perfeita para varrê-los do mar. Aproveitando os navios
que estavam na América do Norte e na Índia, a Grã-Bretanha atacou colônias
espanholas e francesas no Caribe e nas Filipinas.
A Prússia tinha um exército de 100 mil homens nos
estágios finais da guerra, composto principalmente por recrutas e prisioneiros
que não poderiam executar as manobras que Frederico tão magistralmente lançou
contra os inimigos, mais um motivo para adotar uma estratégia defensiva. Os
exércitos da Rússia e da Áustria somavam 130 mil homens e iriam para a ofensiva
para tomar a Silésia. Frederico montaria diversos fortes e acampamentos para
preparar a defesa da Silésia. Um acampamento fortificado importante foi erigido
em Bunzelwitz, que Frederico julgou que não seria alvo do inimigo e removeria
tropas dele. Isso se mostraria um erro e o acampamento seria tomado pelo
inimigo, que continuaria a se aproximar.
Quando a situação parecia piorar, a sorte ajudaria
Frederico com a morte da czarina Isabel no começo de 1762. O sucessor seria o
príncipe Pedro, que era um admirador de Frederico e buscaria a paz com a
Prússia. Em 5 de março, o Tratado de São Petersburgo selaria a paz entre as
duas nações e permitira que Frederico se concentrasse em apenas um inimigo.
Alguns meses depois Pedro perderia o trono para a sua própria esposa, Catarina,
a Grande, que desejava retomar a guerra contra a Prússia, mas a Rússia acabaria
ficando neutra mesmo. Prússia e Áustria continuariam a lutar pela Silésia e
pela Saxônia, sabendo que a paz não demoraria.
No final de 1762, um mensageiro austríaco iria para
a Prússia e as conversas de paz começariam para encerrarem a guerra
oficialmente em 1763. A Guerra dos Sete Anos terminaria com a assinatura de
dois tratados principais. O de Paris envolveu Grã-Bretanha, França e Espanha,
onde seriam redistribuídas as colônias na América, Ásia e África, com a
Grã-Bretanha levando vantagem na maior parte dos casos, e com o acordo de
retirada de tropas francesas na Europa Central. Os austríacos e os prussianos
se acertariam no Tratado de Hubertusburgo, restaurando as fronteiras de antes
da guerra, com a retirada das tropas austríacas da Silésia e das prussianas da
Saxônia. Na Europa, aparentemente não houve vencedor, porém, nenhum dos objetivos
da Rússia e da Áustria foi alcançado e a Prússia, apesar de não ter obtido
ganho territorial, sobreviveu e se afirmou como grande potência europeia.
Nenhum dos envolvidos obteve ganhos expressivos,
mas muito se perdeu em termos materiais e humanos. O legado da guerra foi a
evolução técnica no campo militar, especialmente as outras nações tentando
copiar a Prússia e modernizar seus exércitos. Mas outro legado também foi uma
série de dificuldades econômicas e financeiras nas nações envolvidas, o que
acabaria culminando depois na independência das 13 Colônias e na Revolução
Francesa. Prússia e Rússia se firmariam como potências no cenário europeu,
prestígio que a Áustria iria perdendo aos poucos. E todo esse cenário teria
influência nas Guerras Napoleônicas, que é outra história completamente
diferente.