O contexto histórico da batalha do Grânico envolve
três povos, gregos, persas e macedônios, que entre o quinto e o terceiro
séculos antes de Cristo lutaram entre si, os gregos, em especial, lutando entre
eles próprios. Após várias guerras, emergiria o vencedor que poderia ser
considerado o azarão dessa disputa, a Macedônia de Filipe II e de seu filho,
provavelmente o único grande general invicto da história, Alexandre, o Grande.
No século 5 antes de Cristo, gregos e persas se
enfrentaram nas chamadas Guerras Médicas, os persas sendo conhecidos como medos
pelos gregos. Foram duas grandes guerras com batalhas bem famosas, como
Maratona, Termópilas e Plateia, mas não cabe aqui descrever em maiores detalhes
os motivos do conflito ou entrar em detalhes sobre seu andamento. O que importa
é o resultado, os gregos conseguindo evitar a invasão persa. Com isso, os
gregos podiam se dedicar ao que mais gostavam de fazer, que era matarem uns aos
outros. Os gregos eram divididos em cidades-estados, ou polis, que entravam em
guerra frequentemente, em especial Atenas e Esparta.
O Império Persa tentou se aproveitar dos conflitos
internos dos gregos, mas não mais com intervenção militar direta, e sim com
diplomacia e conflitos mais localizados. A Macedônia, por outro lado, começaria
a se expandir no reinado de Filipe II. Não foi apenas através de guerras, mas
também de casamentos. O normal na história das nações é que a diplomacia via
casamentos seja feita através de casamento entre filhos dos soberanos ou das
famílias importantes, mas no caso de Filipe II da Macedônia foi casamento dele
com mulheres das tribos com as quais pretendia manter uma aliança. Filipe II
teve várias esposas simultâneas, a mais famosa sendo Olímpia, que lhe daria o
seu segundo filho homem, Alexandre, que futuramente seria Alexandre, o Grande.
O expansionismo macedônico não passaria despercebido
pelos gregos e um conflito militar seria inevitável. A Macedônia seria a
vencedora em 338 antes de Cristo após a Batalha da Queronéia, que contou com a
participação de Alexandre, então com dezoito anos. Não seria uma anexação
militar formal, mas uma aliança contra os persas, contra quem Filipe declararia
guerra. O rei macedônio seria eleito o líder da Liga de Corinto para enfrentar
os persas.
Filipe procuraria um novo casamento, dessa vez com
uma macedônia, Cleópatra, que poderia gerar então um herdeiro totalmente
macedônio. Alexandre e Olímpia ficariam contrariados e acabariam sendo
exilados. No casamento de uma de suas filhas com o rei de Épiro, que também se
chamava Alexandre, Filipe seria assassinado por um guarda-costas, Pausânias.
Aqui vocês poderiam imaginar que Alexandre ou Olímpia podiam ter algo a ver com
esse assassinato. Há muitas teorias da conspiração, modernas e antigas, sobre
quem estaria envolvido no assassinato, e suspeitos é o que não falta, mas o
fato é que Pausânias tinha seus motivos pessoais para assassinar o rei. O fato
é que Alexandre subiu ao trono, matou possíveis rivais, buscou o apoio de
pessoas importantes, acabaria brutalmente com rebeliões na Grécia e então
voltaria os seus olhos para o Império Persa.
Comandantes
Opostos
Alexandre não tem o apelido de “o Grande” a toa,
mas como historiadores dizem, “Sem Filipe, sem Alexandre”. Não fosse a
estrutura militar e econômica criada pelo seu pai, Alexandre não teria tido o
sucesso que teve.
Como mencionado, Alexandre é filho de Filipe II com
Olímpia do Epíro. Ele teve como professor ninguém menos do que Aristóteles e
foi regente da Macedônia na ausência de Filipe, além de participar da batalha
da Queroneia. Tomaria o trono nas circunstâncias descritas e herdaria a posição
de líder da Liga de Corinto, indo para a guerra contra os persas em 335 antes
de Cristo.
O segundo em comando de Alexandre era Parmênio, que
ficou posicionado no flanco esquerdo assim como fazia antes sob o comando de
Filipe e voltaria a fazer com Alexandre em outras batalhas. Serviu
anteriormente em batalhas na Ásia Menor e ajudaria Alexandre a se livrar de
seus rivais, sendo muito bem recompensado por isso. Apesar de já bastante
veterano, seria de grande ajuda no campo de batalha, mas teria um fim vil ao
ser acusado de conspirar contra o rei. Outro comandante importante era Clétio
Negro, que salvou a vida de Alexandre na Batalha de Grânico, serviria bem ao
exército em diversas campanhas, mas seria morto pelo próprio Alexandre em um
infeliz incidente.
O Império Persa, como chamarei aqui, se estendia da
Anatólia ao Vale Índico de oeste a leste e da Bátria (moderno Afeganistão) ao
Nilo de norte a sul. O império era dividido em satrapias, governados por
satrapas que gerenciavam os impostos coletados e cuidavam da administração e
proteção das satrapias. O rei era Dario III, que não se envolveu na Batalha do
Grânico e só comandaria as tropas a partir da Batalha de Issus. Os registros
mostram quatorze comandantes na Batalha do Grânico, sendo cinco deles satrapas
e outros sendo parte da nobreza. Os persas ainda contariam com forças
mercenárias, como os irmãos Mennon e Mentor de Rodes, que tinham estreitas
ligações com diversos satrapas, inclusive via casamentos.
Exércitos
Opostos
Conforme mencionado, Filipe II foi de extrema
importância para as campanhas de seu filho. Ele organizou e treinou o exército
e restaria a Alexandre comandá-lo para a glória. A infantaria lutava na
formação falange usando a sarissa, uma longa lança com entre 5 e 6 metros de
comprimento, o dobro dos hoplitas gregos. Essa era uma arma difícil de manejar
e requeria o uso das duas mãos, o que acabava por reduzir os equipamentos de
defesa dos soldados macedônios. A falange de Filipe II consistia nas primeiras
fileiras apontando as lanças para frente e as linhas de trás inclinando as
lanças para cima para proteger a infantaria de ataques com projéteis. O uso
dessa formação exigia muito treino e prática, obtidos nas batalhas sob o
comando de Filipe II. Os soldados macedônios tinham que carregar os seus
próprios equipamentos e rações e tinham um preparo físico que seria útil para
campanhas de longas distâncias que requerem marchas duradouras e rápidas. No
total, a infantaria de Alexandre contava com 12 mil homens em Grânico.
Alexandre aumentaria o número de cavaleiros para
3.300 e levaria 1.800 para a sua campanha persa, deixando 1500 na Macedônia
para vigiar os seus aliados gregos. Mesmo antes de Alexandre, os macedônios já
conseguiam coordenar o ataque da infantaria e da cavalaria. A cavalaria
macedônia utilizava a lança xyston, mais curta do que a sarissa com entre 2,5 e
3,5 metros. Carregavam uma espada e também elmos e corseletes, mas não escudos.
O grupo principal de cavalaria era conhecido como cavalaria companheira por
serem compostos por nobres “companheiros do rei”. Outra unidade de cavalaria
era a de lanceiros, um grupo menor, com mais ou menos 100 homens, e usavam a
sarissa, embora provavelmente um pouco mais curta do que a utilizada pela
infantaria. Alexandre ainda contaria com cavalaria tessaliana e grega.
Outra unidade importante do exército macedônio era
a infantaria leve agriana, composta por 500 homens. O mais comum é que a
infantaria leve com lanças de arremesso utilizem suas armas e depois recuem,
mas na Batalha do Grânico essa unidade lutou junto com a cavalaria e deixou que
os arqueiros cretenses fizessem o papel de ataque de longa distância.
No comando das tropas, Alexandre era o general
inconteste, com Parmênio como seu segundo em comando. Havia uma cadeia de
comando bem estabelecida e cada unidade tinha o seu comandante.
Falando agora sobre os persas, a especialidade
deles era cavalaria, tanto em qualidade, quanto em quantidade, o que tornará o
resultado da batalha ainda mais impressionante. Um ditado popular na Pérsia era
de que dos cinco aos vinte anos os jovens só precisavam aprender três coisas:
cavalgar, usar o arco e ser honesto. Quanto aos equipamentos, havia uma grande
variedade, mas, em geral, utilizavam duas lanças (paltas), uma para arremesso e
outra para esfaquear. A cavalaria persa era composta por 10 mil homens e foi a
única unidade exclusivamente persa, não havendo infantaria persa na batalha do
Grânico.
Caberia a mercenários assumir o papel de infantaria,
na sua maioria gregos do Peloponeso, de colônias da Ásia Menor ou mesmo de
polis aliadas, mas nem tanto, de Alexandre. Os comandantes dos mercenários eram
os irmãos Memnon e Mentor de Rodes. A infantaria grega lutava em formação de
falange, que eles próprios tinham inventado, que foram muito úteis em diversas
ocasiões, mas que estavam diminuindo de eficácia com o uso coordenado de
cavalaria e infantaria e o maior uso de ataques de longa distância. O número
mais razoável de homens na infantaria do exército persa é 5 mil.
Na organização militar persa, havia uma
descentralização na Batalha do Grânico. O rei Dário III não comandaria o
exército pessoalmente e não elegeria um comandante único, e sim um conselho de
sátrapas. As unidades eram divididas em um sistema decimal, em unidades de 100,
1.000 e 10.000 homens cada uma com seus comandantes. Não há consenso de quem
era o que mais próximo chegava a ser o comandante e o autor do livro que eu uso
de referência cita o sátrapa da Frígia Helespôntica, Arsites, que era
responsável pela região onde se daria a batalha. Mesmo que ele tenha tido maior
destaque, seria apenas um primus inter
pares, primeiro entre iguais. Provavelmente, ele tinha a maior carga de
responsabilidade, tanto que sobreviveria à batalha, mas logo depois suicidaria,
indicando que tinha grande responsabilidade e culpabilidade pela defesa da
região.
Planos
Opostos
A ideia de invadir a Pérsia foi de Filipe II, mas
não se sabe exatamente quando ele teria se decidido a fazer isso. Entre os
gregos, essa era uma ideia antiga e muitos clamavam por uma campanha militar
contra a Pérsia, plano que Filipe encamparia após Quironéia. Não houve um casus
belli bem definido, mas Alexandre alegava que era uma vingança contra a
dessacralização de templos efetuadas pelos persas nas Guerras Médicas,
inclusive, queimaria Persépolis por esse motivo. De preocupação mais urgente,
Alexandre desejava libertar polis gregas na Ásia Menor do domínio persa.
Do lado persa, o rei Dario III não se preocupou
muito com a invasão macedônica e nem se importava muito com assuntos na Grécia,
tendo um amplo império com vários outros assuntos mais importantes, como
revoltas de satrápias e de províncias. Dario III deixaria que os sátrapas
cuidassem dos macedônios. Memmon aconselharia a adoção de uma tática de terra
arrasada, tendo em vista que os macedônios tinham uma infantaria numerosa, mas
poucos suprimentos, mas Arsites da Frígia Helespôntica se opôs ao plano, assim
como outros sátrapas. Desconhecendo a magnitude da ameaça de Alexandre, é
compreensível que os persas não tenham recorrido a tal estratégia, porém, isso
se mostraria um erro fatal no futuro.
Falando agora sobre a batalha, as fontes de
informações são imprecisas, incompletas e divergem entre si. Isso se deve ao
fato de terem sido escritas séculos após a batalha. Arriano de Nicomedia, autor
de A História de Alexandre, é
considerado a fonte mais confiável, pois utilizou-se de obras escritas na mesma
época e até por participantes da própria Batalha do Grânico, obras que acabaram
se perdendo.
Seja lá quando Filipe II se decidiu a invadir a
Pérsia, o plano foi colocado em prática em 336 a.c. com a invasão de polis
gregas na Ásia Menor. Isso criaria uma ponte para a Ásia Menor para uma futura
invasão do Império Persa, que viria com Alexandre. Os macedônios passariam os
próximos dois anos preparando o ataque, cruzando o Helesponto, atual Dardanelos
na Turquia. Seria uma travessia gradual, mas que não teve a oposição naval dos
persas, talvez porque estavam ocupados com outros assuntos.
Enquanto Parmênio cuidava da travessia, Alexandre
iria para Tróia, na Turquia, e faria sacrifícios e prestaria as suas homenagens
aos lendários heróis. Alexandre se via como um novo Aquiles, liderando os
gregos contra seus inimigos externos. Não deve ter sido uma travessia fácil,
efetuada em 160 triremes em uma época ainda com poucos avanços na tecnologia
náutica. Estima-se que Alexandre tenha levado por volta de 40 mil homens de
infantaria mais 5 mil de cavalaria, os números variando de acordo com a fonte.
Quando seu exército chegou na Pérsia, Alexandre
deixaria Troia e se juntaria a seus homens. Procuraria um confronto o mais
rápido possível com os persas para estabelecer de maneira forte as suas
intenções para os persas, gregos e macedônios. Ao invés de se dirigir às polis
da Ásia Menor, Alexandre se dirigiria para a capital da Frígia Helespôntica,
Dascilio. A urgência da sua campanha, além do desejo de rapidamente estabelecer
a sua reputação, era também a falta de suprimentos e ouro e a necessidade de
rapidamente começar a saquear o inimigo.
Alexandre precisaria cruzar 60 milhas entre o local
de desembarque, Arisbe, até o rio Grânico. Para isso, deixaria para trás homens
da infantaria grega e mercenários, duvidando da lealdades desses homens e
precisando marchar rapidamente. Isso reduziria a sua infantaria para 12 mil
homens, mas todos veteranos de batalhas anteriores capazes de aguentar a marcha
que os aguardavam. Quanto à cavalaria, levaria tudo, sabendo da força persa
nessa arma.
Saindo de Arisbe, chegaria em Percote e no dia
seguinte em Lampsacus. A rota de Lampsacus para o Grânico é incerta e não se
sabe sequer onde exatamente ficam esses locais mencionados, exceto o próprio
Grânico, que é o moderno Rio Biga na Turquia. O que se imagina é que o exército
macedônico seguiu uma rota costal e evitou a região das montanhas. Ao chegar na
cidade de Hermotus, mandaria uma força tomar a cidade costal de Priapus. De
Hermotus, Alexandre poderia observar das colinas o rio Grânico e redondezas.
Os sátrapas não intervieram na marcha de Alexandre,
mas não ficaram passivos. Enquanto os macedônios se movimentavam, os sátrapas da
região criavam exércitos com recrutas locais e mercenários. A reunião das
diversas forças das satrápias da região se deu primeiro em Dascilio e depois em
Zeleia, onde os sátrapas fariam um concílio para discutir a estratégia de
batalha, talvez nos dias que antecederam o confronto. Seria aqui que Memnon
sugeriria a tática de terra arrasada, já tendo informações sobre a
superioridade da infantaria macedônica e talvez até da escassez de suprimentos
do exército de Alexandre. Essa ideia seria rejeitada pelos sátrapas,
principalmente Arsistes, e colocaria em dúvida as intenções de Memnon. A
própria necessidade de um concílio mostrou a falta de diretrizes superioras de
Dario III e o comando fragmentado, que podem ser apontados como causas do
fracasso persa em Grânico.
O rio Grânico foi escolhido pelos persas para ser o
local da batalha, por ser a única posição defensável em uma planície sem outros
pontos de defesa e ainda providenciava uma elevação que poderia beneficiar a
cavalaria. Os relatos são de que Parmênio havia sugerido que Alexandre adiasse
o ataque por conta da força da correnteza do rio, mas talvez essa história
tenha sido exagerada para engrandecer os feitos de Alexandre. O fato é que o
rio era um obstáculo, mas nada que impedisse o avanço macedônio.
Em maio de 334 antes de Cristo, começaria a Batalha
do Rio Grânico. O exército de Alexandre marchava em formação com duas linhas de
falanges, com os flancos protegidos pela cavalaria e com batedores à frente. Do
flanco direito, onde estava Alexandre, até o flanco esquerdo, onde estava
Parmênio, a formação macedônica se estendia por 2,5 milhas. Do lado persa, a
cavalaria estava posicionada à frente da infantaria, perto do rio com a
infantaria atrás em uma posição mais elevada. Muitos apontam esse posicionamento
como um erro tático, mas além de essa formação ter funcionado em outras
batalhas, inclusive contra os gregos, os persas precisavam aproveitar o fato de
terem o dobro de cavalaria e compensar o fato de terem menos da metade da
infantaria.
Obviamente, os dois exércitos se viram de uma longa
distância. O relato é de que Parmênio tinha sugerido que Alexandre adiasse a
ofensiva e a maioria dos relatos é de que Alexandre ignorou o conselho e seguiu
para o ataque. Posicionados em lados opostos do rio, os dois exércitos se
aproximaram. Alexandre usava um elmo vistoso com duas plumas brancas, que
permitia que fosse notado de longe e atraísse a atenção dos comandantes persas.
Era uma tática comum dos persas alvejar o comandante inimigo e talvez a ideia
de colocar a cavalaria à frente se devesse a esse motivo.
Apesar de estarem prontos para batalha, os dois
exércitos demoraram para entrar em confronto, com os persas esperando que os
macedônios entrassem no rio para poderem lançar um contra-ataque. Os persas
gravitavam perto da área onde Alexandre estava, em busca de uma oportunidade
para matar o jovem rei.
Alexandre ordenaria que uma força de vanguarda
liderada por Amyntas avançasse pelo rio. Seriam recebidos com arremessos de
lanças e teriam que enfrentar a forte cavalaria persa, que avançaria contra o
inimigo. Apesar de sofrer pesadas baixas, essa força de vanguarda não foi
lançada tolamente adiante e a intenção de Alexandre se realizaria, a de forçar
os persas a saírem de suas posições e atacarem. Ao fazer com que os persas
quebrassem a ordem que tinham estabelecido e lançassem mais tropas adiante,
Alexandre estava moldando o campo de batalha aos seus planos.
As trombetas soariam e a força de vanguarda
receberia o auxílio do restante do exército de Alexandre, que seguiria para o
rio Grânico procurando atravessá-lo. Os dois exércitos se encontraram no rio, o
persa composto apenas por cavalaria, nessa etapa da batalha, e o macedônio com
cavalaria e infantaria. Mas, apesar de estarem montados, a elevada densidade de
combates fazia com que parecesse que era um confronto de infantaria, obviamente
para desvantagem dos persas. A infantaria macedônia atacaria a cavalaria persa
mirando na cabeça do cavalo e do cavaleiro, uma maneira mais eficiente de matar
um dos dois, já que um golpe no peito do cavalo precisaria de muita força para
mata-lo e provavelmente quebraria a lança antes disso.
Nessa etapa da batalha, teríamos um episódio chave
e que definiria não apenas a batalha, mas principalmente a guerra. Alexandre
lutava junto com os seus homens, se expondo a enormes riscos. O plano persa e,
infelizmente para os persas, o único plano pelo que podemos perceber, era matar
Alexandre o quanto antes. Para isso, diversos comandantes avançaram contra a
sua posição. Os relatos que chegaram até nós são contraditórios entre si, mas
em comum temos que Alexandre é atacado por um sátrapa e mata o seu agressor.
Porém, é atingido no elmo, o mesmo que o tornava tão fácil de identificar e que
agora lhe salvou a vida. Apesar disso, o golpe o desnorteou e baixou a sua
guarda. Foi então que Clétio Negro apareceu e salvou o rei cortando o braço do
sátrapa que se preparava para o golpe fatal em Alexandre. Todas as fontes
relatam esse episódio e é improvável que os autores do relato inicial tenham
mentido, primeiro porque poderiam passar por mentirosos, segundo porque não
tinham razões para isso. Alguém poderia desconfiar que historiadores contemporâneos
que participaram das campanhas de Alexandre pudessem inventar a história para
engrandecer Alexandre, como se desconfia em diversos pontos, mas nessa história
o herói foi Clétio, não Alexandre.
De todo modo, Alexandre se salvou e os persas perderam
diversos de seus comandantes, o que fez com que o exército persa perdesse
comando e moral. A infantaria avançaria pelo centro e provocaria a fuga da
cavalaria persa por essa região. A vantagem era toda macedônica e os persas,
que estavam com poucos comandantes, começaram a fugir da batalha após
enfrentarem os macedônicos mais organizados, coesos e com seu comandante por
perto. A parte central da linha persa seria a primeira a cair, com a cavalaria
fugindo da batalha diante da pressão da numerosa infantaria. O flanco esquerdo,
que enfrentava a Cavalaria Acompanhante liderada por Alexandre, seria a próxima
a se desorganizar e o flanco direito eventualmente também acabaria fugindo da
batalha.
Restava a infantaria do exército persa,
provavelmente composta apenas por mercenários gregos. A infantaria persa estava
posicionada atrás da cavalaria e em momento algum se juntou ao resto do
exército, seja por decisão estratégica, seja por falta de decisão ou por medo.
A infantaria via o que estava acontecendo com a cavalaria aliada e ficaria
parada, mais estarem surpresos com o andamento da batalha do que por
disciplina.
Alexandre ordenaria que a cavalaria não perseguisse
a cavalaria persa em fuga e concentrasse em atacar a infantaria mercenária,
procurando cercar pelos dois flancos enquanto que a infantaria macedônica
seguia em direção ao inimigo pelo centro. Os mercenários gregos pediram para se
render, o que era bom para ambos os lados. Os mercenários continuavam a ser uma
formidável força, apesar de em muito menor número e sem esperança de vencerem a
batalha. Seria bom para Alexandre poupar os seus homens de um confronto que já
era sem sentido a essa altura. Porém, movido mais por raiva do que por razão,
nas palavras de Plutarco, Alexandre ordenaria o ataque aos mercenários. Essa
decisão não foi de todo impensada, se formos considerar que Alexandre se
considerava o líder dos gregos contra os persas e que esses mercenários podiam,
então, ser considerados traidores. Então, além de punir traidores, Alexandre
mandaria uma mensagem bem forte para todos os gregos e para mercenários em
geral sobre qual lado eles deveriam defender.
Não há muitos detalhes sobre essa batalha, exceto
que os mercenários foram cercados. Eles provavelmente tentaram formar barreiras
de lanças para frear o inimigo, mas estavam em desvantagem, com as sarissas
macedônicas sendo mais longas do que as lanças gregas. A batalha foi feroz
mesmo com toda a desvantagem dos mercenários e diz-se que Alexandre perdeu o
seu cavalo no confronto, mas nunca houve dúvida sobre qual seria o resultado
final. Mais da metade da força mercenária seria morta e por volta de 2 mil
homens seriam tomados como escravos.
As baixas, considerando apenas mortos, foram
relativamente poucas em ambos os lados. Por volta de 25 seriam mortos da
Cavalaria Acompanhante, mais 60 de outras partes da cavalaria. A maior
estimativa de baixas na infantaria macedônica é de 30, que pode parecer um
número baixo, mas temos que considerar que a infantaria apenas enfrentou a
infantaria mercenária, em excelente situação. Do lado persa, no máximo 2500
homens foram mortos na cavalaria, ou seja, no máximo 25%. Na infantaria, foram
de 2 a 3 mil homens mortos, mais 2 mil capturados.
Ao final da batalha, Alexandre prestaria as suas
homenagens aos mortos em batalha, inclusive inimigos, e em especial aqueles que
faziam parte da Cavalaria Acompanhante, mandando que fossem erigidas estátuas
de bronze a eles. 300 persas seriam mandados para Atenas para serem
sacrificados em honra a Atena e para que Alexandre marcasse bem na Grécia, na
Macedônia e na Pérsia a importância de sua vitória.
Esse seria o primeiro triunfo de Alexandre na
Guerra da Pérsia, que levaria à vitória da Macedônia e a glorificação do jovem
rei macedônico que seria marcado na história como Alexandre, o Grande.
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