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Na Guerra dos Sete Anos, 1757 começou bem para
Frederico II da Prússia com a vitória em Praga, mas a derrota na Batalha de
Kolin marcou, além de sua primeira derrota militar, uma virada da maré. A
Prússia teria derrotas em Hanover e na Prússia Leste e o inimigo ganhava força,
até que Frederico conseguisse duas vitórias que o imortalizariam como um dos
maiores generais da história com as batalhas de Rossbach e Leuthen.
Eu comentei sobre a Guerra dos Sete Anos em outro
vídeo, então, para ter uma ideia melhor do contexto, recomendo que assistam a
esse vídeo. Mas, resumindo de maneira rápida, a Guerra dos Sete Anos surge como
uma continuidade da Guerra da Sucessão da Áustria e opôs de um lado
Grã-Bretanha e Prússia e de outro França, Áustria e Rússia, para citar só as
principais nações envolvidas. Em disputa, colônias na América do Norte e Índias
para britânicos e franceses e na Europa o domínio da Silésia, Prússia Leste e
Hanover. A Guerra começou em 1756 e até a derrota na Batalha de Kolin o momento
era todo da Prússia, que depois começou a ser acuada pelos seus inimigos em
grande desvantagem numérica, mas contando com possivelmente o melhor exército
da época.
Depois da rendição de Hanover, os franceses e
tropas do Sacro Império Romano seguiriam a leste em direção à Prússia. Isso
faria com que as atenções de Frederico fossem desviadas da Prússia Leste e do
confronto contra austríacos e russos para lidar com a ameaça francesa a oeste.
Comandantes
Opostos
Eu vou falar sobre duas batalhas nesse vídeo. Do
lado da Prússia, houve o mesmo comandante em chefe nas duas, Frederico, o
Grande, mas do lado de seus inimigos os comandantes foram diferentes, mas já
comentarei sobre eles agora.
Frederico tinha 45 anos em 1757, ano de sua primeira
derrota, mas também de algumas de suas maiores vitórias. Tinha uma boa
reputação militar na época, que seria abalada com a derrota em Kolin. Com a
retirada da Boêmia, quando os prussianos eram liderados pelo seu irmão,
Augustus Wilhelm, mostraria um lado mais obscuro ao culpa-lo pelo revés e
humilhá-lo publicamente ao retirá-lo do comando, quando deveria ter sido ele a
tomar o comando do exército nesse momento. Veria que precisaria mudar os rumos
ainda nesse ano sob o risco dos seus homens perderem moral e teria sucesso
usando brilhantes táticas de manobra para enganar os seus inimigos.
Seu segundo em comando era James Keith de
Inverugie, que teve uma trajetória militar bastante curiosa. Nasceu na Escócia
e sua família apoiava militarmente a reinvindicação de James Stuart ao trono
escocês. Após diversas derrotas, James Keith acabou indo para o exílio,
peregrinando por vários países até chegar à Rússia, onde participaria de
diversas campanhas até chegar ao posto de general. Se recusaria a ter um caso
com a czarina Isabel e iria para a Prússia em 1747. Frederico logo perceberia o
potencial de James Keith e o promoveria a marechal de campo. Seria o segundo em
comando na Batalha de Rossbach e depois receberia um comando próprio, portanto,
não participando da Batalha de Leuthen.
Outra pessoa importante do lado prussiano era o
major-general Friedrich von Seydlitz. Sua carreira toda foi na cavalaria e ele
ganharia um regimento próprio após a Guerra da Sucessão da Áustria. Na Guerra
dos Sete Anos, teve um infortúnio na Batalha de Lobositz em 1756 ao empacar seu
regimento na lama e repetiria o erro na Batalha de Praga um ano depois. Isso
parecia um mau presságio, mas durante a Batalha de Kolin ele assumiria o
comando da brigada de cavalaria com a morte do comandante anterior e
continuaria a tarefa do seu antecessor atacando o flanco dos austríacos. Isso
poderia ter mudado o rumo da batalha, porém, as outras unidades de cavalaria
não tiveram o mesmo desempenho e a Prússia acabaria perdendo a batalha. Mesmo
assim, Frederico reconheceria seu mérito, o promoveria a major-general e lhe
daria o comando da cavalaria na Batalha de Rossbach, onde seu ótimo desempenho
lhe renderia a promoção para tenente-general e a Ordem da Águia Negra, a mais
alta honraria da cavalaria.
Do lado oposto, o comando na Batalha de Rossbach
era dividido entre o general francês Soubise e o marechal de campo Joseph von
Saxe-Hildburghausen. Charles de Rohan, príncipe de Soubise, era de uma das mais
tradicionais famílias francesas e atuou na Guerra da Sucessão Austríaca como
ajudante de campo e em 1757 era governador de Flandres e Hennegau. Comandou as
tropas francesas em Rossbach e depois atuaria na campanha para tomar Hanover.
Era tido como tímido e indeciso e devia a sua posição militar nem tanto ou não
apenas por seus laços familiares, mas também por influência de duas amantes do
rei Luís XV, Madame du Pompadour e Madame du Barry. Vendo assim, não é difícil
imaginar porque os franceses e os austríacos perderam a Batalha de Rossbach.
O marechal de campo austríaco Joseph von
Saxe-Hildburghausen teve uma brilhante carreira atuando na Guerra da Sucessão
Polonesa e na Guerra da Sucessão Austríaca. Receberia diversos cargos de
comando na hierarquia militar e comandaria o Exército Imperial na Guerra dos
Sete Anos. Seria o comandante em chefe conjunto na Batalha de Rossbach, que
terminaria em derrota para a coalizão austro-francesa e envergonhado
renunciaria de todas as atividades militares após a derrota.
Na Batalha de Leuthen, o comandante em chefe foi o
príncipe austríaco Charles de Lorraine. Ele era o irmão mais novo do marido da
Imperatriz Maria Teresa da Áustria. Recebeu seu primeiro comando em 1741 e
combateria na Guerra da Sucessão Austríaca. No período entre-guerras, seria
presidente da Comissão de Reforma Militar e defendeu amplas reformas
estruturais no exército austríaco. Não participaria das primeiras batalhas da
Guerra dos Sete Anos, mas participaria da expulsão de Frederico da Boêmia após
a Batalha de Kolin. Era corajoso e experiente no campo de batalha, porém, lhe
faltava auto-confiança que ele escondia com bebida e a companhia de amigos
dissolutos, vamos dizer assim. Claro que isso não era muito saudável para um
soldado e prejudicaria o seu desempenho. Laços familiares o mantiveram no topo por
mais algum tempo, mas logo ele cairia em desgraça e Leuthen seria a sua última
batalha. Ou seja, Frederico acabaria na prática aposentando dois de seus
oponentes nessas duas batalhas, mantendo apenas o incompetente na ativa.
Batalha de
Rossbach
Vou agora falar sobre a Batalha de Rossbach. Frederico
queria ao oeste uma batalha contra o exército Franco-Imperial, que até agora
nunca lhe tinha feito esse favor. Nesse meio tempo, em outubro, teve que lidar
com um ataque austríaco à Berlim liderado pelo tenente-general Hadik. Frederico
deixaria James Keith para vigiar os franco-imperiais no Rio Saale e iria para
Berlim, enviando à frente Seydlitz e ordenando que os exércitos de Ferdinando
de Brunswick e de Moriz von Anhault-Dessau se deslocassem para a região. Logo,
Hadik se retiraria e na volta Frederico teria a notícia que estava esperando,
tropas francesas e do Sacro Império Romano estavam cruzando o Rio Saale e
procuravam combate contra os prussianos.
Frederico reuniria as suas forças em Leipzig. Por
conta do preparo de seus homens, Frederico foi capaz de deslocar milhares de
tropas pela Prússia em um curto espaço de tempo. Em outros locais, Frederico
receberia boas notícias, com os russos recuando da Prússia Leste, a ameaça
sueca sendo contida pelo marechal de campo Hans Lewaldt e em especial com a
volta de Hanover para a guerra, com o pedido adicional para que Ferdinando de
Brunswick liderasse o Exército de Observação de Hanover. Com isso, Frederico
sentia que era chegada a hora de enfrentar a ameaça Franco-Imperial na última
parte que o preocupava de maneira mais urgente, a Silésia.
Do outro lado, o francês de Soubise não se entendia
muito bem com o seu colega austríaco Saxe-Hildburghausen sobre quando lançar
uma ofensiva. Forças franco-imperiais tinham cruzado o Rio Saale, mas recuariam
logo depois e esperavam um momento melhor para atacar os prussianos. No fim, os
aliados ficariam na defensiva no Rio Saale e seria Frederico quem tomaria a
iniciativa.
O rio podia ser atacado por três pontos, todos bem
defendidos pelos franceses e imperiais. Frederico decidiria atacar em dois
pontos, lançando o exército principal rio acima em Weissenfels e Keith atacaria
rio abaixo em Merseburg. Os prussianos forçariam seu caminho e os inimigos
recuariam, não sem antes queimar as pontes para atrasar o avanço dos
prussianos. Frederico cruzaria o rio sem oposição, só tendo que lidar com o
problema da ponte. Keith, por sua vez, tinha que cruzar o rio por Merseburg e
Ferdinando de Brunswick tentaria atravessar o rio em Halle, para encontrar a
ponte destruída. Os franceses tentariam oferecer resistência ao avanço
prussiano nesses dois pontos, mas com notícias da travessia de Frederico
acabariam recuando.
Na noite de 3 de novembro, o exército prussiano se
reuniria novamente. Frederico enviaria a cavalaria para fazer reconhecimento e
encontraria o inimigo em uma linha norte-sul com aproximadamente 60 mil homens,
três vezes o número do exército prussiano. Frederico posicionaria o seu
exército em Leiha-Bach, com o flanco direito em Bedra e o esquerdo em Rossbach,
mas não lançaria um ataque contra o inimigo. O exército franco-imperial
entendeu isso como um sinal de fraqueza por parte da Prússia, se encheria de
brios e a banda tocaria a fanfarra da vitória. Saxe-Hildburghausen tinha um
plano ousado de atacar o flanco esquerdo do exército prussiano de forma a
força-lo a virar e assim chegar à retaguarda e forçar Frederico a recuar. A
ordem para o avanço seria dada em 5 de novembro, iniciando o que seria a
Batalha de Rossbach.
O exército Franco-Imperial avançaria tentando a
manobra sugerida por Saxe-Hildburghausen. Poderia até parecer que o plano fazia
sentido, mas certamente é subestimar demais o inimigo, ainda mais considerando
que se tratava de Frederico II da Prússia, imaginar que o comandante deixaria o
seu flanco ser atacado estando atento para isso, como qualquer um estaria nessa
situação. Os aliados foram pra lá de imprudentes, sequer mandando uma equipe de
reconhecimento.
De certa forma, foi até surpreendente o movimento
dos aliados. Frederico recebeu a notícia de um capitão sobre a movimentação
inimiga enquanto almoçava. De início, o líder prussiano achava que seu
subordinado estava exagerando já que ele tinha essa tendência, mas acabou
depois verificando com os próprios olhos que era verdade. Em meia hora, os
prussianos desmontaram o acampamento e se colocaram em marcha.
Frederico planejaria uma rota que desse a impressão
de que estava recuando para então mudar de direção e atacar o exército inimigo
em marcha. Para isso, precisaria da cavalaria, cujo comando foi entregue para
Seydlitz. A cavalaria iria na frente e cobriria o flanco esquerdo da
infantaria. O inimigo voltaria a entender tudo errado e realmente acreditou que
Frederico tinha ficado com medo e estava batendo em retirada e seguiriam
marchando para a batalha.
Quando chegou perto do inimigo, Frederico ordenou
que a artilharia se posicionasse em elevações e abrisse fogo. Esse seria o
sinal para que Seydlitz avançasse, pegando desprevenida a cavalaria dos
aliados. Apenas algumas unidades da cavalaria aliada estavam prontas para o
combate e elas se opuseram à primeira linha da cavalaria prussiana, mas acabou
sendo uma luta desigual. Reforços chegariam com o próprio general de Soubise,
mas Seydlitz empregaria a segunda linha e em meia-hora de combate a cavalaria
aliada estava debandando. Vitorioso, Seydlitz ordenaria que a cavalaria
refizesse a formação e esperaria por novas ordens.
O plano de Frederico era marchar em direção horária
a nordeste, usando o Cume de Janus como camuflagem, depois virando à direita
para seguir ao sul para depois avançar em linha para atacar a cabeça do
exército inimigo em marcha. Essa manobra pegou totalmente desprevenidos os franceses
e imperiais, que não estavam de todo prontos para um confronto quando os
prussianos surgiram em formação, contando ainda com o fogo da artilharia. As
duas infantarias começariam o combate e Seydilitz voltaria a atacar a
cavalaria, causando ainda mais confusão no exército franco-imperial quando a
cavalaria se chocou com a infantaria. A essa altura, a batalha se dava entre
uma turba desorganizada formada pelos franceses e por imperiais contra forças
bem disciplinadas e organizadas dos prussianos.
O resultado não poderia ser outro senão a debandada
dos aliados. Os prussianos perseguiriam o inimigo e a situação só não foi pior
porque a infantaria franco-suíça interviria e conseguiria cobrir a fuga dos
derrotados da Batalha de Rossbach. Seu desempenho impressionaria Frederico, que
teria perguntado “O que é essa parede de tijolo vermelho que meus canhões de
artilharia não podem derrubar?”.
De todo modo, a Prússia venceu a batalha. Frederico
passaria a noite no castelo de Burgwerben e escreveria para a sua irmã, cheio
de entusiasmo: “Eu posso agora morrer em paz, porque a reputação e honra de
minha nação foi salva”. Não foi apenas uma vitória, e sim uma vitória
consagradora, Frederico com 22 mil homens derrotando um exército com mais do
que o dobro de tamanho, causando 8 mil baixas e perdendo apenas 550 homens. Do
outro lado, os franceses e os imperiais fugiriam. Saxe-Hildburghausen
renunciaria ao comando do exército imperial, que seria desmantelado para ser
refeito no ano seguinte melhor equipado e treinado.
O resultado da batalha foi dar moral para o
exército prussiano e para o próprio Frederico após algumas derrotas em 1757 e
teria o efeito oposto nos franceses e imperiais. Serviria ainda para animar os
seus aliados de Hanover, mas ainda faltava uma vitória sobre os austríacos na
Silésia, que viria ainda nesse ano.
Batalha de
Leuthen
E vamos agora para a Batalha de Leuthen, exatamente
um mês após Rossbach. Os austríacos tinham a iniciativa na Silésia após a
vitória em Praga, porém, seriam atrapalhados por eles mesmos. O comando do
exército austríaco seria tirado do marechal de campo Daun e entregue ao
príncipe Charles de Lorraine, cunhado da Imperatriz Maria Teresa. Daun ainda
gerenciaria algumas tarefas de rotina, mas a incompetência de Charles seria um
desastre para o exército. O ideal seria tirá-lo do comando, mas o imperador
consideraria uma afronta pessoal a remoção do seu irmão do comando e Charles
permaneceria. E foi graças a isso que Frederico poderia deixar essa região e
cuidar de assuntos em outros lugares, deixando o duque Augustus Wilhelm de
Brunswick-Bevern para comandar um exército de 43 mil homens para vigiar os
austríacos.
Diante dessa situação, os austríacos tinham a opção
de perseguir Frederico ou atacar a força que permaneceu na região da Lusatia e
acabaram por optar pela segunda. As forças austríacas empurram para trás
Bevern, que recuaria sucessivamente até chegar em Breslávia, onde se
encastelaria. Se fosse um pouco mais ousado ou habilidoso, Charles de Lorraine
poderia ter impedido que Bevern recuasse para a Silésia, mas não foi capaz
disso e teria que sitiar a Breslávia para derrotar o exército inimigo. Os
austríacos procederiam com cautela e iriam tomando posições secundárias, como o
forte de Schweidnitz. Quando notícias da vitória de Frederico em Rossbach
chegaram, Lorraine e Daun se decidiriam a tomar Breslávia, sabendo que o rei da
Prússia viria auxiliar Bevern.
Na Batalha de Breslávia, os prussianos seriam
derrotados e Bevern fugiria deixando apenas uma guarnição de 5 mil homens na
cidade. Em uma missão de reconhecimento, seria capturado e o que se especula é
que ele se deixou ser capturado, provavelmente temendo mais a ira de Frederico
do que os austríacos. O resto do exército não teria esse azar, ou essa sorte, e
fugiriam de Breslávia. Com a tomada da cidade, a Silésia retornaria para a
Áustria após mais de trinta anos, mas eles sabiam que teriam que derrotar
Frederico para efetivamente manter o comando da cidade.
Após Rossbach, Frederico marcharia para a Silésia,
deixando 13 mil homens em Leipzig e enviando o marechal Keith e 9 mil homens
para um ataque diversionista na Boêmia. Após marchar 290 quilômetros em 15
dias, se reuniria com os homens que retornavam da Breslávia e, ao invés de sair
dando esporro em todo mundo, procurou elevar o moral das tropas dando vinho e
comida aos soldados derrotados na Breslávia enquanto que os vitoriosos de Rossbach
contavam histórias do feito glorioso. Faria seu famoso discurso de Prochowice.
O discurso foi feito em alemão, ao invés do francês, língua mais comumente
utilizada por Frederico, e é como se segue:
“O inimigo mantém o mesmo campo entrincheirado de
Breslávia que minhas tropas tão honrosamente defenderam. Eu estou marchando
para atacar essa posição. Eu não preciso explicar a minha conduta ou porque eu
estou determinado a essa medida. Eu reconheço por completo os perigos
envolvidos nessa empreitada, mas na minha presente situação eu devo conquistar
ou morrer. Se cairmos, tudo estará perdido. Tenham em mente, cavalheiros, que
nós vamos lutar por nossa glória, a preservação de nossas casas, e por nossas
esposas e crianças. Aqueles que pensam como eu podem ficar tranquilos que, se
forem mortos, eu vou cuidar de suas famílias. Se alguém preferir partir, pode
fazê-lo agora, mas ele deixará de ter qualquer reivindicação de minha
benevolência”.
No dia seguinte, 4 de dezembro, os prussianos
deixaram Prochowice e foram para Neumarkt, onde surpreendentemente encontrariam
suprimentos inimigos guardados por mil croatas. Tomaria esses suprimentos e
examinariam a posição do inimigo, percebendo que os austríacos estavam deixando
suas posições fora de Breslávia e estavam em marcha. Frederico perceberia que
essa era a sua chance de atacar os austríacos e teria que fazê-lo rapidamente
antes que o inimigo pudessem se organizar defensivamente.
Na manhã do dia 5 de dezembro, Frederico marcharia
para a batalha encoberto pela névoa. Não foi uma marcha fácil por conta do
clima de outono quase inverno, mas foi providencial essa movimentação
acelerada. Frederico chegaria em Borne ainda encoberto pela névoa e lá
encontraria o tenente-general Nostiz e três regimentos de cavalaria que tiveram
um excelente desempenho na Batalha de Kolin. Nostiz não tinha certeza da força
inimiga e acabou surpreendido pelos prussianos, mas conseguiria fugir de Borne
com baixas modestas. Porém, a fuga tiraria a cobertura do exército austríaco e
Frederico poderia observar o posicionamento inimigo.
Os austríacos estavam colocados no campo de maneira
bem convencional, com a infantaria no centro e a cavalaria nos flancos, com a
artilharia espalhada pela frente de batalha, o que permitia alcançar uma área
menor, porém, impossibilitando concentrar o fogo em um ponto. A linha estava
incomumente longa, com três fileiras ao invés de quatro. As experiências
anteriores tinham mostrado que Frederico ia tentar virar o flanco do exército
deles e os austríacos utilizaram essas medidas para evitar essa manobra. Na
Batalha de Kolin, o uso inteligente de reservas contribuiu para a vitória dos
aliados e corpos reservas foram destacados e postos sob comando do
tenente-general Karl Leopold d’Arenberg.
Após observar o inimigo pessoalmente, Frederico
decidiria atacar o flanco esquerdo dos austríacos. E aqui Frederico utilizaria
a chamada ordem oblíqua, onde, após analisar pessoalmente o posicionamento
inimigo, manobraria para atacar um dos flancos com o centro do seu exército. Os
flancos iriam impedir que o centro e o outro flanco do exército inimigo pudessem
auxiliar o flanco sob ataque. Não era uma manobra convencional e poderia abalar
psicologicamente os combatentes inimigos em uma situação caótica e assim
desorganizando o inimigo. Se essa manobra dá certo, é possível usar dois terços
de seu exército para enfrentar um terço do inimigo, o que anula a desvantagem
numérica que voltaria a existir na Batalha de Leuthen.
A ordem oblíqua falhou em Kolin, mas a história
seria diferente agora. Mas, certamente que Frederico não entregaria o seu plano
para o inimigo e realizaria uma série de marchas e contra-marchas para
dissimular as suas intenções e posicionaria partes de seu exército de forma a
dar a entender que o ataque seria pelo centro ou mesmo no flanco direito. O
general Lucchese comandando a cavalaria no flanco direito se convenceria de que
sua posição seria atacada e pediria que os reservas fossem deslocados para a
direita. Lorraine aceitaria o pedido e essa seria uma decisão desastrosa.
Frederico passaria algum tempo manobrando pelo
campo de batalha, chegando relativamente perto do exército inimigo, perto o
suficiente para que se vissem e longe o bastante para que não entrassem em
contato antes da hora e atrapalhasse seus planos como tinha ocorrido em Praga e
Kolin. Prejudicados pela cobertura de algumas elevações em alguns pontos, os
austríacos julgariam mal as intenções de Frederico e acreditaram que o
comandante inimigo estava desistindo da batalha. O general de cavalaria Graf
Nadasty observava a movimentação dos prussianos e veria que o seu flanco seria
atacado e alertaria Lorraine e Daun, mas sem sucesso.
Do lado prussiano, o tenente-general Zieten cobria
o flanco direito, com o major-general Bevern cobrindo seu flanco direito que
estava possivelmente exposto. O tenente-general Driessen comandava o flanco
esquerdo, que estava mais longe da batalha, e recebeu ordens para avançar caso
a oportunidade surgisse. O segundo-em-comando, general de infantaria
Anhalt-Dessau, comandaria a infantaria pelo centro.
Após se certificar de que tudo estava pronto, Frederico
iria aos porta-bandeiras e diria o seguinte: “É caso de fazer ou morrer! Vocês
têm o inimigo na frente e todo nosso exército atrás. Não há espaço para recuar
e o único caminho adiante é derrotando o inimigo”. Às 13 horas, o exército
prussiano avançaria para o combate. O primeiro confronto se daria em
Kiefernberg contra regimentos imperiais e de Württemberg, que não eram maus
soldados, mas nunca tinham enfrentado os prussianos e também eram tidos como pouco
confiáveis. O ataque seria iniciado pelo major-general Wedel, rapidamente colocando
para correr os regimentos destacados por Nadasty para proteger a região, que
recuariam para Leuthen. O trabalho de Wedel foi tão fácil que Frederico
precisou pedir para que ele desacelerasse e não atacasse Leuthen sozinho. Isso
abriu o flanco esquerdo do exército austríaco e permitiu o avanço dos
prussianos, resultando no recuo dos austríacos para Leuthen.
A infantaria teve pouco trabalho, mas o choque de
cavalarias se mostraria mais desafiante para os prussianos. Nostiz, que
retornou de Borne, se juntaria à cavalaria de Nadasty e iria para o ataque
contra o flanco direito dos prussianos. Esperavam encontrar o flanco
desprotegido, mas teriam que enfrentar Bevern. Nostiz sempre foi um guerreiro
corajoso, o que resultaria em ser ferido 14 vezes em combate, mas seria
capturado na Batalha de Leuthen. Alguns regimentos prussianos seriam flanqueados
e golpeados pelas costas e capturados, mas logo seriam resgatados. Nadasty conseguiria
algumas vitórias que poderiam servir para refazer a formação, mas muitos dos
soldados não estavam muito interessados e cooperar e continuavam a recuar.
Desprotegido, Nadasty seria derrotado, o que representou a queda do flanco
esquerdo do exército austríaco.
O desastre se aproximava para os austríacos. Os
reservas estavam todos no norte e não havia como tapar o buraco na linha
austríaca. Lorraine ordenaria que o que restou da cavalaria do flanco esquerdo
enfrentasse os prussianos, mas o comandante, general de cavalaria Serbelloni,
que tinha participado da Batalha de Kolin e desempenharia papel semelhante,
considerou melhor recuar para Leuthen. Caberia ao tenente-general Buccow tentar
frear o avanço dos prussianos. Mas a luta seria desigual, com um número maior
de inimigos marchando contra ele contando com apoio da artilharia. Sob o peso
das baixas crescentes Buccow seria forçado a recuar.
Isso acabou dando tempo para os reservas de
d’Arenberg chegar ao flanco esquerdo com uma marcha forçada de seis quilômetros
e meio em uma hora. Certamente que não chegariam na melhor das condições, um
pouco cansados, sem artilharia e desorganizados, e também não seriam eles a
impor uma resistência mais séria ao avanço prussiano e também recuariam para
Leuthen.
Lorraine e Daun organizariam o exército formando
uma linha ao norte de Leuthen. A linha não estava de todo organizada, mas os
austríacos conseguiram consolidar uma posição para enfrentar os prussianos. O
exército de Frederico formaria uma linha ao sul de Leuthen e avançaria contra a
vila. Apesar de não estar preparada para defesa, a vila serviria como um
obstáculo para o avanço dos soldados prussianos que, não obstante, partiriam
para o ataque. Seriam repelidos nas primeiras tentativas, mas logo conseguiriam
penetrar na vila em alguns pontos.
Dentro da vila, o ponto de apoio da defesa
austríaca seria uma igreja, defendida pelo excelente regimento imperial Rot-Würzburg,
que defenderiam com coragem a igreja, mas logo seriam superados pelos
prussianos, que tomariam a igreja. Os austríacos fugiriam de Leuthen e refariam
a formação fora da vila em um terreno mais propício para a defesa.
Os prussianos tomaram Leuthen, mas a infantaria
austríaca ainda resistia. E nem tudo ia bem para Frederico. O lado esquerdo de
sua linha sofria pesadas baixas com o fogo da artilharia austríaca e poderia
expor toda a linha se entrasse em colapso. Frederico, lembrando de uma situação
parecida em Kolin, reforçaria o lado esquerdo de sua linha.
Nesse ponto da batalha, de cada lado havia uma
unidade ainda não utilizada, a cavalaria austríaca sob o comando do general de
cavalaria Lucchese e a cavalaria prussiana sob o comando de Driesen
originalmente no flanco esquerdo do exército prussiano. Lucchese identificou as
baterias prussianas e o flanco esquerdo exposto do inimigo, alvos irresistíveis
para a cavalaria e avançaria para um ataque que poderia virar o jogo. Porém, de
onde estava posicionado, Driesen viu o avanço de Lucchese e seguiria para
intercepta-lo. Lucchese foi pego de surpresa quando se aproximava da artilharia
prussiana. O ataque prussiano inicial foi devastador, matando o comandante
inimigo e infligindo pesadas baixas entre os austríacos, que após o choque
inicial conseguiriam equilibrar o combate. A entrada do tenente-general
príncipe von Württemberg acabaria desempatando a disputa para o lado prussiano.
Com o cair da noite, os austríacos fugiriam do
campo de batalha e deixariam definitivamente Leuthen. Tudo que restava a eles
era uma retirada organizada, lançando alguns ataques para ganhar tempo e
empregando o que restou da artilharia para manter os prussianos longe. Nadasty
comandaria habilmente a retirada, mas acabaria sendo capturado pelos
prussianos. Os austríacos cruzariam a ponte de Lissa, mas Frederico
persistiria, querendo tomar a ponte para evitar que o inimigo formasse uma nova
linha. Sofreria algumas emboscadas dos austríacos, mas a escuridão diminuiria
muito a precisão dos ataques, que não tiveram maiores consequências.
Frederico tomaria não apenas a ponte de Lissa, mas
também o castelo. Lá, se reuniria com os seus melhores homens, Anhalt-Dessau,
Driesen, Zieten e Wedel e seu irmão mais novo Ferdinando, fazendo um discurso e
dando as ordens para o próximo dia, encerrando com: “Esse dia irá transmitir a
glória de seus nomes e de nossa Nação por toda a posteridade”.
E foi dessa forma que Frederico venceu dois
exércitos que tinham mais do que o dobro de homens cada no espaço de um mês. Em
Leuthen, o saldo final foi de 6.382 baixas, 20% do contingente, com pouco mais
de mil mortes. Do lado austríaco, somando batalha e perseguição, foram 3 mil
mortos, de 6 a 7 mil feridos, 22 mil prisioneiros, para não falar na perda de
canhões e bandeiras. Nos dias seguintes, Frederico continuaria a perseguição
aos austríacos, que recuariam até a Boêmia. Ainda em 1757 tomaria de volta a
Breslávia e teria que encerrar o ano por lá mesmo, precisando descansar após um
ano muito movimentado.
Acreditando que o inimigo estava desmoralizado,
Frederico enviaria cartas para a imperatriz Maria Teresa da Áustria sugerindo
uma negociação de paz, mas Maria Teresa se recusaria, sabendo que França e
Rússia ainda estavam dispostas a continuar com a guerra. Frederico não
conseguiria a paz que desejava e teria ainda anos difíceis ao longo da Guerra
dos Sete Anos, mas, nas suas próprias palavras, sua glória ficaria por toda a
posteridade com essas duas incríveis vitórias.
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