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Essa é a história da Segunda Guerra Civil Romana,
mas é impossível dissocia-la de sua personagem principal, Júlio César, uma das
figuras históricas mais fascinantes, na minha opinião. Uma pessoa extremamente
ambiciosa como Roma criava aos montes, César foi de um nada histórico até
virtual rei de Roma em pouco mais de uma década e grande parte disso se deu
durante o que também se convencionou chamar de Guerra Civil Cesariana, tema
deste vídeo.
Desde que se tornou República, Roma passou por um
grande período de expansão e a única ameaça que sofreu foi de Cartago, em
especial quando comandada por Aníbal. Os romanos poderiam aproveitar tanto
sucesso externo, mas, ao invés disso, ambicionavam ainda mais e essa ambição
acabaria por colocar uns contra os outros. A República Romana possuía
instrumentos para descentralizar o poder e evitar que um individuo ambicionasse
restaurar a monarquia ou começar um império. O cargo de cônsul era exercido por
duas pessoas e renovado a cada ano. Legiões eram criadas para conquistas
militares e obviamente que possuíam um líder, mas havia mecanismos para evitar
que esses líderes pudessem controlar as legiões a tal ponto que pudessem
usá-las como se fossem o seu exército pessoal e sustentarem uma reinvindicação
ao poder absoluto.
É um sistema que funcionava até que bem, não por
outro motivo durou por vários séculos, mas sempre houve quem queria mudar as
coisas para se tornar o soberano de Roma. Não só isso, o sistema acabava
favorecendo os mais ricos nas eleições para cônsul ou pretor caindo em um
círculo vicioso em que os mais ricos ficavam ainda mais ricos por conta dos
cargos que assumiam. Os que ficavam de fora gostariam de entrar no clube dos
ricos e influentes e utilizavam de diversas táticas. Podiam se endividar,
esperando pagar os seus débitos com o sucesso de sua carreira política, ou
defender ideias populistas, podendo até usar o sentimento contrário à
desigualdade a seu favor. Tibério Graco, um dos tribunos da plebe, eleito pelo
povo para defender os seus interesses, seria um dos primeiros a adotar essa
tática e acabaria sendo linchado por senadores incomodados com as suas
propostas. Seria sucedido por Caio Graco, seu irmão, que possuía ideias ainda
mais radicais e que acabaria sendo assassinado também. Outros políticos
seguiriam essa mesma estrada, com um pouco mais de moderação que lhes permitiu
sobreviverem para desfrutar o sucesso político.
Isso era um desafio para o sistema político por
bons e maus motivos. Nessa mesma época, Caio Mário seria eleito cinco vezes
seguidas como cônsul. Ele realizaria importantes reformas na organização
militar de Roma, profissionalizando o exército que até então era praticamente
forças milicianas. Antes disso, servir ao exército era considerado como um dever
para com a República, mas não uma carreira, e cada um servia como podia com os
seus meios. Dessa forma, os ricos serviam na cavalaria, os com um pouco mais de
recursos adquiriam equipamentos melhores e por aí vai. O problema é que as
campanhas militares passaram a se prolongar e ficar mais de um ano longe de casa
significaria a ruínas para um pequeno fazendeiro. As reformas de Caio Mário
fariam com que o exército se profissionalizasse, o que teria uma série de
impactos na política romana. O senado resistiria a essas reformas insistindo
que servir fosse considerado um dever patriótico que não deveria ter uma
recompensa formal. Viam que a profissionalização poderia fazer com que os
soldados passassem a ser leais aos seus generais, que em troca prometiam parte
dos saques e também propriedades nas terras ocupadas. Isso era extremamente
perigoso para o sistema político, já corrompido pelo dinheiro e que agora
poderia ruir de vez com a força militar.
Essa situação levaria a conflitos internos, como a Primeira
Guerra Civil da República Romana, que envolveu uma disputa entre Caio Mário e
Lúcio Cornélio Sula para ver quem enfrentaria a ameaça de Mitrídates VI, rei de
Ponto. Sula sairia vencedor, o primeiro sinal mais sério de instabilidade da
República que nunca mais voltaria a ser estável. Sula cumpriria diversos
mandatos como ditador, eleito para comandar Roma durante um período emergencial
com amplos poderes. Antes de abrir mãos desses poderes, tentaria restaurar os
poderes do senado no governo de Roma e proibindo que outros fizessem o que ele
fez, usar as suas forças militares para seu próprio proveito fora das
províncias que estavam governando. Esse é o plano de fundo para a Guerra Civil
Cesariana, que teria como figura principal o sobrinho de Caio Mário, Caio Júlio
César.
Indo para mais perto da história que quero contar,
vamos para o Primeiro Triunvirato. Essa não foi uma instituição formal, e sim
um acordo de cavalheiros entre três importantes políticos romanos. Um deles era
Cneu Pompeu, herdeiro de Cneu Pompeu Estrabão, que foi cônsul em 89 a.c. e era
um político muito influente que acabaria morrendo na Guerra Social entre 91 e
88 a.c. No conflito entre Caio Mário e Sula, Pompeu se aliaria com Sula
utilizando o exército pessoal herdado de seu pai. Cairia nas graças de Sula e
galgaria na hierarquia, atuando em diversas campanhas militares, inclusive na
Hispânia sem ter sido eleito para tal, o que era um precedente perigoso. Seria
eleito cônsul em 70 a.c. sem nunca ter sido senador e não desmobilizaria o seu
exército pessoal, desrespeitando a nunca respeitada constituição de Sula contra
essa prática. Teria como companheiro o segundo membro do Triunvirato, Marco
Licínio Crasso, que obteve fama na supressão da rebelião de Espártaco e na luta
pela causa de Sula e também detentor de um exército pessoal.
Pelas reformas de Sula, um magistrado, ocupante de
um alto cargo, permaneceria em Roma durante o seu mandado e depois cumpriria
missão fora de Roma, os ex-cônsules assumindo como governadores de uma
província. Pompeu receberia diversas missões e obteria um enorme renome por
conta de seus feitos militares principalmente mais ao leste, onde pretendia
implementar uma ampla reforma
administrativa. Muitos temiam que ele seguisse o caminho de Sula e voltasse
para Roma objetivando o poder absoluto, mas talvez até para surpresa de muitos
desmobilizaria o seu exército ao se encaminhar para Roma. Ele tinha dois
objetivos na volta ao Senado, aprovar as reformas na Ásia e recompensar com
terras os seus soldados. Apesar de ótimo no campo militar, Pompeu era um
péssimo político e sofreria com a resistência de muitos, incluindo Crasso.
E é aqui que entra o personagem principal de nossa
história, Júlio César. Em 60 a.c., César ambicionava o cargo de cônsul voltando
de uma campanha da Hispânia, mas precisaria desmobilizar as suas forças, que
nem eram tão numerosas assim e ele não tinha o cacife de Pompeu. Nesse ponto,
aos 40 anos de idade, Júlio César era um ninguém historicamente, apesar de ter
alguma fama em seu tempo, não apenas como político e militar, mas talvez
principalmente fama nas mesas de jogo, bordéis e camas de mulheres e também,
dizem, homens importantes de Roma. Para poder obter o cargo de cônsul,
precisaria de ajuda e ele buscaria reconciliar Pompeu e Crasso e dessas
tratativas surgiria o Primeiro Triunvirato. Por esse acordo, Pompeu e Crasso
apoiariam a eleição de César como cônsul, César apoiaria as reinvindicações de
Pompeu, Crasso pagaria as dívidas que César contraiu para financiar a sua
carreira e estaria em boas relações com ambos.
César seria eleito cônsul em 59 a.c. e o
Triunvirato teria um ano muito bom, com César ofuscando o outro cônsul, Marco
Calpúrnio Bíbulo, Pompeu usando os seus veteranos de guerra como ameaça física
aos outros senadores e Crasso usando a sua influência financeira, não apenas
comprando votos, mas principalmente lembrando os senadores que eles lhes deviam
dinheiro.
Ao fim de seu mandato, César teria que deixar Roma
e partir em campanhas militares. Apesar de Crasso ter pago as suas dívidas,
César precisaria de mais dinheiro para impulsionar a sua carreira e mais
importante de tudo precisaria de grandes glórias militares para poder ficar no
mesmo nível de seus companheiros de Triunvirato, por assim dizer. Teria esse
sucesso nas Guerras Gálicas, quando, aos 42 anos, podemos dizer que ele deixou
de ser um asterisco na história para se tornar uma figura importante apenas
entre os fãs de história militar. Havia adquirido a riqueza e reputação militar
que desejava, mas ainda não o poder absoluto
No tempo em que César ficou fora de Roma, a
política na capital entrou em ebulição. Públio Clódio Pulcro, mais conhecido
apenas como Clódio, era um tribuno da plebe que decidiu agir de maneira
totalmente fora do convencional usando a força para avançar as suas causas
populistas. Roma não tinha o equivalente a polícia e não havia forças militares
dentro da capital, ou seja, ninguém para detê-lo. Pompeu se tornaria um alvo e
responderia com o seu próprio encrenqueiro, Tito Ânio Papiano Milão. Clódio
tinha o apoio de César e conseguiria expulsar o orador Cícero, que retornaria
para Roma graças à intervenção de Pompeu, para desagrado de Crasso.
Em 56, os triúnviros se reuniriam para discutir a
relação. Um novo acordo seria selado, segundo o qual Pompeu e Crasso se
tornariam cônsules em 55 a.c. César teria o seu mandato na Gália estendido em
cinco anos, Pompeu receberia províncias hispânicas e Crasso receberia a Síria,
onde pretendia empreender uma guerra contra o Império Parta. Em 53 a.c., Crasso
morreria na campanha contra o Império Parta, origem do termo “erro crasso”. As
brigas internas em Roma continuariam até 52 a.c., quando Clódio seria morto,
Milão exilado e Pompeu eleito cônsul para colocar ordem na anarquia.
Nessa época, César estava em uma situação delicada.
Estava cheio de inimigos em Roma por conta de seu mandato anterior como cônsul,
cargo que desejava obter para se proteger dos inimigos e depois seguir em uma
nova campanha militar, talvez contra o Império Parta. Porém, não poderia se
candidatar a cônsul estando fora de Roma e teria que se desfazer de suas
legiões para voltar para Roma. Ao mesmo tempo, Pompeu passaria uma lei
estipulando prazo mínimo de cinco anos entre um cargo magistrado e governo de
província. Havia uma cláusula isentando César, que, porém, continuava se
sentindo ameaçado quando Pompeu casou uma de suas filhas com um inimigo de
César, Metelo Cipião. César tinha uma impressionante força militar na Gália,
mas Pompeu também tinha o seu exército na Hispânia. Pompeu vinha se mostrando
ambíguo com César, que então tinha que tomar uma decisão, confiar em Pompeu
para protegê-lo de seus inimigos caso voltasse para Roma ou lutar. E então que
começa a Guerra Civil Cesariana.
Inimigos
Opostos
Uma característica especial da Guerra Civil
Cesariana é que os exércitos opostos são idênticos. Nem sempre isso ocorre em
Guerras Civis, podendo a facção oficial ter muitos mais recursos do que a
facção rebelde, mas na Guerra Civil de César era legião contra legião. Dessa
forma, equipamentos, treinamento, doutrina militar, organização, era tudo
idêntico para os dois lados envolvidos. Eu não vou entrar nesses e outros
detalhes e pretendo fazer um vídeo só sobre essas questões.
Uma diferença era a presença de tropas
estrangeiras, César contado principalmente com forças gálicas e germânicas,
enquanto que Pompeu tinha tropas espanholas, mas conforme a guerra ia avançando
os dois lados buscavam reforços basicamente seja lá onde poderiam encontrar.
Sobre os comandantes, havia uma diferença bem significativa
em termos físicos, apesar de apenas seis anos separarem Júlio César, com 51
anos em 49 a.c., e Pompeu, com 57 anos. Pompeu ainda era um homem bastante
sadio e ativo para a idade e tinha um bom histórico militar, porém, desde o ano
62 que não havia atuado em uma campanha militar, tendo se dedicado à política.
Para piorar, a sua facção tinha a presença de diversos senadores importantes, o
que parece uma coisa boa, mas atuou como uma contestação de sua liderança.
César, por outro lado, estava bastante ativo no campo militar, principalmente
com a Campanha da Gália, e em momento algum teve a sua liderança contestada,
apesar de também contar com o apoio de alguns senadores. Em termos de
habilidade, não temos como saber qual é o mais hábil, porque toda a história
foi contada por César, mas o resultado da guerra dá um indício de quem seria o
melhor entre os dois.
Na Guerra Civil, César adotaria uma estratégia
bastante agressiva baseada em ataques rápidos, comparáveis à Blitzkrieg da
Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial. As duas palavras-chave para César
eram velocidade e surpresa e esse estilo lhe garantiria muitas vitórias contra
inimigos em maior número, melhores posicionados e provisionados. César sabia
como tornar caótico o campo de batalha para seus inimigos e depois se
aproveitar disso agindo com extrema agressividade. Se tivesse encontrado alguém
como Fábio Máximo, antigo comandante romano que tinha a melhor estratégia para
enfrentar Aníbal, ou seja, alguém que lhe negasse o avanço e soubesse suportar
perdas esperando que falhas logísticas e parcas provisões afundassem César,
talvez a Guerra Civil tivesse sido muito mais curta. Fortuna, que tem o seu
sentido de sorte, mas também de favorecimento dos deuses, era outra
palavra-chave para César, que venceu tantas batalhas improváveis que muitos
julgavam que ele realmente era o preferido das divindades.
César conseguia ainda manter uma união de objetivos
com os seus aliados tendo um alvo claro e recompensando, ou prometendo
recompensar, regiamente os seus seguidores em caso de vitória. Porém, a guerra
era muito mais fácil de perder para César do que para Pompeu. Uma única derrota
que o desmoralizasse ou, pior, o matasse seria o fim, enquanto que Pompeu
poderia suportar uma série de derrotas e se manter lutando.
Pompeu, por sua vez, era mais conhecido por sua
atenção aos detalhes. Pompeu não era um grande estrategista, mas seu inimigo
também não era. César era muito mais movido pelas necessidades do momento do
que seguidor de um grande plano para conseguir os seus objetivos. Pompeu era mais
um microgerenciador, característica que poderia colocar em desvantagem em
situações mais urgentes, como as que César gostava de provocar, mas poderia ser
uma vantagem caso o inimigo lhe desse tempo para se preparar. Porém, uma maior
cautela por parte de Pompeu também lhe traria desvantagens, em especial na
Batalha de Dirráquio, vencida por ele por conta de sua atenção aos detalhes,
mas que não redundaria em sua vitória na guerra por uma precaução excessiva de
sua parte.
Se celeritas,
improvisium e fortuna eram as palavras-chaves para César, para Pompeu era diligentia, ou diligência, cuidado. A
primeira parte da Segunda Guerra Civil Romana seria o choque entre esses dois
estilos totalmente diferentes.
Atravessando
o Rubicão
Júlio César se tornaria famoso não apenas por seus
feitos, mas também por suas frases, e a Guerra Civil Cesariana começaria logo
após uma dessas frases. Não vou entrar em maiores detalhes sobre o contexto
político, passei boa parte desse vídeo falando justamente disso. Mas, só para
resumir, César tinha inimigos em Roma e tinha amigos, alguns comprados com o
dinheiro arrecadado na Campanha da Gália, e era muito temido na capital. O
Senado queria a sua volta para Roma após o fim do mandato como governador da
Gália, que se recusavam a renovar. César era visto como um ditador em potencial
e algo deveria ser feito. Porém, Pompeu também era um candidato a tirano,
então, Roma passou por momentos de tensão no ano 49 a.c. conforme se aproximava
o fim do mandato de César na Gália. A situação foi evoluindo até o ponto em que
César decidiu marchar para Roma com as suas legiões, o que era considerado
ilegal. A história conta que o rio Rubicão era o limiar que o separava da
legalidade e da ilegalidade e que César teria hesitado a cruzar esse ponto, mas
o faria mesmo assim, antes proferindo a frase Alea Jacta Est, tradicionalmente
traduzida em português para “A sorte está lançada”, mas que poderia ser
traduzido também como “o dado foi lançado”, com significado similar. (20)
César avançaria sobre a Itália tomando rapidamente
algumas posições de pouca importância com as forças que tinha a disposição ao
invés de esperar a chegada de suas legiões. O temor maior dos romanos era que
as conquistas militares de César seriam regadas com o banho de sangue que já se
tornou tradicional nas Guerras Civis, mas não teve nada disso. Ao contrário,
César ainda se mostrava disposto a dialogar, mas essas conversas nunca
evoluíram para um acordo de paz que, talvez a essa altura já fosse impossível.
Pompeu, responsável pela defesa de Roma, deixou a
capital alegando que ela era impossível de ser defendida. Isso contribuiu para
as incertezas sobre como se daria a guerra civil na República. O primeiro grande
combate entre as forças de César e de Pompeu se daria em Corfínio, cidade
defendida por Lúcio Domício Enobarbo. Vendo que Pompeu não viria ao seu
auxílio, Enobarbo planejou fugir da cidade, mas seus homens veriam isso e
acabariam fazendo um motim e se renderam a César. Novamente, César não realizou
o massacre que todos temiam, explicando as suas intenções aos senadores
presentes e deixando que partissem. Receberia ainda o apoio dos soldados
sobreviventes da batalha para reforçar as suas fileiras. Há algumas comparações
entre Júlio César e Aníbal da Segunda Guerra Púnica, César sendo visto até
pelos seus contemporâneos como um bárbaro invadindo Roma. Mas o paralelo pode
ir além, com César manobrando pelo lado político para tentar conseguir aliados
para a sua causa. Se a estratégia não deu tão certo para Aníbal, para César
funcionou muito bem e após Corfínio teria basicamente caminho livre, sendo
aclamado em todas as cidades pelas quais passava, adorado como um Deus segundo
o testemunho do orador Cícero, aliado de Pompeu e inimigo de César. Cícero
ainda lamentaria que César estivesse sendo considerado um salvador de seus
inimigos, enquanto Pompeu era visto como traidor de seus amigos.
Pompeu decidiria fugir da Itália e seguir para a
Grécia. Estava em menor número na capital, a única legião a sua disposição
tendo servido há pouco tempo com César, provavelmente mais leal ao seu antigo
comandante do que a ele. Pompeu recuaria para a atual cidade de Brindisi, que
usaria como porto para fugir da Itália. César o perseguiria e tentaria impedir
a fuga de seu inimigo, mas não teria sucesso e sem ter meios de persegui-lo
pelo mar.
Em pouco tempo, César dominaria a Península Itálica
e voltaria para Roma, onde tentaria obter apoio político. Decidiria em seguida
ir para a Espanha, enfrentar as legiões de Pompeu, para só depois enfrentar o
seu maior rival. O plano de César, em suas próprias palavras, era primeiro
destruir um exército sem líder, para depois liquidar com o líder sem um
exército.
Campanha da Hispânia
O principal exército de Pompeu estava em Ilerda, moderna
Lérida, sob o comando de Lúcio Afrânio e Marco Petreio, que dispunham de cinco
legiões, 80 coortes de auxiliares espanhóis e 5000 unidades de cavalaria. César
conseguiu reunir seis legiões e 3000 unidades de cavalaria, com duas legiões
formadas por tropas auxiliares em outra parte da Espanha. Esses mesmos homens
já haviam servido César na Guerra Gálica e foram reforçados por tropas
gaulesas.
Suas forças já estavam desde abril de 49 em Ilerda,
mas apenas em junho César chegaria e logo iria para o combate. Afrânio, porém,
recusaria entrar em combate e recuaria. As forças de César cavariam trincheiras
e esperaram por diversos dias por uma oportunidade para atacar o inimigo.
Tentaria avançar, mas teria o seu ataque repelido.
Intensas chuvas provocariam a cheia do rio Sicoris,
atual Segre, o que prejudicaria principalmente César e atrapalharia o
fornecimento de suprimentos. Novamente, a guerra envolveria obras de engenharia
e as forças de César construiriam barcos e pontes que permitiriam cruzar o
Segre e vencer diversos combates isolados contra as forças pompeianas. Isso fez
com que César ganhasse a simpatia das comunidades locais, o que facilitou a
aquisição de suprimentos. César realizaria mais obras, criando canais que
abaixassem o nível do rio e permitissem a passagem de cavalaria. Por outro
lado, os pompeianos estavam com dificuldades em reunir alimentos e se veriam em
inferioridade numérica cada vez maior conforme o inimigo recebia reforços.
Afrânio e Petreio veriam que não poderiam sustentar
a posição e deixariam Ilerda na calada da noite. Batedores de César veriam a
movimentação do inimigo e César logo se colocaria na perseguição. As obras
realizadas favoreceriam a movimentação as tropas de César, que ainda descobririam
um caminho para, após marcha forçada, tomar a dianteira do inimigo em fuga.
Após cercar os pompeianos, César tinha a batalha nas mãos, mas não iria para o
confronto, querendo minimizar o número de romanos mortos. Os dois lados
combatentes acampariam próximos e acabou havendo contatos amistosos entre
homens de lados opostos. Preocupado com a lealdade de seus homens, Afrânio e
Petreio matavam os homens de César que conseguiam capturar, César, ao
contrário, deixando que voltassem para seus acampamentos. Sem suprimentos e sem
chance de vencer, os pompeianos acabariam se rendendo. César perdoaria os
comandantes e receberia reforços do inimigo que acabou de derrotar.
Tendo cumprido o seu objetivo, acabar com a ameaça
das legiões de Pompeu com baixas mínimas, César voltaria para a Itália para
enfrentar um líder sem exército. (26)
Porém, a volta para a Itália não foi sem
dificuldades. Teria problemas com Massília, atual Marselha, perderia um de seus
aliados, Caio Escribônio Curião, em uma batalha na África contra um inimigo de
César, Públio Ácio Varo, seu aliado, Marco Antônio, sofreria uma derrota em Ilírico
e César ainda teria um desentendimento com a Légio IX a respeito de uma
recompensa que César devia a eles por conta da Guerra Gálica. A prática comum
de César era recompensar muito bem os seus aliados, mas ele não seria nada
compreensivo com os amotinados e declarou que dizimaria a legião, o que
significa matar um a cada dez, por isso o nome, mas mataria apenas os líderes
da rebelião.
Voltaria para Roma no final de 49 e receberia o
cargo de ditador. Não faria muito uso de seus poderes extraordinários e em 11
dias faria eleição para cônsul ganha por, adivinhem, ele próprio. César queria
acabar de vez com Pompeu e logo se colocaria em ação. Tinha reunido doze
legiões e mil unidades de cavalaria em Brundísio, atual Brindisi, mas não seria
fácil chegar lá via mar. Arriscaria a travessia pelo Adriático e chegaria em
Épiro sem oposição, já que o inimigo não esperava que César agisse no inverno,
quando as condições eram bem mais adversas. Porém, não conseguiria chegar a
Brundísio para reunir o exército.
O problema é que César estava isolado, tendo levado
sete legiões e 500 cavalos, mas tendo do outro lado nove legiões com 7 mil
unidades de cavalaria, com mais duas legiões vindas da Síria comandadas por
Cipião e tudo isso abastecido com suprimentos cuidadosamente reunidos por
Pompeu. César tinha bem menos suprimentos e nenhuma condição de se lançar para
o ataque. Esperava chegar em Brundísio e tentaria nova viagem, mas o clima o
impediria. Felizmente para ele, Marco Antônio, que comandava as forças em
Brundísio, chegaria em abril de 48 e completaria o exército de César. (29)
César ainda tinha um problema com suprimentos e
tentaria resolver isso com um ousado ataque à cidade de Dirráquio. Conseguiria
se colocar entre a cidade e o exército de Pompeu, mas não conseguiria tomar
Dirráquio. Ambos os lados construiriam defesas próximas de suas posições e a
situação lembraria a da Batalha de Alésia, já comentada nesse canal, com César
cercando uma cidade e também tendo que se proteger de uma força de alívio vinda
do outro lado. Essa situação se estenderia e a falta de suprimentos pesaria.
César tinha menos suprimentos, mas o exército de Pompeu tinha mais cavalos, que
tinham a prioridade, mas eles também sofreriam. César ainda barraria o rio que
fornecia água para o exército inimigo, cortando o seu suprimento. Os homens de
Pompeu responderiam cavando poços, que foram insuficientes e forçou que eles
mandassem de volta os cavalos.
Os dois lados continuariam a estender as suas
fortificações mais para o sul e vários pequenos combates seriam travados. Dois
chefes gauleses desertariam do exército de César e iriam para o lado de Pompeu.
Reforçado não apenas por homens, mas com informações, os pompeianos atacariam
uma parte inacabada das fortificações de César, ao mesmo tempo que o exército
principal atacaria o centro enquanto que tropas leves tomariam uma rota
marítima para tentar atacar o inimigo pelas costas. A ofensiva pompeiana obteve
algum êxito inicial, mas seria repelida por César e Marco Antônio, que estavam
presentes no acampamento durante esse estágio da batalha. César tentaria um
forte contra-ataque, mas as coisas dariam terrivelmente errado para ele por
conta de uma confusão feita por suas tropas. Nesse ponto, César sabia que
poderia ter sido derrotado se apenas Pompeu, que também estava presente em
Dirráquio, soubesse como vencê-lo. Nas palavras de César, o inimigo o teria
derrotado se eles estivessem sendo liderados por um vencedor. Após esse
incidente, César decidiria dar por encerrada a ofensiva e recuaria.
César então se dirigiria para a Tessália e no
caminho não teria mais tanto apoio das comunidades pelas quais passava, o revés
em Dirráquio fazendo com que muitos duvidassem de seu êxito. Em uma rara
ocasião, César invadiria uma cidade neutra, Gomfoi, e permitia que seus homens
saqueassem a cidade. Pompeu tinha diversas opções, inclusive retornar para Roma
em alta, mas sabia que seria pressionado a derrotar César como já estava sendo.
Pompeu estava vigiando de perto os movimentos de César e a sua tática era fazer
com que ficasse privado de suprimentos até ser forçado a se render.
Na manhã do dia 9 de agosto de 48, César se
preparava para mover o seu acampamento, quando notou que o exército de Pompeu
estava fora de posição, avançado para além de suas proteções e ao nível do solo
no rio Enipeu. Decidiria que agora era a sua chance de lançar uma ofensiva e
ordenaria que seus homens se aprontassem. Então, se desenrolaria a decisiva
Batalha de Farsalos, que seria vencida por Júlio César e seus homens muito mais
experientes do que os soldados de Pompeu, tido como inapto general, se formos
acreditar na história dos vencedores. Falei ou falarei em maiores detalhes
sobre a Batalha de Farsalos em um vídeo sobre o tema. Como já era de praxe,
César poupou a vida da maioria de seus inimigos, incluindo Marco Júnio Bruto,
sim, Brutus. César perderia apenas 200 homens na batalha e o lado de Pompeu
perderia muito mais, 24 mil prisioneiros e 15 mil mortos, sempre ressalvando
que isso se trata de números fornecidos pelo próprio Júlio César, que
literalmente escreveu a sua própria história. Porém, o próprio Pompeu viveria
para lutar mais um dia e fugiria para o Egito.
Egito
César não gastou muito tempo comemorando o seu
triunfo em Farsálo e logo se pôs em perseguição a Pompeu. As informações davam
conta que ele havia fugido para o Egito, que também estava passando por uma
guerra civil. O rei Ptolomeu XII havia deixado o trono para seu filho, Ptolomeu
XIII, e sua filha, Cleópatra, sim, ela mesma, que por sinal eram casados,
seguindo a tradição egípcia. Pompeu foi procurar refúgio no Egito, mas foi
morto por ordens do rei Ptolomeu XII, que não queria se aliar a um perdedor.
O vencedor, César, chegaria no Egito e seria
recebido pelo rei, que contaria o trágico destino de Pompeu. César teria
lamentado a morte de seu antigo aliado, não se sabe se sinceramente ou apenas
para se distanciar desse evento. César não odiava Pompeu, que tinha sido genro seu,
inclusive, e não ficou tão feliz assim de receber a cabeça de Pompeu. Ptolomeu
queria ganhar apoio de César, considerando que o Egito devia dinheiro para
Roma, mas o tiro acabou saindo pela culatra.
César não tinha nada a ver com a guerra civil
egípcia, mas já que ele estava lá, e já que a sua presença provocou certa
comoção entre os egípcios e que Potino, primeiro-ministro, planejava
assassiná-lo, César resolveu intervir. Já tinha visitado um dos lados e faltava
o outro. E foi quando encontrou Cleópatra, provavelmente a mulher que se
tornaria a mais poderosa da antiguidade. Reza a lenda que ela tinha se enrolado
em um saco e entregue para César para logo desfazer esse disfarce. Cleópatra
tinha sido expulsa do palácio e estava ansiosa por se encontrar com César para
ver se conseguia o seu apoio para tomar o poder no Egito. Cleópatra era tida
como extremamente bela, inteligente e fascinante. Ela falava entre cinco e nove
línguas e curiosamente nenhuma delas era latim, meio como hoje você falar nove
línguas e nenhuma delas ser o inglês. Por conta disso, conversava em grego com
César e, futuramente, com Marco Antônio. Esse seria o começo de um dos romances
mais famosos da história e me parece óbvio que Júlio César já havia escolhido
qual lado apoiar. A quem interessar possa, só para encerrar essa seção Caras,
consta que Cleópatra, então com 21 anos, 30 anos mais nova que César, era
virgem.
César tentou conciliar os dois irmãos e
convencê-los a compartilhar o poder, mas logo aliados de Ptolomeu, Potino e o
general Aquilas, se colocaram contra César e tentaram assassiná-lo. César
sobreviveu ao ataque, tomaria o palácio de Alexandria, mas se veria cercado por
um grande número de inimigos e com acesso limitado à água. Os homens de
Ptolomeu tentaram limitar a comunicação marítima de César, que usou fogo para
atacar os navios inimigos e acabou incendiando a Grande Biblioteca de
Alexandria. A batalha seguiria para o Farol de Alexandria, uma das Sete
Maravilhas do Mundo Antigo, e após receber reforços de legiões compostas por
homens de Pompeu, César acabou conseguindo vencer as forças ptolomaicas e
resolveu a Guerra Civil Egípcia.
Enquanto isso, a guerra civil em Roma continuou,
apesar da morte de Pompeu. Remanescentes de seu exército que permaneceram
contra César se agruparam e continuaram a guerra civil. Mesmo após resolver
seus assuntos no Egito, César ficou ainda mais dois meses por lá, vocês podem
imaginar fazendo o quê. Essas férias, podemos chamar assim, incluiriam até um
cruzeiro pelo Nilo na companhia da agora rainha do Egito. Cleópatra a parte,
talvez César não soubesse o que fazer exatamente após derrotar Pompeu. Como
mencionado, César não tinha uma grande estratégia para vencer a Guerra Civil e
seus movimentos eram mais voltados para as necessidades do momento e por várias
vezes ele parecia flutuar entre momentos de elevada agressividade com outros em
que se deixava levar por outras motivações. O fato é que ainda teria que voltar
à guerra por mais algum tempo.
Fim da
Guerra Civil
Em maio ou junho de 47 a.c., César deixaria o Egito
e voltaria a se preocupar com assuntos romanos. Farnáces do Ponto aproveitaria
a confusão causada pela Guerra Civil Romana e recuperaria alguns territórios
perdidos, comemorando de maneira brutal a sua vitória contra os romanos. Na
Batalha de Zela, César teria dificuldades com as forças de Farnáces, mas,
apesar de em menor número, acabaria vencendo a batalha, que seria a basicamente
a única da campanha contra Farnáces. A guerra foi tão rápida que César cunharia
mais uma famosa frase sobre ela: Veni, Vidi, Vici, vim, vi, venci. (39)
Enquanto isso, Metelo Cipião, Catão e outros
inimigos de César tinham organizado um exército e se aliaram ao rei Juba da
Numídia. César pretendia derrotá-los, mas primeiro retornou para Roma para
encontrar a Legio X, a sua legião favorita, amutinada, desejando serem
desmobilizados e receberem as recompensas prometidas. Em mais uma amostra de
carisma, César concordou com tudo, mas já se dirigia aos legionários como
cidadãos, quirites, e não como soldados. Isso fez com que eles que até agora há
pouco estavam fazendo motim implorassem para que fossem aceitos novamente e,
após isso, César partiria para a África.
Após desembarcar na África em 46 a.c, entraria em
confronto com forças pompeianas e numídias, em um movimento descuidado, talvez
por excesso de confiança, talvez por cansaço. Enfrentaria uma dura batalha
contra o inimigo, tendo dificuldades especialmente com a cavalaria leve
numídia, mas conseguiria recuar para receber reforços. No entanto, continuaria
em menor número e com dificuldades em obter suprimentos. César cercaria a
cidade de Tapsos, fortemente defendida pelos pompeianos e numídios. A batalha
teve um começo atribulado e o avanço das forças cesarianas não começou na hora
que o líder desejava, seja porque os trompeteiros se precipitaram, seja porque
César teve um ataque epilético, mas no fim César venceria o inimigo de forma
até rápida e logo se tornou um massacre com os veteranos de César aniquilando
os inimigos que tentavam se render. Catão e Juba suicidirariam, enquanto que
Cipião tentaria fugir pelo mar e acabaria naufragando. Tito Labieno fugiu para
a Espanha para continuar a guerra junto com dois filhos de Pompeu, confusamente
também chamados de Pompeu (Cneu Pompeu e Sexto Pompeu). Pompeu tinha se casado
com a filha de César, Júlia, mas esses eram filhos de um casamento anterior.
César retornaria para Roma e não apenas seria
reeleito cônsul, mas receberia um mandato de dez anos após tantas vitórias
militares. Porém, a guerra civil ainda não tinha acabado e faltava o ato final
contra as últimas forças constitucionalistas. A Hispânia estava sob controle de
César, que tinha colocado Quinto Cássio Longino como governador, que se provou
um desastre e colocou a província em rebelião. A propósito, esse Cássio não era
o mesmo Cássio que posteriormente tomaria parte dos Idos de Março, e sim irmão
ou primo, não se sabe ao certo. Seu sucessor, Caio Trebônio, não teria melhor
sucesso e seria expulso pelos rebeldes. Cneu Pompeu chegaria na Hispânia e
seria aclamado como líder da rebelião e logo receberia reforços de Labieno e
Sexto Pompeu.
Em 45 a.c., César marcharia até a Hispânia cobrindo
1500 milhas em 27 dias com oito legiões e 8 mil unidades de cavalaria, contra
treze legiões e auxiliares locais das forças constitucionalistas. Na Hispânia,
César lutaria diversas pequenas batalhas e não teria o seu avanço barrado. Cneu
Pompeu então se dirigiria para a cidade de Munda, situada em uma colina que
daria a eles a vantagem de terreno elevado. César prepararia o avanço, mas
notaria a vantagem inimiga e hesitaria. Avançaria para tentar induzir o
movimento do inimigo, que não se moveu. Assim como havia ocorrido em Tapsos, os
homens de César se precipitariam e iniciariam o combate, porém, em uma situação
ainda mais desvantajosa. A maré da batalha estava sendo totalmente desfavorável
para César e o moral dos seus homens começou a enfraquecer. César então
perguntaria a seus homens se eles deixariam que seu general fosse derrotado por
um bando de garotos, desmontaria, tiraria o seu elmo para que todos vissem quem
ele era e foi ao combate, meio que dizendo aos seus homens que ele morreria
junto com eles se assim tivesse que ser. Isso e o bom desempenho da veterana
Legio X contribuíram para virar a batalha, que logo se tornaria um novo
massacre. César tomaria as treze águias das legiões e os líderes pompeianos,
incluindo Cneu e Lebiano, seriam mortos.
Idos de
Março
A batalha de Munda marcaria o fim da guerra civil e
César reinaria supremo em Roma. E ele usaria e abusaria desse poder supremo com
uma série de decisões exóticas e auto-elogiadoras, como a construção do Forum
Iulium e a autorização para usar a coroa de louros, nomearia antigos aliados de
forma autoritária, implementaria reformas, algumas polêmicas, incluindo a
reforma do calendário e por ai vai. Seria aclamado como rei por populares, mas
negaria o título, não querendo ser rex, rei, e sim César, o que parece uma
coisa humilde de primeira, mas me parece meio arrogante. Rei era até pouco para
o que alguns pensavam que César era e como ele próprio se via, mais no patamar
de deuses como Marte do que de reles mortais. Não apenas algumas coisas
pareciam meros caprichos, mas mesmo ações mais sérias pareciam desconectadas
com os reais problemas de Roma, para os quais César ou não estava ciente, ou
não tinha uma solução. Talvez por isso o seu plano era voltar para a guerra,
agora contra o Império Parta, já que guerra era o que ele fazia de melhor. Essa
situação incomodou muitas pessoas, que temiam a volta de uma monarquia. Como eu
mencionei, todo o sistema político romano objetivava a desconcentração de poder
para evitar o surgimento de novos autocratas e o regicídio era uma prática
comum para último caso.
Bom, chegara a hora de quebrar o vidro de
emergência e ativar o regicídio. Um dos líderes era Bruto, ou Brutus, que era
muito querido por César e não tinha nada pessoal contra o ditador, ao contrário
dos outros conspiradores, como Caio Cássio Longino e Décimo Júnio Bruto Albino,
sim, outro Bruto para confundir a história, e Caio Trebonio. César ainda não
possuía um herdeiro legítimo, só tendo conseguido gerar legitimamente a sua
filha Júlia, que também já havia falecido. Adotou seu sobrinho, Octávio, mas
não se sabe se ele planejava que ele fosse o seu sucessor. O que se sabe é que
Cleópatra foi para Roma, recebeu uma estátua em sua homenagem bem ao lado da
estátua de Vênus, e havia o boato que César planejava passar uma lei para
permitir que ele se casasse com Cleópatra.
César planejava partir de Roma em 18 de março de
44, logo, Bruto e outros 60 conspiradores precisariam agir rápido. No dia 15 de
março, conhecido como Idos de Março, César iria para o Senado. Os conspiradores
se aproximaram dele amigavelmente, mas quando César tentou se afastar seria
cercado e esfaqueado diversas vezes. Em mais uma das lendas que envolve César,
e em mais uma de suas famosas citações, César teria dito a Bruto: “Até tu,
Brutus?”, como tradicionalmente traduzimos em português, e teria caído aos pés
da estátua de Pompeu.
Os conspiradores esperavam que com a morte de César
Roma poderia voltar à normalidade institucional, o problema é que ninguém mais
se lembrava o que era normal após anos de guerra civil e ditadura. César tinha
muitos apoiadores e apoio popular e uma nova guerra civil se seguiria. O filho
adotivo de César, Otaviano, emergiria vitorioso e inauguraria na prática o
Império Romano. Passaria a ser conhecido como César Augusto e seus sucessores
como imperador também seriam chamados de César, título honorífico que também
seria adotado na Alemanha (kaiser) e Rússia (czar) até o século XX. E isso
completa o ciclo de um nada histórico aos 42 anos a um proto-ditador e título
honorífico que perduraria por séculos.
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