Nesse vídeo, vou falar sobre América Latina, mais especificamente América Central, mas não vou usar o livro que eu vou utilizar mais na parte de América Latina, e sim o Central America: A Nation Divided de Ralph Lee Woodward Jr., que é focado na história da América Central. O objetivo do livro era falar sobre o potencial de uma união no Istmo Centro-Americano. Um istmo é uma faixa de terra que liga duas grandes extensões de terra, nesse caso, América do Norte e América do Sul. Apesar da colonização em comum, o Istmo Centro-Americano nunca chegou a ser uma nação, por motivos explicados ao longo do livro. A gameplay será do jogo Expeditions: Conquistador.
Nesse vídeo, falarei sobre o
primeiro capítulo do livro, descrevendo o Istmo. A América Central sempre foi
descrita como um paraíso e, apesar das terras férteis, isso está longe de
verdadeiro e até hoje é uma região subdesenvolvida.
A geografia ajuda a explicar os
problemas da região, cortada por cadeias de montanhas vulcânicas. Essas
montanhas dificultam a comunicação e a agricultura, mas serviram também de
abrigo para índios contra os europeus. A América Central não tem nenhum grande
rio navegável e as costas não oferecem bons portos naturais. A costa do Caribe
oferece portos naturais melhores, mas o calor, o terreno e as doenças atrasaram
o seu desenvolvimento. Grande parte da população vive em regiões com altitude
mais elevada, que podem chegar a 4.100 metros, principalmente no começo da
colonização europeia, embora hoje em dia haja áreas densamente populadas ao
nível do mar, como o Panamá. Áreas mais altas também tinham os seus problemas
apesar do clima temperado e condições mais salubres, como doenças, períodos de
seca e dificuldades na rede de transportes.
E toda a América Central está
sujeita a desastres climáticos, como furacões, terremotos e erupções
vulcânicas, afetando de modo diferente as diferentes partes do continente.
Esses desastres afetam a mentalidade da população, que vê a morte e a tragédia
como muito próximas deles e adota até uma postura de estoicismo diante disso.
Além disso, fatores humanos
afetaram a colonização da América Espanhola. E apesar de formarem um só reino,
a verdade é que cada província teve um desenvolvimento próprio, com suas
lealdades e interesses se desenvolvendo em separado, o que foi agravado por
obstáculos geográficos. Apesar do potencial de união do qual o livro fala, a
verdade é que nem a América Central muito menos a América do Sul formaram uma
única nação e até competiam e guerreavam entre si antes e depois da conquista
espanhola.
Antes da colonização, abrigava uma
série de povos, como os maias, que ocupavam territórios em Chiapas, Yucatán,
Guatemala, El Salvador e Honduras. Os próprios maias eram desunidos, não
havendo um grande estado unificado, diferente do que ocorria com os incas e
astecas, havendo sim uma série de cidades-estado unidas pela mesma cultura e
que comercializam bastante entre si. Eram unidos por traços como arquitetura,
artes, cerâmica e escrita, com variações de ênfase e talento.
Há sinais de civilização na América
Central que começam em 2130 antes de cristo. Havia um comércio, principalmente
de alimentos, e influências culturais mútuas na América Central. A civilização
maia começou a se desenvolver no início da era cristã nas terras baixas de
Petén, provavelmente com migrações das terras altas que já estavam com excesso
de população, havendo um comércio entre terras baixas e altas.
Os maias receberiam influências
culturais de outras civilizações, como os olmecas, os astecas e os pipiles.
Houve no primeiro milênio uma série de migrações dentro da América Central, o
que resultou em influência mútua das diversas civilizações que ocuparam a
região, o que se manifesta no estilo das esculturas e da cerâmica.
A civilização maia era bem
avançada, com descobertas matemáticas e astronômicas comparáveis às do Egito
antigo, com os quais desenvolveram calendários (que depois, causariam confusões
em nossa era) e um complexo sistema de administração. Desenvolveram também um
sofisticado sistema de hieróglifos e sua cerâmica, tecelagem e pinturas
demonstravam grande sensibilidade estética. Os maias não tinham iguais na
América Pré-Colombiana que rivalizavam com os europeus. Tecnologicamente, no
entanto, estavam atrás dos europeus, a arquitetura não sendo mais avançado do
que a dos gregos-romanos, e eles não desenvolveram maquinas economizadoras de
energia, não utilizaram bem a roda e como não tinham muitos animais
domesticáveis dependeram muito do trabalho humano.
O período clássico foi de 300 e
900 depois de Cristo e uma nova civilização Maia surgiu em Chiapas e Yucatán.
Os principais monumentos maias que existem até hoje são do período pós-clássico.
O avanço artístico e científico continuaram, mas era menos impressionante do
que no período clássico. Guerras internas e invasões de outros povos minaram os
maias e quando os espanhóis chegaram eles já estavam em declínio, embora tenham
resistido mais tempo do que os astecas e os incas. A região do período clássico
teve um renascimento com migrações para as terras baixas como refúgio dos
problemas que afligiam os maias nas demais regiões.
Nas terras altas no começo do
século 12, vários tribos começaram a crescer de poder, como os Quiché, os
Cakchiquel e os Zutugil, havendo uma intensa rivalidade entre os três. Os
Quiché eram mais fortes, mas os Cakchiquel venceram os Zutugil e se tornaram
maiores. No conflito entre as duas tribos que restaram, os Cakchiquel sofreram
com pragas e um incêndio na capital. A chegada dos espanhóis suspendeu o
conflito, mas os dois lados sofreram com a varíola, piorando a situação
relativa dos Cakchiquel. Os Quiché aproveitaram a situação para retomar o
conflito. Com os aliados astecas dominados, os Cakchiquel pediram ajuda aos
espanhóis, que assim o fizeram e acabaram por dominar os dois lados.
As ruínas da civilização maia que
chegaram aos dias de hoje em áreas que vão de Honduras até Yucatán são
impressionantes, mas o aspecto principal que perdura é o modo de vida. A
principal atividade das populações pré-columbianas era assim como ainda é a
agricultura, com gêneros como milho, feijão, frutas, vegetais e algodão. Boa
parte da população vive hoje como antes, com casas de palha com paredes de
pedra, madeira ou palha de milho.
Os homens trabalhavam nas
colheitas e as mulheres cuidavam da casa e fabricam utensílios domésticos e
roupas. Cada vila se especializava em determinadas atividades, alguns se
especializando em algodão, outros em joias e cestaria e por ai vai,
comercializando os seus bens com outras vilas. Não há evidência de que os
nativos usavam moedas, mas eles faziam trocas por bens e usavam pedras
semipreciosas e sementes de cacau como moedas de troca.
A educação maia consistia em
aprender os trabalhos e práticas dos pais e apenas as crianças dos sacerdotes e
da classe governante recebiam educação formal, onde aprendiam a ler e a
escrever e ciências, de forma parecida que era na Europa. Sociedades agrícolas
não costumam ser lembradas pela recreação e pela arte, mas os maias eram. Eles
jogavam vários tipos de jogos de bola, inclusive com os pés, que diziam ser um
ancestral do futebol. Tocavam vários instrumentos de sopro e percussão. A
pintura também era uma atividade comum e eles inclusive pintavam suas cerâmicas
com motivos religiosos.
A religião era muito importante
para os maias e os sacerdotes eram os membros mais poderosos da sociedade, que era
praticamente teocrática, na medida em que os sacerdotes aconselhavam e dirigiam
os governadores civis. Sacrifícios humanos eram praticados em algumas, mas não
em todas as regiões. Havia toda uma teologia complexa, mas o povo preferia
seguir crenças mais simples em torno de conflitos do bem contra o mal. Com a
conquista espanhola, as crenças antigas se misturaram com o cristianismo, a
mitologia maia e o cristianismo tendo vários pontos em comum, como ocorre com a
maior parte dos sistemas de crenças.
Havia um foco no conflito entre o bem e o mal
e os diversos deuses da mitologia nativa podiam ser associados com os santos
cristãos. Além disso, a cruz era símbolo do deus da chuva para os maias. Isso
facilitou a conversão dos índios ao catolicismo, assim como ocorreu em outras
áreas durante a Conquista e mesmo hoje o cristão da América Central age de uma
forma bem diferente do que na Europa.
Até hoje, os maias são mais
centrado na própria família ou comunidade, não tanto para a nação. De fora,
suas características principais parecem ser paciência, cautela, estoicismo e
reserva, refletindo séculos de opressão, mas dentro de um núcleo mais familiar
demonstram uma gama maior de emoções. Cada vila se vê como uma unidade
completa, o que acabou por criar barreiras culturais com outras vilas ou mesmo
com povos modernos. Remanescentes de povos não-maia ainda existem, mas em menor
número e menor influência.
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