Sobre a Argélia, vou falar sobre as Lendas Cabilas da Criação com base no livro A gênese africana, de Leo Frobenius. O jogo será o Indiana Jones and the Fate of Atlantis, na parte do jogo que se passa em Argel, capital da Argélia. Não tem muito a ver com o que eu vou falar, mas pelo menos se passa no país em questão.
Os cabilas eram um povo berbere que habitava o
nordeste da Argélia e o livro que eu estou utilizando tem uma longa parte
dedicada aos berberes em geral, cabila em particular. Vou falar sobre o
primeiro grupo de estórias, os mitos de criação dos cabilas.
No começo, havia apenas um homem e uma mulher que
viviam debaixo da terra, não acima dela e não sabiam que a outra pessoa era um
sexo diferente. Um dia, foram beber água, se desentenderam sobre quem beberia
primeiro e lutaram. As roupas caíram e ele viu que ela tinha uma taschunt e ele
sentiu que tinha um thabuscht. Olhou para a taschunt e perguntou para que
servia.
- Ah, é bom – disse ela.
Ele deitou-se sobre ela e ficou assim por oito dia.
Nove meses depois, ela teve quatro filhas. E depois de mais nove meses, teve
quatro filhos. E depois mais quatro filhas e em seguida mais quatro filhos. No
fim, tiveram cinquenta filhas e cinquenta filhos. Eles não sabiam o que fazer
com tanta criança e as mandaram embora.
As cinquenta moças partiram para o norte e os
cinquenta rapazes para o leste. Após um ano viajando, as moças viram uma luz e
decidiram subir à superfície. Os rapazes também encontrariam um caminho para a
superfície. Lá, seguiriam seus caminhos sem saberem do outro grupo.
Naquela época, as pedras e árvores falavam. As
moças perguntariam para as plantas e para as pedras quem as fizeram e
questionariam o mesmo sobre as estrelas e tentaram se comunicar com elas aos
gritos. Os rapazes viram um rio pela primeira vez e gritaram, chamando a
atenção das garotas.
- Quem são vocês? O que estão gritando? Também são
serem humanos? – perguntaram as moças.
Os dois grupos se comunicaram e se conheceram. Os
rapazes então falariam com o rio, questionando o que ele era.
- Sou a água. Sou para tomarem banho e se lavarem.
Sou para beber. Se quiserem chegar à outra margem, andem rio acima até o lugar
em que minha água fica rasa. Lá vocês vão conseguir me atravessar – disse o
rio.
Eles então atravessariam o rio e chegariam até as
garotas, que não quiseram a aproximação deles e estabeleceram uma linha de
separação. Os dois grupos viajariam juntos, mas separados por essa linha.
Certo dia, chegaram a uma nascente e tomaram banho
no rio. Uma das garotas, muito curiosa, chamou outras duas e elas foram ver o
que o outro grupo estava fazendo. Elas foram até o grupo dos rapazes, mas só a
que teve a ideia original continuou em frente para espiar o outro grupo, que
estava tomando banho e ela notariam que eles não eram iguais a elas.
Quando voltou, as que não ousaram ir em frente
começaram a fazer perguntas e no banho ela contaria o que viu e a diferença
entre elas e eles.
Depois, retomariam a viagem, assim como o grupo dos
homens. Em certo momento, acampariam bem próximos aos outros. Nesse dia, os
rapazes começaram a considerar não mais dormir sob o céu. Alguns cavaram
buracos no chão e outros a empilhar pedras para construir casas, usando árvores
como telhado. Apenas um dos rapazes, que era mais selvagem, não queria viver em
uma casa. Preferia entrar furtivamente na casa dos outros e sair furtivamente,
em busca de alguém para subjugar e devorar. Não me parece gente boa.
As moças viram os rapazes e se perguntavam o que
estavam fazendo. A moça ousada, que tinha ido vê-los no banho, foi adiante
checar, querendo-os ver nus novamente. À noite, entrou furtivamente em uma casa
e encontrou o homem selvagem. Ele rugiu para ela, que gritou e saiu correndo
até as outras, acordando os rapazes. Os dois grupos se encontraram e lutaram,
inclusive a moça ousada com o rapaz selvagem.
As moças eram fortes e jogaram os homens no chão e
ficaram sobre eles. Então, decidiram checar se a moça ousada tinha mentido para
elas e checaram o thabuscht, que se inchou ao toque e depois elas colocaram a
thabuscht na taschunt. No começo, elas tinham o domínio, mas com o tempo eles
se tornaram mais ativos.
Em seguida, cada rapaz pegou uma das moças e levou
para a casa. Só o homem selvagem e a moça ousada não tinham casa e eles ficaram
a espreita esperando alguém para devorar. Os outros os acossaram certo dia por
conta do comportamento deles, que decidiram ir para longe dos outros. A moça se
tornou a primeira bruxa e ele o primeiro leão, ambos vivendo de carne humana.
Quanto aos outros, ficaram morando nas casas e comiam das plantas que cresciam
no local.
Agora, vou falar sobre o começo da agricultura. O
primeiro homem e a primeira mulher ainda viviam debaixo da terra e viram uma
pilha de cevada e de trigo e sementes de todas as plantas comestíveis. Um dia,
viram uma formiga, que tirou um grão de trigo e o comeu. A mulher pediu para
que o homem matasse a formiga, mas ele se recusou e conversou com a formiga,
perguntando sobre as sementes.
A formiga explicou sobre a água, as sementes e
sobre cozinhar os alimentos e levaria os dois à superfície. Lá, a formiga
explicaria sobre como usar as pedras para moer o trigo e sobre como usar a
farinha para criar uma massa. Depois, ensinaria a fazer fogo e a cozinhar os
alimentos.
Tendo aprendido a fazer isso, pegaram cevada e o
trigo, além de pedras de moer, e perambularam pela terra. No caminho, deixaram
cair grãos de trigo e cevada. A chuva
caiu e os grãos que estavam no chão enraizaram, cresceram e frutificaram.
Chegaram até onde os quarenta nove moças e rapazes estavam e ensinaram a eles a
fazer pão.
Os filhos gostaram de comer o pão e quiseram
receber os cereais e pegarem um pouco para eles. Seguiram caminho de volta de
onde os pais vieram e encontraram os alimentos que brotaram no caminho.
Descobriram então como surgem os grãos e se comprometeram a comer metade dos
grãos que brotavam e plantar o resto.
Porém, eles jogaram os grãos no chão e eles não
brotaram. A formiga então explicou que era necessário esperar a estação certa,
após uma longa temporada de calor e após as chuvas, momento ideal para
plantarem os grãos. E foi assim que descobriram a agricultura.
Agora, vou falar sobre a origem dos animais de
caça. No começo, havia um búfalo selvagem, Itherther, e uma fêmea, Thamuatz. Os
dois nasceram no espaço escuro que rodeia a terra chamado de Tlam. Os dois
desceram a terra e lá tiveram um filho, que tentou “cobrir” a mãe, que o botou
para correr.
O filhote então chegaria aonde estavam os quarenta
e nove casais, que tiveram seus filhos, que por sua vez tiveram mais filhos,
criando uma vila com várias propriedades. Viram o pequeno búfalo e o
perseguiram. Os velhos perguntaram à formiga sobre o que essa criatura era. A
formiga então explicaria que ele é o filho da búfala e depois teria que
explicar o que é um búfalo em primeiro lugar. Mais importante, diria que a
carne deles era boa de comer.
O búfalo se cansaria de ser perseguido e deixaria o
país dos homens. Conversaria com a formiga no caminho, que explicaria que ele
poderia viver pouco, mas em conforto e sem precisar trabalhar, ou viver muito e
precisar trabalhar e se sujeitar a vários riscos, como o mau tempo. Ele preferiu
viver muito, voltaria para casa e cobriu a mãe e a irmã que tinha nascido de
Itherther e Thamuatz. Itherther ficou furioso e desafiou o pequeno búfalo, que
já não era tão pequeno e venceu o pai, o expulsando.
Itherther então vagaria pelo mundo e depositaria
seu sêmen em uma depressão. Cinco meses depois, Itherther voltaria ao local e
encontraria os outros animais nascido de seu sêmen. Os alimentou e depois,
quando cresceram, pediram para que eles se multiplicassem e essa é a origem de
todos os animais, exceto do leão, surgido do homem canibal filho do homem e da
mulher primordiais.
Voltando ao jovem búfalo, ele teve vários filhos.
Certo dia, a neve começou a cair e ele e o rebanho sofreriam. Concluiria então
que era melhor viver pouco e na companhia dos humanos do que sofrer dessa
maneira. Para acabar com o sofrimento, sugeriu que fossem até os homens, que
dariam abrigo e comida para eles. E foi assim que surgiu o gado doméstico.
A última história diz respeito às primeiras ovelhas
e carneiros. A primeira mulher estava moendo o trigo e misturou farinha com
água e com essa massa moldaria uma ovelha, a deixando em cima da palha que
estava no moinho. No dia seguinte, da mesma maneira, moldaria um carneiro, com
os chifres torcidos para não machucar os humanos. Quando foi colocar o carneiro
sobre a palha, verificou que a ovelha que fez no dia anterior ganhou vida.
Passou então a criar ovelhas e carneiros até achar que fez o suficiente.
Ela deu cuscuz para eles, que cresceram e saíram da
casa da primeira mulher, que vinha mantendo-os em segredo. Os outros humanos
começaram a perguntar o que eles eram e ela disse que eles tinha surgido e que
foram criados como eles próprios foram.
As pessoas procuraram a formiga, que explicou sobre
a carne e a lã da ovelha e do carneiro e festivais que envolvem os dois
animais. Perguntaram como eles eram feitos e a formiga pediu para que
conversassem com a primeira mulher. Ela explicou como os fez e eles tentaram
replicar, mas ela era uma feiticeira e só ela tinha tal poder.
Os animais criados pela primeira mulher se
multiplicaram e, seguindo o conselho da formiga, as pessoas compraram os
carneiros e ovelhas da primeira mulher em troca de bens que eles tinham, e
assim nasceu o comércio e assim a humanidade obteve os carneiros e ovelhas para
usar em seus festivais.
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