Na continuação da série sobre América Latina, vou falar sobre outras conquistas. A fonte de informação é o livro The Penguin History of Latin America. A gameplay é do jogo Expeditions: Conquistador.
Assim
como a conquista do México motivou vários exploradores a procurar por riquezas
na América Latina, a conquista do Peru provocou nova sanha por conquistas. Nas
décadas de 1530 e 1540, as áreas mais populares eram ao norte do Império Inca
nas regiões da Venezuela, Colômbia e Equador. Sebastián de Benalcázar, após a
conquista de Quito, se infiltraria no território dos índios Chibcha e fundaria
Popayán em 1536 e Cali em 1537. Enquanto ele se aproximava de Bogotá, a capital
do reino Chibcha, ele encontrou outros exploradores espanhóis, como Gonzalo
Jiménez de Quesada, que tinha conquistado o reino Chibcha de Tuja e Nikolaus
Federmann, um alemão autorizado por Carlos V a ir à América Espanhola. Ao invés
de entrarem em conflito, os três exploradores fizeram um acordo e aceitaram a
arbitragem da coroa, que decidiu em favor de Benalcázar.
Havia
rumores de uma terra além dos Andes cheia de ouro onde o rei se cobriria com pó
de ouro e tomaria um banho em um lago sagrado uma vez por ano. Guiado pela
lenda de El Dorado, Gonzalo Pizarro partiu em 1541 pelos Andes através da
floresta tropical. Desesperado por comida, Gonzalo enviaria um grupo para
procurar por comida liderada por Francisco de Orellana. Gonzalo retornou para
Quito, mas Orellana se perderia por um longo rio que ele percorreu em toda a
sua extensão antes de ir para Hispaniola. O rio seria chamado de Amazonas por
conta dos ataques de guerreiras sofridos por Orellana.
No
México e no Caribe, os exploradores foram atrás da lenda equivalente de El
Dorado ao norte, as Sete Cidades de Cíbola, cujos prédios teriam ouro e
turquesas encrustados. Esses rumores seriam aumentados por um relatório de
Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, que teria visto um poderoso império ao noroeste do
México. Cabeza de Vaca tinha partido em uma expedição para conquistar a Flórida
em 1528 que foi mal fadada por doenças e ataques de índios e ele foi um dos
poucos sobreviventes. 8 anos depois, ele continuaria explorando a região da
Flórida, chegando na Cidade do México em 1536. Quatro anos depois, seguiria com
nova expedição que o levaria para o Brasil e até o Paraguai, onde ele se tornaria
governador de Asunción.
Em
1540, a busca pelas Sete Cidades de Cíbola seria empreendida por Francisco
Vasquez de Coronado no que hoje é o Novo México e o Arizona. Não encontrando
nada lá, foi mais para o leste e descobriu o Grand Canyon e seguiu pelo Rio
Grande no Texas. Ouvindo falar sobre lendas a respeito de outra terra de ouro,
Quivira, partiria em segunda expedição que o levou para Oklahoma e Kansas. Não
encontrou o que queria, mas expandiu os territórios conhecidos na América do
Norte.
Outro
grande explorador foi Hernando de Soto, que participou da conquista do Peru com
Francisco Pizarro. Em 1539, partiu em expedição para mais uma tentativa de
explorar a Flórida, não encontrando nada. Em seguida, foi para Georgia, Alabama
e Louisiana, descobrindo o rio Mississipi até morrer em 1541. Esses e outros
territórios se tornaram formalmente parte do Império da Espanha, mas não se
tornariam povoados até a colonização inglesa. Na América do Sul também haveria
enormes territórios que demorariam para ser explorados, como parte do Brasil,
os pampas argentinos e a Patagônia. Tentativas de estabelecer assentamentos no
rio Paraguai e Paraná só foram bem-sucedidas no final do século XVI.
Desde
cedo, o Rio da Prata era de interesse dos colonizadores. Em 1516, Juan Díaz de
Solis começou a exploração, mas morreu nas mãos (e bocas) de canibais. Magellan
também tentou em 1520 antes de ir para o sul e descobrir o estreito que leva o
seu nome. O explorador veneziano Sebastian Cabot a serviço da Espanha chamaria
de Rio de la Plata achando que encontraria prata. Só em 1535 que haveria uma
tentativa de estabelecer um assentamento no Rio da Prata em expedição liderada
por Pedro de Mendoza, que fundaria a cidade de Santa María de los Buenos Aíres,
destruída por índios em 1541. A única cidade espanhola ao leste dos Andes seria
Asunción, fundada por Mendoza.
O
balanço final das expedições até 1540 era desfavorável, com muito sangue
derramado, inclusive de espanhóis, poucas expedições realmente bem sucedidas e
muito trabalho em pacificar as áreas dominadas. A conquista de Yucátan começou
em 1527, mas até a década de 1540 os espanhóis estavam lutando contra índios
insurgentes. A parte oeste e noroeste do México levou entre 1529 e 1575 para
ser dominada até a criação de Nueva Viscaya por Francisco de Ibarra.
A
conquista do Chile começou em 1540 com Pedro de Valdivia partindo de Cuzco para
dominar a parte sul do império inca que Diego de Almagro não tinha conseguido
conquistar cinco anos antes. Demorou um ano inteiro para atravessar os Andes e
o deserto do Atacama. Em 12 de fevereiro de 1541, Valdivia fundaria a cidade de
Santiago, destruída seis meses depois por índios araucarian. Por dois anos,
Valdivia se manteve em Cerro Santa Lucia em uma ilha do rio Mapocho até receber
reforços do Peru. Depois que Santiago foi refundada, os espanhóis continuaram a
sul, fundando Concepción e Valdivia, mas não conseguiram cruzar o rio Bío-bío,
protegido por índios araucarian que matariam Valdivia.
Do
Chile, os espanhóis foram para o que hoje é a Argentina, fundando as cidades de
Mendoza e San Juan, extensões da colônia do Chile. Mais tarde, Córdoba e
Tucumán seriam fundadas por expedições do Peru. Em 1580, Buenos Aires seria
refundada por expedições vindas do Paraguai. Todos esses assentamentos seriam
entrepostos do império dependentes da economia do Peru. Pela maior parte da era
colônia, a Argentina não existia como uma entidade própria, sendo até o século
XVIII meramente um porto para comércio ilegal de escravos e prata com
mercadores portugueses.
Vantagem Espanhola
Vou
falar agora sobre os motivos que levaram os espanhóis a terem uma vantagem tão
grande sobre os índios, inclusive sobre os impérios Astecas e Inca, apesar de
serem em tão menor número. Na parte militar, eles tinham armas, armaduras e
navios, porém, na maior parte das vezes os exploradores eram mal equipados. O próprio
Cortés só tinha 13 armas e 15 canhões quando chegou no México. O terreno
difícil também anulava muitas dessas potenciais vantagens. Cavalos também eram
uma arma importante dos espanhóis, recurso que os índios não possuíam, mas,
novamente, Cortés só tinha 16 cavalos e Pizarro 27. A cavalaria não foi fator
tão crítico assim nas conquistas espanholas.
Uma
vantagem importante dos espanhóis foi no campo da política e da estratégia
militar. Os espanhóis conseguiram explorar rivalidades locais para seu favor
para ganhar aliados locais e dividir para reinar. Outras vantagens foram os
vírus trazidos do Velho Mundo que serviram como arma biológica. Apesar do
efeito inverso tenha ocorrido, os espanhóis sendo expostos a novas doenças e
inclusive as exportando para a Europa, os índios foram os mais afetados. Na
parte estratégica, os espanhóis sabiam exatamente o que queriam (riquezas), mas
os índios não sabiam o que esperar dos invasores. Eles pensavam que podiam
apaziguar ou satisfazê-los até que eles partissem, e quando viram que os
espanhóis vieram para ficar e se organizaram para repelir os invasores já era
tarde demais. A essa altura, eles já estavam desestruturados demais para
organizarem uma força de resistência coesa para enfrentar os espanhóis. Aqueles
que, como os araucarians, já estavam organizados, que sempre foram hostis aos
espanhóis e que se adaptaram ao inimigo, aprendendo a usar cavalos, por
exemplo, sobreviveram por séculos até serem sobrepujados pelos europeus. Se os
astecas e os incas tivessem agido assim, não teriam sido derrotados pelos
espanhóis.
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