Aqui eu vou começar uma parte longa da série falando sobre América Latina. Infelizmente, não tenho tanto como individualizar os países, então serão seis vídeos genéricos sobre América Latina para os seis países da América do Sul e Central que estão na Copa, fora Costa Rica que já falei e o Brasil. A fonte de informação é o livro The Penguin History of Latin America. A gameplay é do jogo Expeditions: Conquistador, que fala sobre a conquista de Hispaniola, mas enquanto eu escrevia os textos senti que tinha tudo a ver com o jogo, apesar dos eventos não serem os mesmos.
O
desejo de viagens ultra marítimas veio da necessidade de estabelecer o comércio
com o extremo oriente, chamado genericamente de Índias, onde era possível
encontrar bens muito procurados por europeus, como temperos e seda. As
histórias fantásticas de Marco Polo sobre o oriente ajudaram a aumentar o
fascínio. Esse comércio existia, mas era demorado, dependia de intermediários
em Veneza e Genova, que prosperaram nessa época, e depois essa rota seria
bloqueada pelo Império Otomano.
Outro
problema que inspirou as viagens foi a busca por ouro, que eram usados para
pagar pelas especiarias e que provinham principalmente da África. Porém, o
comércio na África era lento demais, dependendo de viagens de camelo, o que
diminuiu o fluxo de ouro para a Europa, que já não podia pagar pelas
especiarias orientais. Desastres como a Peste Negra piorariam ainda mais a
situação europeia.
Portugal
e Espanha, dois dos países mais afetados, começaram a procurar alternativas
para o comércio de ouro, escravos e especiarias. Em 1415, Portugal cruzaria o
Estreito de Gibraltar, conquistaria Ceuta e estabeleceria uma rota marítima até
a África subsaariana. Depois, explorariam as Ilhas Açores, Madeira e Canarias,
onde estabeleceriam plantações de cana de açúcar. Após cruzar o Cabo Bojador em
1434, estabeleceriam uma rota direta de comércio de ouro com o Sudão.
Ao
longo da África Ocidental, Portugal foi criando feitorias, que são entrepostos
comerciais, em pontos estratégicos. Por fim, Bartolomeu Dias cruzaria o Cabo da
Boa Esperança em 1497 e abriria caminho para a expedição de Vasco da Gama ao
Oriente em 1498, criando uma rota de comércio com a Índia, e tornando Portugal o
principal intermediário europeu com o oriente, além do comércio de ouro,
escravos e de açúcar.
Cristóvão
Colombo tinha uma ideia melhor do que circundar a África. Eles poderiam viajar
para oeste e chegar à Ásia cruzando o Atlântico. Seria uma ótima oportunidade
comercial, além de trazer fama para quem conseguir efetuar tal empreitada,
apesar dos riscos, já que ninguém sabia a extensão do Atlântico. Além do mais,
era uma oportunidade de espalhar a fé cristã e assim enfrentar os muçulmanos.
Colombo calculou errado a distância da Europa até a Ásia. Ele esperava
encontrar terras não descobertas ao longo do caminho, mas não esperava o que
iria encontrar além do Atlântico.
Tudo
ia bem, mas era necessário financiamento e apoio político. O rei de Portugal,
João II, não se animou muito com o projeto de Colombo, o considerando
arriscado, tendo em vista a base científica frágil dele, e uma diversão de
recursos de projetos mais certos como o africano. Colombo então foi para a
Espanha conseguir apoio financeiro, e o obteria em 1492. Após a expulsão dos
muçulmanos de Grana, Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela aceitariam
apoiar Colombo e foram extremamente generosos, garantindo os títulos de
Almirante do Mar, Vice-rei das Índias e governador de todas as terras que ele
encontrasse em suas viagens, além de 10% das riquezas que descobrisse. Se
Colombo tivesse sucesso, Aragão e Castela conseguiriam superar Portugal na
corrida das especiarias.
Em
3 de agosto de 1492, Colombo partiu em três naus: a galícia Santa Maria de 100
toneladas e duas naus espanholas em estilo português, Pinta e Niña, com 60 e 50
toneladas respectivamente e contaram no total com 87 tripulantes. A frota teve
que fazer uma pausa nas Canárias, e seguiria viagem oceânica em 9 de setembro.
Após um mês no mar, Colombo começou a ver sinais auspiciosos, como pássaros e
uma estranha luz brilhando no horizonte. Em 12 de outubro, foi avistada terra
de madrugada. Horas depois, eles desembarcariam no que ele chamaria de San
Salvador, atual Bahamas.
Os
nativos foram recepcionar os estranhos convidados e foi um baita choque
cultural. Os nativos estavam nus com pintura corporal e não eram hostis, mas
não eram o que Colombo estava buscando. Estava claro para ele que não tinha
chegado ao Japão, como esperava. San Salvador não era exatamente o que ele
estava esperando e logo Colombo prosseguiu viagem. Encontrou uma ilha maior
(Cuba), onde esperava encontrar o Japão e ouro. Ele não encontrou nenhum dos
dois, mas encontrou tabaco, que no futuro seria explorado pelos espanhóis.
Então,
foi para outra ilha que lembraria a Espanha e que ele chamaria de Hispaniola,
área que inclui atualmente o Haiti e a República Dominicana. Lá, os nativos usavam ornamentos de ouro e
ele encontrou um chefe, Guacanagari, que mostrava algum atributo de realeza e
pareceria a ele que estava chegando perto da China e do Japão. Ele falaria de
um lugar chamado Cibao, que ele pensou que poderia ser Cingapu, o nome pelo
qual ele conhecia o Japão.
No
natal de 1492, a Santa Maria bateu em um recife de corais e teve que ser
abandonada. De seus destroços, foi criada a primeira colônia espanhola chamada
de Navidad com a ajuda dos homens de Guacanagari e Colombo retornou para a
Espanha na nau Niña, deixando 21 voluntários para trás.
Em
20 de abril de 1493, Colombo chegou à Espanha e se apresentou ao rei Fernando e
à rainha Isabel, mostrando seis nativos das terras que visitara, confiante de
que chegou nas Índias. Essa era a chance para os espanhóis chegarem nas Índias
antes do que os portugueses, que ainda não tinham chego. O papa Alexandre VI
emitiria uma série de bulas garantindo a posse das terras no continente ao
oeste para a Espanha e depois haveria um acordo no Tratado de Tordesilhas em
1494 separando o oeste entre as duas potências ibéricas, tudo além de 370
léguas de Açores e Cabo Verde ficando
para a Espanha.
Antes
mesmo do Tratado, Colombo partiu em uma segunda missão em 25 de setembro de
1493, com dezessete navios e 1500 homens com a intenção de fundar uma colônia
na área que descobriu. Chegando em Hispaniola, descobriu que os nativos destruíram
Navidad por conta do comportamento dos colonos. Os colonos agiram com violência
contra os nativos e procuraram utilizá-los como força de trabalho escrava, e
foram reprimidos com violência, para a derrota dos espanhóis. Colombo foi mais
para leste e fundaria uma nova colônia chamada Isabella, em homenagem à rainha.
Depois, iria atrás de Cibao.
Quando
retornou, viu mais amostras de indisciplina entre os colonos. Houve uma briga
entre catalães e seu irmão, Diego, deixado encarregado da colônia enquanto ele
estava fora. Tentou satisfazer a todos autorizando expedições mais brutais em
busca de ouro, para satisfazer aqueles mais sedentos por ganhos rápidos, e fez
um repartimiento de índios cativos
para trabalhar para os espanhóis. Os nativos se revoltaram, mas foram
derrotados pelas armas dos espanhóis.
Em
1496, Colombo voltaria para a Espanha para se defender de calúnias de
ex-colonos e defender o seu empreendimento, que já começava a ser visto com
descrédito, sem sinal de ouro ou de um caminho para o Oriente. Além do mais,
Isabel estava incomodada com o tratamento dos índios, que ela tinha proibido
expressamente de serem usados como escravos. Apesar disso, os monarcas
mantiveram o apoio à Colombo, até por saberem que Portugal preparava uma
expedição à Ásia via África.
18
meses depois, Colombo montaria uma nova expedição, agora financiada pelo
tesouro e supervisionada pelo arquidiácono de Sevilha, Juan Rodrigues de Fonseca.
Ele partiu em maio de 1498, chegaria em Trinidad em julho e seguiria viagem até
chegar à Venezuela. Colombo estava obcecado demais para perceber as implicações
de sua descoberta, e só Amerigo Vespúcio depois formularia a ideia de que se
tratava de um continente separado da Ásia e foi o primeiro a chamar essa porção
de terra de “Novo Mundo”. Colombo, por sua vez, pensava que o delta do Orinoco
era um rio que, de acordo com as escrituras, irrigava o Paraíso.
Chegando
em Hispaniola, Colombo encontraria uma situação de guerra civil. Santo
Domingos, estabelecida pelo irmão de Colombo, Bartolomeu, estava pior do que o
assentamento de Isabela. Ele tentou apaziguar, mas era visto como um
estrangeiro e perdeu ainda mais de sua autoridade. As notícias chegaram na
Espanha e em agosto de 1500, um oficial espanhol, Francisco de Bobadilla,
chegou com ordens de investigar os problemas, prendendo os irmãos de Colombo e
o mandando de volta para a Espanha acorrentados.
Colombo
não conseguiu transformar Hispaniola em uma feitoria e ouro só poderia ser
obtido através de escavação de minas, o que exigia uma operação mais complexa.
Assim, a coroa cassou o monopólio de Colombo da exploração do Novo Mundo e
mandaria em fevereiro de 1502 Nicolás de Ovando para ser o primeiro governador
do que seria a América Espanhola.
Colombo
ainda queria encontrar um caminho para as Índias e conseguiu financiamento para
uma quarta viagem, partindo em maio de 1502. Ele não encontrou o Oriente nos
dois anos de viagem, mas explorou a América Central passando por Honduras,
Nicarágua, Costa Rica e Panamá. De volta à Espanha, tentou restaurar seus
privilégios, mas só conseguiu com que seu filho, Diego, fosse eleito governador
de Hispaniola e retivesse os títulos hereditários de vice-rei e almirante.
Colombo morreria em 1506, convencido de que tinha chego à Ásia.
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