sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Manual do Ditador (#13): Resumo




Nesse vídeo, vou encerrar a série do Manual do Ditador. Já falei sobre todos os capítulos do livro, mas ficou pendente uma parte do Tropico 5 para mostrar. Por isso, resolvi fazer esse vídeo extra para resumir o livro em um único vídeo.

A ideia básica dos autores, Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith, é que os políticos, independente de partido, ideologia, época da história, de estar em uma democracia ou em uma autocracia, querem alcançar o poder e lá se manterem. É uma ideia simples, talvez até demais, só que parece que muitas pessoas se esquecem disso.

Partindo disso, temos a classificação das pessoas entre intercambiáveis, influentes e essenciais, também chamada de coalizão vencedora. Os intercambiáveis são aqueles que têm algum poder nominal de selecionar o líder. Os influentes aqueles que efetivamente exercem esse poder e os essenciais aqueles cujo apoio é necessário para o líder. O comportamento do líder e as políticas que ele adota vão depender do tamanho relativo desses três grupos.

Por exemplo, em autocracias, a coalizão vencedora é pequena, de forma que o líder precisa comprar o apoio de pouca gente para se manter no poder. Assim, ele só precisa manter seus poucos apoiadores essenciais felizes, manter o exército feliz que poderá se manter no poder por muito e muito tempo. Essa é basicamente a receita de sucesso de ditadores de longa data, alguns sem nenhum estudo prévio de política.

Democracias, por outro lado, se caracterizam como uma coalizão vencedora grande, sendo muito caro comprar o apoio de todo mundo individualmente. Nesse caso, suborno descarado não funciona e o líder precisa de outra estratégia para alcançar e manter o poder.

O líder precisa arrecadar dinheiro para poder gastar na compra de apoio. Por isso, uma das medidas mais urgentes para um novo ditador é encontrar onde o dinheiro do estado está para poder gastar na compra do apoio da coalizão vencedora antes que ele seja removido do poder, sendo que muitos ditadores têm vida curta (política e fisicamente) por conta da demora em chegar ao dinheiro, mas, uma vez lá, costumam ser longevos. O dinheiro pode vir de muitas formas, a mais comum via impostos, o que requer um povo produtivo para movimentar a economia. Porem, pode vir via ajuda externa ou recursos naturais, temas a serem explorados mais adiante.

Na parte do gasto, o líder pode investir em bens públicos ou em bens privados. O primeiro tipo beneficia a população como um todo enquanto que o segundo tipo beneficia apenas os recebedores diretos dos bens privados. Pode chamar de corrupção o gasto em bens privados. No que o líder vai gastar depende do tamanho da coalizão vencedora, bens privados sendo mais efetivos quando é necessário comprar o apoio de pouca gente e os bens públicos mais efetivos quando é necessário comprar o apoio de muita gente. Um segundo ponto é que alguns bens públicos são necessários para a produtividade da economia, não apenas estradas e infraestrutura, mas bens intangíveis como liberdade de imprensa, de expressão e de associação. Essas liberdades acabam restringindo o que o líder pode ou não fazer, por isso que ditadores tentam coibi-las e proto-ditadores começam a pavimentar o caminho da servidão controlando a imprensa, atacado a liberdade de expressão e os meios de comunicação.

Ajuda externa é uma maneira do autocrata se manter no poder sem precisar da ajuda de seu povo. O país doador de ajuda externa o faz por conta de objetivos de política externa, como manter fiel um aliado em guerra, como na Guerra Fria. Outro exemplo é obter apoio político, como no caso de países membros do Conselho de Segurança da ONU, que veem um aumento na ajuda externa quando são escolhidos para ocupar esse posto. Ou ainda ajuda externa como política comercial para contornar leis antiprotecionistas. Outra opção é ajuda humanitária de governos, ONGs ou mesmo pessoas, esse dinheiro sendo desviado para o ditador e seus compadres ou os bens vendidos no mercado negro, se for esse o caso. De todo modo, essa ajuda externa auxilia o ditador do país e prejudica o seu povo.

Recursos naturais são outra maneira do ditador governar sem precisar que o povo trabalhe para ele, uma vez que é dinheiro fácil com pouco investimento sendo necessário. Se quiser, o ditador pode terceirizar completamente a exploração de recursos naturais, não precisando do povo para nada. Isso torna uma mudança de regime muito complicada, seja por uma revolta interna, seja por ação externa.

O exército desempenha um papel fundamental na manutenção do poder. Afinal, são os militares que suprimem revoltas populares que podem vir a surgir. Dessa forma, para evitar um levante, o ditador precisa comprar o apoio dos militares e dificultar que os cidadãos se comuniquem e se organizem politicamente, além de manter a coalizão vencedora leal. Se isso não for possível, o ditador pode ter que abrir o regime para evitar ser morto ou perder o poder, sendo possível democratizar o país sem necessariamente deixar o poder.

Esse é um resumo básico do Manual do Ditador. Vou falar agora sobre a sua relação com o Tropico 5, ou com a série Tropico em geral. Pelo menos no modo campanha, que foi o que joguei, jogo precisa ser uma mistura de ditador com democrata, sendo que o segundo ponto é bem forte. Você precisa ganhar eleições e precisa atender os anseios da sociedade. Claro que você pode comprar o apoio subornando as pessoas, mas, diferente da vida real, isso pode ser feito sem maiores consequências e não é tão caro assim. No fim, você precisa agir como um populista.

Dinheiro é importantíssimo, então você precisa se preocupar com a produtividade do povo, assim como os ditadores de verdade. O país tem recursos naturais, mas não tão abundantes que você possa depender exclusivamente deles. Na parte de ser um ditador, você pode emitir algumas leis e constituições que restringem a liberdade, você pode mandar o exército reprimir protestantes ou grevistas, mas na verdade eu senti falta de ser um ditador cruel nesse jogo.

Não sei qual o impacto de comprar o apoio dos líderes das facções, mas seria interessante se eles tivessem maior influência sobre o apoio que você recebe, coisa que não senti no jogo. Dessa forma, eles seriam a sua coalização vencedora e você precisaria manter eles contentes para se manter no poder. Na parte dos militares, essa é uma boa dica do livro, o ditador tendo que manter os militares felizes para evitar golpes militares e ter a ajuda deles para não ser derrubado por uma revolta. Porém, isso não ajuda a ganhar eleições.

El Presidente recebe ajuda externa, e o segredo aqui é jogar com todos os lados para receber ajuda de todo mundo. Por isso que não fiz questão de fazer aliança com os Estados Unidos, porque dai eu deixaria de receber ajuda externa da União Soviética e não sei se os Estados Unidos compensariam isso.

No fim, temos alguns pontos em comum entre o Manual do Ditador e o Trópico, a combinação sendo boa, porém, não perfeita. Então, uma boa dica de leitura para quem gosta do Tropico é o Dictator’s Handbook, que não tem em português ainda.