domingo, 17 de maio de 2015

Guerra dos Sete Anos



A Guerra dos Sete Anos pode ser entendida como a Guerra Mundial Zero, sendo um dos primeiros conflitos a ter impactos em uma escala que ultrapassa um continente. Iniciou-se em 1756 apenas oito anos após outro grande conflito europeu, a Guerra da Sucessão da Áustria, que deixou várias questões mal resolvidas que resultariam em outra guerra, como a disputa pela Silésia entre Prússia e Áustria e disputas colônias entre Grã-Bretanha e França.

Apesar de haver uma continuidade com a Guerra da Sucessão da Áustria, há diferenças importantes. Foi uma guerra de maior escala, comprometendo mais recursos das nações envolvidas do que antes. Foi também empreendida com alianças diferentes, a Grã-Bretanha se aliando à Prússia contra a Áustria quando havia feito o contrário anteriormente. O mesmo ocorreu com a França, que trocou a aliança com a Prússia para se aliar com a Áustria na Guerra dos Sete Anos. Diversas nações se envolveram no conflito, mas os principais eram de um lado a Áustria da rainha Maria Teresa, a França de Luís XV e a Rússia da czarina Isabel contra a Prússia de Frederico, o Grande e a Grã-Bretanha de George II e depois George III.

Dando caráter mundial ao conflito, a Nova França, as colônias francesas na América do Norte, e as 13 Colônias inglesas também entraram em conflito no mesmo período. Na verdade, as hostilidades no Novo Mundo começaram alguns anos antes, com diversas disputas territoriais entre as duas colônias. O conflito escalou e as metrópoles enviaram dinheiro, homens e navios para atuarem na disputa. A Índia também era objeto de disputa entre os dois impérios coloniais e suas Companhias das Índias. Os constantes conflitos convenceram França e Grã-Bretanha de que precisavam de aliados para superar um ao outro. Ao mesmo tempo, a paz selada com o Tratado de Aix-la-Chapelle era praticamente vista como uma paz temporária e ainda havia ressentimentos da Guerra da Sucessão da Áustria, em especial a disputa da Silésia. Nesse meio tempo, as nações se envolveriam em intensa diplomacia que mexeria totalmente com o tabuleiro político, de forma já mencionada.

Basicamente, Áustria queria a Silésia de volta e a Prússia queria não apenas manter a Silésia, mas também precisaria lidar com a Rússia, que via com preocupação o expansionismo prussiano. França e Grã-Bretanha tinham as suas disputas coloniais, mas, além disso, a Grã-Bretanha tinha o Eleitorado de Hanover, que garantia um voto na eleição do Sacro Imperador Romano. O Eleitorado era alvo de cobiça da França e da Prússia e a Grã-Bretanha precisava proteger, já que a sua perda poderia resultar em perdas ainda maiores em seu império. Por esse motivo, a Grã-Bretanha gostaria que a Europa permanecesse em paz para que pudesse enfrentar a França no Novo Mundo e procuraria atuar diplomaticamente nesse sentido. Via na Rússia um possível contrapeso contra as ambições prussianas e uma garantia ao Eleitorado de Hanover. Após um acordo, a Rússia concordaria em enviar tropas para Hanover em troca de um pagamento. Frederico II temia uma aliança anglo-russa e tentaria atuar nos bastidores, jurando que não tinha ambições em Hanover. Isso daria certo e Prússia e Grã-Bretanha assinariam acordos de defesa mútua.

Do outro lado, a Áustria não desejava uma paz europeia, diferente dos britânicos. Queria de volta a Silésia e se sentiu traída em sua aliança de longa data com a Grã-Bretanha após a opção de entrar em acordo com a Prússia. Procuraria a França para um acordo e a Grã-Bretanha tentaria argumentar que esse era meramente um acordo defensivo. A Rússia tinha uma série de objetivos, alguns conflitantes no quadro político que se formaria, como barrar o avanço da Prússia, com ajuda da Áustria, evitar que a França se movimentasse contra a Áustria, conseguir com que a Polônia permitisse movimentações de tropas russas em seu território e manter a Suécia e o Império Otomano fora dessas disputas.

Em primeiro de maio de 1756, seria firmado o primeiro Tratado de Versalhes entre Áustria e França, estabelecendo a neutralidade austríaca em caso de uma guerra colonial entre França e Grã-Bretanha e ajuda mútua em caso de ataque. O plano austríaco era que se a França avançasse contra Hanover entraria em confronto com a Prússia, o que enfraqueceria a proteção à Silésia. A Rússia não seria signatária do acordo, porque os franceses temiam que a Rússia avançasse contra a Polônia, havendo uma proximidade entre a França e a Polônia, o rei da Polônia ainda sendo Eleitor da Saxônia. No final das contas, Polônia, França e Áustria entrariam em acordo com a Rússia nos estágios inicia da Guerra, a França se tornando protetora da Polônia no lugar da Grã-Bretanha e a Rússia prometendo não atacar a Polônia e marchar sobre seu território com mínimo dano. E então teríamos a situação que afligiria os sucessores de Frederico, o Grande, séculos depois, uma guerra em duas frentes com França e Rússia, tendo ainda que lidar com a Áustria ao sul.

Exércitos Opostos
O mosquete era a principal arma utilizada pelos combatentes no século XVIII. Não era uma arma precisa, e nem era necessário que fosse, sendo relativamente rápida de atirar comparado com as alternativas da época. A formação padrão era a linha de frente atirar com o mosquete para causar dano devastador a curta distância e isso levou ao alongamento das linhas, que chegavam a sete quilômetros. Nos flancos, eram colocadas peças de artilharia para aumentar o poder de fogo e criar uma separação entre os batalhões de infantaria opostos. O número de linhas variava de exército para exército e foi sofrendo alterações conforme ocorriam baixas ao longo da guerra. As táticas mais comuns eram ou flanquear o exército inimigo ou desferir um ataque frontal devastador.

Nesse tipo de guerra, disciplina era essencial, pois os soldados precisavam marchar longas distâncias mantendo linhas coesas independente do terreno que atravessavam. Precisavam se preparar rapidamente para o combate e demora em se mobilizar poderia significar a derrota. Em batalha, os soldados precisavam enfrentar o fogo dos mosquetes e atirar apenas quando ordenado.

Vou agora comentar sobre exércitos específicos, começando com a Prússia. O tamanho do exército era de 145 mil homens e era considerado o mais eficiente em combate, sendo muito bem treinado em táticas de marcha que renderiam vitórias a Frederico, o Grande. Os prussianos também utilizavam com eficiência a cavalaria pesada para infligir um primeiro ataque pesado no inimigo.

A Prússia tinha um sistema de alistamento bem organizado, regularmente recrutando homens que seriam treinados e serviriam no exército, com os melhores homens servindo junto com tropas regulares. Ao final de cada temporada, voltavam a seus afazeres e seriam chamados novamente para novo treinamento. Na guerra, os homens que treinavam com as tropas regulares se juntavam a elas para o combate e os demais ficavam como reserva. Era um sistema eficiente, mas a duração da guerra acabaria tornando escasso o número de homens mais capazes e o sistema se mostrou incapaz de fornecer soldados na quantidade e qualidade necessárias. Mercenários estrangeiros engrossariam as fileiras prussianas, representando 25% dos soldados, e desertores e prisioneiros inimigos acabariam servindo nos estágios finais da guerra.

Frederico foi inovador ao desenvolver a artilharia a cavalo e usava isso e morteiros para aumentar o seu poder de fogo. A sua grande fraqueza eram as tropas leves austríacas, Frederico falhando em reconhecer o seu valor e pagando caro por isso. Criou o Frei-corps para lidar com essa ameaça, mas como os soldados não tinham recebido treinamento adequado e como eram pouco disciplinados por serem compostos por desertores e prisioneiros, essa unidade não se mostraria efetiva em contrabalancear a infantaria leve austríaca. Ao final da Guerra dos Sete Anos, o exército prussiano seria reconhecido por seus contemporâneos como o modelo a ser seguido, embora tivesse lá as suas fraquezas.

A Grã-Bretanha tinha um exército de 90 mil homens, que aumentaria para 150 mil ao longo da guerra. Boa parte estava servindo nas colônias e os britânicos teriam dificuldades em recrutar soldados de qualidade e também teriam que recorrer a prisioneiros. Os britânicos tinham como grande qualidade a capacidade de se adaptarem à situação, sendo óbvio que a formação em linha seria ineficaz nas florestas na América do Norte. Após algumas derrotas, acabariam aprendendo com os erros e adaptando as suas táticas para a guerra no Novo Mundo.

A Rússia tinha um exército de mais de 300 mil homens, embora utilizasse por volta de 90 mil em uma campanha. Essa era uma enorme vantagem, não apenas por poder empregar mais homens no campo de batalha, mas também por possibilitar maior uso de reservas. Porém, o exército russo era uma enorme massa desorganizada e que tinha uma linha de suprimentos tão ineficiente que nos acordos com a Áustria ficou estabelecido que os austríacos cuidariam da linha de suprimentos dos russos. Isso se mostraria um grande problema, ao impedir que os russos explorassem vitórias por não terem como dar andamento para o confronto ou ainda terem que recuar por não terem suprimentos para manter o território ganho. O comando do exército também não era competente o suficiente para explorar a vantagem numérica. Reformas seriam feitas, algumas mais atrapalhando do que ajudando, mas ao menos defensivamente os russos eram bastante competentes, muito por conta da extraordinária coragem dos soldados russos. O próprio Frederico observaria que se os russos soubessem explorar as suas vitórias ele teria perdido a guerra.

A Áustria tinha um exército com 210 mil homens. Após as derrotas que resultaram na perda da Silésia para a Prússia, os austríacos procurariam aprender com o inimigo e melhorariam seus métodos e treinamentos. Conhecendo o inimigo, os austríacos evitariam o confronto com os prussianos, preferindo lutar entre colinas e florestas ao invés de campo aberto onde poderiam ser superados pelas táticas de marcha de Frederico. Basicamente, adotariam uma postura mais defensiva para encarar a Prússia. Lutar nessas condições dificultaria o trabalho dos prussianos, que não poderiam explorar a mobilidade de suas forças. O grande trunfo dos austríacos foram as tropas leves, os corpos Grenzer, formados por soldados da região dos Balcãs. Eles eram usados em missões de reconhecimento e busca de suprimentos e em batalha atacavam os flancos dos prussianos. Assim como os russos, possuíam comandante fracos que conseguiriam se manter na defensiva, mas não teriam o ímpeto para se lançarem ao ataque. A falta de coordenação entre austríacos e russos também seria um problema e Frederico apontaria como uma razão para a sua sobrevivência a falta de iniciativa ofensiva dos dois inimigos.

A França passava por um momento difícil militarmente, com um exército de 200 mil homens pouco disciplinados, com liderança fraca, falta de oficiais competentes e sofrendo com a falta de reformas. A exceção eram os soldados nas colônias, que conseguiram diversas vitórias sobre os britânicos por compreenderem melhor o terreno e se adaptarem a ele muito antes do inimigo. Nas Índias, contavam com nativos bem treinados, o que só mais tarde os britânicos copiariam. As tropas nas colônias sofreriam ao não receberem reforços, já que a marinha britânica tinha bloqueado o caminho e decairiam de qualidade com o tempo. Faltaria até dinheiro para pagar os soldados nas Índias, o que resultaria em deserções que reforçariam os britânicos. Tentariam melhorar o treinamento ao longo da guerra, mas isso seria tardio demais para ter algum efeito prático. Os soldados na Europa também sofreriam com falta de pagamento, o que agravaria o problema da disciplina, ainda mais com a escassez de oficiais de comando. Os franceses veriam o valor das tropas leves, mas isso não teria grande impacto na Guerra dos Sete Anos.

A Guerra
A Guerra dos Sete Anos não teve um casus belli bem definido nem nenhum evento que catalisou a guerra. Mas podemos apontar como um começo as disputas entre Grã-Bretanha e França, que começou na América do Norte e continuou com a disputa pela ilha de Minorca que levou os britânicos a declarar guerra. Isso não desencadeou uma série de declarações de guerra, mas logo ficaria claro que o conflito não ficaria restrito às duas nações. França via que Hanover era um peso para os britânicos e se mobilizaria para um ataque, que levaria os britânicos a recrutar tropas locais para proteger o Eleitorado.

Frederico II através de seus espiões ficou sabendo que a Áustria e a Rússia se mobilizavam, possivelmente para tomarem o Eleitorado de Hanover. Decidiria então atacar a Saxônia do Sacro Império Romano, aliado da Áustria. Com um exército de 63 mil homens, empurrou para trás os saxões com 18 mil soldados, que se refugiaram em Pirna onde ficariam cercados pelos prussianos que tomariam Dresden e Leipzig. Tropas sob comando do príncipe Ferdinando de Brunswick seriam enviados para a fronteira da Boêmia, para onde os austríacos também enviariam tropas para tentarem chegar à Saxônia e acabar com o cerco a Pirna.

Frederico acabaria assumindo o controle da situação e enfrentaria os austríacos em Losboch. Em 1º de Outubro de 1756, austríacos e prussianos se enfrentariam e as forças de Frederico, o Grande, acabaram prevalecendo, mas não sem sofrer um número tão grande de baixas quanto o inimigo. Os austríacos conseguiram enviar um corpo para auxiliar os saxões, mas Pirna acabou se rendendo à Prússia e suas unidades incorporadas ao exército prussiano.

Logo ficaria claro que os dois conflitos não poderiam ficar separados e também que nenhuma solução pacífica poderia existir. Então, Áustria e França se aliaram junto com a Rússia, enquanto Prússia e Grã-Bretanha também transformariam acordos defensivos em ofensivos.

A Guerra dos Sete Anos transcorreria em diversos teatros de operações. Os conflitos navais foram principalmente entre britânicos e franceses, inclusive na América do Norte e Caribe. No Novo Mundo, os britânicos primeiro teriam dificuldades em lutar em selvas, mas logo se acostumariam a esse terreno e mudariam a maré até vencerem os franceses em 1760. Na Europa Ocidental, o conflito seria entre franceses, britânicos e prussianos, tendo em vista primordialmente o controle de Hanover. Na Europa Central, Prússia, Áustria e Rússia se enfrentariam, principalmente na Silésia, Saxônia e Boêmia. Frederico começaria a guerra almejando a rica Saxônia e esperava derrotar rapidamente os austríacos antes que os russos pudessem chegar para a guerra, mas seu plano fracassaria como outros planos similares falhariam em outras épocas. Em 1758, o plano de Frederico seria atacar os austríacos e russos de forma a evitar que formassem uma frente unificada, mas falharia e em 1759 assumiria a defensiva. O último teatro de operações foi a Índia, onde franceses e britânicos combaterem para dominarem o comércio na região. Os dois lados arregimentaram tropas locais para lutarem, usando tanto nativos quanto europeus, e as batalhas foram em uma escala menor do que no teatro Europeu. Os britânicos conseguiram se utilizar de bloqueios navais para evitar que reforços franceses chegassem, o que seria decisivo para uma vitória da Grã-Bretanha.

Agora, vou analisar com maiores detalhes cada teatro de operações. Na Guerra Naval, em termos de tonelagem, tínhamos a Marinha Real com 277 mil toneladas em 1755 e 375 mil em 1760 contra 162 mil e depois 156 mil da França. Essa é uma bela vantagem dos britânicos, que, porém, temiam uma aliança entre França e Espanha cuja tonelagem conjunta poderia superar a deles. A Espanha só entraria na guerra em 1762, quando a França já tinha sido derrotada por mar e possibilitou que a Grã-Bretanha pudesse focar no novo inimigo.

A Marinha Real utilizou três estratégias ao longo da guerra. A primeira era alvejar a frota comercial francesa, para reduzir o poderio econômico do inimigo e para aumentar o seu próprio. A segunda foi utilizar de bloqueios em suas próprias águas para restringir a área de atuação dos franceses. A terceira foi utilizar a marinha para levar a guerra para outros teatros de operação, como a América do Norte. A Grã-Bretanha foi capaz de aumentar a sua frota não apenas construindo novos navios, mas tomando dos franceses e depois dos espanhóis. Os franceses, por sua vez, foram prejudicados pela falta de uma estratégia unificada para enfrentar os britânicos, sem haver a definição de qual deveria ser a prioridade para a batalha naval.

Taticamente, a prática comum era de alinhar os navios como se fazia em terra. Outra opção era a de chegar perto do inimigo e iniciar um combate corporal. Os almirantes britânicos tinham ordens de combater em linhas, mas depois veriam que a superioridade na mobilidade tornaria vantajoso utilizar o combate mais próximo.

Os franceses tiveram sucesso nos estágios iniciais da guerra naval, com vitórias em Minorca e na América do Norte. Porém, logo os britânicos impuseram a sua superioridade naval e através das três estratégias mencionadas sufocou os franceses na América do Norte, atacou o comércio marítimo da França e bloqueou os franceses em suas próprias águas. A partir de 1760, os franceses já não mais procurariam a luta pelo mar, mas continuariam a sofrer com o prejuízo no comércio marítimo. Com a França praticamente descartada no mar, os britânicos poderiam focar em um novo inimigo que surgiria em 1762, a Espanha.

Na Europa Ocidental, os franceses seriam obrigados a atacar a Prússia por conta dos acordos com a Áustria. Sabendo disso, Frederico procuraria ajuda de seus aliados para lutar contra os franceses, principalmente visando proteger Hanover. Os britânicos não estavam muito dispostos a enviar tropas para o continente, considerando que a guerra nas colônias era prioridade. A solução foi o recrutamento de soldados na região, que seriam pagos pelos britânicos. Em março de 1757, os franceses e seus aliados austríacos e germânicos marchavam contra Hanover, com um exército de 100 mil homens contra 47 mil defensores, sendo que alguns ainda se deslocavam vindos da Grã-Bretanha. Os franceses e aliados avançariam contra Hanover empurrando os defensores para trás e venceriam a batalha de Hastenbeck em 26 de julho de 1757, que teria como resultado a tomada de Hanover pelos franceses. Os britânicos tentaram utilizar de ataques marítimos na costa francesa para tentar desviar a atenção dos franceses e força-los a remover tropas de Hanover para reforçar outros pontos, mas o foco ainda era a batalha na América do Norte e a situação não seria revertida em 1757.

Na Europa Central, Frederico invadiria a Boêmia em 1757 e obteria uma vitória decisiva contra o exército austríaco. Os dois exércitos voltariam a se enfrentar na Batalha de Praga, com nova vitória da Prússia que terminaria no cerco de Praga. O marechal austríaco Leopold Joseph von Daun enviaria uma força para atacar o exército prussiano. O confronto das duas forças se daria na Batalha de Kolin, dessa vez com vitória dos austríacos. O resultado forçaria Frederico a abandonar o cerco de Praga e recuar da Boêmia.

Na Prússia Leste, haveria confrontos entre a Rússia e a Prússia. Com os ataques à Saxônia, o Eleitor da Saxônia e Rei da Polônia daria permissão para que os russos marchassem em seu território para enfrentar os prussianos. Apesar de estarem em desvantagem de 2 para 1, os prussianos foram para o ataque. Comandados pelo marechal de campo Hans Lewaldt, os prussianos atacaram a cidade de Gross-Jägersdorf. Foram derrotados, mas infligiram perdas iguais a um exército numericamente superior. A Prússia recuaria da Prússia Leste, mas os russos acabariam fazendo o mesmo.

A sorte da Prússia começaria a mudar mais ao oeste. Na primeira e única vez em que forças francesas e prussianas se enfrentariam diretamente, os franceses e seus aliados germânicos tinham 42 mil homens para atacar Brandenburgo. Frederico, após deixar tropas na Silésia e levando em conta as baixas de Kolin, tinha apenas 21 mil homens a disposição para enfrentar o inimigo. Os franceses marcharam contra o acampamento de Frederico em Rossbach em 4 de novembro e foram atacados por 38 esquadrões de cavalaria liderados pelo major-general Frederick Wilhelm von Seydlitz. A infantaria prussiana logo se juntaria ao ataque e os franco-germânicos se desorganizariam e dispersariam. A batalha se deu muito rapidamente, o inimigo não teve tempo de reação e foi presa fácil dos prussianos. O resultado da batalha de Rossbach foi impressionante, os prussianos em desvantagem de 2 para 1 causando 10 mil baixas no inimigo e perdendo apenas 548 homens.

Logo depois, Frederico teria que se voltar ao leste para enfrentar um ataque austríaco. Os franceses não mais tentariam atacar a Prússia, concentrando as forças em Hanover. A Silésia seria o campo para a próxima grande batalha. Os austríacos atacaram e tomaram a capital da Silésia, Breslávia, e Frederico lançaria um ataque com 30 mil homens mais 3 mil dentre os remanescentes do exército que defendia a Silésia. Os austríacos tinham o dobro dos homens e em 5 de dezembro os dois exércitos se enfrentariam em Leuthen. Mais uma vez em desvantagem de 2 para 1, Frederico conseguiria a sua mais brilhante vitória usando a ordem oblíqua. Frederico concentrou as suas forças no flanco sul do inimigo e atacaria a linha inimiga seguindo para o norte. Essa manobra proporcionou mais uma grande vitória para Frederico, que perdeu 11 mil homens enquanto o inimigo teve 22 mil baixas. Essa foi uma vitória ainda mais meritória do que em Rossbach porque o exército austríaco era considerado melhor preparado e lutou com grande bravura, mas acabaram sendo derrotados. A ordem oblíqua foi uma grande manobra, mas não teria o mesmo sucesso no futuro porque os austríacos aprenderam com os erros. A Prússia tinha a iniciativa, mas não podia empreender novas campanhas, pois ainda precisava se recuperar das baixas ocorridas ao longo de 1757.

Nas Índias, franceses e britânicos disputavam uma importante área de comércio para as suas Companhias Comerciais. Em 1757, o foco das tensões seria Bengala, cujo nababo local era hostil aos ingleses e procuraria uma aliança com os franceses. Haveria uma série de confrontos entre os britânicos e as forças do nababo de Bengala e aliados franceses. A Batalha de Plassey resultaria em vitória decisiva dos britânicos, que contaram com a ajuda de conspiradores liderados por Mir Jaffar, que se tornaria o novo nababo e se aliaria aos britânicos, que consolidariam uma posição forte na Índia. No ano seguinte, as batalhas se concentrariam na região Carnática, com os franceses ambicionando tomar Madras, mas sem sucesso. Em 1759, pouca coisa aconteceria nas Índias. No ano seguinte, porém, teríamos a Batalha de Wandiwash que terminaria com vitória definitiva para os britânicos e acabariam selando o destino da frente indiana da Guerra dos Sete Anos. Em 1761, os franceses perderiam a sua última posse nas Índias em Pondicherry.

Na América do Norte, 1757 foi um bom ano para os franceses, que tomaram o Fort George dos britânicos. No ano seguinte, a Grã-Bretanha viraria o jogo com duas grandes vitórias, tomando os fortes Louisbourg e Duquesne, sem no entanto conseguindo capturar Carillon, objetivo só alcançado no ano seguinte, quando também tomariam Quebec dos franceses. Em 1760, o plano dos britânicos de tomar Montreal quase deu errado quando boa parte das tropas adoeceu, o que tornou Quebec presa fácil para os franceses, mas reforços vindos pelo mar não apenas aliviaram a situação, mas também permitiram a captura de Montreal.

Na Europa Ocidental, os britânicos não aceitaram negociar a ocupação de Hanover e insistiriam na retomada, mas deixariam para os prussianos esse trabalho, os britânicos apenas pagando a manutenção do exército. Sob o comando do cunhado de Frederico, princípe Ferdinando de Brunswick, os prussianos obtiveram uma vitória esmagadora contra os franceses, causando 16 mil baixas entre mortos, feridos e desertores contra apenas 200 baixas sofridas. Finalmente, a Grã-Bretanha enviaria soldados para o continente e ajudaria a proteger Hanover. A defesa dessa posição acabou tendo duas utilidades estratégicas, protegendo o flanco direito de Frederico e desviando tropas francesas que poderiam ter sido melhor utilizadas nas colônias. As forças de Ferdinando e os franceses se enfrentariam em 1759 tendo em disputa território francês e Hanover, mas nenhum dos lados ganharia muito território.

Na Europa Central, Frederico não precisava mais se preocupar com a França, mas ainda tinha dois poderosos inimigos, Rússia e Áustria. Frederico decidiu primeiro atacar a Áustria, pois entendia que a Rússia só atacaria no verão. Tomou as posições austríacas na Silésia e seu objetivo era tomar a cidade de Olmütz. Chegaria na cidade e a sitiaria, porém, o cerco demorou tempo demais e Frederico foi obrigado a recuar ao saber que os russos estavam em marcha. O exército Russo atravessou a Prússia Leste destruindo tudo pelo caminho, enfurecendo os prussianos. Os dois exércitos se encontrariam na Batalha de Zorndorf em 25 de agosto de 1758. O feroz confronto terminaria em um empate, com 13 mil baixas prussianas e 19 mil russas. Os dois exércitos ficariam próximos um do outro, mas não entrariam mais em confronto nesse ano ou no próximo.

Frederico voltaria a sua atenção para a Áustria. Haveria um grande confronto perto da vila de Hochkirch. Frederico acreditava que estava apenas enfrentando tropas leves e esse erro de julgamento acabaria por lhe custar a batalha, mas sem maiores consequências. Os austríacos avançariam contra Dresden, mas reforços chegariam e expulsariam o inimigo. 1758 acabou sendo um bom ano para Frederico, que segurou os russos na Prússia Leste e expulsou os austríacos da Silésia e de boa parte da Saxônia, mas no acumulado dos últimos três anos as baixas já chegavam a 100 mil homens, boa parte composta por veteranos de guerra altamente treinados.

Já 1759 não seria um bom ano para Frederico e para a Prússia. Sofreria a sua pior derrota até então na Batalha de Kunersdorf contra principalmente soldados russos. Foram 19 mil baixas prussianas contra 15 mil baixas russas e austríacas. Os russos queriam aproveitar essa vitória para se encaminharem para Berlim, mas teriam que fazer um desvio para o sul para auxiliar forças austríacas que estavam tendo problemas com os prussianos. Frederico não estava na melhor situação possível, tendo perdido ainda a estratégica cidade de Dresden, mas seus inimigos foram incapazes de combinarem esforços para aproveitarem as suas vitórias e deram mais sobrevida para a Prússia.

Na Europa Ocidental, haveria um confronto entre os aliados e a França na Batalha de Warburg em 31 de julho de 1760, com vitória até confortável dos aliados. Na Batalha de Kloster Kampen, em 15 de outubro, o resultado seria diferente, com vitória francesa, porém, com baixas em igual número nos dois lados. No final das contas, o resultado foi pior para os franceses, que não conseguiram vitórias que compensassem as perdas na América do Norte ou nas Índias.

Já na Europa Central, os austríacos teriam uma vitória na região da Silésia na Batalha de Landeshut, quando o exército do general Loudon estava em muito maior vantagem e obteve uma vitória esmagadora, causando 10 mil baixas entre mortos, feridos e capturados de um exército de 11 mil. Loudon juntaria forças com o marechal Daun e iria enfrentar o exército prussiano principal com uma vantagem numérica total de 90 mil contra 30 mil. Frederico manobraria à noite e mudaria de posição, atacando o exército de Loudon que não recebeu ajuda de Daun e foi derrotado, perdendo 8 mil homens contra 3 mil baixas prussianas. Frederico mostrou habilidade superior na condução de tropas vencendo uma vez mais um exército numericamente superior. Essa batalha acabou assegurando o controle da Silésia para a Prússia.

Em uma rara operação conjunta, austríacos e russos atacaram Berlim e tomaram a cidade e exigiram tributos. Porém, Frederico logo trataria de expulsar os invasores. O exército austríaco do marechal Daun atacaria a Saxônia e Frederico reagiria, dividindo seu exército em dois corpos. Destacaria um deles para impedir que reforços chegassem vindos de Dresden enquanto que outro se dirigiria para o exército de Daun. Lançaria dois ataques contra o inimigo e ambos falhariam. Porém, o corpo que tinha sido destacado para evitar reforços atacaria os austríacos pelas costas e faria com que o inimigo recuasse.

Os três últimos anos da guerra seriam marcados pela exaustão militar e financeira dos beligerantes, por esforços para encerrar a guerra nos melhores termos possíveis e pela morte da Czarina Isabel. A Prússia adotaria de vez uma estratégia defensiva para se proteger de novas ofensivas dos austríacos e russos. A morte da czarina seria positiva para os prussianos já que resultou na retirada da Rússia da guerra, permitindo que se concentrasse em um único inimigo, a Áustria. Na Europa Ocidental, a França queria tomar Hanover, mas não teria sucesso algum nessa empreitada. França e Grã-Bretanha teriam conversas de paz, interrompidas com a informação de que secretamente a França negociava a entrada da Espanha no conflito. Os britânicos aproveitaram a deixa e resolveram atacar também a Espanha, que oferecia certa ameaça naval e essa foi a oportunidade perfeita para varrê-los do mar. Aproveitando os navios que estavam na América do Norte e na Índia, a Grã-Bretanha atacou colônias espanholas e francesas no Caribe e nas Filipinas.

A Prússia tinha um exército de 100 mil homens nos estágios finais da guerra, composto principalmente por recrutas e prisioneiros que não poderiam executar as manobras que Frederico tão magistralmente lançou contra os inimigos, mais um motivo para adotar uma estratégia defensiva. Os exércitos da Rússia e da Áustria somavam 130 mil homens e iriam para a ofensiva para tomar a Silésia. Frederico montaria diversos fortes e acampamentos para preparar a defesa da Silésia. Um acampamento fortificado importante foi erigido em Bunzelwitz, que Frederico julgou que não seria alvo do inimigo e removeria tropas dele. Isso se mostraria um erro e o acampamento seria tomado pelo inimigo, que continuaria a se aproximar.

Quando a situação parecia piorar, a sorte ajudaria Frederico com a morte da czarina Isabel no começo de 1762. O sucessor seria o príncipe Pedro, que era um admirador de Frederico e buscaria a paz com a Prússia. Em 5 de março, o Tratado de São Petersburgo selaria a paz entre as duas nações e permitira que Frederico se concentrasse em apenas um inimigo. Alguns meses depois Pedro perderia o trono para a sua própria esposa, Catarina, a Grande, que desejava retomar a guerra contra a Prússia, mas a Rússia acabaria ficando neutra mesmo. Prússia e Áustria continuariam a lutar pela Silésia e pela Saxônia, sabendo que a paz não demoraria.

No final de 1762, um mensageiro austríaco iria para a Prússia e as conversas de paz começariam para encerrarem a guerra oficialmente em 1763. A Guerra dos Sete Anos terminaria com a assinatura de dois tratados principais. O de Paris envolveu Grã-Bretanha, França e Espanha, onde seriam redistribuídas as colônias na América, Ásia e África, com a Grã-Bretanha levando vantagem na maior parte dos casos, e com o acordo de retirada de tropas francesas na Europa Central. Os austríacos e os prussianos se acertariam no Tratado de Hubertusburgo, restaurando as fronteiras de antes da guerra, com a retirada das tropas austríacas da Silésia e das prussianas da Saxônia. Na Europa, aparentemente não houve vencedor, porém, nenhum dos objetivos da Rússia e da Áustria foi alcançado e a Prússia, apesar de não ter obtido ganho territorial, sobreviveu e se afirmou como grande potência europeia.

Nenhum dos envolvidos obteve ganhos expressivos, mas muito se perdeu em termos materiais e humanos. O legado da guerra foi a evolução técnica no campo militar, especialmente as outras nações tentando copiar a Prússia e modernizar seus exércitos. Mas outro legado também foi uma série de dificuldades econômicas e financeiras nas nações envolvidas, o que acabaria culminando depois na independência das 13 Colônias e na Revolução Francesa. Prússia e Rússia se firmariam como potências no cenário europeu, prestígio que a Áustria iria perdendo aos poucos. E todo esse cenário teria influência nas Guerras Napoleônicas, que é outra história completamente diferente.