terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Batalha de Alésia (52 a.c.)




Batalha de Alesia
A Batalha de Alésia foi o confronto definitivo da Campanha da Gália de Júlio César, campanha militar que aumentaria o prestígio de César e sedimentaria seu caminho rumo à soberania em Roma. Além de comandar as tropas, César ainda seria o cronista de sua campanha, a principal fonte de informações e único relato presencial sendo do próprio César. Eram três os elementos de poder em Roma, dinheiro, patronato e lealdade de legiões, e César adicionaria um quarto elemento: escrever a sua própria versão da história.

Iniciada em 58 a.c., a campanha da Gália objetivava dominar um dos mais temíveis inimigos de Roma na época, os gauleses, que alguns séculos antes tinham saqueado Roma. Júlio César precisava pacificar a região e reforçar o domínio romano, tendo que lidar com diversas rebeliões, a mais forte começando em 53 a.c.  Os Arvenos, uma tribo gaulesa que vivia na região que hoje é a Auvérnia se rebelaram contra Roma liderados pelo carismático Vercingetórix e ameaçaram seriamente o domínio romano na região.

O que deve ser ressaltado é que não podemos falar em gauleses de forma tão abrangente, uma vez que na verdade são várias tribos que viviam na mesma região. Os gauleses compartilhavam uma mesma cultura e língua, mas eram divididos em diversas tribos com uma predileção para o caos, não para a organização. As tribos se encontravam em diferentes graus de urbanização e de desenvolvimento social, de forma que qualquer classificação dos gauleses era excessivamente simplificadora. A única esperança de vitória dos gauleses era uma aliança pã-gaélica e foi o que Vercingetórix procurou fazer. A brutalidade do domínio romano foi um dos catalisadores para essa união e muitas tribos fizeram aliança com Vercingetórix, inclusive tribos que César considerava aliadas dele.

César classificava como três os povos da Gália, belgas, aquitanios e gauleses, ou celtas na língua local. Coletivamente, eram conhecidas como Gália Comata, a parte da Gália livre do domínio romano, a área sob domínio de Roma sendo conhecida como Província. A Gália Comata também era conhecida como Gália Cisalpina, tinha como fronteira o rio Rubicão, que ficaria famoso na história romana em um episódio que não será analisado aqui. A Gália Transalpina, sob domínio romano, era importante do ponto de vista econômico por ser uma rota terrestre para a Ibéria, onde Roma tinha grande influência. A ameaça de tribos gaulesas e germânicas forçaria Roma a agir e seguir por território não explorado.

César se aproveitaria da situação para fomentar o medo contra os germânicos, que quase invadiram Roma algumas décadas atrás, e os gauleses, que o fizeram séculos atrás. A Gália era um alvo bem atrativo para César, que justificava a campanha como um ataque preventivo para que a região não fosse tomada por raças guerreiras cruzando o Reno. César, na verdade, estava de olho em glória e butim para sustentar a sua carreira política e militar.

Os gauleses eram temidos pelos romanos por serem um povo eminentemente guerreiro que lutava de forma indisciplinada e feroz, o que os assustava. E caberia a César domar essa fera. Em 58 a.c., César criaria duas legiões e sairia de Roma com seis legiões para enfrentar os helvécios, que estavam migrando em massa para o que hoje é Saintonge, no sudoeste da Gália e eram vistos como uma ameaça para a Província. Essa migração em massa abria espaço para que o território antes ocupados pelos helvécios fosse ocupado pelos germânicos e criou o argumento de César de que se a Gália não fosse tomada pelos romanos seria invadida pelos germânicos. César derrotaria os helvécios, mas esse seria apenas o começo da campanha da Gália que envolveria enfrentar germânicos e gauleses.

Os detalhes sobre o que aconteceu entre 58 a.c. e 52 a.c. requerem uma série só para isso. O que importa para esse vídeo é que César passou a enfrentar a rebelião de diversas tribos gaulesas sob o comando de Vercingetórix, havendo confrontos em Avárico e Gergóvia, até o confronto definitivo em Alésia

Comandantes Opostos
De um lado, tínhamos Júlio César, futuro imperador romano. Do outro, Vercingetórix, de quem pouco sabemos devido à sua curta carreira como líder e à tradição dos gauleses de transmitir oralmente a história. Possuímos bem mais informações de César até pelo fato de ele ter escrito a sua própria versão da história, como mencionado.

Eis o que sabemos de Vercingetórix. O pai dele, Celtill, tentou se declarar rei e acabou sendo morto por seus compatriotas, a tribo tendo abandonado a soberania hereditária e adotado a eleição de seus líderes. César pintou Vercingetórix como tendo ambições de ser rei e o filho de Celtill era uma espécie de pária em sua tribo e tendo como única escapatória se rebelar contra Roma. Para isso, recrutaria jovens guerreiros de diversas tribos gaulesas para a sua causa. Vercingetórix era um líder carismático e, ao contrário dos demais gauleses, metódico e não se deixava levar pelas emoções, além de ser um bom estrategista militar. Com tudo isso, seria um adversário à altura para César. E após a vitória em Gergóvia, Vercingetórix seria eleito líder supremo das forças rebeldes.

César, por sua vez, tinha todas as qualidades necessárias para ser um senhor da guerra, sendo um líder inspirador, bom general, lutador experiente e tendo a indispensável indiferença moral para ser um conquistador. Era apto física e mentalmente, corajoso, autoconfiante e capaz de tomar decisões rápidas, sem deixar de ouvir opiniões de centuriões experientes. Tudo isso ajudava a cativar seus comandados e fazer com que eles o seguissem.

Antes da campanha da Gália, César não havia tido experiência com grandes confrontos, mas seria auxiliado por Tito Labieno, descrito como seu segundo em comando e braço direito. Na campanha da Gália, já tinha 42 anos e invejava Alexandre, o Grande, que conquistara o mundo conhecido com 30 anos. Mesmo com uma idade já avançada, César se tornaria rapidamente um grande comandante. Entendia que cabia ao comandante exercer controle sob seus homens e ele costumava ficar próximo o suficiente da batalha para lê-la, mas distante o suficiente para não ser pego nos combates iniciais. Cavalgava próximo à linha de frente para encorajar os seus homens e observar o comportamento deles, punindo ou recompensando futuramente baseado no que via. César desenvolveu uma grande inteligência em batalha, julgando pelo moral exibido e pela comunicação de aliados e inimigos quais eram os pontos decisivos da batalha e como mudar os seus rumos com a segunda e terceira linha. Sabia inclusive quando era a hora de intervir pessoalmente para evitar uma derrota iminente ou para desferir o golpe fatal no inimigo.

De forma temerária, César frequentemente se posicionava próximo de seus soldados e em situações de maior perigo inclusive dispensava o seu cavalo, indicando aos seus comandados que não havia escapatória e que ele mesmo morreria lutando com eles. César não hesitava em assumir riscos, mas era um jogador cuidadoso. Sabia quando era a hora de intervir pessoalmente para evitar uma catástrofe ou para liderar os seus homens em um último impulso para a vitória. Combinado com um pouco de sorte, era um líder militar perfeito.

Exércitos Opostos
A campanha da Gália seria o choque de duas formas totalmente diferentes de organização militar, opondo o exército profissional de Roma, disciplinado e organizado, ainda mais com as reformas empreendidas por Caio Mário, tio de Júlio César, com os literalmente bárbaros gauleses. Outra diferença era que os gauleses davam muita importância para ornamentos, tidos como mostras de poder enquanto que os romanos achavam fúteis e desnecessários.

A descrição acima poderia indicar uma grande inferioridade dos gauleses, mas o fato é que eles tinham uma reputação de serem agressivos e terem uma longa experiência guerreira, que os tornavam inimigos temíveis. Havia um poderoso grupo de guerreiros de elite, porém, a massa do exército rebelde era de guerreiros não profissionais como fazendeiros, ligados a um chefe local, mas sem grande experiência militar. Equipamentos eram escassos e a maioria dos guerreiros usava um escudo de ferro, espada longa e lança curta, sem muita armadura de proteção para a maioria deles. A espada longa era uma coisa que os romanos não estavam acostumados, sendo usadas para cortar, não perfurar, diferente da espada curta gládio. Era necessário um guerreiro muito forte para empunhar uma espada longa e era mortal nas mãos de um gaulês. Era menos uma arma coletiva e mais uma arma individual, diferente das usadas pelos romanos. Era ainda uma arma reservada para os guerreiros de elite e um símbolo de prestígio poder utilizar uma. Outra arma importante, na visão dos gauleses, era o carnyx, uma trombeta de guerra, cujo efeito era intimidar os inimigos, o que os próprios romanos admitiram ser efetiva nesse intento.

Ajudava na parte da intimidação o ataque repentino e feroz, com a tática, se é que podemos chamar assim, de se jogar contra o inimigo selvagemente berrando e brandindo suas espadas e lanças. A disciplina era baixa e o treinamento rudimentar, mas os gauleses podiam ser bastante assustadores compensando com coragem e força física. Porém, isso não é suficiente para enfrentar um exército bem organizado como o de César.

A cavalaria era um ponto forte dos gauleses, sendo composto por guerreiros de elite com os melhores equipamentos. A disciplina não era muito grande, mas isso até ajudava na hora de não serem perseguidos após uma derrota.

Sobre César, ele chegou na Gália Cisalpina com três legiões, com uma quarta legião na Gália Transalpina. Contou ainda com o apoio de auxiliaries de aliados de Roma, como cavalaria ibérica, lanceiros numídios, arqueiros cretas, fundeiros baléricos e até gauleses. Em 52 a.c., César dispunha de cavalaria germânica, que seria importante, se não vital, em Alésia. O número de legiões aumentaria para 12 ao longo da campanha, César criando novas legiões a partir de voluntários locais para defender a província.

César teve que pagar com os lucros da guerra os soldados que recrutava, mas logo passaria a poder usar fundos do estado. Também foi responsável pelo treinamento, que era duro, mas pontuado por elogios aos seus comandados para elevar o moral e reforçar os laços de lealdade, principalmente com a Legião X. César sabia como manipular seus soldados com palavras elogiosas e apelos a status e prestígio. Para comandar as legiões, César indicava o seu questor e legados, tantos quantos necessários. Os legados deviam comandar as legiões, mas acima de tudo obedecer ordens de César, que desencorajava iniciativa pessoal. Também foram importantes os centuriões, que comandavam as centúrias dentro das legiões na linha de frente, e, portanto, tinham uma visão privilegiada da batalha e podiam fornecer valiosos conselhos para César. Como havia muitos recrutas sem experiência de combate, César precisava misturar veteranos entre os novatos para compensar as deficiências daqueles que não tinham sido ainda testados em guerra.

Planos opostos
Os gauleses e romanos, apesar de ambos serem guerreiros, eram muito diferentes nesse quesito. Na distinção do autor do livro que uso como referência, os romanos eram militaristas, prezando pela organização e um confronto tradicional de dois exércitos, enquanto que os gauleses eram bélicos, preferindo combates menos convencionais como emboscadas

No começo, Vercingetórix pretendia enfrentar os romanos em batalha campal, mas após vários revezes mudaria logo de plano. Recorreria então à estratégia de terra devastada, evitando confronto frontal e tentando diminuir os recursos a disposição dos invasores. Os suprimentos seriam centralizados em um local fortemente defendido, para evitar que caíssem em mãos inimigas. As colheitas seriam feitas o mais rápido possível e depois forradas. Os ópidos que pudessem ser capturados pelos romanos foram queimados, medida drástica, mas melhor do que deixar que os romanos se apoderassem e escravizasse ou matasse a população. Ópido era um termo romano para uma povoação, que não é exatamente uma cidade, então preferi usar o termo original de História Romana do que cidade ou outro equivalente. Era parte do plano também usar táticas de guerrilha, emboscando os romanos em marcha, atacando a linha de suprimentos e tentando cansar os romanos, além de tornar a guerra menos recompensadora. Poderia dar certo com o tempo, disciplina e trabalho conjunto entre as tribos rebeldes, mas esse simplesmente não era o jeito dos gauleses agirem.

César estava em má situação em 53 a.c., a rebelião tendo tornado caótico o cenário na Gália. Então, ele não tinha exatamente um plano, mas tinha que reagir à ameaça mesmo assim. Agiria de forma confiante e decisiva, mas também um tanto temerária. A estratégia de Vercingetórix estava dando certo, mas a disciplina romana e o comando firme de César levariam Roma para a glória.

E vamos agora falar sobre a batalha de Alésia, antes, falando sobre os eventos imediatamente anteriores. O começo da rebelião de Vercingetórix foi em 53 a.c. com um ataque ao que hoje é Orleans, com a tomada do ópido e a morte de todos os romanos que lá estavam. Isso pegou de surpresa César, que estava no acampamento de inverno e rapidamente para a Gália Transalpina no meio do inverno e frustrou o plano de Vercingetórix, que era tomar vários ópidos antes que César chegasse ao fim do inverno.

Vercingetórix lutou com os romanos em batalha campal, mas uma derrota em Noviodunum, moderna Isaccea na Romênia, fez com que visse que essa não era uma boa ideia e iniciaria a política de terra arrasada. César foi atraído para Avárico por Vercingetórix, que tentou levar o inimigo para terreno difícil e desconhecido, mas César não teve problemas em chegar na capital dos Bituriges, que não estavam dispostos a sacrificar Avárico na política de terra arrasada. César construiria uma ponte, pois o ópido estava em terreno alto, o que requeria uma elevação para as duas torres de cerco. A ponte também serviria para que a infantaria atacasse quando chegasse a hora. As muralhas do ópido eram uma mistura de pedra e madeira típica dos gauleses, para proteger contra fogo e aríetes respectivamente.

Os gauleses não ficaram passivos ao cerco e contra-atacaram todas as iniciativas romanas, tentando sabotar a construção da ponte e de túneis para chegar às muralhas do ópido. Vercingetórix tentou emboscar grupos de romanos que buscavam recursos, mas César frustraria a sua tentativa e Vercingetórix fugiria. Pouco tempo depois, Avárico cairia.

Vercingetórix não queria defender Avárico, que deveria ter sido abandonada e destruída. Por outro lado, queria defender Gergóvia, que era a capital da sua tribo. César acampou ao sudeste de Gergóvia e fez o reconhecimento de campo e veria que o ópido estava em terreno alto, o que dificultaria a invasão. Mas se conseguisse tomar uma colina ao sul, onde hoje é La Roche-Blanche, poderia ter uma vantagem. César conseguiu tomar a posição e rapidamente formou um acampamento com duas legiões. Faria uma vala para conectar os dois acampamentos. Depois, pretendia capturar mais uma colina ao oeste, Hauteurs de Risolles.

Porém, César teria a atenção desviada por notícias de rebelião dos Aedui na parte noroeste da Gália. Rapidamente, foi lidar com essa situação e na volta receberia notícias de que Vercingetórix estava atacando o acampamento romano perto de Gergóvia. Os romanos conseguiriam eliminar a ameaça e César voltaria ao acampamento.

O plano de César para tomar o ópido era fingir um ataque a Hauteurs de Risolles com uma pequena força e lançar do acampamento menor um ataque frontal contra Gergóvia com a maior parte das forças romanas. O ataque diversionista funcionou e Vercingetórix mandou reforços para a região ao mesmo tempo em que César atacava com três legiões o ópido. O caminho até Gergóvia foi tranquilo, alguns legionários chegaram a subir as muralhas, mas os gauleses que tinham acaído no ataque diversionista retornaram e começaria uma batalha entre o grosso do exército de Vercingetórix e os romanos. Cansados e desorganizados, os romanos perderiam a batalha e seriam forçados a recuar. Talvez tenha havido um excesso de confiança que cegou os romanos para a ameaça que enfrentavam. No final, César perdeu 700 homens, incluindo 76 centuriões. Ele culparia o excesso de entusiasmo e a desobediência de seus comandados e pintaria como vitória a tomada de três acampamentos gauleses.

Noviodunum era a capital administrativa de César na Gália, onde os romanos guardavam seus mantimentos e os reféns gauleses. O ópido seria tomada pelos Aedui, que depois passaram a atacar a linha de comunicações dos romanos tentando força-los a recuar para a Gália Transalpina. Porém, César não recuaria e marcharia norte, pegando os Aedui de surpresa com a velocidade de sua marcha. Depois, se reuniria com aliados e estava de volta com força total. Vercingetórix mandaria um ataque de cavalaria, tentando eliminar a cavalaria romana e reduzir a sua capacidade de obter recursos, porém, falhou.

Vercingetórix então recuaria para Alésia. O ópido se situa em monte Auxois, uma mesa, uma área elevada de solo com um topo plano, a 400 metros de altitude. Pelo planalto passam dois rios que erodiram a região e criaram vales que separaram Auxois de colinas próximas, ao oeste os rios convergindo em Plaine des Laumes, planície com várias colinas de topo arredondado. A cidade de Alesia ocupa a parte oeste de Auxois e o acampamento de Vercingetórix foi estabelecido a leste. Para obstruir o caminho do inimigo na parte mais acessível, que era a face leste, Vercingetórix faria fossos e paredes.

O exército gaulês tinha 80 mil guerreiros mais 15 mil cavaleiros. César, por sua vez, só tinha 50 mil legionários e seria nessa batalha que mostraria ser um gênio militar para superar a desvantagem numérica. César mandou cercar monte Auxois por completo, cortando as comunicações e isolando os rebeldes. Os romanos fariam duas linhas de circunvalação, uma delas cercando a colina e a segunda cercando justamente a primeira. Armadilhas eram colocadas nas linhas de cerco, como a lillia, buraco no chão para ferir os inimigos e atrasar seu avanço, o stimuli, uma barra de ferro colocada no chão para perfurar o pé, e os cippi, estacas afiadas para barrar o avanço. A estrutura romana contava com 37 quilômetros das linhas de circunvalação, 74 de fossos, várias torres de observação e oito acampamentos. A batalha de Alésia foi acima de tudo uma obra de engenharia para os romanos.

A razão de fazer duas linhas de circunvalação era a possibilidade de um exército gaulês surgir para prover algum alívio para Vercingetórix e seus homens. Esse exército viria, com o número alegado por César de 250 mil homens e 8 mil cavaleiros. O número provavelmente está inflado, para tornar o feito mais heroico, mas provavelmente os romanos estavam em desvantagem e mesmo assim conseguiriam enfrentar os gauleses.

O exército de alívio avançou, a cavalaria à frente e a infantaria logo atrás. Ao mesmo tempo, Vercingetórix descia Alésia para cercar César. Aqui, chegaria a hora da linha dupla de circunvalação mostrar a sua utilidade e a cavalaria germânica também mostraria o seu valor no combate contra os equivalentes gauleses. Os dois ataques gauleses esbarrariam nas construções romanas e seriam repelidos. O próximo ataque seria na parte noroeste do acampamento romano, em Mont-Rea, com uma força de 60 mil homens, segundo César, tentando tomar esse ponto por onde poderiam avançar contra os romanos. O braço-direito de César, Tito Labieno, apareceria para auxiliar os dois legates da região tendo ordens de segurar o máximo possível e avançar em último recurso. Nessa parte, os romanos estavam levando a pior, mas César conseguia vitórias em todas as outras regiões. (32)

Labieno enviaria uma mensagem para César alertando sobre as dificuldades a noroeste e César levaria forças pessoalmente os seus últimos reservas para um contra-ataque. Enviaria ainda a cavalaria germânica para atacar o inimigo pelas costas. César vestia um manto vermelho como uma forma de criar uma imagem forte para seus comandados e para o inimigo, seguindo o exemplo de Alexandre, o Grande, e seu elmo de prata. A batalha entre César e os gauleses foi feroz e bastante equilibrada e poderia ter dado a vitória para qualquer dos lados, mas a cavalaria germânica apareceria para salvar o dia e causar um bom estrago no inimigo. Em pânico, pegos lutando em duas frentes, os gauleses fugiriam do campo de batalha e esse seria o fim da ameaça do exército de alívio.

A situação em Alésia ficaria desesperadora com a falta de comida provocada pelo cerco. Crianças, mulheres, idosos e doentes seriam expulsos do ópido, o que era melhor do que canibalismo e assassinatos, que inclusive tinha sido proposto no conselho de guerra. Os expulsos se ofereceram para serem escravos dos romanos e alimentados como tal, mas César os obrigaria a ficarem no pé da colina e não se sabe qual foi o fim dessas pessoas. Sem opção, Vercingetórix se renderia e César venceria a Batalha de Alésia.

O resultado da batalha foi praticamente o fim da rebelião gaulesa e também o enorme enriquecimento de César e seus homens, que puderam pilhar Alésia e outros ópidos derrotados e vender seus habitantes como escravos. O próprio Vercingetórix seria mantido como troféu por César e levado junto durante a volta triunfante para Roma, exibido publicamente em 46 a.c. e depois estrangulado, 18 meses antes de César ter o mesmo destino nos Idos de Março.

Roma nunca mais seria desafiada de forma mais contundente pelos gauleses e Júlio César ganharia grande prestígio com a campanha. A Gália seria uma conquista bastante importante para Roma, com vastas áreas agriculturáveis e também um bom estoque de guerreiros que, apesar de serem um pouco difíceis de domar, formariam boa parte do exército romano.