domingo, 6 de setembro de 2015

Batalhas de Rossbach e Leuthen



Na Guerra dos Sete Anos, 1757 começou bem para Frederico II da Prússia com a vitória em Praga, mas a derrota na Batalha de Kolin marcou, além de sua primeira derrota militar, uma virada da maré. A Prússia teria derrotas em Hanover e na Prússia Leste e o inimigo ganhava força, até que Frederico conseguisse duas vitórias que o imortalizariam como um dos maiores generais da história com as batalhas de Rossbach e Leuthen.

Eu comentei sobre a Guerra dos Sete Anos em outro vídeo, então, para ter uma ideia melhor do contexto, recomendo que assistam a esse vídeo. Mas, resumindo de maneira rápida, a Guerra dos Sete Anos surge como uma continuidade da Guerra da Sucessão da Áustria e opôs de um lado Grã-Bretanha e Prússia e de outro França, Áustria e Rússia, para citar só as principais nações envolvidas. Em disputa, colônias na América do Norte e Índias para britânicos e franceses e na Europa o domínio da Silésia, Prússia Leste e Hanover. A Guerra começou em 1756 e até a derrota na Batalha de Kolin o momento era todo da Prússia, que depois começou a ser acuada pelos seus inimigos em grande desvantagem numérica, mas contando com possivelmente o melhor exército da época.

Depois da rendição de Hanover, os franceses e tropas do Sacro Império Romano seguiriam a leste em direção à Prússia. Isso faria com que as atenções de Frederico fossem desviadas da Prússia Leste e do confronto contra austríacos e russos para lidar com a ameaça francesa a oeste.

Comandantes Opostos
Eu vou falar sobre duas batalhas nesse vídeo. Do lado da Prússia, houve o mesmo comandante em chefe nas duas, Frederico, o Grande, mas do lado de seus inimigos os comandantes foram diferentes, mas já comentarei sobre eles agora.

Frederico tinha 45 anos em 1757, ano de sua primeira derrota, mas também de algumas de suas maiores vitórias. Tinha uma boa reputação militar na época, que seria abalada com a derrota em Kolin. Com a retirada da Boêmia, quando os prussianos eram liderados pelo seu irmão, Augustus Wilhelm, mostraria um lado mais obscuro ao culpa-lo pelo revés e humilhá-lo publicamente ao retirá-lo do comando, quando deveria ter sido ele a tomar o comando do exército nesse momento. Veria que precisaria mudar os rumos ainda nesse ano sob o risco dos seus homens perderem moral e teria sucesso usando brilhantes táticas de manobra para enganar os seus inimigos.

Seu segundo em comando era James Keith de Inverugie, que teve uma trajetória militar bastante curiosa. Nasceu na Escócia e sua família apoiava militarmente a reinvindicação de James Stuart ao trono escocês. Após diversas derrotas, James Keith acabou indo para o exílio, peregrinando por vários países até chegar à Rússia, onde participaria de diversas campanhas até chegar ao posto de general. Se recusaria a ter um caso com a czarina Isabel e iria para a Prússia em 1747. Frederico logo perceberia o potencial de James Keith e o promoveria a marechal de campo. Seria o segundo em comando na Batalha de Rossbach e depois receberia um comando próprio, portanto, não participando da Batalha de Leuthen.

Outra pessoa importante do lado prussiano era o major-general Friedrich von Seydlitz. Sua carreira toda foi na cavalaria e ele ganharia um regimento próprio após a Guerra da Sucessão da Áustria. Na Guerra dos Sete Anos, teve um infortúnio na Batalha de Lobositz em 1756 ao empacar seu regimento na lama e repetiria o erro na Batalha de Praga um ano depois. Isso parecia um mau presságio, mas durante a Batalha de Kolin ele assumiria o comando da brigada de cavalaria com a morte do comandante anterior e continuaria a tarefa do seu antecessor atacando o flanco dos austríacos. Isso poderia ter mudado o rumo da batalha, porém, as outras unidades de cavalaria não tiveram o mesmo desempenho e a Prússia acabaria perdendo a batalha. Mesmo assim, Frederico reconheceria seu mérito, o promoveria a major-general e lhe daria o comando da cavalaria na Batalha de Rossbach, onde seu ótimo desempenho lhe renderia a promoção para tenente-general e a Ordem da Águia Negra, a mais alta honraria da cavalaria.

Do lado oposto, o comando na Batalha de Rossbach era dividido entre o general francês Soubise e o marechal de campo Joseph von Saxe-Hildburghausen. Charles de Rohan, príncipe de Soubise, era de uma das mais tradicionais famílias francesas e atuou na Guerra da Sucessão Austríaca como ajudante de campo e em 1757 era governador de Flandres e Hennegau. Comandou as tropas francesas em Rossbach e depois atuaria na campanha para tomar Hanover. Era tido como tímido e indeciso e devia a sua posição militar nem tanto ou não apenas por seus laços familiares, mas também por influência de duas amantes do rei Luís XV, Madame du Pompadour e Madame du Barry. Vendo assim, não é difícil imaginar porque os franceses e os austríacos perderam a Batalha de Rossbach.

O marechal de campo austríaco Joseph von Saxe-Hildburghausen teve uma brilhante carreira atuando na Guerra da Sucessão Polonesa e na Guerra da Sucessão Austríaca. Receberia diversos cargos de comando na hierarquia militar e comandaria o Exército Imperial na Guerra dos Sete Anos. Seria o comandante em chefe conjunto na Batalha de Rossbach, que terminaria em derrota para a coalizão austro-francesa e envergonhado renunciaria de todas as atividades militares após a derrota.

Na Batalha de Leuthen, o comandante em chefe foi o príncipe austríaco Charles de Lorraine. Ele era o irmão mais novo do marido da Imperatriz Maria Teresa da Áustria. Recebeu seu primeiro comando em 1741 e combateria na Guerra da Sucessão Austríaca. No período entre-guerras, seria presidente da Comissão de Reforma Militar e defendeu amplas reformas estruturais no exército austríaco. Não participaria das primeiras batalhas da Guerra dos Sete Anos, mas participaria da expulsão de Frederico da Boêmia após a Batalha de Kolin. Era corajoso e experiente no campo de batalha, porém, lhe faltava auto-confiança que ele escondia com bebida e a companhia de amigos dissolutos, vamos dizer assim. Claro que isso não era muito saudável para um soldado e prejudicaria o seu desempenho. Laços familiares o mantiveram no topo por mais algum tempo, mas logo ele cairia em desgraça e Leuthen seria a sua última batalha. Ou seja, Frederico acabaria na prática aposentando dois de seus oponentes nessas duas batalhas, mantendo apenas o incompetente na ativa.

Batalha de Rossbach
Vou agora falar sobre a Batalha de Rossbach. Frederico queria ao oeste uma batalha contra o exército Franco-Imperial, que até agora nunca lhe tinha feito esse favor. Nesse meio tempo, em outubro, teve que lidar com um ataque austríaco à Berlim liderado pelo tenente-general Hadik. Frederico deixaria James Keith para vigiar os franco-imperiais no Rio Saale e iria para Berlim, enviando à frente Seydlitz e ordenando que os exércitos de Ferdinando de Brunswick e de Moriz von Anhault-Dessau se deslocassem para a região. Logo, Hadik se retiraria e na volta Frederico teria a notícia que estava esperando, tropas francesas e do Sacro Império Romano estavam cruzando o Rio Saale e procuravam combate contra os prussianos.

Frederico reuniria as suas forças em Leipzig. Por conta do preparo de seus homens, Frederico foi capaz de deslocar milhares de tropas pela Prússia em um curto espaço de tempo. Em outros locais, Frederico receberia boas notícias, com os russos recuando da Prússia Leste, a ameaça sueca sendo contida pelo marechal de campo Hans Lewaldt e em especial com a volta de Hanover para a guerra, com o pedido adicional para que Ferdinando de Brunswick liderasse o Exército de Observação de Hanover. Com isso, Frederico sentia que era chegada a hora de enfrentar a ameaça Franco-Imperial na última parte que o preocupava de maneira mais urgente, a Silésia.

Do outro lado, o francês de Soubise não se entendia muito bem com o seu colega austríaco Saxe-Hildburghausen sobre quando lançar uma ofensiva. Forças franco-imperiais tinham cruzado o Rio Saale, mas recuariam logo depois e esperavam um momento melhor para atacar os prussianos. No fim, os aliados ficariam na defensiva no Rio Saale e seria Frederico quem tomaria a iniciativa.

O rio podia ser atacado por três pontos, todos bem defendidos pelos franceses e imperiais. Frederico decidiria atacar em dois pontos, lançando o exército principal rio acima em Weissenfels e Keith atacaria rio abaixo em Merseburg. Os prussianos forçariam seu caminho e os inimigos recuariam, não sem antes queimar as pontes para atrasar o avanço dos prussianos. Frederico cruzaria o rio sem oposição, só tendo que lidar com o problema da ponte. Keith, por sua vez, tinha que cruzar o rio por Merseburg e Ferdinando de Brunswick tentaria atravessar o rio em Halle, para encontrar a ponte destruída. Os franceses tentariam oferecer resistência ao avanço prussiano nesses dois pontos, mas com notícias da travessia de Frederico acabariam recuando.

Na noite de 3 de novembro, o exército prussiano se reuniria novamente. Frederico enviaria a cavalaria para fazer reconhecimento e encontraria o inimigo em uma linha norte-sul com aproximadamente 60 mil homens, três vezes o número do exército prussiano. Frederico posicionaria o seu exército em Leiha-Bach, com o flanco direito em Bedra e o esquerdo em Rossbach, mas não lançaria um ataque contra o inimigo. O exército franco-imperial entendeu isso como um sinal de fraqueza por parte da Prússia, se encheria de brios e a banda tocaria a fanfarra da vitória. Saxe-Hildburghausen tinha um plano ousado de atacar o flanco esquerdo do exército prussiano de forma a força-lo a virar e assim chegar à retaguarda e forçar Frederico a recuar. A ordem para o avanço seria dada em 5 de novembro, iniciando o que seria a Batalha de Rossbach.

O exército Franco-Imperial avançaria tentando a manobra sugerida por Saxe-Hildburghausen. Poderia até parecer que o plano fazia sentido, mas certamente é subestimar demais o inimigo, ainda mais considerando que se tratava de Frederico II da Prússia, imaginar que o comandante deixaria o seu flanco ser atacado estando atento para isso, como qualquer um estaria nessa situação. Os aliados foram pra lá de imprudentes, sequer mandando uma equipe de reconhecimento.

De certa forma, foi até surpreendente o movimento dos aliados. Frederico recebeu a notícia de um capitão sobre a movimentação inimiga enquanto almoçava. De início, o líder prussiano achava que seu subordinado estava exagerando já que ele tinha essa tendência, mas acabou depois verificando com os próprios olhos que era verdade. Em meia hora, os prussianos desmontaram o acampamento e se colocaram em marcha.

Frederico planejaria uma rota que desse a impressão de que estava recuando para então mudar de direção e atacar o exército inimigo em marcha. Para isso, precisaria da cavalaria, cujo comando foi entregue para Seydlitz. A cavalaria iria na frente e cobriria o flanco esquerdo da infantaria. O inimigo voltaria a entender tudo errado e realmente acreditou que Frederico tinha ficado com medo e estava batendo em retirada e seguiriam marchando para a batalha.

Quando chegou perto do inimigo, Frederico ordenou que a artilharia se posicionasse em elevações e abrisse fogo. Esse seria o sinal para que Seydlitz avançasse, pegando desprevenida a cavalaria dos aliados. Apenas algumas unidades da cavalaria aliada estavam prontas para o combate e elas se opuseram à primeira linha da cavalaria prussiana, mas acabou sendo uma luta desigual. Reforços chegariam com o próprio general de Soubise, mas Seydlitz empregaria a segunda linha e em meia-hora de combate a cavalaria aliada estava debandando. Vitorioso, Seydlitz ordenaria que a cavalaria refizesse a formação e esperaria por novas ordens.

O plano de Frederico era marchar em direção horária a nordeste, usando o Cume de Janus como camuflagem, depois virando à direita para seguir ao sul para depois avançar em linha para atacar a cabeça do exército inimigo em marcha. Essa manobra pegou totalmente desprevenidos os franceses e imperiais, que não estavam de todo prontos para um confronto quando os prussianos surgiram em formação, contando ainda com o fogo da artilharia. As duas infantarias começariam o combate e Seydilitz voltaria a atacar a cavalaria, causando ainda mais confusão no exército franco-imperial quando a cavalaria se chocou com a infantaria. A essa altura, a batalha se dava entre uma turba desorganizada formada pelos franceses e por imperiais contra forças bem disciplinadas e organizadas dos prussianos.

O resultado não poderia ser outro senão a debandada dos aliados. Os prussianos perseguiriam o inimigo e a situação só não foi pior porque a infantaria franco-suíça interviria e conseguiria cobrir a fuga dos derrotados da Batalha de Rossbach. Seu desempenho impressionaria Frederico, que teria perguntado “O que é essa parede de tijolo vermelho que meus canhões de artilharia não podem derrubar?”.

De todo modo, a Prússia venceu a batalha. Frederico passaria a noite no castelo de Burgwerben e escreveria para a sua irmã, cheio de entusiasmo: “Eu posso agora morrer em paz, porque a reputação e honra de minha nação foi salva”. Não foi apenas uma vitória, e sim uma vitória consagradora, Frederico com 22 mil homens derrotando um exército com mais do que o dobro de tamanho, causando 8 mil baixas e perdendo apenas 550 homens. Do outro lado, os franceses e os imperiais fugiriam. Saxe-Hildburghausen renunciaria ao comando do exército imperial, que seria desmantelado para ser refeito no ano seguinte melhor equipado e treinado.

O resultado da batalha foi dar moral para o exército prussiano e para o próprio Frederico após algumas derrotas em 1757 e teria o efeito oposto nos franceses e imperiais. Serviria ainda para animar os seus aliados de Hanover, mas ainda faltava uma vitória sobre os austríacos na Silésia, que viria ainda nesse ano.

Batalha de Leuthen
E vamos agora para a Batalha de Leuthen, exatamente um mês após Rossbach. Os austríacos tinham a iniciativa na Silésia após a vitória em Praga, porém, seriam atrapalhados por eles mesmos. O comando do exército austríaco seria tirado do marechal de campo Daun e entregue ao príncipe Charles de Lorraine, cunhado da Imperatriz Maria Teresa. Daun ainda gerenciaria algumas tarefas de rotina, mas a incompetência de Charles seria um desastre para o exército. O ideal seria tirá-lo do comando, mas o imperador consideraria uma afronta pessoal a remoção do seu irmão do comando e Charles permaneceria. E foi graças a isso que Frederico poderia deixar essa região e cuidar de assuntos em outros lugares, deixando o duque Augustus Wilhelm de Brunswick-Bevern para comandar um exército de 43 mil homens para vigiar os austríacos.

Diante dessa situação, os austríacos tinham a opção de perseguir Frederico ou atacar a força que permaneceu na região da Lusatia e acabaram por optar pela segunda. As forças austríacas empurram para trás Bevern, que recuaria sucessivamente até chegar em Breslávia, onde se encastelaria. Se fosse um pouco mais ousado ou habilidoso, Charles de Lorraine poderia ter impedido que Bevern recuasse para a Silésia, mas não foi capaz disso e teria que sitiar a Breslávia para derrotar o exército inimigo. Os austríacos procederiam com cautela e iriam tomando posições secundárias, como o forte de Schweidnitz. Quando notícias da vitória de Frederico em Rossbach chegaram, Lorraine e Daun se decidiriam a tomar Breslávia, sabendo que o rei da Prússia viria auxiliar Bevern.

Na Batalha de Breslávia, os prussianos seriam derrotados e Bevern fugiria deixando apenas uma guarnição de 5 mil homens na cidade. Em uma missão de reconhecimento, seria capturado e o que se especula é que ele se deixou ser capturado, provavelmente temendo mais a ira de Frederico do que os austríacos. O resto do exército não teria esse azar, ou essa sorte, e fugiriam de Breslávia. Com a tomada da cidade, a Silésia retornaria para a Áustria após mais de trinta anos, mas eles sabiam que teriam que derrotar Frederico para efetivamente manter o comando da cidade.

Após Rossbach, Frederico marcharia para a Silésia, deixando 13 mil homens em Leipzig e enviando o marechal Keith e 9 mil homens para um ataque diversionista na Boêmia. Após marchar 290 quilômetros em 15 dias, se reuniria com os homens que retornavam da Breslávia e, ao invés de sair dando esporro em todo mundo, procurou elevar o moral das tropas dando vinho e comida aos soldados derrotados na Breslávia enquanto que os vitoriosos de Rossbach contavam histórias do feito glorioso. Faria seu famoso discurso de Prochowice. O discurso foi feito em alemão, ao invés do francês, língua mais comumente utilizada por Frederico, e é como se segue:

“O inimigo mantém o mesmo campo entrincheirado de Breslávia que minhas tropas tão honrosamente defenderam. Eu estou marchando para atacar essa posição. Eu não preciso explicar a minha conduta ou porque eu estou determinado a essa medida. Eu reconheço por completo os perigos envolvidos nessa empreitada, mas na minha presente situação eu devo conquistar ou morrer. Se cairmos, tudo estará perdido. Tenham em mente, cavalheiros, que nós vamos lutar por nossa glória, a preservação de nossas casas, e por nossas esposas e crianças. Aqueles que pensam como eu podem ficar tranquilos que, se forem mortos, eu vou cuidar de suas famílias. Se alguém preferir partir, pode fazê-lo agora, mas ele deixará de ter qualquer reivindicação de minha benevolência”.

No dia seguinte, 4 de dezembro, os prussianos deixaram Prochowice e foram para Neumarkt, onde surpreendentemente encontrariam suprimentos inimigos guardados por mil croatas. Tomaria esses suprimentos e examinariam a posição do inimigo, percebendo que os austríacos estavam deixando suas posições fora de Breslávia e estavam em marcha. Frederico perceberia que essa era a sua chance de atacar os austríacos e teria que fazê-lo rapidamente antes que o inimigo pudessem se organizar defensivamente.

Na manhã do dia 5 de dezembro, Frederico marcharia para a batalha encoberto pela névoa. Não foi uma marcha fácil por conta do clima de outono quase inverno, mas foi providencial essa movimentação acelerada. Frederico chegaria em Borne ainda encoberto pela névoa e lá encontraria o tenente-general Nostiz e três regimentos de cavalaria que tiveram um excelente desempenho na Batalha de Kolin. Nostiz não tinha certeza da força inimiga e acabou surpreendido pelos prussianos, mas conseguiria fugir de Borne com baixas modestas. Porém, a fuga tiraria a cobertura do exército austríaco e Frederico poderia observar o posicionamento inimigo.

Os austríacos estavam colocados no campo de maneira bem convencional, com a infantaria no centro e a cavalaria nos flancos, com a artilharia espalhada pela frente de batalha, o que permitia alcançar uma área menor, porém, impossibilitando concentrar o fogo em um ponto. A linha estava incomumente longa, com três fileiras ao invés de quatro. As experiências anteriores tinham mostrado que Frederico ia tentar virar o flanco do exército deles e os austríacos utilizaram essas medidas para evitar essa manobra. Na Batalha de Kolin, o uso inteligente de reservas contribuiu para a vitória dos aliados e corpos reservas foram destacados e postos sob comando do tenente-general Karl Leopold d’Arenberg.

Após observar o inimigo pessoalmente, Frederico decidiria atacar o flanco esquerdo dos austríacos. E aqui Frederico utilizaria a chamada ordem oblíqua, onde, após analisar pessoalmente o posicionamento inimigo, manobraria para atacar um dos flancos com o centro do seu exército. Os flancos iriam impedir que o centro e o outro flanco do exército inimigo pudessem auxiliar o flanco sob ataque. Não era uma manobra convencional e poderia abalar psicologicamente os combatentes inimigos em uma situação caótica e assim desorganizando o inimigo. Se essa manobra dá certo, é possível usar dois terços de seu exército para enfrentar um terço do inimigo, o que anula a desvantagem numérica que voltaria a existir na Batalha de Leuthen.

A ordem oblíqua falhou em Kolin, mas a história seria diferente agora. Mas, certamente que Frederico não entregaria o seu plano para o inimigo e realizaria uma série de marchas e contra-marchas para dissimular as suas intenções e posicionaria partes de seu exército de forma a dar a entender que o ataque seria pelo centro ou mesmo no flanco direito. O general Lucchese comandando a cavalaria no flanco direito se convenceria de que sua posição seria atacada e pediria que os reservas fossem deslocados para a direita. Lorraine aceitaria o pedido e essa seria uma decisão desastrosa.

Frederico passaria algum tempo manobrando pelo campo de batalha, chegando relativamente perto do exército inimigo, perto o suficiente para que se vissem e longe o bastante para que não entrassem em contato antes da hora e atrapalhasse seus planos como tinha ocorrido em Praga e Kolin. Prejudicados pela cobertura de algumas elevações em alguns pontos, os austríacos julgariam mal as intenções de Frederico e acreditaram que o comandante inimigo estava desistindo da batalha. O general de cavalaria Graf Nadasty observava a movimentação dos prussianos e veria que o seu flanco seria atacado e alertaria Lorraine e Daun, mas sem sucesso.

Do lado prussiano, o tenente-general Zieten cobria o flanco direito, com o major-general Bevern cobrindo seu flanco direito que estava possivelmente exposto. O tenente-general Driessen comandava o flanco esquerdo, que estava mais longe da batalha, e recebeu ordens para avançar caso a oportunidade surgisse. O segundo-em-comando, general de infantaria Anhalt-Dessau, comandaria a infantaria pelo centro.

Após se certificar de que tudo estava pronto, Frederico iria aos porta-bandeiras e diria o seguinte: “É caso de fazer ou morrer! Vocês têm o inimigo na frente e todo nosso exército atrás. Não há espaço para recuar e o único caminho adiante é derrotando o inimigo”. Às 13 horas, o exército prussiano avançaria para o combate. O primeiro confronto se daria em Kiefernberg contra regimentos imperiais e de Württemberg, que não eram maus soldados, mas nunca tinham enfrentado os prussianos e também eram tidos como pouco confiáveis. O ataque seria iniciado pelo major-general Wedel, rapidamente colocando para correr os regimentos destacados por Nadasty para proteger a região, que recuariam para Leuthen. O trabalho de Wedel foi tão fácil que Frederico precisou pedir para que ele desacelerasse e não atacasse Leuthen sozinho. Isso abriu o flanco esquerdo do exército austríaco e permitiu o avanço dos prussianos, resultando no recuo dos austríacos para Leuthen.

A infantaria teve pouco trabalho, mas o choque de cavalarias se mostraria mais desafiante para os prussianos. Nostiz, que retornou de Borne, se juntaria à cavalaria de Nadasty e iria para o ataque contra o flanco direito dos prussianos. Esperavam encontrar o flanco desprotegido, mas teriam que enfrentar Bevern. Nostiz sempre foi um guerreiro corajoso, o que resultaria em ser ferido 14 vezes em combate, mas seria capturado na Batalha de Leuthen. Alguns regimentos prussianos seriam flanqueados e golpeados pelas costas e capturados, mas logo seriam resgatados. Nadasty conseguiria algumas vitórias que poderiam servir para refazer a formação, mas muitos dos soldados não estavam muito interessados e cooperar e continuavam a recuar. Desprotegido, Nadasty seria derrotado, o que representou a queda do flanco esquerdo do exército austríaco.

O desastre se aproximava para os austríacos. Os reservas estavam todos no norte e não havia como tapar o buraco na linha austríaca. Lorraine ordenaria que o que restou da cavalaria do flanco esquerdo enfrentasse os prussianos, mas o comandante, general de cavalaria Serbelloni, que tinha participado da Batalha de Kolin e desempenharia papel semelhante, considerou melhor recuar para Leuthen. Caberia ao tenente-general Buccow tentar frear o avanço dos prussianos. Mas a luta seria desigual, com um número maior de inimigos marchando contra ele contando com apoio da artilharia. Sob o peso das baixas crescentes Buccow seria forçado a recuar.

Isso acabou dando tempo para os reservas de d’Arenberg chegar ao flanco esquerdo com uma marcha forçada de seis quilômetros e meio em uma hora. Certamente que não chegariam na melhor das condições, um pouco cansados, sem artilharia e desorganizados, e também não seriam eles a impor uma resistência mais séria ao avanço prussiano e também recuariam para Leuthen.

Lorraine e Daun organizariam o exército formando uma linha ao norte de Leuthen. A linha não estava de todo organizada, mas os austríacos conseguiram consolidar uma posição para enfrentar os prussianos. O exército de Frederico formaria uma linha ao sul de Leuthen e avançaria contra a vila. Apesar de não estar preparada para defesa, a vila serviria como um obstáculo para o avanço dos soldados prussianos que, não obstante, partiriam para o ataque. Seriam repelidos nas primeiras tentativas, mas logo conseguiriam penetrar na vila em alguns pontos.

Dentro da vila, o ponto de apoio da defesa austríaca seria uma igreja, defendida pelo excelente regimento imperial Rot-Würzburg, que defenderiam com coragem a igreja, mas logo seriam superados pelos prussianos, que tomariam a igreja. Os austríacos fugiriam de Leuthen e refariam a formação fora da vila em um terreno mais propício para a defesa.

Os prussianos tomaram Leuthen, mas a infantaria austríaca ainda resistia. E nem tudo ia bem para Frederico. O lado esquerdo de sua linha sofria pesadas baixas com o fogo da artilharia austríaca e poderia expor toda a linha se entrasse em colapso. Frederico, lembrando de uma situação parecida em Kolin, reforçaria o lado esquerdo de sua linha.

Nesse ponto da batalha, de cada lado havia uma unidade ainda não utilizada, a cavalaria austríaca sob o comando do general de cavalaria Lucchese e a cavalaria prussiana sob o comando de Driesen originalmente no flanco esquerdo do exército prussiano. Lucchese identificou as baterias prussianas e o flanco esquerdo exposto do inimigo, alvos irresistíveis para a cavalaria e avançaria para um ataque que poderia virar o jogo. Porém, de onde estava posicionado, Driesen viu o avanço de Lucchese e seguiria para intercepta-lo. Lucchese foi pego de surpresa quando se aproximava da artilharia prussiana. O ataque prussiano inicial foi devastador, matando o comandante inimigo e infligindo pesadas baixas entre os austríacos, que após o choque inicial conseguiriam equilibrar o combate. A entrada do tenente-general príncipe von Württemberg acabaria desempatando a disputa para o lado prussiano.

Com o cair da noite, os austríacos fugiriam do campo de batalha e deixariam definitivamente Leuthen. Tudo que restava a eles era uma retirada organizada, lançando alguns ataques para ganhar tempo e empregando o que restou da artilharia para manter os prussianos longe. Nadasty comandaria habilmente a retirada, mas acabaria sendo capturado pelos prussianos. Os austríacos cruzariam a ponte de Lissa, mas Frederico persistiria, querendo tomar a ponte para evitar que o inimigo formasse uma nova linha. Sofreria algumas emboscadas dos austríacos, mas a escuridão diminuiria muito a precisão dos ataques, que não tiveram maiores consequências.

Frederico tomaria não apenas a ponte de Lissa, mas também o castelo. Lá, se reuniria com os seus melhores homens, Anhalt-Dessau, Driesen, Zieten e Wedel e seu irmão mais novo Ferdinando, fazendo um discurso e dando as ordens para o próximo dia, encerrando com: “Esse dia irá transmitir a glória de seus nomes e de nossa Nação por toda a posteridade”.

E foi dessa forma que Frederico venceu dois exércitos que tinham mais do que o dobro de homens cada no espaço de um mês. Em Leuthen, o saldo final foi de 6.382 baixas, 20% do contingente, com pouco mais de mil mortes. Do lado austríaco, somando batalha e perseguição, foram 3 mil mortos, de 6 a 7 mil feridos, 22 mil prisioneiros, para não falar na perda de canhões e bandeiras. Nos dias seguintes, Frederico continuaria a perseguição aos austríacos, que recuariam até a Boêmia. Ainda em 1757 tomaria de volta a Breslávia e teria que encerrar o ano por lá mesmo, precisando descansar após um ano muito movimentado.

Acreditando que o inimigo estava desmoralizado, Frederico enviaria cartas para a imperatriz Maria Teresa da Áustria sugerindo uma negociação de paz, mas Maria Teresa se recusaria, sabendo que França e Rússia ainda estavam dispostas a continuar com a guerra. Frederico não conseguiria a paz que desejava e teria ainda anos difíceis ao longo da Guerra dos Sete Anos, mas, nas suas próprias palavras, sua glória ficaria por toda a posteridade com essas duas incríveis vitórias.

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