quarta-feira, 1 de junho de 2016

Batalha de Nagashino



Em história militar, temos vários casos de obsessão por escrever seu nome na história superando os feitos de algum antecessor e, em muitos casos, seu próprio pai. Alguns têm sucesso nessa tarefa, como Alexandre, o Grande, que fez com que as proezas de seu pai fossem de certa forma diminuídas diante de sua própria grandeza. Porém, nem todos conseguem ter sucesso nessa tarefa e fracassam de maneira retumbante. Esse é o caso de Takeda Katsuyori, que queria entrar para a história tendo o mesmo sucesso que seu pai, Takeda Shingen, mas acabaria alçando outra figura à condição de lenda, Oda Nobunaga.

Politicamente, o Japão era governado por líderes militares chamados de shoguns, com a figura do imperador sendo meramente decorativa desde 1185. O cargo de shogun seria ocupado pela família Ashikaga por séculos até que em 1467 eclodiria a chamada Guerra de Onin, que resultaria na perda de poder do shogunato Ashikaga que fez com que os senhores feudais, os daimyôs, percebessem que poderiam usar da força para conquistar mais terras de daimyôs mais fracos sem que houvesse quem os impedissem. Sobre a Guerra de Onin, recomendo assistir o vídeo do canal do Felipe Aron que explica mais sobre isso.

Esses conflitos prosseguiriam por quase um século até que todo o Japão fosse dominado por alguns daimyôs, que se alternavam entre formar alianças e lutar entre si. O shogun também se tornaria uma figura praticamente decorativa, com pouco poder político ou militar, mas ainda cheio de poder simbólico. Pela convenção antiga, o shogun deveria ter linhagem com a família Minamoto, privilégio exclusivo dos Ashikaga. Então, para dominar o Japão, seria necessário dominar o cargo de shogun, mesmo sem assumi-lo.

Em 1560, um poderoso daimyô, Imagawa Yoshimoto, planejava marchar até Quioto, capital do Japão na época, para tornar o shogun a sua própria marionete. Porém, no caminho estava Oda Nobunaga, um daimyô menor, mas sem a disposição de simplesmente abrir caminho para Imagawa. Cheio de confiança, Imagawa marcharia até Owari, onde seria derrotado na Batalha de Okehazama por Oda Nobunaga apesar de ter uma vantagem numérica de 12 para 1. Essa vitória colocaria Nobunaga entre os grandes daimyôs e, juntando habilidade militar e localização estratégica, o tornou alvo preferido para alianças. Entre elas, surgiria um pacto com o daimyô da província de Mikawa, Tokugawa Ieyasu, que era um seguidor de Imagawa e que acabou se libertando dessa obrigação com o resultado da Batalha de Okehazama.

Pelos próximos quinze anos, Nobunaga trabalharia com batalhas, alianças, casamentos, intrigas políticas e construção de castelos para ampliar o seu poder até que em 1568 entraria em Osaka com o seu Ashikaga de estimação, Ashikaga Yoshiaki, que ele proclamou shogun. Apesar de agora deter o shogunato, Nobunaga dominaria apenas uma parte do Japão e possuía inimigos poderosos como os Mori ao oeste, Uesugi ao norte e os Takeda ao leste.

A maior ameaça e o oponente em Nagashino viria do clã Takeda. Os Takeda liderados por Takeda Shingen entre 1521 e 1573 poderiam tentar o mesmo que Imagawa e que foi conseguido por Oda Nobunaga, mas três coisas impediam: o isolamento em seu território nas montanhas, que fazia com que precisasse passar por estradas vigiadas pelos aliados de Oda, que eram os Tokugawa, e por fim os vários conflitos paralelos, principalmente contra os Uesugi no que ficaram conhecidas como Batalhas de Kawanakajima.

Em 1572, Takeda Shingen começaria uma ofensiva contra Quioto, tendo que passar pelos Tokugawa. Derrotaria o inimigo no castelo de Hamamatsu e enfrentaria Tokugawa Ieyasu nas planícies de Mikata-ga-hara, onde o inverno selaria o empate para esse ano. Mesmo assim, o resultado encorajaria Shingen a insistir nas ofensivas e sitiaria o castelo de Noda. Tudo levava a crer que o clã Tokugawa seria derrotado, quando a curiosidade faria uma das suas principais vítimas na história. O castelo de Noda possuía um grande estoque de sake, o vinho de arroz japonês, e os sitiados resolveram dar a mais digna finalidade a esse sake: beber e fazer uma festa. Melhor isso do que deixar que o inimigo fizesse o mesmo após tomar o castelo. O som da música dos shakuhachi chegaria nos sitiantes e Shingen se aproximaria para ouvir a música mais claramente. Seria então visto por um atirador e alvejado, vindo a morrer alguns dias depois.

Noda não cairia e Shingen seria sucedido por Takeda Katsuyori, que manteria a obstinação para invadir o território de Ieyasu e depois marchar para Quioto. Em 1575, seguiria para uma nova campanha indo uma rota diferente, prosseguindo diretamente para a capital do território dos Tokugawa, o castelo de Okazaki na província de Mikawa. Fez isso porque tinha a informação de que um traidor abriria os portões do castelo. Porém, o traidor seria encontrado e morto, deixando Katsuyori sem o seu principal trunfo e sem força suficiente para tomar Okazaki. Resolveria voltar, mas por outra rota seguindo o rio Toyokawa, protegida por três castelos. Tentaria tomar o castelo de Yoshida, porém não teria sucesso e voltaria para a região das montanhas. Seu caminho o levaria até um castelo chamado de Nagashino.

Comandantes Opostos
Takeda Katsuyori recebeu a ingrata tarefa de suceder uma lenda, seu pai, Takeda Shingen. Durante a expansão territorial empreendida por Shingen, os Takeda tomariam territórios nas províncias de Kai e Shinano e derrotaria o daimyô chamado Suwa Yorishige, que seria forçado a cometer suicídio após um acordo de paz humilhante. Ele tinha uma bela filha de 14 anos cuja mãe era a própria irmã de Shingen. Tomado por um fascínio que fez com que desconfiassem que a garota fosse uma raposa disfarçada de mulher, Shingen a tomaria como uma de suas esposas e dessa união nasceria Katsuyori.

Katsuyori se tornaria o filho favorito de Shingen, tanto que seria o seu sucessor. Era um hábil comandante treinado na tradição Takeda, uma escola que privilegiava o combate móvel e o uso de cavalaria. Mostraria o seu valor nas Batalhas de Kawanakajima e em Mikata-ga-hara, mas teria uma série de inimigos dentro do clã Takeda. Tinha aliados entre os idosos generais, mas muitos dos antigos servos de seu pai o viam com desconfiança. Para piorar, desconsideraria o conselho dos generais e avançaria contra Mikawa.

Do outro lado, temos Oda Nobunaga. Já na época da Batalha de Nagashino era considerado um dos grandes líderes samurais e havia um respeito mútuo entre ele e seus generais. Tinha grande arrojo, mas também sabia escutar conselhos, ao contrário de Katsuyori, uma lição aprendida quando um de seus comandantes cometeu suicídio quando teve seu conselho ignorado. Teria seu grande momento até então na Batalha de Okehazama, onde uma inteligente leitura da situação e uma rápida resposta às circunstâncias foram essenciais. Veria que o exército de Imagawa estava comemorando a queda de um de seus castelos e armaria um ataque surpresa, mostrando o seu cuidadoso planejamento aliado com rápida execução. Em adição a isso, veria que não poderia derrotar todos os seus inimigos sozinho e também buscaria alianças, o que foi fundamental para a vitória na Batalha de Anegawa.

Para complementar, Oda Nobunaga sabia ser cruel, massacrando dezenas de milhares de monges budistas do exército de camponeses Ikkô-ikki que se opuseram a ele. Ele deveria ter mais gratidão com esses monges, que o ensinaram a ser flexível durante a batalha e com quem aprendeu a usar armas de fogo, mas gratidão não passou por sua cabeça quando incendiou o templo no Monte Hiei. Por fim, estando basicamente no centro do Japão, estava sempre na vanguarda da tecnologia militar, contando com um bom relacionamento com os mercadores portugueses e tolerância com o cristianismo.

Tokugawa Ieyasu mostraria ao longo de sua carreira um comando arrojado nas linhas de frente aliado com paciência e diplomacia nos bastidores, que fariam com que tivesse sucesso nessa época e também décadas adiante. Graças a essas qualidades conseguiria o apoio de Nobunaga, que não estava em contato direto com o avanço de Katsuyori. Por fim, temos Okudaira Sadamasa, responsável pela defesa de Nagashino. Sadamasa era um aliado de Takeda Shingen e sua família era mantida refém pelos Takeda. Com a morte de Shingen, Sadamasa decidiu se juntar novamente aos Tokugawa e removeria tropas que protegiam o castelo de Tsukude para os Takeda, ao custo da vida de sua esposa e irmão mais novo. Sabendo que Sadamasa seria um inimigo amargo para os Takeda, Ieyasu o nomearia como guardião de Nagashino e poderia contar com um aliado obstinado para proteger essa posição.

Exércitos Opostos
Na Batalha de Nagashino, Takeda Katsuyori dispunha de 15 mil homens e enfrentaria inimigos em muito maior número, 30 mil sob o comando de Oda Nobunaga, 8 mil sob Tokugawa Ieyasu e mais 500 que estavam em Nagashino liderados por Okudaira Sadamasa.

Nobunaga empregaria 30% de seu exército na Batalha de Nagashino e teria a sua disposição 3.500 mosquetes, que se mostrariam úteis contra a forte cavalaria dos Takeda. Ieyasu utilizaria 64% do seu exército em Nagashino, mas podemos dizer que todas as suas forças estavam mobilizadas para enfrentar Katsuyori, já que o restante estava defendendo castelos contra a ameaça dos Takeda.

Não há muitos detalhes sobre a composição das forças de Nobunaga e Ieyasu, mas os cronistas de Katsuyori registraram em detalhes como era o seu exército em Nagashino. Não cabe aqui entrar em detalhes, mas a estimativa é que a principal força do exército eram os 4 mil samurais a cavalo, que eram acompanhados por dois soldados rasos cada, e mais três mil ashigarus, infantaria leve, por assim dizer. 47% do exército de Katsuyori estava mobilizado em Nagashino, o restante enfrentando Ieyasu e os Uesugi. Katsuyori contava apenas com 655 arcabuzes, o que seria uma desvantagem contra os 3.500 do inimigo.

Planos Opostos
Oda Nobunaga seria decisivo para os rumos da batalha, mas não se dedicaria muito a ela nos estágios iniciais e só teve maior interesse quando viu que isso envolvia salvar o seu aliado, Ieyasu. Viu também uma oportunidade de desferir um golpe fatal contra Katsuyori enfrentando apenas metade de seu exército.

A campanha começou em 30 de maio de 1575, quando Katsuyori sairia de seu território para tomar o castelo de Okazaki contando com o auxílio de um traidor. Tratava-se de Oga Yashiro, uma espécie de secretário de finanças de Ieyasu que decidiu se voltar contra o seu mestre. Seria descoberto e em seguida executado, não sem antes passar sete dias agonizando. Katsuyori desistiria de seu plano inicial e se dirigiria para atacar o castelo de Tsukude, o mesmo abandonado por Okudaira Sadamasa. Desistiria de tomar esse castelo também, julgando que o cerco seria arriscado, pois demoraria e o exporia a ataques pelas costas. Após abrir mão de dois alvos, não desejava sair de Mikawa sem obter nenhum ganho e iria atrás do último castelo do rio Toyokawa, Nagashino, defendida por Sadamasa. Além de atacar um desafeto, tomaria uma posição estratégica e coroaria a campanha de Mikawa.

Mas o começo da Batalha de Nagashino não se daria no próprio castelo, e sim no castelo de Yoshida, protegido por Sakai Tadatsugu e que contava como hóspede o próprio Tokugawa Ieyasu, repetição de uma situação que havia surgido na em Mikata-ga-hara que teria como vencedor, ao menos moral, Takeda Shingen. Mas Katsuyori não ficaria muito tempo sitiando Yoshida e se dirigiria para o que se tornou o alvo principal, Nagashino, que era uma posição naturalmente defensiva forte cercado pelos rios Takigawa e Onogawa que se juntam e formam o Toyokawa.

O plano de Katsuyori era tomar as elevações próximas de Nagashino e de lá lançar ataques contra o castelo. Passaria o primeiro dia da ofensiva posicionando as suas tropas e depois começaria quatro dias de ataques contra Nagashino. A guarnição que protegia o castelo estava em desvantagem de 1 para 30, mas lutou bravamente com arcos, lanças e mosquetes. Katsuyori tentou invadir o castelo por uma escarpa atravessando o rio. Parece que hoje em dia seria impossível atravessar o rio de jangada a essa época do ano, mas nem foi esse o problema do exército de Takeda, e sim a resistência dos defensores.

No quarto dia, Katsuyori utilizaria um ataque noturno que faria com que os defensores recuassem para as defesas mais interiores. Na mesma noite, começaria a trabalhar em uma torre de cerco, que seria construída com sucesso, mas logo derrubada pelo canhão que estava em Nagashino. Começaria então uma segunda fase de ataques, novamente com ataques noturnos em duas frentes. Katsuyori tentaria uma nova estratégia, cavar túneis, o que resultaria no desmoronamento de uma das paredes. Isso não teve nenhum impacto efetivo, mas o barulho afetaria psicologicamente os defensores, que estão lutando por vários dias seguidos sem descanso, enquanto que os sitiantes, em maior número, podiam se dar ao luxo de fazer um rodízio das tropas. Katsuyori avançaria ainda mais sobre as defesas do castelo, mas tendo falhado em atravessar o rio, cavar túneis e usar uma torre de cerco, passou a imaginar que a sua única possibilidade era um ataque frontal. Decidiria, no entanto, matar de fome os defensores, imaginando que eles teriam suprimentos para apenas mais alguns dias. Cercaria o castelo e bloquearia todas as saídas, inclusive pelos rios.

Os defensores continuariam revidando como podiam, usando os seus mosquetes para acertar quem ficava no alcance, causando algumas baixas durante os dias de relativa calmaria. Apesar de ainda estar em muito maior número, as forças de Katsuyori sofreram pesadas baixas. Mas, tirando isso, estava no controle da situação e só precisaria de tempo para forçar Nagashino a se render.

E então que temos uma história digna de anime ou de mangá. Os defensores precisavam alertar Ieyasu e Nobunaga da situação de Nagashino. Haviam enviado um emissário antes do bloqueio, mas não obtiveram resposta e sequer sabiam se ele tinha chego a Okazaki. Então, Torii Sune’emon se voluntariaria para a missão suicida de passar pelo bloqueio e ir até Okazaki alertar os aliados. Sairia do castelo e iria para o rio, que estava bloqueado por uma rede, que ele conseguiria cortar e atravessar o rio sem chamar a atenção. Faria um sinal luminoso para avisar que tinha conseguido fugir e se dirigiria para Okazaki, onde estavam ambos Ieyasu e Nobunaga, que ouviriam a sua história e a situação de Nagashino, prometendo enviar reforços.

Não contente com isso, Sune’emon faria o caminho de volta para Nagashino. Sinalizaria novamente para dizer as boas notícias, mas, ao invés de esperar o reforço, tentaria entrar no castelo. Passaria pelo rio, porém, dessa vez havia uma série de cordas com sinos no rio, que inevitavelmente alertaria para a sua presença e resultaria em sua captura. Katsuyori ouviria a sua história e até se admiraria com tamanha coragem. Ofereceria uma troca de lado que Sune’emon aceitaria. Suspeitando de sua sinceridade, Katsuyori enviaria seu suposto aliado de volta para Nagashino com a ordem de dizer que não havia esperança e que os defensores deveriam se render. Ao invés disso, gritaria avisando que ajuda estava a caminho e seria morto por isso. Mesmo assim, seria admirado pelos dois lados da batalha como um grande exemplo de bravura.

A Batalha
Katsuyori então teria que decidir sobre o que fazer, ficar e lutar ou fugir do exército de Nobunaga e Ieyasu. Recuar talvez fosse a opção mais sensata, mas Katsuyori sentia que a sua honra estava em risco e que ele não poderia mais uma vez fugir da batalha. Ele queria imitar os feitos de seu pai em Mikata-ga-hara e insistiria em lutar. Porém, Nagashino era Mikata-ga-hara às avessas, com Katsuyori em desvantagem numérica e inclinado a cair na armadilha indo para o confronto. Ieyasu, derrotado no passado, aprendeu a lição e não foi para a luta em Yoshida, mas Katsuyori estava disposto a se arriscar

Se esse era o plano, um de seus generais, Baba Nobuharu, sugeriu que a luta contra Nobunaga se desse de dentro do castelo. Essa sugestão seria rejeitada e Katsuyori preferira uma batalha em campo aberto. Talvez ele não soubesse, mas seus generais sabiam que esse era um plano suicida, mas seguiriam seu líder por lealdade a Takeda Shingen.

Como prometido a Torii Sune’emon, Nobunaga e Ieyasu sairiam de Okazaki para auxiliar Nagashino com 38 mil homens. Marchariam até Nagashino e em dois dias chegaram à planície de Shidahara, a seis quilômetros de distância do castelo, e esse seria o local escolhido por Katsuyori para lutar.

As forças de Nobunaga e Ieyasu se posicionariam de forma a ter o rio Toyokawa no flanco direito e montanhas no flanco esquerdo. A lógica por trás de todos os preparativos era o medo da cavalaria dos Takeda, ambos comandantes já tendo sofrido derrotas para ela, apesar de estarem sob o comando de Takeda Shingen anteriormente. Se posicionariam de forma a ter o pequeno rio Rengogawa entre as duas linhas, nenhum obstáculo formidável, mas suficiente para atrasar a cavalaria. Para auxiliar os seus mosquetes, construiriam paliçadas para oferecer alguma proteção. O flanco esquerdo era protegido contra um cercamento por meio das florestas e Nobunaga aceitou arriscar o flanco direito ao espalhar mais as suas unidades.

O arranjo de armas, lanceiros e paliçadas permitiu que Nobunaga tivesse controle sobre o impacto do ataque de Katsuyori em suas fileiras. Nobunaga conhecia as forças de seu inimigo e se prepararia de forma adequada. Sabia que tempo era essencial para essa batalha e usaria o rio Rengogawa como proteção natural para reduzir a velocidade da cavalaria inimiga. As paliçadas seriam mais um acréscimo para garantir segundos preciosos para que as armas de fogo fossem recarregadas. Outro fator importante seria a rígida disciplina, os seus melhores samurais comandando os ashigarus seguindo estritamente as suas ordens, o que não era exatamente o padrão das batalhas japonesas.

Katsuyori dividiria o seu exército para enfrentar os novos inimigos ao mesmo tempo em que mantinha o cerco a Nagashino. 12 mil iriam ao ataque divididos em quatro divisões e 3 mil seriam deixados para trás.  As divisões de ataque seriam dispostas no campo de batalha com três unidades à frente e uma quarta na retaguarda no apoio, formação que seria poeticamente conhecida asa da garça azul, kakuyoku.

Ao mesmo tempo em Katsuyori estava planejava para a batalha, Nobunaga fazia o mesmo de seu lado. E, em um momento digno novelas de samurai, Sakai Tadatsugu sugeriria um ataque noturno surpresa e seria duramente repreendido por Nobunaga, não apenas pela ideia, mas também por falar fora de sua vez. [A gente até consegue imaginar] Acontece que a ideia não era estúpida e Nobunaga teria uma reunião particular com Tadatsugu, contando que a sua reação era uma forma de despistar espiões e que o seu plano seria executado e ele lideraria a ofensiva. À meia-noite, Tadatsugu deixaria o quartel-general junto com 3 mil homens e atravessaria 8 quilômetros coberto pela noite e pela chuva, se posicionando a espera do amanhecer.

Na manhã seguinte, Katsuyori iria ao ataque. Sabia que o inimigo possuía um grande número de mosquetes, mas esperava que a chuva do dia anterior e o elevado número de cavalaria morro abaixo pudessem equilibrar a situação. O plano era aguentar a primeira salva de tiros, insuficiente para aniquilar a sua cavalaria, e depois atacar os indefesos ashigarus enquanto recarregavam as suas armas. Com o apoio da infantaria, havia uma boa chance de levar a melhor contra os inimigos, passar pelas paliçadas e botá-los para correr, até o ponto em que o Toyokawa cortasse a rota de fuga.

A hora da batalha chegou. A cavalaria avançaria contra as forças de Nobunaga, tendo o momento atrasado pelo rio Rengogawa. Nobunaga poderia ordenar que os primeiros tiros fossem disparados a uma distância maior ou que as forças avançassem contra o inimigo, mas deixaria que chegassem a 50 metros para iniciar a resposta. A primeira salva de tiros não assustaria Katsuyori, era parte do plano, mas o que ele não esperava era a velocidade com que viria a segunda salva, e depois a terceira. Os cavaleiros que sobreviveram ao ataque dos mosquetes teriam ainda que enfrentar os lanceiros, samurais, paliçadas e a confusão sobre a situação que claramente saia ao controle. A batalha não seria tão rápida quanto alguns relatos dizem e não seria decidida apenas pelas armas de fogo, mas esse foi definitivamente um fator decisivo para o exército Oda-Tokugawa.

Para piorar a situação para Katsuyori, vamos lembrar de Tadatsugu, que ao mesmo tempo em que o inimigo avançava armava um ataque na retaguarda. O exército dos Takeda estava totalmente alheio a Tadatsugu e garantiu uma vitória até que fácil. Os sitiantes de Nagashino viram a fumaça produzida pelos 500 mosquetes de Tadatsugu, mas não podiam fazer nada, pois não estavam em número suficiente e estavam posicionados muito longe para poderem ajudar. Aproveitando a situação, os sitiados de Nagashino foram para o ataque contra os sitiadores.

Em Shidarahara, a batalha prosseguia por horas a fio. A vantagem era toda do exército Oda-Tokugawa, mas os homens de Katsuyori continuariam a lutar. Teriam mais sucesso contra o flanco direito do exército inimigo, não protegido por paliçadas, mas teriam sérias dificuldades do mesmo modo que as outras divisões. Katsuyori utilizaria as suas últimas forças para uma última ofensiva, mas nem tropas frescas e de alta qualidade teriam grande impacto nos rumos da batalha.

Após oito horas de combate, Oda Nobunaga ordenaria o recuo de suas forças de volta para as paliçadas. Katsuyori aproveitaria essa ocasião para fugir de volta para o seu território e seria perseguido pelo exército Oda-Tokugawa O saldo final seria 10 mil baixas para o exército de Katsuyori, ou 67% do total, contra 6 mil mortos do lado Oda-Tokugawa, ou 16% do total.

Após a derrota em Nagashino, Katsuyori retornaria para o seu território e por lá ficaria e passaria os próximos sete anos em posição defensiva lutando desesperadoramente para sobreviver. Teria ainda como inimigo Ieyasu, mas por sorte Uesugi Kenshin morreria em 1578 e os Uesugi ficariam ocupados demais discutindo a sucessão para incomodá-lo. Kai e Shinano eram fáceis de proteger, de forma que conseguiria sobreviver ao assédio de Ieyasu. Mesmo assim, perderia territórios e sofreria com o abandono de seus aliados até que, entre derrotados e traidores, basicamente só sobrasse os seus familiares.

Com o seu exército definhando e abandonado por todos, em 1582 decidiria pôr fim a tudo, auxiliando no suicídio de sua esposa e depois cometendo hara-kiri junto com seu filho. Sua cabeça seria levada para Nobunaga, que não a receberia com alegria, e sim com lágrimas ao ver a cabeça de um inimigo, sim, mas também um grande comandante. E assim termina a história de Takeda Katsuyori, supostamente nascido de uma raposa disfarçada de uma bela mulher, herdeiro do lendário Takeda Shingen, mas que se mostraria indigno de sucedê-lo.
 

Um comentário:

  1. Essa batalha foi mostrada de forma cinematograficamente magnífica no filme “ Kagemusha”, de Akira Kurosawa.

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