quarta-feira, 1 de junho de 2016

Campanhas de Osaka





Toyotomi Hideyori perdeu o poder na Batalha de Sekigahara quando sequer tinha idade para defender a sua posição. Quinze anos depois, tentaria retomar o que é seu por herança de seu pai, Toyotomi Hideyoshi, mas, para isso, teria que derrotar seu tio, tio avô e avô-de-lei, todos na figura da mesma pessoa, Tokugawa Iyeasu.

O confronto que decidiria o destino do Japão para os próximos dois séculos se daria no que se conhece hoje como as campanhas de Osaka, uma série de batalhas travadas nas proximidades do castelo de Osaka da facção Toyotomi. Foram duas campanhas, a do inverno de 1614 e do verão de 1615 e a útima batalha, Tennoji, seria o último confronto de dois exércitos de samurais e seria a última batalha do lendário Tokugawa Iyeasu, então já com 72 anos. E apesar do Período Edo inaugurado com a vitória em Sekigahara e ratificado em Osaka ter sido marcado pelo fechamento para o exterior, os estrangeiros participaram indiretamente da batalha ao fazerem os primeiros registros em inglês de eventos ocorridos no Japão e de pólvora fornecida pela Companhia Inglesa das Índias Orientais.

Para entender melhor o contexto das campanhas de Osaka, recomendo assistir o meu vídeo sobre a Batalha de Sekigahara, no qual explico sobre essa batalha antecedente e os eventos que levaram ao confronto e tudo isso serve de pano de fundo para Osaka. Após a vitória em Sekigahara, Ieyasu construiria um novo castelo que se tornaria a nova capital administrativa do país, Edo, atual Tóquio.

Hideyori não sofreria nenhuma represália da derrota em Sekigahara, mas ele e sua influente mãe, Yodogimi, seriam colocados de escanteio na cena política por conta de manobras de Katagiri Katsumoto, guardião pessoal de HJideyori. Como recompensa, Ieyasu dobraria a quantidade de terras de Katsumoto em uma prática bastante comum após Sekigahara, onde Ieyasu recompensou ou puniu os senhores feudais de acordo com o lado em que estavam em Sekigahara. Os que estavam do lado errado perderam terras, o cabelo ou mesmo a cabeça, para os mais desafortunados. Para Hideyori, Ieyasu limitaria a renda da família, mas permitiria que ficasse com a residência da família em Osaka e lá confinaria o herdeiro de Hideyoshi.

Recompensar e punir após Sekigahara não foi a única tática de controle social exercida por Iyeasu. Além da construção da nova capital, Ieyasu construiria e reconstruiria uma série de outros castelos que seriam usados para manter um olho nos senhores feudais. Forçaria idas e vindas de senhores feudais a Edo até como uma forma de humilhação e também usaria de reféns, ordenando que as esposas e filhos dos senhores feudais fossem enviadas para Edo. Casamentos também foram utilizados para fins políticos, criando a situação curiosa que aludi no começo do vídeo. Ieyasu se casaria com a irmã de Hideyoshi, seu filho, Hidetada, se casaria com uma irmã de Yodogimi e Hideyori se casaria aos 10 anos com uma filha de Hidetada, configurando a situação em que Ieyasu é a ao mesmo tempo tio, tio avó e avô-de-lei de Hideyori.

Ieyasu foi nomeado Xogum após Sekigahara e renunciaria ao cargo em 1605 em favor de Hidetada, uma situação que seria muito celebrada no Japão. E, que fique claro, essa renúncia em nada diminuiria o poder de Ieyasu, que era efetivamente o xogum do Japão. Hideyori e Yodogimi seriam convidados para as festividades, mas Yodogimi recusaria o convite, preferindo se manter na segurança de Osaka. Hideyori tinha apenas 12 anos e não poderia ir sozinho para Edo desobedecendo a mãe, mas seis anos depois se encontraria com Ieyasu apesar de contrariar Yodogimi. O encontro se deu no castelo de Nijo e deixou uma boa impressão em Ieyasu. O guardião de Hideyori, Katsumoto, tinha espalhado a ideia de que Hideyori era fraco e afeminado para dissuadir rivais de Ieyasu de tentarem uma rebelião. Se Ieyasu acreditava ou não nisso, o encontro com Hideyori deixaria uma impressão completamente diferente. E isso acabaria não se mostrando muito bom para Hideyori. Ieyasu já via os Toyotomi como uma ameaça e tentou enfraquece-los financeiramente ao forçar Hideyoshi a gastar a sua fortuna em diversos projetos, como uma grande estátua do Buda que Hideyori tinha começado seu filho terminaria em 1612, sem que isso representasse uma grande ameaça financeira para os Toyotomi.

Dessa forma, Hideyoshi passou a ser visto como uma ameaça por Ieyasu, que se prepararia para a guerra. E é aqui que entra a Companhia Inglesa das Índias Orientais. Antes de Sekigahara, Ieyasu já tinha confiscado navios estrangeiros e obtido canhões e armamentos ocidentais, mas para coloca-los em uso em campanhas futuras precisaria de pólvora, vendida pela Companhia das Índias. Verificando os preços em Osaka e Edo, podemos verificar a demanda por pólvora. Em Osaka, o preço era baixo porque Hideyoshi se sentia seguro em seu castelo e não via uma ameaça iminente. Em Edo, o preço era muito mais elevado, justamente porque Ieyasu estava comprando como preparativo para uma guerra contra os Toyotomi. Muito sensatamente, os mercadores da Companhia das Índias levaram pólvora de Osaka para vender para Ieyasu, levando a mercadoria para Hirado para não levantar suspeitas.

As tensões que levariam à guerra são meio estranhas para nós, ocidentais, e acho que não seria de todo errado imaginar que sejam um pouco forçadas. Em 1614, para completar a estátua do Buda, Hideyoshi faria um grande sino, no qual tinha a inscrição chinesa kokka anko, “que o estado seja pacífico e próspero”. Ka e Ko eram ideogramas chineses que no estilo japonês seriam ie e yasu e a separação dos dois ideogramas foi interpretada de maneira ofensiva por Ieyasu. Havia ainda a inscrição “No leste recebe a brilhante lua, no oeste dá adeus o sol poente”. Novamente, Ieyasu interpretaria essa inscrição como uma ameaça velada a ele.

A situação ficaria insustentável quando Hideyori passou a recrutar ronins, samurais desempregados, muitos deles por conta do resultado da batalha de Sekigahara que teriam uma motivação extra para enfrentar Ieyasu, que, por sua vez, compraria ainda mais pólvora fazendo o preço disparar. O palco estava pronto para as campanhas de Osaka.

Comandantes Opostos
O líder efetivo do xogunato Tokugawa era Ieyasu, apesar de ele não ser o Xogum. Ele combinava duas virtudes raras de se encontrar na mesma pessoa, uma atitude agressiva, e até teimosa, em batalha que quase o matou ainda na juventude e uma boa habilidade diplomática e ambas qualidades lhe valeram a vitória em Sekigahara em igual medida.

O xogum nominal era o filho de Ieyasu, Hidetada, que não contava com muita confiança de seu pai. Hidetada não participou da Batalha de Sekigahara, não por não ter sido convocado para o confronto, mas porque se atrasou ao insistir em tomar um castelo quando sequer tinha ordens para tal. Ieyasu não perdoaria esse erro e em Osaka o relegou a um papel secundário.

Do lado dos Toyotomi, o comandante nominal era Hideyori, que dependia muito de seus generais, ainda leais à figura de Hideyoshi. Argumenta-se que o resultado final poderia ser diferente de um desses generais fosse o comandante da facção Toyotomi. Apesar de individualmente os outros comandantes terem tido um bom desempenho, faltou liderança e coordenação por parte de Hideyori. Foi criada a imagem de Hideyori de um afeminado e fraco, muito por conta de ficar sempre debaixo da asa da mãe, e apesar de talvez pessoalmente essa imagem ser errônea, em termos militares tinha um pouco de verdade. Em Osaka, Hideyori se mostrou indeciso, ou descartando os planos de seus generais sem maiores discussões, ou deixando que fizessem o que quisessem sem uma coordenação central.

Dentre os generais de Hideyori, o principal deles era Sanada Yukimura, filho de Sanada Masayuki, que tinha servido Takeda Shingen, rival de Ieyasu. Seu irmão, Nobuyoshi, serviu como refém após Masayuki se submeter a Ieyasu e acabaria trocando de lado e os dois irmãos ficariam em lados opostos em Sekigahara. Yukimura defendeu o castelo de Ueda contra Hidetada em uma das inúteis batalhas secundárias da Batalha de Sekigahara. Sua punição por se aliar com a facção Toyotomi foi perder as terras para o próprio irmão e ter que raspara a cabeça e virar monge. Atenderia o chamado de Hideyori e lutaria ao seu lado nas campanhas de Osaka e novamente ele e seu irmão ficariam em lados opostos.

Exércitos Opostos
A organização do exército no Japão feudal é diferente do que se vê no ocidente. A minoria dos combatentes eram vassalos diretos das famílias Tokugawa e Toyotomi. Os combatentes eram vassalos de senhores feudais que se aliavam de um ou de outro lado e podemos dizer que a distribuição de daimyôs em Osaka se à Batalha de Sekigahara, com os aliados de Ieyasu estando do lado de fora do cerco ao castelo e seus inimigos do lado de dentro. Era como se os exércitos fossem divididos em unidades lideradas pelo seu daimyô sob o comando geral de um general. A facção Toyotomi ainda utilizou ronins, samurais que não seguiam um senhor feudal, um samurai desempregado, por assim dizer, o que dificulta a estimativa de quantos homens tínhamos nas campanhas de Osaka.

Sobre os armamentos e outros aspectos da organização dos exércitos, eu já falei sobre isso no vídeo sobre a Batalha de Sekigahara. O único ponto que eu gostaria de mencionar é a disparidade de artilharias em favor de Ieyasu, já mencionada, que seria decisiva para os rumos da batalha.

Planos Opostos
Tivemos duas campanhas que culminariam com a tomada do castelo de Osaka pelas forças de Ieyasu, uma no inverno de 1614-1615 e outra no verão de 1615. Assim que as tensões entre Ieyasu e Hideyori se acirraram, Ieyasu abandonou a pressão política e partiu para a ação militar. Para a campanha do inverno, o plano de Ieyasu era mover a parte de seu exército em Edo sob o comando de Hidetada e de Sumpu sob seu comando indo para os castelos de Fushimi e Nijo que já estavam sob controle dele. Ao mesmo tempo, os outros daimyôs se posicionariam próximos de Osaka e se preparariam para o ataque ao castelo.

Do lado de Hideyoshi, a campanha do inverno mostrou a fraqueza no comando central da facção Toyotomi. Havia duas opções: ficar em Osaka e esperar o inimigo ou tentar intercepta-lo. Yukimura e Mototsugu propuseram a segunda opção após analisarem as possíveis rotas que Ieyasu poderia tomar para chegar em Osaka. O plano era avançar com duas forças, a menor assegurando a estrada de Nara e a maior avançando para tomar Ibaraki, Fushimi e depois Quioto, para depois poder avançar para Nijo e eventualmente para o palácio imperial. Tendo o imperador sob suas mãos, eles poderiam declarar Ieyasu rebelde e fazer com que os daimyôs se voltassem contra os Tokugawa. Terminando por tomar a ponte em Seta, Ieyasu não teria para onde ir e esse seria o seu fim. O plano fazia sentido, poderia dar certo, mas Hideyori o recusou preferindo ficar em Osaka esperando por Ieyasu para uma batalha defensiva, dando passe livre para o avanço inimigo.

Na campanha do inverno, a facção Toyotomi contava oficialmente com 113 mil homens, mas Stephen Turnbull, autor do livro que uso de referência, estima que havia 23 mil reservas, porém, o número de ronins dificulta o estabelecimento de um número exato, mas pela estimativa de Turnbull havia 100 mil combatentes em Osaka na campanha do inverno. Do outro lado, no exército oriental, tínhamos 194 mil homens lutando com Ieyasu, sem contar os 30 mil homens de Shimazu Iehisa, que chegou tarde ao campo de batalha. Desses, apenas 60 mil estavam sob comando de Ieyasu ou de Hidetada, os demais sendo controlados pelos daimyôs aliados. Do exército de Osaka, apenas 3 mil homens estavam sob controle direto de Hideyori e a fragmentação era ainda maior do que no exército oriental.

Sobre o castelo de Osaka, do lado de foram era uma fortaleza situada em uma área inclinada cercada por rios que serviam de proteção natural. Do lado de dentro, era um labirinto cheio de câmaras secretas e fossos. Na campanha de inverno, o castelo não seria o campo de batalha principal, mas seria na campanha de verão.

No final de 1614, Ieyasu se dirigiria para Osaka sem grande oposição e receberia aliados ao longo do caminho. No dia 10 de dezembro, o exército de Ieyasu já estava posicionado próximo de Osaka, com Ieyasu fazendo do castelo de Nijo o seu quartel-general e Hidetada em Fushimi. Em 15 de dezembro, partiriam para o ataque a Osaka, fazendo uma cautelosa travessia para o ponto de ataque mais viável, a parte sul do castelo de Osaka. No caminho, poderia ter usado a passagem de Kuragari pelas montanhas para cortar caminho, mas um de seus comandados disse que há uma superstição de que ninguém venceu uma batalha após tomar esse caminho, então, Ieyasu achou prudente não desafiar velhas superstições e acabou tomando o caminho mais longo.

Em 19 de dezembro, Ieyasu tomaria o forte de Kizugawaguchi, um importante ponto de observação para o exército de Osaka. Nos próximos dias, o exército oriental tomaria outros fortes e o exército de Osaka começaria a mostrar alguma resistência, lançando contra-ataques. Foram várias pequenas batalhas para assegurar o perímetro e por isso que o ideal seria chamar esse evento como campanhas de Osaka e não apenas Batalha de Osaka.

Dentro o castelo de Osaka, pouca coisa acontecia fora os tímidos contra-ataques. O exército de Osaka ressentia de uma liderança mais forte por parte de Hideyori, que basicamente deixou seus generais para agirem como bem entendesse. Tentando elevar o moral das tropas,  Yodogimi e Oda Yorinaga, sobrinho de Oda Nobunaga, vestiram armaduras para tentar animar os combatentes, mas provavelmente o efeito foi o contrário, mostrando quão desesperadora era a situação.

No começo de 1615, ocorreria a batalha de Sanada maru, uma fortificação mais avançada na linha defensiva de Osaka, erigida em uma das elevações não ocupadas nos arredores de Osaka e o último obstáculo que separava Ieyasu do castelo de Osaka. Como o próprio nome diz, o próprio Yukimura construiu o Sanada maru e caberia a Maeda Toshitsune tomar a fortificação. Ao tentarem subir as paredes do forte, os homens de Toshitsune seriam recebidos com tiros de arcabuzes, mostrando que a tarefa não seria fácil.

O próximo a tentar seria o neto de Ieyasu, Matsudaira Tadanao acompanhado por Ii Naotaka, sucessor de Ii Naomasa. As campanhas de Osaka contém alguns nomes conhecidos da Batalha de Sekigahara, não necessariamente referentes às mesmas pessoas, mas com algumas similatidades. Naomasa era famoso por seus samurais com armaduras vermelhas conhecidos como diabos vermelhos e seus sucessores seguiriam a tradição. O primeiro sucessor foi seu filho legítimo, Naokatsu, apesar de ele próprio ter desejado que o ilegítimo Naotaka fosse seu herdeiro. Ieyasu precisaria intervir nessa briga familiar em favor de Naotaka. O ataque chegou a ser bem sucedido, com as tropas de Tokugawa invadindo o Sanada maru e oficialmente entrando no castelo de Osaka, mas logo um contra-ataque da facção Toyotomi viria e repeliria os invasores. No dia seguinte, novo ataque, agora liderado pelo veterano Todo Takatora, sem sucesso.

Hidetada sugeriria um ataque total contra o Sanada maru, mas Ieyasu não achava uma boa ideia insistir com essas tentativas. Algo diferente seria necessário e é aqui que entra a artilharia mencionada há pouco. Os defensores possuíam artilharia, mas em menor número e de menor qualidade, sequer podendo alcançar as linhas inimigas. Em 8 de janeiro, Ieyasu ordenaria um bombardeio limitado com envios de mensagens sugerindo que os defensores se rendessem, sem resposta. No dia 15, Ieyasu ordenaria o bombardeio total do castelo de Osaka. Segundo relatos da época, o barulho da artilharia da facção Tokugawa podia ser ouvida de Quioto, o que dá uma medida do efeito psicológico exercido sobre os defensores em Osaka. Muitas das muralhas de pedras não podiam ser destruídas pela artilharia da época e construções similares sobreviveriam até às bombas atômicas, mas mesmo assim faziam barulho quando atingidas e provavelmente afetavam os sitiados. Ieyasu sabia desse fator e ordenava tiros de arcabuzes e gritos de guerra à noite para fazer com que os defensores pensassem que um atraque era iminente, adicionando pressão psicológica.

Essa tática começou a dar certo quando um tiro de canhão alcançou os cômodos de Yodogimi, mãe de Hideyori e que era muito influente, para dizer o mínimo. Hideyori foi visitar o túmulo de seu pai no dia 17 de janeiro, data de aniversário de morte, e o bombardeio continuou e acertaria novamente os aposentos de Yodogimi, não a ferindo, mas destruindo uma pilastra e matando duas damas de companhia. Isso aterrorizaria Yodogimi, que pressionaria seu filho a abrir negociações de paz.

A própria Yodogimi negociaria a paz com uma dama de companhia de Ieyasu que era amiga da irmã de Yodogimi. Enquanto isso, Hideyori e seus generais discutiam o que fazer, basicamente manter a resistência ou se renderem. No final, o acordo foi de que os ronins que lutavam por Hideyori seriam perdoados, que a renda da família permaneceria a mesma e que ele e Yodogimi poderiam escolher livremente onde iriam residir, um acordo bem satisfatório para ambas partes e que seria aceito. Porém, como já se sabia, Ieyasu não era confiável. Em um conflito anterior quase cinquenta anos antes, Ieyasu fecharia um acordo de rendição prometendo restaurar templos ao seu estado natural. Assim ele fez, queimando-os e devolvendo ao seu estado natural, campo verdejante. Na campanha de inverno de Osaka, ele destruiria algumas muralhas e jogaria os escombros nos fossos. Afinal, eles tinham acabado de selar a paz, não precisavam de proteções um contra o outro. Claro que Hideyori, Yodogimi e companhia reclamaram, mas sem sucesso e também claro que isso apenas contribuiria para a continuação das hostilidades. Ao invés de um acordo de paz, está mais para uma trégua.

Campanha de Verão
E demoraria apenas duas estações para a retomada dos confrontos. A campanha de verão seria dramática e decisiva, a segunda característica dentro do planejamento de Ieyasu desde a campanha de inverno, a primeira definitivamente fora de seus planos. Ieyasu acreditava que o castelo estava a sua mercê depois do enfraquecimento das defesas. O plano era reocupar as mesmas elevações, bombardear de ainda mais perto e derrotar Hideyori, porém, a situação fugiria de controle e ao invés de uma vitória fácil, Ieyasu quase perdeu a guerra.

Na campanha de inverno, Hideyori tinha a possibilidade de interceptar o inimigo e optou por esperar no castelo. Dessa vez, aceitaria a sugestão de seus generais e iria de encontro com as forças de Ieyasu. O que fazia todo sentido, afinal, as defesas do castelo estavam enfraquecidas e seria ainda mais arriscado enfrentar um cerco novamente. O plano original era mais ambicioso, mas aquele que seria implementado na campanha de verão seria mais modesto e a ideia era interceptar Ieyasu em seu caminho de Quioto para Osaka.

Na campanha de verão, as forças de Ieyasu eram de por volta 150 mil homens contra entre 60 e 120 mil homens servindo Hideyori. O pretexto para a primeira ofensiva e para a campanha do verão não teríamos algo tão específico, e sim uma série de relatórios de que Hideyori estava limpando os fossos e trazendo de volta os ronins para Osaka, além de boatos de que eles planejavam atear fogo em Quioto.

Em 1º de maio, Ieyasu sairia para a última campanha de sua vida. Ieyasu e Hidetada se encontrariam, os demais daimyôs iriam até as suas posições e em 22 de maio as forças de Ieyasu já estavam reunidas em Quioto. As forças de Hideyori, porém, é que tomariam a iniciativa e iriam para o ataque com Ono Harufasa. Ele atravessaria a passagem de Kuragari, apesar da superstição de que ninguém ganha uma batalha se o fizesse, e atacaria posições dos Tokugawa. Não tomaria o castelo de Koriyama, mas recuaria e queimaria as vilas pelo caminho, poupando o templo de Horyoji, até hoje uma das mais antigas construções de madeira.

Em 2 de junho, Ieyasu e Hidetada sairiam de Quioto e se encaminhariam para uma das grandes batalhas das campanhas de Osaka. Essa seria a batalha de Domyoji em 3 de junho, também conhecida como a batalhe entre as tumbas por ter sido travada em uma região onde havia uma série de tumbas de imperadores até maiores do que as tumbas egípcias. Goto Mototsugu, do exército de Osaka, tinha a missão de proteger a passagem por Komatsuyama em um dia de intensa névoa. O exército de Tokugawa forçou a passagem contra Mototsugu, que conseguiu resistir de início, mas a situação pioraria com a chegada de reforços. O exército de Osaka também enviaria reforços para a região, porém, isso seria tarde para Mototsugu, que seria alvejado e cometiria seppuku. O combate iria para a vila de Domyoji e seria feroz para ambos os lados. Outro general de Osaka seria morto, Susukida Kanesuke, e Sanada Yukimura ordenaria a retirada. Tokugawa Tadateru, que tinha chego a pouco tempo no campo de batalha, receberia a tarefa de perseguir Yukimura, mas não cumpriria essa ordem.

Nas batalhas de Yao e Wakae, travadas no mesmo dia, o exército de Osaka tentou deter o exército de Tokugawa sem sucesso. Chosokabe Morichika tentou segurar o avanço de Todo Takatora, que, apesar de vitorioso, perdeu dois filhos. Em Wakae, Kimura Shigenari tentou segurar o avanço do exército de Tokugawa tendo que enfrentar Ii Naotaka e seus diabos vermelhos. Shigenari não teria chance alguma e logo bateria em retirada, porém, ele próprio seria morto e sua cabeça entregue para Ieyasu.

O caminho estava livre para o exército de Tokugawa e Ieyasu pretendia reocupar as mesmas elevações em Chausuyama e Okayama, porém, o exército de Osaka já tinha ocupado essas posições. E então que chegaríamos à batalha de Tennoji, a última grande batalha samurai travada em 4 de junho. Essa não seria a batalha de Osaka, já que, pelos motivos expostos, seria suicídio deixar que a batalha chegasse no enfraquecido castelo. Se o exército de Osaka queria ter alguma chance de vencer, teria que levar a batalha para outro lugar e este seria ao sul de Osaka.

Ieyasu pretendia retomar Chasuyama e Hidetada investiria contra Okayama. O exército de Osaka não estava posicionado próximo dessas elevações, mas se dirigiriam para o campo de batalha saindo de onde era o Sanada maru. O plano de Osaka era Sanada Yukimura e Mori Katsunaga segurar o centro do exército de Tokugawa enquanto Akashi Morishige e Chosokabe Morichika buscariam atacar o flanco de Tokugawa.

Os primeiros ataques viriam de ronins do lado de Osaka que atiraram sem ordens de seus comandantes. Incapazes de controlar seus homens mais ansiosos por combate, Katsunaga e Yukimura desceriam de suas posições para atacar o inimigo. O exército de Tokugawa estava em grande desvantagem. Para piorar, Asano Nagaakira estava se movimentando para atacar o flanco do exército de Osaka. Porém, examinou mal a situação e estava se dirigindo para o flanco do próprio exército de Tokugawa. Lembrando que a batalha de Sekigahara foi decidida com traições do outro lado, os comandados de Tokugawa logo começaram a desconfiar que dessa vez a traição aconteceria entre eles.

O próprio Ieyasu se movimentaria para tentar acalmar as suas tropas e se veria desprotegido e que se encontraria com o próprio Sanada Yukimura, que atacaria Ieyasu. Algumas versões dizem que Ieyasu foi ferido nessa batalha e há teorias da conspiração de que ele teria sido morto e substituído por um dublê. O autor do livro que uso de referência chama essa história de ultrajante e descarta essa hipótese. O que se sabe é que Yukimura sim seria morto por Nishio Nizaemon, conhecido na história apenas por esse feito. Isso seria decisivo para o exército de Tokugawa, que começaria a partir daí uma reação.

Ii Naotaka e Todo Takatora liderariam essa reação com novos ataques, auxiliados por Date Masamune. O exército de Osaka recuaria até onde era o Sanada maru, mas eventos em outros lugares forçariam Naotaka e Takatora a recuar para auxiliar na batalha de Okayamaguchi pelo domínio da colina de Okayama, que ocorria ao mesmo tempo de Tennoji. Maeda Toshitsune e Hidetada estavam encarregados de tomar Okayama, mas precisariam de um ataque de flanco de Naotaka e Takatora para vencer e forçar o exército de Osaka a recuar para o castelo junto com o contingente recuando da batalha de Tennoji. As tropas que recuavam da batalha de Okayamaguchi ainda sofreriam ataques no dois flancos enquanto se retiravam, aumentando ainda mais as baixas.

 Hideyori deixaria para o castelo para ir ao combate, mas não iria longe, pois pouco tempo depois retornaria com rumores de que o castelo seria incendiado se ele saísse do castelo. Às 4:00 do dia 4 de junho, o primo de Iyeasu, Mizuno Katsushige seria o primeiro a chegar no castelo de Osaka, novamente sitiado. A artilharia do exército de Tokugawa voltaria à cena com efeitos devastadores. Para piorar, alguém realmente atearia fogo no castelo, provavelmente o cozinheiro chefe de Hideyori, e o fogo se alastraria rapidamente. Hideyori e Yodogimi procurariam refúgio em cômodos poupados pelo fogo e a esposa de Hideyori, Sen, seria enviada para fora do castelo para procurar refúgio com seu pai, Hidetada.

No dia seguinte, vendo que a situação só piorava, Hideyori decidiu cometer seppuku, junto com Yodogimi e mais trinta servos. Esse seria o fim do exército de Osaka, privado de seu comandante político, seu comandante militar e a maior parte dos generais exceto por Chosokabe Morichika, que seria capturado e executado. A tomada de Osaka seria sangrenta, com um grande número de ronins sendo executados sumariamente e o filho de Hideyori, Kunimatsu, com oito anos de idade seria decapitado para não deixar herdeiros homens da família Toyotomi, lembrando que se tratava do bisneto de Ieyasu.

Essa seria a última grande batalha samurai da história do Japão, que teria dois séculos e meio de paz e isolamento exterior durante a chamada Era Edo até a Restauração Meiji em 1868.

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