Sobre Gana,
vou falar sobre um mito muito popular entre os Akan, povo de maioria étnica no
país, o mito do trapaceiro Anansi. As informações são do livro African Myths of Origin e
a gameplay de um jogo desenvolvido em Gana, o iWarrior. Não tem muito a ver com o que vou falar, mas
supostamente se passa no país além de ter sido criado lá.
Anansi é o
trapaceiro (trickster) da mitologia
Akan, povo que tem maioria étnica em Gana e na Costa do Marfim, o mito sendo
mais associado à região de Ashanti, onde hoje está a moderna Gana. Ele tem a
forma de uma aranha, mas comportamento bem humano, se relacionando com outros
trapaceiros em outras regiões da África, como Nden-Bobo, a aranha de Camarões,
Kamba, a tartaruga da África Centro-Ocidental e Leuck a lebre do Senegal e “viajou”
para a Jamaica como “Tia Nancy”.
O livro “African
Myths of Origin” conta duas histórias relacionadas a Anansi. A primeira é a
história de como Anansi conseguiu as suas histórias, um dos mitos mais
conhecidos de Anansi. O relato da história foi conseguida na região de Ashanti.
Anansi, a
aranha, foi até Nyankopon, o deus-céu e pediu para comprar as histórias que ele
possuía. O Deus-Céu perguntou por que ele deveria vender, com o que Anansi
respondeu como razão o fato dele poder pagar o preço. O Deus-Céu retrucou
dizendo que outros homens tentaram comprar as histórias e, apesar de suas
riquezas, não conseguiram pagar o preço. Anansi então perguntou qual seria o
preço, ao qual foi respondido que ele deveria trazer a píton, o leopardo, o
arbusto-espírito e o vespão. Anansi prometeu trazer esses itens e mais a sua
própria mãe.
Anansi voltou
para a casa e contou a sua mãe sobre a sua barganha. Perguntou para a sua
esposa como pegar a píton e ela lhe deu uma sugestão. Anansi levou um pedaço de
bambu para o leito de um rio e ficou gritando consigo mesmo: “É claro que ele é
mais comprido do que isso! Não pode ser menor”. A píton então foi perguntar o
que estava acontecendo, e ele disse que brigou com a sua esposa sobre se a
píton era maior ou menor do que o bambu, ele duvidando de que poderia ser
maior. Ele colocou o pedaço de bambu ao lado da píton e pediu para que ela se
esticasse. No entanto, a dúvida persistia.
“Quando você
move uma parte, move a outra também, então não tem como medir. Se eu pudesse
amarrar-te no bambu você não se moveria mais”, disse Anansi.
A píton então
pediu para ser amarrada no bambu. Anansi pediu para que ela se esticasse e,
nisso, amarrou as vinhas ao seu redor de forma que ele não se movesse. Bem de
acordo com seu plano.
O próximo
passo seria capturar o vespão. A esposa sugeriu que ele pegasse uma cuia e a
enchesse de água. Ele espirrou água sobre um vespeiro e colocou uma folha na
cabeça, como se para se proteger. Os vespões pensaram que estava chovendo e ele
sugeriu que eles se abrigassem em sua cuia, ao que eles agradeceram e entraram
na cuia. Bem de acordo com seu plano.
Agora é a vez
do leopardo. A esposa sugeriu cavar um buraco no chão. Um leopardo caiu no
buraco à noite e Anansi foi até ele e o capturou.
Resta o
arbusto-espírito. Anansi criou um boneco de madeira à sua semelhança e tirou
seiva de árvores e encheu o boneco de cola. Então, colocou inhame e fez comida,
a colocando em uma vasilha que foi colocada na mão do boneco. Ele foi até uma
floresta onde vivem os espíritos e colocou o boneco debaixo de uma árvore.
Um espírito
apareceu e pediu para comer da vasilha. Anansi moveu a cabeça da boneca para
dizer sim e o espírito se alimentou do conteúdo da vasilha. O espírito
agradeceu, mas o boneco nada respondeu. O espírito perguntou a outro que tipo
de pessoa era o boneco, que não respondia nada ao agradecimento. Ao que o outro
espírito respondeu que era uma pessoa má e deveria receber um tapa na cara.
Assim ele fez e ficou grudado no boneco. Tentou com a mão esquerda, e também se
grudou. Tentou chutar com as duas pernas, e só piorou a sua situação. Bem de
acordo com o plano de Anansi.
Por fim,
pegou a mãe e a levou junto com o boneco com o espírito até o Deus-Trovão, que
lhe deu todas as suas histórias. E hoje as histórias não são mais do
Deus-Trovão, e sim histórias de Anansi.
A segunda
história de Anansi no livro que estou usando como referência é “Anansi e a
Espiga de Milho”. A história foi contada na região de Krachi, próxima de
Ashanti. O tema da história é trocas sucessivas, um tema recorrente no folclore
africano.
No começo, o
Deus-Trovão Wulbari vivia próximo do homem. Por vários motivos, ele se afastou,
como por exemplo o fato de as mulheres o picarem ao moverem seus painços e
inhames, a fumaça das cozinhas entrar em seus olhos e as mulheres cortarem
pedaços dele para engrossar suas sopas.
Wulbari saiu
do convívio dos homens e foi morar com os animais. Tudo ia bem, até ele
encontrar uma certa aranha, pedindo por uma espiga de milho.
“E o que você
vai fazer com uma espiga de milho”, perguntou Wulbari.
“Com uma
espiga de milho, vou te dar cem escravos”.
Wulbari não
acreditou nele, mas, enfim, deu a ele a espiga. E então Anansi pegou a estrada
de Krachi até Yende, chegando na cidade de Tariasu e pediu abrigo ao chefe da
vila. E aqui começa a sequência de trocas. Ele entrega a espiga de milho de
Wulbari para o ancião, pedindo para ser colocada em um lugar seguro. À noite,
Anansi pega a espiga de milho e joga às galinhas.
No dia
seguinte, todos acordam e veem a espiga de milho comida, e Anansi faz um
escândalo. Para compensar o dano, exige uma grande cesta de milho.
Anansi
carrega a cesta até se cansar e descansa na sombra de uma árvore. Encontra-se
com um homem, com quem troca a cesta de milho por uma galinha. Então, ele foi a
cidade de Kpandae, onde novamente falou com o chefe da vila e pediu para que
ele cuidasse bem da galinha de Wulbari. O chefe colocou a galinha na gaiola e
foram todos dormir.
À noite, ele
pegou a galinha, levou para fora da cidade, a matou e usou o sangue e as penas
para esfregar na porta do chefe da vila. Novamente, Anansi fez um escândalo
sobre o ocorrido e por fim apontou a porta do chefe da vila. Um garoto acharia
o corpo da galinha do lado de fora da vila, servindo como mais uma prova contra
o chefe. O povo pediu para que Anansi intercedesse junto à Wulbari para aplacar
a sua ira. Anansi considerou que algumas ovelhas seriam suficiente para acalmar
Wulbari.
O povo da
vila aceitou e Anansi saiu com dez ovelhas. Ele chegou em Yende e deixou as
ovelhas pastarem. Então, apareceu um grupo de homens carregando um corpo para
um funeral. Anansi apontou que, se eles deixassem ali, corpo apodreceria.
Sugeriu então trocar o corpo pelas dez ovelhas. A barganha era estranha, mas os
homens acabaram concordando com ela.
Então, Anansi
foi até Yende à noite. Pediu para ele e o filho de Wulbari ficarem na vila. O
povo, eufórico com visitas tão ilustres, fizeram uma grande festa para Anansi e
o “sonolento” “filho” de Wulbari.
No dia
seguinte, Anansi diria que precisava ir e pediu para acordarem o filho de
Wulbari. Se ele não acordasse, eles deveriam bater nele. Ele não acordou e
Anansi falou para bater mais forte. Não deu certo. Então, Anansi foi
pessoalmente acordar o filho de Wulbari, não obteve êxito e, novamente, fez um
escândalo.
Temendo a ira
do Deus-Trovão, o chefe da vila ofereceu sacrificar as crianças que
supostamente mataram o filho de Wulbari e também se suicidar. Em choque, Anansi
nada responderia nesse dia. O povo enterraria o corpo enquanto Anansi pensava
em um plano.
Na volta do
funeral, Anansi se dispôs a aceitar a culpa sozinho. Mas isso poderia não ser o
suficiente para aplacar a ira de Wulbari, por isso, ele precisaria de
testemunhas. 100 delas. O chefe concordou, muito alegre por alguma solução ter
sido apresentada, e ele mandou 100 dos melhores homens jovens junto com Anansi.
De volta à
corte de Wulbari, Anansi diz que com uma espiga de milho conseguiu trazer esses
100 jovens. Wulbari ficou muito agradado e confirmou Anansi em sua posição na
corte e lhe deu títulos e glórias.
Muito feliz
com tudo isso, Anansi começou a dizer que era mais esperto que Wulbari. Ele
ouviu isso e disse que queria alguma coisa. Não disse o que era. Se você é tão
esperto, Anansi, prove e descubra o que é.
Anansi foi
até o céu e reuniu o máximo de pássaros possível. Tirou uma pena de cada um e
teceu uma maravilhosa capa como nunca antes vista. A vestiu e foi até uma
árvore próxima da cabana de Wulbari, que perguntou qual pássaro era aquele e
ninguém conseguiu responder. Um dos animais sugeriu que Anansi poderia saber,
mas Wulbari diria que o mandou em uma missão de encontrar algo. Os animais
ficaram curiosos sobre o que seria esse algo e Wulbari revelou que era o sol, a
lua e a escuridão.
Quando todos
dispersaram, de posse da informação que buscava, Anansi foi em busca do que
precisava. Ele partiu para muito longe, por muito tempo. Mas ele encontrou o
sol, a lua e a escuridão, seja lá como tenha conseguido. Ao encontrar, pôs em
uma mala e levou até a corte de Wulbari.
“Bom, você me
trouxe algo?”, perguntou Wulbari.
“Sim”, respondeu
Anansi, tirando a escuridão. Ninguém conseguia enxergar nada. E então, ele
tirou a Lua e com um pouco de luz eles puderam enxergar novamente. E então
Anansi tirou o sol, e aqueles que olhavam diretamente para ele ficaram cegos e
os que não estavam olhando diretamente tiveram a vista prejudicada.
E foi assim
que a cegueira veio ao mundo, com Wulbari, Deus-Trovão, pedindo por alguma
coisa a Anansi.
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