Vou falar
agora sobre Holanda, Espanha e Bélgica em três vídeos sobre a Revolta
Holandesa, ou Guerra da Independência da Holanda, ou Guerra dos Oitenta Anos,
como preferir. Nesse vídeo, falo sobre o contexto da Revolta Holandesa, no
próximo falo sobre o estopim da Revolta e no último vou sair da cronologia e
explicarei como a cerveja possibilitou a vitória dos Países Baixos e criou a
Bélgica. Não será possível falar sobre a Revolta Holandesa nesse projeto, mas
fica para vídeos futuros, talvez. A fonte de informação é o livro The
Eighty Years' War (Illustrated) de George Edmundson e a gameplay dos três
vídeos sobre Revolta Holandesa será do jogo Europa Universalis IV.
A Holanda Burgúndia
A moderna
Holanda tem origem no Ducado da Borgonha, uma região que incluía a parte
oriental da França e parte da Holanda. Após a morte do último duque da casa dos
Capetos, o ducado foi para a coroa francesa e o rei João II deu o ducado ao seu
filho mais jovem, Filipe, o Destemido, Duque de Touraine, pelos seus préstimos
na Guerra dos Cem Anos. O condado da Borgonha (também conhecido como
Franco-Condado) não estava incluída nessa doação, mas os dois seriam unidos
através de casamento e logo Filipe governaria sobre o Franco-Condado, mais
Flandres, Artois e outras regiões.
Em 1433,
haveria mais um passo para a unificação dos territórios nos Países Baixos por
meio de outro Felipe, o Bom, que se tornou Conde da Holanda, Zeeland e Hainault
através de forçar seu primo Jacoba a renunciar a esses domínios. Esse ano seria
o marco didático para o começo do reinado dos Burgúndios sobre os Países
Baixos. Felipe, o Bom, ainda herdaria os ducados de Brabant, Limburg e o
marquesato da Antuérpia, além da compra de territórios como Luxemburgo. O sonho
de Filipe, o Corajoso, de unificar as diversas províncias dos Países Baixos
avançou com Felipe, o Bom. Com o tempo, começou a haver um senso de união
política no que eram províncias separadas e uma centralização administrativa.
Apesar de
haver essa centralização administrativa, o governo central respeitava, por
conveniência política, a autonomia das províncias e os privilégios da nobreza
local, porém, restringia essas decisões para nível local, possibilitando a
participação das províncias em Assembleias dos Estados-Gerais convocada pelo
duque. Os Estados-Gerais foram convocados primeiro em 1465 e a maioria das
convocações era por questões financeiras e até o Sacro Imperador Romano, Carlos
V, se valia dos Países Baixos para arrecadar tributos.
No período de
Felipe, o Bom, os Países Baixos desfrutaram de uma prolongada prosperidade.
Antuérpia era a principal cidade portuária, condição que só perderia para
Amsterdã durante a Guerra dos Oitenta Anos. O Duque da Burgúndia era um dos
governantes mais poderosos da Europa, mais do que muitos reis, apesar de não
ter esse status.
Filipe foi
sucedido por Carlos, o Temerário, que, como o apelido diz, era impulsivo e
tinha um temperamento autocrático, mas também eram um bom organizador e bom
soldado. Carlos procurou expandir o ducado e reprimiu com mão forte revoltas
contra impostos. Carlos morreria em 1477 após um cerco frustrado a Nancy sob
seu comando, deixando apenas uma filha, Maria, como herdeira. Na ausência de um
herdeiro homem, o ducado retornou para o rei da França, Luís XI, inimigo da
casa da Burgúndia, mas Maria reteve o condado da Borgonha.
Antes que
Maria pudesse assumir, diversas partes dos Países Baixos Burgúndios foram para
a França, algumas partes indo voluntariamente por conta do modo como foram
tratados por Carlos. No dia 3 de fevereiro de 1477, quando Maria completaria 20
anos, representantes de províncias como Flandres e Holanda foram convocados nos
Estados-Gerais e emparedaram Maria. No Grande Privilégio, assinado uma semana
depois, foram reestabelecidos todos os direitos das províncias e um Grande
Conselho passaria a auxiliar a administração do governo. Os Estados-Gerais não
precisavam ser invocados pela soberana para serem reunidos e ganharam poderes.
O poder nos Países Baixos voltou a ser descentralizado e desconcentrado. (7)
Esse arranjo
deu estabilidade aos Países Baixos, mas agora tinha a questão de quem iria
casar com Maria. O escolhido acabou sendo o Habsburgo Maximiliano da Áustria,
filho do Sacro Imperador Romano. Eles se casariam em agosto de 1477, mas o
casamento não duraria muito, Maria vindo a morrer em 1482. Ele se tornaria o
regente do Ducado da Burgúndia, que foi herdado por seu filho de 4 anos. Porém,
Maximiliano não teve grande aceitação e teve que lidar com diversas revoltas
internas nos Países Baixos. Assinaria um tratado com a França, prometendo sua
filha em casamento, e com isso focaria nas disputas internas.
Em 1486,
Maximiliano seria eleito o Rei dos Romanos, ou Rei da Alemanha, que podemos
dizer ser um cargo abaixo do Imperador do Sacro Império Romano, que era ocupado
por seu pai, Frederico III. Com isso, Maximiliano deixaria os Países Baixos,
mas voltaria para enfrentar diversas revoltas, até ser capturado em Bruge. Ele
foi solto após prometer abdicar do cargo de regente em prol de um conselho de
flamencos, retirar tropas dos Países Baixos e deixar reféns, entre eles Filipe
de Cleef, que se tornaria um general de Flandres. Maximiliano tentaria se
voltar contra Flandres, sem sucesso. Por fim, Maximiliano pediria para Duque
Alberto da Saxônia, eleito governador da Holanda em 1488 e que lutou para
libertar Maximiliano, para cuidar da revolta holandesa. Duque Alberto
conseguiria enfrentar os revoltosos holandeses e em 1492 anunciou que os Países
Baixos estavam pacificados em sua maior parte.
Em 1493, foi
assinado o Tratado de Senlis, encerrando as hostilidades entre França e Países
Baixos. No ano seguinte, Maximiliano I se tornaria Sacro Imperador Romano após
a morte de seu pai e seu filho, Filipe, o Belo, se tornaria Duque da Burgúndia.
Filipe se casaria com Joana de Castela, e aqui começaria a conexão entre Países
Baixos e Espanha que resultaria na Guerra de Independência dos Países Baixos.
Em 1504, a
rainha Isabel I de Castela morreu e Filipe e Joana se tornariam rei e rainha de
Castela, Leão e Granada. Devido aos problemas mentais de Joana, Filipe seria o
soberano de fato, mas viria a morrer em 1506. O governo da Holanda seria
oferecido para Maximiliano I, que repassou para a filha, Margarida, até a
maioridade do filho de Filipe e Joana, Carlos. Margarida governaria habilmente
os Países Baixos com o auxílio de conselhos até 1515, quando Carlos atingiria a
maioridade. Porém, em 1516, o rei Ferdinando de Aragão morreria e Carlos se
tornaria rei de Castela e Aragão e tinha que deixar os Países Baixos. Antes,
recolocaria a tia Margarida como governadora dos Países Baixos.
Em 1519,
Maximiliano I, então Sacro Imperador Romano, morreu e Carlos se tornaria o novo
imperador, virando Carlos V. Margarida morreria em 1530 e Carlos V elegeria a
irmã dele, Maria, como nova governadora dos Países Baixos. Maria foi uma
governadora hábil e livrou Carlos V de ter que se preocupar com os Países
Baixos, podendo se focar em outras questões no Sacro Império Romano.
Em 1549,
Carlos V editaria a Sanção Pragmática, na prática, unificando as dezessete
províncias dos Países Baixos em uma única unidade administrativa, a soberania
sobre cada uma das províncias sendo passada para os seus herdeiros,
independente dos privilégios nas províncias, a começar por seu filho, Filipe.
Na economia,
melhorias técnicas na conservação de alimentos possibilitaram o crescimento da
Marinha Mercante Holandesa e de cidades portuárias como Amsterdã, o que seria
vital nas revoltas futuras. Nos períodos de Margarida e Maria, as províncias
Burgúndias eram os estados mais ricos da Europa. Na religião, o protestantismo
se espalhava pelos Países Baixos, apesar de combatida pelo governo.
Em 1555,
Carlos V abdicaria do governo das dezessete províncias dos Países Baixos em
prol de seu filho que ficaria conhecido como Filipe II da Espanha. Apesar do
combate da heresia e dos aumentos de impostos, Carlos V ainda era muito querido
nos Países Baixos e foi um golpe para muitos a abdicação. Maria também abdicaria
do cargo de governadora dos Países Baixos Habsburgos e Filipe II, que se
tornaria rei da Espanha após Carlos V também abdicar desse título, iria trazer
os Países Baixos sob controle espanhol.
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