Nesse vídeo,
vou continuar falando sobre a Revolta Holandesa, agora tratando dos eventos que
levaram à rebelião contra o Império Espanhol. A fonte de informação é o livro The
Eighty Years' War (Illustrated) de George Edmundson e a gameplay do jogo Europa Universalis IV, com
o cenário da Guerra dos Oitenta Anos, mas agora comandando a Espanha.
Filipe II,
rei da Espanha e duque da Borgonha, já acumulava uma série de cargos antes de
receber a soberania dos Países Baixos de Maximiliano I. Ele já era Rei de
Nápoles e da Sicília, duque de Milão e rei-consorte da Inglaterra por meio do
casamento com Maria Tudor. Da
Inglaterra, onde residia, Filipe II foi para os Países Baixos. Com pouco
dinheiro, convocou os Estados-Gerais para um aumento de impostos, mas teve a
sua proposta rejeitada. Filipe II não conhecia os costumes e os privilégios nos
Países Baixos e sempre fez questão de se manter distante, apesar de fisicamente
próximo.
Filipe II
deixaria os Países Baixos, colocando a irmã por parte de pai Margarida como
regente, mas essa seria uma regência nominal, já que Filipe decidiria tratar os
Países Baixos como um território espanhol e que todas as decisões importantes
deveriam passar por ele. Três conselhos auxiliariam Margarida, o mais
importante deles o Conselho de Estado, que contava com Guilherme I, príncipe de
Orange, personagem dos holandeses no Civilization V.
Guilherme de Orange, apesar de ter relações
boas com Filipe II, desconfiava do rei e suas intenções quanto à Holanda e a
presença de tropas espanholas na Holanda. Foi um dos líderes da rejeição em
1559 do pedido de suprimentos por parte de Filipe II, exigindo que as tropas
estrangeiras fossem removidas em troca. Junto com Lamoral, Conde de Egmont, pouco
a pouco Guilherme passou a adotar uma posição de hostilidade contra a interferência
espanhola, com a presença de tropas e a supressão agressiva da heresia. Os dois
escreveriam para Filipe em 1561 para protestarem contra a situação e colocaram
seus cargos a disposição. Margarida também pediria a retirada as tropas, mas
nenhum dos dois pedidos foram aceitos. No fim, Orange e Egmont deixaram o
conselho e Margarida ordenaria ela mesma a retirada das tropas.
Do lado
oposto, estava o bispo de Arras (e depois, cardeal), Anthony Granvelle,
primeiro-ministro da regente, que era a favor da criação de novos bispados e da
repressão contra os protestantes. Filipe de Montmorency, conde de Hoorn, se
juntaria a Orange e Egmont e os três buscariam derrubar Granvelle, encontrando
amplo apoio entre os nobres para isso. Margarida queria tirá-lo do cargo, vendo
que a sua posição estava enfraquecendo por isso, mas Filipe II não queria e
Margarida dependia dele. Depois de muita pressão e até com o consentimento do
próprio Granvelle, o primeiro-ministro seria deposto.
Orange,
Egmont e Hoorn então passaram a lutar pelo fortalecimento do Conselho de Estado
(do qual faziam parte), a reorganização das finanças e um abrandamento da luta
contra a heresia. Em 1564, Filipe II ordenaria que se fizesse cumprir as
disposições do Concílio de Trento, endurecendo a luta contra a heresia, o que
foi recebido nos Países Baixos como uma violação dos privilégios das
províncias.
Egmont foi à
Espanha falar com Filipe II. Foi muito bem recebido, mas saiu de mãos vazias,
com vagas promessas de que haveria uma reforma financeira, mas sem nada no
sentido de abrandar a perseguição à heresia. Margarida tentou convencer Filipe
II a ir aos Países Baixos para verificar a situação, mas não foi ouvida. A
resposta foi o Compromisso, uma iniciativa de vários nobres denunciando a
Inquisição e pedindo para que todos resistissem à sua instalação nos Países
Baixos, ao mesmo tempo em que se declaravam fiéis seguidores do rei da Espanha.
Os nobres entregariam o Compromisso dos Nobres à Margarida, pedindo para que
ela intercedesse junto ao rei para abrandar a perseguição. Essa não foi uma
ocasião tão amistosa e Margarida se sentiu intimidada pelos revoltosos. Em uma
das reuniões com Margarida, um de seus conselheiros, Barlaymont, chamaria os
nobres como mendigos, e a confederação de revoltosos acabaria adotando esse
apelido no futuro e esse seria o começo de um movimento popular que chegaria em
todas as classes. (7)
Cabe
ressaltar que os nobres que apresentaram o Compromisso não eram
obrigatoriamente desleais ao rei nem que eram protestantes, muitos sendo
católicos que não concordavam com a perseguição religiosa. Porém, isso deu
força ao movimento protestante, que já não fazia mais reuniões secretas nos
Países Baixos, e sim em praça pública, juntando multidões para ouvi-los, deixando
a regente Margarida em uma situação delicada.
O Compromisso
foi enviado para o Rei da Espanha, que continuou não abrindo mão da Inquisição,
e afagou Orange e Egmont, apelando para a fidelidade deles e pedindo que
apoiassem a regente. Nos Países Baixos, foi procurada uma saída negociada
conforme as pregações públicas atraiam mais e mais público. No fim, a regente
concordou em conceder liberdade de culto, desde que os pregadores protestantes
não portassem armas e não interferissem com os católicos, já que havia casos de
ataques de calvinistas contra católicos.
E esses
episódios incomodariam Filipe II, que ficou ainda mais determinado a prosseguir
na repressão aos protestantes e até contra os nobres que exigiam o fim da
perseguição. Os alvos principais não poderiam ser outros que não Orange, Egmont
e Hoorn. Orange conclamaria os seus aliados a uma resistência armada contra os
espanhóis, mas a maioria não ousou se insurgir contra o rei. Isso fez com que
Orange procurasse formar uma liga com príncipes alemães para proteger os
protestantes e abandonaria a fé católica para se tornar luterano.
Em 1567,
Filipe II daria à Margarida tropas mercenárias para suprimir a heresia e ela
não hesitou em utilizar, apesar do que prometeu para os confederados, que,
satisfeitos com as promessas, dissolveram a liga. Fortalecida, Margarida exigiu
dos nobres que a tinham pressionado a jurarem fidelidade ao rei da Espanha.
Egmont aceitou. Hoorn rejeitou e se demitiu. Orange tentou o mesmo, mas
Margarida rejeitou e pediu que ele conversasse com Egmont sobre isso. Orange
tentou convencer Egmont sobre sua decisão ruim, mas não conseguiu persuadi-lo.
Então, Orange se auto exilou em Dillenburg.
Filipe II
enviaria o Duque de Alba para os Países Baixos para cuidar da luta contra os
protestantes. Alba convenceria Hoorn e Egmont a encontra-lo, mas não seria uma
ocasião amistosa, muito pelo contrário. Os dois seriam presos e documentos de
seus secretários foram confiscados. Margarida, cuja autoridade foi reduzida a
nada, convenceu Filipe II a aceitar a sua renúncia ao cargo de governadora dos
Países Baixos, cargo que iria para Alba.
Com Alba no
poder, aumentou brutalmente a repressão contra os protestantes. Ele
estabeleceria o Concílio dos Problemas, que basicamente era composto por Alba
fazendo julgamentos sumários. Havia dois juristas espanhóis e dois nobres que
trabalharam para Margarida, incluindo Barlaymont, aquele que chamou os nobres
que pressionaram Margarida de mendigos, além de cinco juristas dos Países
Baixos, que não tinham direito a voto. Várias pessoas eram acusadas e julgadas
sumariamente e suas propriedades confiscadas.
Orange foi
convocado a se apresentar ao tribunal de Alba, mas ele recusou, dizendo que o
tribunal não tinha jurisdição sobre ele. Seu filho, Felipe Guilherme, foi
levado à Espanha como represália. No exílio, Orange passaria a reunir um
exército para lutar pelos Países Baixos. Dinheiro era um problema, e ele
conseguiu financiamento em Antuérpia, Holanda e Zeeland, o resto sendo doado
por pessoas individualmente e com venda de bens de Orange. Orange ainda
conseguiria o apoio de Hugenotes franceses. Ele tinha como aliado outros nobres
revoltosos que conseguiram fugir, como Lewis de Nassau e Hoogstraeten.
Em 1568, o
exército de Orange atacou os Países Baixos em três frentes, Nassau através de
Friesland, Hoogstraeten pelo leste para entrar em Maastricht e Hugenotes e
refugiados pelo sul em Artois. Apenas Lewis de Nassau teve mais sucesso contra
as tropas de Alba. Ele conseguiu entrar em Groningen e seguiu até Heiligerlee,
mas logo o próprio Alba comandaria um contra ataque e derrotou os revoltosos.
Nassau fugiria se jogando no rio e nadando pela vida.
Por conta
desses ataques, Alba acelerou o fim de Egmont e Hoorn, que estavam sendo
mantidos presos em Ghent. As acusações eram examinadas pelos juristas espanhóis
e os dois tentaram apelar pela clemência de Felipe II. O próprio Sacro
Imperador Romano Maximiliano II intercedeu, mas não conseguiu evitar a execução
dos dois por alta traição.
Apesar do
insucesso militar inicial, a rebelião continuaria e Guilherme de Orange teria
um papel mais importante na Guerra da Independência da Holanda. Mas isso é tema
para outras ocasiões.
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