Sobre a França, vou falar sobre Napoleão Bonaparte,
uma das pessoas mais famosas nascidas no país. Como gameplay, Napoleon: Total
War. Como fonte, o belo livro Napoleão,
Sua Vida, Suas Batalhas, Seu Império,
de David Chanteranne e Emmanuelle Papot.
Napoleão nasceu na ilha de Córsega, que era genovesa
até 1768, quando a França a invadiu. Ele nasceu um ano depois da invasão
francesa, em 15 de agosto de 1769 em Ajaccio, e a família é de descendência
italiana, embora ele seja considerado cidadão francês de nascença já que à
época de seu nascimento a Córsega já fazia parte da França.
Com a invasão das ilhas, os corsos tinham que optar
por se submeterem ao domínio francês ou se juntar aos insurgentes liderados
pelo general Pasquale Paoli. A primeira opção era bem cômoda, enquanto a
segunda extremamente arriscada. Carlos Bonaparte, pai do ainda não nascido
Napoleão, e sua esposa, Letícia Ramolino, inicialmente tinham optado pela
primeira opção, mas a gravidez de Letícia de seu segundo filho, o próprio
Napoleão, os faria reconsiderar essa escolha. No já citado 15 de agosto de
1769, esse segundo filho nasceria, no primeiro aniversário do tratado que
uniria a Córsega à França.
Carlos Bonaparte era um grande partidário da
independência da Córsega, postura que não conseguiu transferir para o filho.
Mas conseguiu transmitir ao filho o interesse pelo Direito e daria uma educação
de qualidade para os filhos poderem superar o status social da baixa nobreza
corsa.
Maria Letícia Ramolino é a mãe de Napoleão, mas não
se tem tanta certeza de que Carlos é o pai. Havia rumores de uma amizade um
pouco além da conta com o conde de Marbeuf, embora os autores do livro que eu
uso de referência considerem isso mais como uma amostra de seu desejo de
ascender socialmente e eles a retratam como uma mulher íntegra. Ela teve uma
vida difícil antes de ser Madame Mère, título que receberia depois, abreviação
de Madame, Mãe do Imperador. Ela criou os muitos filhos sozinha depois da morte
de Carlos, em 1785, quando Napoleão tinha 16 anos. Mesmo antes da morte de
Carlos, ela seria a principal responsável pela criação dos filhos, já que o
marido viajava muito a negócios. Ela era uma mãe linha dura e administrava
punições severas e os autores atribuem a isso o senso de honra, de palavra e
lealdade familiar de Napoleão.
Em 1793, seria expulsa da Córsega, indo para Marselha
onde teria a tarefa de sobreviver à Revolução Francesa. Com a queda de
Napoleão, ela abrigaria os filhos em Roma. Ela viveu bastante, morrendo aos 86
anos em 1836, muito tempo depois de Napoleão. Sim, vocês podem fazer a conta e
concluir que ela teve Napoleão com 19 anos.
Napoleão receberia o nome como uma homenagem a um
tio de sua mãe, que morreu semanas antes e que tinha ido à Córsega para lutar.
Ele nasceu pequeno e doente. Não, ele não permaneceria tão pequeno. Quando
adulto, mediria por volta de 1,68, o que está na média dos franceses da época.
Ele foi batizado duas vezes, uma de emergência logo que nasceu, provavelmente
com receio de que ele morresse, e dois anos depois uma segunda vez na catedral
de Ajaccio.
Na juventude, Napoleão foi retratado como impetuoso
e impulsivo, apresentando sinais de autoritarismo e independência. Era também
uma criança muito reservada que preferia ficar sozinho e tinha como refúgio uma
caverna perto do monumento Casone. Seu brinquedo favorito era um pequeno canhão
de 13,6 quilos, que está em exposição no museu Maison Bonaparte.
Napoleão estudou em um internato administrado por
irmãs leigas, a Béguines d’Ajaccio. Lá ele teria uma quedinha por uma garota
chamada Giacominetta. Ele foi zombado por esse caso e surraria quem fez isso,
já dando mostras de como seria seu temperamento futuro. Por conta disso, seria
expulso do colégio. Depois, foi ter aulas com um amigo da família e a partir de
então passaria a exigir muito de si nos estudos. (9)
Carlos seria oficializado como nobre para os
Estados Gerais em Versalhes e com isso conseguiria bolsas de estudos para os
filhos mais velhos, José e Napoleão, em um seminário em Autun, os dois embarcando
para a França em 1778 e ficando afastados da mãe por sete anos.
Três dos irmãos de Napoleão participariam do
império. José se tornaria rei da Espanha, Luís seria rei da Holanda e Jerônimo,
após uma escapadinha nos Estados Unidos onde casaria com uma americana, seria
rei da Vestefália. Luciano, um fervoroso republicano, participaria do golpe de
estado do 18 de Brumário, mas não se envolveria tanto no império e até brigaria
com Napoleão. As três irmãs dele se casariam com pessoas importantes e se
oporiam à influência da esposa de Napoleão, Josefina, e da família Beauharnais.
No começo de 1779, Napoleão entraria para o
seminário ainda sem dominar completamente o francês. Três meses depois, se
transferiria para a Escola Militar em Brienne, onde se destacaria. Ele ficaria
ainda mais isolado, vivendo em uma cidade pequena e com um forte sotaque
italiano. No colégio, viveria uma vida espartana, morando em um quarto
minúsculo e tendo comida apenas o suficiente para se manter. Ele se refugiava
na leitura, era um aluno dedicado e atrairia a admiração dos professores. Mas
não se dava muito bem com os colegas, que o ridicularizavam por conta de seu
sotaque italiano.
No entanto, no inverno de 1783, as coisas mudariam
nesse ponto. Napoleão sugeriria brincar de briga de bola de neve com os
colegas, que seria uma miniatura de uma batalha de verdade. Nessa ocasião,
Napoleão se mostraria um bom líder e organizador tático e ganharia o respeito
dos colegas.
Em 1784, após passar com brilhantismo no exame de
aptidão e de receber a dispensa de idade, Napoleão entraria na Escola Militar
de Paris, que recebia os melhores alunos das 12 principais academias militares
que ganhavam o título de cadete cavalheiro. Napoleão entrou na artilharia, na
seção naval. Mais tarde, sairia da seção naval, pois sua mãe imploraria para
que ele não fosse navegar.
Aos 15 anos, Napoleão já não era tão reservado e já
fazia amizades com mais facilidade. Se tornaria até gentil e generoso. Com
apenas dez meses de ensino, ao invés dos dois anos habituais, deixaria a escola
militar passando no exame final na posição 42 de 58. Nesse ano, seu pai
morreria e ele seria o responsável por sustentar a família.
Napoleão seria designado para o regime de
artilharia de La Fère e ficaria em Valence. Serviria sob o capitão Masson
d’Auterive. Passava o tempo livre lendo e teria contato com a obra de Jean
Jacques Rousseau nesse período, assim como Voltaire, Montesquieu e outros
filósofos. Também passaria a escrever, escrevendo um artigo sobre a Córsega e
outro sobre... suicídio. Nesse tempo, teria contato com o campo de batalha pela
primeira vez, o que seria um inestimável aprendizado para o jovem Napoleão. Era
uma vida difícil porque ele não ganhava muito e mandava o que ganhava para casa
para sustentar a família.
Retornaria para a Córsega para uma breve estadia e
depois foi para Tolulon e Paris receber o pagamento relativo ao plantio de
amoreiras nas terras da família nas Salinas de Ajaccio. Trabalharia em diversos
artigos sobre a república francesa e até sobre matemática, tendo supostamente criado
o Teorema de Napeolão, que diz que os centros dos três triângulo equiláteros
construídos no lado externo de cada lado de cada triângulo formam um triângulo
equilátero. (17)
Momento Caras do vídeo, em 1787 Napoleão perderia a
virgindade com uma prostituta em Paris, no Palais Royal que havia sido saqueado
e se tornaria habitado por comerciantes e mulheres de moral duvidosa.
Depois, iria para Auxonne, onde serviria sob o
comando do barão Du Teil e se submeteria a um rigoroso treinamento. Nessa
época, supervisionaria a educação do irmão mais novo, Luís, que estava com ele
na época.
Em 1789, viria em Auxonne a primeira revolta
revolucionária poucos dias antes da Queda da Bastilha. Em 1792, foi promovido a
capitão da guarda e testemunharia o massacre da Guarda Suíça em Tulieries após
a partida de Luís XVI. Em 1793, Napoleão e o líder dos rebeldes corsos Pasquale
Paoli entrariam em choque, com Paoli insistindo na luta contra a França. Por
cotna disso, a mansão Bonaparte seria saqueada e a família de Napoleão teve que
fugir da Córsega, seguindo para o exílio em Marselha e depois em Toulon.
Ainda em 1793, Napoleão participaria do Cerco de Toulon, cidade que estava se
revoltando contra os revolucionários e estava ocupada por tropas inglesas e
espanholas apoiando os monarquistas. Napoleão comandaria a artilharia após o
comandante ter sido ferido em batalha. Ele se encontraria com as tropas da Convenção
Nacional comandadas pelo general Carteaux, que estavam sitiando a cidade após
tentarem e não conseguirem recapturar a cidade. Napoleão fez algumas sugestões
ao general e foi promovido a major, o que ajudaria a persuadir os mais
hesitantes de seus planos. Reforços chegaram com o general Dugommier, que
assumiu o comando do cerco.
Napoleão impressionaria muito no Cerco a Toulon. O general
Doppet em especial relataria que o jovem oficial era extremamente talentoso e
dedicado ao trabalho. Em 17 de dezembro de 1793, Napoleão comandaria o ataque à
“Pequena Gibraltar” e ao forte Éguillette e participaria do ataque ao Forte
Malbousquet, que seria decisivo para o fim do Cerco de Toulon.
Os ingleses e os espanhóis se retiraram da cidade e
depois Napoleão entraria em Toulon. Em 22 de dezembro, aos 24 anos, seria
promovido a general-brigadeiro, promoção confirmada em 6 de fevereiro do ano
seguinte.
Em 1794, comandaria a artilharia do exército na
Itália. Em julho, no acampamento em Siege, ficaria sabendo da queda de
Robespierre e seria preso sob suspeita de ter colaborado com o Grande Terror.
Pouco tempo depois seria solto por conta de suas habilidades militares.
Em junho de 1795, seria designado
general-brigadeiro na infantaria do Exército do Oeste, mas recusaria o cargo,
tirando licença médica e ficando em Paris. Ele passou um tempo em depressão e
encontraria refúgio na literatura, nutrindo sonhos de ser escritor. Mais tarde,
em setembro do mesmo ano, passaria a cumprir funções burocráticas no Comitê de
Segurança Pública até ser encarregado de liderar as tropas na Turquia. Mas
poucos dias depois eclodiria uma revolta contra a Constituição do Ano III e
Napoleão seria chamado para suprimir a revolta.
No chamado 13 de Vendemiário do Ano 4, Napoleão
cumpriria com calma e rigor a sua missão, auxiliado pelo oficial de cavalaria
Joseph Murat. Napoleão ganharia fama e prestígio junto ao novo governo, o
Diretório. Ficaria amigo de Murat, que se casaria com uma de suas irmãs,
Carolina, em 1800. Napoleão, por sua vez, seria nomeado general chefe do
Exército do Interior. (26)
Nessa época, Napoleão conheceria Marie-Joseph Rose
Tascher de la Pagerie, que ele chamaria de Josefina, viúva do visconde de
Beauharnais. Josefina nasceu em 1763 de uma família aristocrata da Martinica e
se casou pela primeira vez em 1779, sim, com 16 anos. Seu primeiro contato com
Napoleão foi em outubro de 1795. Em 1794, foi presa pelos revolucionários junto
com o marido. Ela escaparia da execução, ele não. Apesar desse episódio, ela
continuaria em Paris e se tornaria uma das grandes personalidades da alta
sociedade.
Assim que a viu, Napoleão ficou encantado. Ela, por
sua vez, o achava divertido e acabou cedendo à sua paixão desenfreada. Alguns
meses depois do primeiro encontro se casariam. Para Napoleão, era além de tudo
um bom negócio, já que ele se casaria com uma aristocrata e isso abriria portas
para ele, o transformando em um francês definitivamente. Em 9 de março,
celebrariam o casamento civil com separação de bens, o advogado de Josefina
temendo que o jovem soldado pobretão queria dar um golpe nela. A diferença de
idade era de seis anos, que foi encurtada na certidão de casamento aumentando
em alguns meses a idade de Napoleão e eliminando cinco anos de Josefina.
O casamento não repercutiu bem na família
Bonaparte, que não tinha dado o aval para o casamento e considerava Josefina
uma aventureira. O casal se mudaria para uma luxuosa casa alugada na rua
Chantereine, que Napoleão compraria em definitivo quando voltasse da Campanha
da Itália, para onde partiria pouco tempo depois do casamento.
Napoleão era extremamente apaixonado por Josefina e
fazia tudo por ela, o que não o impediu de ser infiel, mas tudo bem, ela também
o traia. Em 1810, eles se divorciaram, mas Josefina manteve o título de
Imperatriz, manteria propriedades e uma generosa pensão, até morrer em 1814.
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