sábado, 17 de maio de 2014

Conquista Espanhola (#2): Descoberta


Aqui eu vou começar uma parte longa da série falando sobre América Latina. Infelizmente, não tenho tanto como individualizar os países, então serão seis vídeos genéricos sobre América Latina para os seis países da América do Sul e Central que estão na Copa, fora Costa Rica que já falei e o Brasil. A fonte de informação é o livro The Penguin History of Latin America. A gameplay é do jogo Expeditions: Conquistador, que fala sobre a conquista de Hispaniola, mas enquanto eu escrevia os textos senti que tinha tudo a ver com o jogo, apesar dos eventos não serem os mesmos.

O desejo de viagens ultra marítimas veio da necessidade de estabelecer o comércio com o extremo oriente, chamado genericamente de Índias, onde era possível encontrar bens muito procurados por europeus, como temperos e seda. As histórias fantásticas de Marco Polo sobre o oriente ajudaram a aumentar o fascínio. Esse comércio existia, mas era demorado, dependia de intermediários em Veneza e Genova, que prosperaram nessa época, e depois essa rota seria bloqueada pelo Império Otomano.

Outro problema que inspirou as viagens foi a busca por ouro, que eram usados para pagar pelas especiarias e que provinham principalmente da África. Porém, o comércio na África era lento demais, dependendo de viagens de camelo, o que diminuiu o fluxo de ouro para a Europa, que já não podia pagar pelas especiarias orientais. Desastres como a Peste Negra piorariam ainda mais a situação europeia.

Portugal e Espanha, dois dos países mais afetados, começaram a procurar alternativas para o comércio de ouro, escravos e especiarias. Em 1415, Portugal cruzaria o Estreito de Gibraltar, conquistaria Ceuta e estabeleceria uma rota marítima até a África subsaariana. Depois, explorariam as Ilhas Açores, Madeira e Canarias, onde estabeleceriam plantações de cana de açúcar. Após cruzar o Cabo Bojador em 1434, estabeleceriam uma rota direta de comércio de ouro com o Sudão.

Ao longo da África Ocidental, Portugal foi criando feitorias, que são entrepostos comerciais, em pontos estratégicos. Por fim, Bartolomeu Dias cruzaria o Cabo da Boa Esperança em 1497 e abriria caminho para a expedição de Vasco da Gama ao Oriente em 1498, criando uma rota de comércio com a Índia, e tornando Portugal o principal intermediário europeu com o oriente, além do comércio de ouro, escravos e de açúcar.

Cristóvão Colombo tinha uma ideia melhor do que circundar a África. Eles poderiam viajar para oeste e chegar à Ásia cruzando o Atlântico. Seria uma ótima oportunidade comercial, além de trazer fama para quem conseguir efetuar tal empreitada, apesar dos riscos, já que ninguém sabia a extensão do Atlântico. Além do mais, era uma oportunidade de espalhar a fé cristã e assim enfrentar os muçulmanos. Colombo calculou errado a distância da Europa até a Ásia. Ele esperava encontrar terras não descobertas ao longo do caminho, mas não esperava o que iria encontrar além do Atlântico.

Tudo ia bem, mas era necessário financiamento e apoio político. O rei de Portugal, João II, não se animou muito com o projeto de Colombo, o considerando arriscado, tendo em vista a base científica frágil dele, e uma diversão de recursos de projetos mais certos como o africano. Colombo então foi para a Espanha conseguir apoio financeiro, e o obteria em 1492. Após a expulsão dos muçulmanos de Grana, Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela aceitariam apoiar Colombo e foram extremamente generosos, garantindo os títulos de Almirante do Mar, Vice-rei das Índias e governador de todas as terras que ele encontrasse em suas viagens, além de 10% das riquezas que descobrisse. Se Colombo tivesse sucesso, Aragão e Castela conseguiriam superar Portugal na corrida das especiarias.

Em 3 de agosto de 1492, Colombo partiu em três naus: a galícia Santa Maria de 100 toneladas e duas naus espanholas em estilo português, Pinta e Niña, com 60 e 50 toneladas respectivamente e contaram no total com 87 tripulantes. A frota teve que fazer uma pausa nas Canárias, e seguiria viagem oceânica em 9 de setembro. Após um mês no mar, Colombo começou a ver sinais auspiciosos, como pássaros e uma estranha luz brilhando no horizonte. Em 12 de outubro, foi avistada terra de madrugada. Horas depois, eles desembarcariam no que ele chamaria de San Salvador, atual Bahamas.

Os nativos foram recepcionar os estranhos convidados e foi um baita choque cultural. Os nativos estavam nus com pintura corporal e não eram hostis, mas não eram o que Colombo estava buscando. Estava claro para ele que não tinha chegado ao Japão, como esperava. San Salvador não era exatamente o que ele estava esperando e logo Colombo prosseguiu viagem. Encontrou uma ilha maior (Cuba), onde esperava encontrar o Japão e ouro. Ele não encontrou nenhum dos dois, mas encontrou tabaco, que no futuro seria explorado pelos espanhóis.

Então, foi para outra ilha que lembraria a Espanha e que ele chamaria de Hispaniola, área que inclui atualmente o Haiti e a República Dominicana.  Lá, os nativos usavam ornamentos de ouro e ele encontrou um chefe, Guacanagari, que mostrava algum atributo de realeza e pareceria a ele que estava chegando perto da China e do Japão. Ele falaria de um lugar chamado Cibao, que ele pensou que poderia ser Cingapu, o nome pelo qual ele conhecia o Japão.

No natal de 1492, a Santa Maria bateu em um recife de corais e teve que ser abandonada. De seus destroços, foi criada a primeira colônia espanhola chamada de Navidad com a ajuda dos homens de Guacanagari e Colombo retornou para a Espanha na nau Niña, deixando 21 voluntários para trás.

Em 20 de abril de 1493, Colombo chegou à Espanha e se apresentou ao rei Fernando e à rainha Isabel, mostrando seis nativos das terras que visitara, confiante de que chegou nas Índias. Essa era a chance para os espanhóis chegarem nas Índias antes do que os portugueses, que ainda não tinham chego. O papa Alexandre VI emitiria uma série de bulas garantindo a posse das terras no continente ao oeste para a Espanha e depois haveria um acordo no Tratado de Tordesilhas em 1494 separando o oeste entre as duas potências ibéricas, tudo além de 370 léguas de  Açores e Cabo Verde ficando para a Espanha.

Antes mesmo do Tratado, Colombo partiu em uma segunda missão em 25 de setembro de 1493, com dezessete navios e 1500 homens com a intenção de fundar uma colônia na área que descobriu. Chegando em Hispaniola, descobriu que os nativos destruíram Navidad por conta do comportamento dos colonos. Os colonos agiram com violência contra os nativos e procuraram utilizá-los como força de trabalho escrava, e foram reprimidos com violência, para a derrota dos espanhóis. Colombo foi mais para leste e fundaria uma nova colônia chamada Isabella, em homenagem à rainha. Depois, iria atrás de Cibao.

Quando retornou, viu mais amostras de indisciplina entre os colonos. Houve uma briga entre catalães e seu irmão, Diego, deixado encarregado da colônia enquanto ele estava fora. Tentou satisfazer a todos autorizando expedições mais brutais em busca de ouro, para satisfazer aqueles mais sedentos por ganhos rápidos, e fez um repartimiento de índios cativos para trabalhar para os espanhóis. Os nativos se revoltaram, mas foram derrotados pelas armas dos espanhóis.

Em 1496, Colombo voltaria para a Espanha para se defender de calúnias de ex-colonos e defender o seu empreendimento, que já começava a ser visto com descrédito, sem sinal de ouro ou de um caminho para o Oriente. Além do mais, Isabel estava incomodada com o tratamento dos índios, que ela tinha proibido expressamente de serem usados como escravos. Apesar disso, os monarcas mantiveram o apoio à Colombo, até por saberem que Portugal preparava uma expedição à Ásia via África.

18 meses depois, Colombo montaria uma nova expedição, agora financiada pelo tesouro e supervisionada pelo arquidiácono de Sevilha, Juan Rodrigues de Fonseca. Ele partiu em maio de 1498, chegaria em Trinidad em julho e seguiria viagem até chegar à Venezuela. Colombo estava obcecado demais para perceber as implicações de sua descoberta, e só Amerigo Vespúcio depois formularia a ideia de que se tratava de um continente separado da Ásia e foi o primeiro a chamar essa porção de terra de “Novo Mundo”. Colombo, por sua vez, pensava que o delta do Orinoco era um rio que, de acordo com as escrituras, irrigava o Paraíso.

Chegando em Hispaniola, Colombo encontraria uma situação de guerra civil. Santo Domingos, estabelecida pelo irmão de Colombo, Bartolomeu, estava pior do que o assentamento de Isabela. Ele tentou apaziguar, mas era visto como um estrangeiro e perdeu ainda mais de sua autoridade. As notícias chegaram na Espanha e em agosto de 1500, um oficial espanhol, Francisco de Bobadilla, chegou com ordens de investigar os problemas, prendendo os irmãos de Colombo e o mandando de volta para a Espanha acorrentados.

Colombo não conseguiu transformar Hispaniola em uma feitoria e ouro só poderia ser obtido através de escavação de minas, o que exigia uma operação mais complexa. Assim, a coroa cassou o monopólio de Colombo da exploração do Novo Mundo e mandaria em fevereiro de 1502 Nicolás de Ovando para ser o primeiro governador do que seria a América Espanhola.


Colombo ainda queria encontrar um caminho para as Índias e conseguiu financiamento para uma quarta viagem, partindo em maio de 1502. Ele não encontrou o Oriente nos dois anos de viagem, mas explorou a América Central passando por Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. De volta à Espanha, tentou restaurar seus privilégios, mas só conseguiu com que seu filho, Diego, fosse eleito governador de Hispaniola e retivesse os títulos hereditários de vice-rei e almirante. Colombo morreria em 1506, convencido de que tinha chego à Ásia.

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