domingo, 11 de maio de 2014

Lendas Cabilas da Criação


Sobre a Argélia, vou falar sobre as Lendas Cabilas da Criação com base no livro A gênese africana, de Leo Frobenius. O jogo será o Indiana Jones and the Fate of Atlantis, na parte do jogo que se passa em Argel, capital da Argélia. Não tem muito a ver com o que eu vou falar, mas pelo menos se passa no país em questão.

Os cabilas eram um povo berbere que habitava o nordeste da Argélia e o livro que eu estou utilizando tem uma longa parte dedicada aos berberes em geral, cabila em particular. Vou falar sobre o primeiro grupo de estórias, os mitos de criação dos cabilas.

No começo, havia apenas um homem e uma mulher que viviam debaixo da terra, não acima dela e não sabiam que a outra pessoa era um sexo diferente. Um dia, foram beber água, se desentenderam sobre quem beberia primeiro e lutaram. As roupas caíram e ele viu que ela tinha uma taschunt e ele sentiu que tinha um thabuscht. Olhou para a taschunt e perguntou para que servia.

- Ah, é bom – disse ela.

Ele deitou-se sobre ela e ficou assim por oito dia. Nove meses depois, ela teve quatro filhas. E depois de mais nove meses, teve quatro filhos. E depois mais quatro filhas e em seguida mais quatro filhos. No fim, tiveram cinquenta filhas e cinquenta filhos. Eles não sabiam o que fazer com tanta criança e as mandaram embora.

As cinquenta moças partiram para o norte e os cinquenta rapazes para o leste. Após um ano viajando, as moças viram uma luz e decidiram subir à superfície. Os rapazes também encontrariam um caminho para a superfície. Lá, seguiriam seus caminhos sem saberem do outro grupo.

Naquela época, as pedras e árvores falavam. As moças perguntariam para as plantas e para as pedras quem as fizeram e questionariam o mesmo sobre as estrelas e tentaram se comunicar com elas aos gritos. Os rapazes viram um rio pela primeira vez e gritaram, chamando a atenção das garotas.

- Quem são vocês? O que estão gritando? Também são serem humanos? – perguntaram as moças.

Os dois grupos se comunicaram e se conheceram. Os rapazes então falariam com o rio, questionando o que ele era.

- Sou a água. Sou para tomarem banho e se lavarem. Sou para beber. Se quiserem chegar à outra margem, andem rio acima até o lugar em que minha água fica rasa. Lá vocês vão conseguir me atravessar – disse o rio.

Eles então atravessariam o rio e chegariam até as garotas, que não quiseram a aproximação deles e estabeleceram uma linha de separação. Os dois grupos viajariam juntos, mas separados por essa linha.

Certo dia, chegaram a uma nascente e tomaram banho no rio. Uma das garotas, muito curiosa, chamou outras duas e elas foram ver o que o outro grupo estava fazendo. Elas foram até o grupo dos rapazes, mas só a que teve a ideia original continuou em frente para espiar o outro grupo, que estava tomando banho e ela notariam que eles não eram iguais a elas.

Quando voltou, as que não ousaram ir em frente começaram a fazer perguntas e no banho ela contaria o que viu e a diferença entre elas e eles.

Depois, retomariam a viagem, assim como o grupo dos homens. Em certo momento, acampariam bem próximos aos outros. Nesse dia, os rapazes começaram a considerar não mais dormir sob o céu. Alguns cavaram buracos no chão e outros a empilhar pedras para construir casas, usando árvores como telhado. Apenas um dos rapazes, que era mais selvagem, não queria viver em uma casa. Preferia entrar furtivamente na casa dos outros e sair furtivamente, em busca de alguém para subjugar e devorar. Não me parece gente boa.

As moças viram os rapazes e se perguntavam o que estavam fazendo. A moça ousada, que tinha ido vê-los no banho, foi adiante checar, querendo-os ver nus novamente. À noite, entrou furtivamente em uma casa e encontrou o homem selvagem. Ele rugiu para ela, que gritou e saiu correndo até as outras, acordando os rapazes. Os dois grupos se encontraram e lutaram, inclusive a moça ousada com o rapaz selvagem.

As moças eram fortes e jogaram os homens no chão e ficaram sobre eles. Então, decidiram checar se a moça ousada tinha mentido para elas e checaram o thabuscht, que se inchou ao toque e depois elas colocaram a thabuscht na taschunt. No começo, elas tinham o domínio, mas com o tempo eles se tornaram mais ativos.

Em seguida, cada rapaz pegou uma das moças e levou para a casa. Só o homem selvagem e a moça ousada não tinham casa e eles ficaram a espreita esperando alguém para devorar. Os outros os acossaram certo dia por conta do comportamento deles, que decidiram ir para longe dos outros. A moça se tornou a primeira bruxa e ele o primeiro leão, ambos vivendo de carne humana. Quanto aos outros, ficaram morando nas casas e comiam das plantas que cresciam no local.

Agora, vou falar sobre o começo da agricultura. O primeiro homem e a primeira mulher ainda viviam debaixo da terra e viram uma pilha de cevada e de trigo e sementes de todas as plantas comestíveis. Um dia, viram uma formiga, que tirou um grão de trigo e o comeu. A mulher pediu para que o homem matasse a formiga, mas ele se recusou e conversou com a formiga, perguntando sobre as sementes.

A formiga explicou sobre a água, as sementes e sobre cozinhar os alimentos e levaria os dois à superfície. Lá, a formiga explicaria sobre como usar as pedras para moer o trigo e sobre como usar a farinha para criar uma massa. Depois, ensinaria a fazer fogo e a cozinhar os alimentos.

Tendo aprendido a fazer isso, pegaram cevada e o trigo, além de pedras de moer, e perambularam pela terra. No caminho, deixaram cair grãos de trigo e cevada.  A chuva caiu e os grãos que estavam no chão enraizaram, cresceram e frutificaram. Chegaram até onde os quarenta nove moças e rapazes estavam e ensinaram a eles a fazer pão.

Os filhos gostaram de comer o pão e quiseram receber os cereais e pegarem um pouco para eles. Seguiram caminho de volta de onde os pais vieram e encontraram os alimentos que brotaram no caminho. Descobriram então como surgem os grãos e se comprometeram a comer metade dos grãos que brotavam e plantar o resto.

Porém, eles jogaram os grãos no chão e eles não brotaram. A formiga então explicou que era necessário esperar a estação certa, após uma longa temporada de calor e após as chuvas, momento ideal para plantarem os grãos. E foi assim que descobriram a agricultura.

Agora, vou falar sobre a origem dos animais de caça. No começo, havia um búfalo selvagem, Itherther, e uma fêmea, Thamuatz. Os dois nasceram no espaço escuro que rodeia a terra chamado de Tlam. Os dois desceram a terra e lá tiveram um filho, que tentou “cobrir” a mãe, que o botou para correr.

O filhote então chegaria aonde estavam os quarenta e nove casais, que tiveram seus filhos, que por sua vez tiveram mais filhos, criando uma vila com várias propriedades. Viram o pequeno búfalo e o perseguiram. Os velhos perguntaram à formiga sobre o que essa criatura era. A formiga então explicaria que ele é o filho da búfala e depois teria que explicar o que é um búfalo em primeiro lugar. Mais importante, diria que a carne deles era boa de comer.

O búfalo se cansaria de ser perseguido e deixaria o país dos homens. Conversaria com a formiga no caminho, que explicaria que ele poderia viver pouco, mas em conforto e sem precisar trabalhar, ou viver muito e precisar trabalhar e se sujeitar a vários riscos, como o mau tempo. Ele preferiu viver muito, voltaria para casa e cobriu a mãe e a irmã que tinha nascido de Itherther e Thamuatz. Itherther ficou furioso e desafiou o pequeno búfalo, que já não era tão pequeno e venceu o pai, o expulsando.

Itherther então vagaria pelo mundo e depositaria seu sêmen em uma depressão. Cinco meses depois, Itherther voltaria ao local e encontraria os outros animais nascido de seu sêmen. Os alimentou e depois, quando cresceram, pediram para que eles se multiplicassem e essa é a origem de todos os animais, exceto do leão, surgido do homem canibal filho do homem e da mulher primordiais.

Voltando ao jovem búfalo, ele teve vários filhos. Certo dia, a neve começou a cair e ele e o rebanho sofreriam. Concluiria então que era melhor viver pouco e na companhia dos humanos do que sofrer dessa maneira. Para acabar com o sofrimento, sugeriu que fossem até os homens, que dariam abrigo e comida para eles. E foi assim que surgiu o gado doméstico.

A última história diz respeito às primeiras ovelhas e carneiros. A primeira mulher estava moendo o trigo e misturou farinha com água e com essa massa moldaria uma ovelha, a deixando em cima da palha que estava no moinho. No dia seguinte, da mesma maneira, moldaria um carneiro, com os chifres torcidos para não machucar os humanos. Quando foi colocar o carneiro sobre a palha, verificou que a ovelha que fez no dia anterior ganhou vida. Passou então a criar ovelhas e carneiros até achar que fez o suficiente.

Ela deu cuscuz para eles, que cresceram e saíram da casa da primeira mulher, que vinha mantendo-os em segredo. Os outros humanos começaram a perguntar o que eles eram e ela disse que eles tinha surgido e que foram criados como eles próprios foram.

As pessoas procuraram a formiga, que explicou sobre a carne e a lã da ovelha e do carneiro e festivais que envolvem os dois animais. Perguntaram como eles eram feitos e a formiga pediu para que conversassem com a primeira mulher. Ela explicou como os fez e eles tentaram replicar, mas ela era uma feiticeira e só ela tinha tal poder.


Os animais criados pela primeira mulher se multiplicaram e, seguindo o conselho da formiga, as pessoas compraram os carneiros e ovelhas da primeira mulher em troca de bens que eles tinham, e assim nasceu o comércio e assim a humanidade obteve os carneiros e ovelhas para usar em seus festivais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário