segunda-feira, 19 de maio de 2014

Conquista Espanhola (#3) - A conquista do México


Na continuação da série sobre América Latina, vou falar sobre a Conquista do México. A fonte de informação é o livro The Penguin History of Latin America. A gameplay é do jogo Expeditions: Conquistador.

As dificuldades que Colombo teve nas suas tentativas de estabelecer colônias nas Américas não forma exclusividade sua. A questão é que houve um choque cultural muito grande de suas civilizações que nunca tiveram contato antes. Os europeus viviam em uma economia monetária usando ouro como moeda e em uma sociedade hierarquizada, enquanto que os nativos viviam em uma economia de subsistência onde o ouro era puramente decorativo. Os europeus não entendiam porque os nativos não queriam trabalhar junto ou para eles e os nativos não entendiam porque os europeus queriam tanto o ouro assim. Para conseguir ouro, os espanhóis precisavam de trabalho nativo e os índios não estavam dispostos a fornecê-lo e esse seria o conflito da colonização espanhola.

Os espanhóis tinham várias vantagens sobre os nativos, como armas melhores, inclusive uma arma biológica não intencional, que eram as doenças que eles levaram para o Novo Mundo e para as quais os nativos não estavam imunizados, e também um desejo maior por cumprir seus objetivos. Mas a “guerra biológica”, por assim dizer, atingiu os dois lados, os espanhóis também sendo vulneráveis a doenças tropicais contra as quais não estavam preparados para lidar. Para piorar, os espanhóis levados ao novo mundo não eram soldados disciplinados, e sim camponeses sem treinamento levados a essa empreitada na esperança de ganho rápido para depois voltarem para a Espanha. Não tinham escrúpulos de usar mão-de-obra indígena forçada, o que tornava os nativos ainda mais vulneráveis a doenças.

Conforme a mão-de-obra ia se tornando escassa, o estímulo para continuar explorando aumentava, e os espanhóis conquistaram Porto Rico em 1508, Jamaica em 1509 e Cuba em 1511, que viraram entrepostos comerciais de ouro, escravos e outras mercadorias. Tierra Firme começou a atrair a atenção dos espanhóis a partir de 1509. O istmo do Panamá foi conquistado em 1509 e a Flórida em 1513.

Para aumentar a mão-de-obra, Ovando usaria o mecanismo de encomienda, onde índios seriam alocados em um assentamento para trabalhar em troca de abrigo, remuneração e ensinamento na fé cristã. A Rainha Isabel continuou não gostando, já que continuava sendo trabalho forçado e porque poderia criar uma casta de senhores feudais no Novo Mundo. Em tese, encomienda era preferível à escravidão porque impunha responsabilidades ao encomendreo, mas não era tão melhor. Mas isso não resolveu nem o problema da falta de mão de obra, nem os abusos dos espanhóis.

Quando o filho de Colombo, Diego, assumiu o governo do Novo Mundo, ele estabeleceria em 1511 a primeira corte criminal em Santo Domingos para tentar coibir os abusos. Um ano antes, quatro missionários dominicanos chegaram na tentativa de ajudar na cristianização do que eles ainda chamavam de Índias.

Em 1512, Fernando II promulgaria a Lei de Burgos, estabelecendo salários justos para os índios e colocando oficiais reais para supervisionar as encomiendas. A coroa também estabeleceria que apenas os índios capturados em guerras justas poderiam ser utilizados como escravos. Isso era definitivo através do Requerimento, um documento declarando a soberania sobre os territórios e delineando os principais elementos da fé cristã. A rejeição desses termos resultava na guerra justa e foi amplamente abusada pelos caçadores de escravos. Após a morte de Fernando II, o regente Cardela Jiménez de Cisneros permitiria a importação de escravos africanos.

Com o tempo, os espanhóis se convenceriam de que não estavam nas Índias e que a tarefa em questão passaria a ser colonizar as terras que encontraram. O objetivo seria agora conquistar a Tierra Firme. Em 1513, uma expedição liderada por Pedrarias Dávilas foi organizada para conquistar a região de istmo da América Central. Em 1519, fundou a cidade do Panamá e prosseguiu a exploração em busca de Birú, um reino mítico que eles esperavam encontrar onde teria tudo que eles procuram.

Entre 1517 e 1518, Diego Velásquez, conquistador de Cuba, enviou expedições para reconhecer as costas da Tierra Firme ao longo do Golfo do México, encontrando indícios de que havia uma rica civilização no interior. Velásquez ordenaria que Hernan Cortés fizesse uma expedição de comércio ao continente, mas, temendo as ambições de Cortés, revogou a ordem. Mesmo assim, Cortés partiu para o interior com uma expedição modesta de 600 homens, 16 cavalos, 14 canhões e 13 mosquetes.

De Cuba, Cortés chegou em Yucatán, onde encontrou Jerónimo de Aguilar, um náufrago que falava maia. Depois encontraria em Tabasco uma mulher chamada Malintzin, que falava nahuatl e maia e que seria intérprete de Cortés. Esses dois seriam essenciais para a campanha de Cortés. Na Sexta-Feira Santa de 1519, Cortés fundaria Veracruz na costa do Golfo do México em uma área sob jurisdição do imperador asteca Montezuma. Alguns dias depois, emissários astecas apareceram com presentes e um amigável pedido para que eles saíssem dali.

Cortés fez o contrário. Mandou todo o ouro que conseguiu reunir para a Espanha, de forma a garantir alguma legitimidade para a sua empreitada, e preparou um ataque contra Tenochtitlán, capital do Império Asteca. No caminho, Cortés descobriria sobre as divisões políticas entre os astecas e seus inimigos externos e planejaria como utilizar isso em seu favor. Em Cempoala, conseguiu o apoio dos Totonacs e dos Tlaxcalans.

Montezuma, por sua vez, combinou diplomacia ritualística com ameaças veladas e ataques surpresas. Não se sabe qual era a sua intenção estratégica ao permitir que os espanhóis entrassem tão profundamente em seu território. Talvez Montezuma tenha entendido errado Cortés, principalmente pela natureza diferente da guerra na América Pré-Hispânica. Guerra geralmente tem como objetivo matar, ocupar e pilhar, mas entre os americanos nativos o objetivo era dominar e submeter, pegando vivos os inimigos para depois sacrificá-los. Mas essa decisão teria consequências negativas para os astecas.

Eventualmente, os espanhóis chegaram na capital do Império Asteca, e se impressionaram com as construções que encontraram e que os levaram a se perguntar se estavam sonhando. Cortés foi convidado a ter uma reunião com Montezuma e, apesar de pensar que poderia ser uma armadilha, ele foi. Mas quem estava preparando uma armadilha era ele.

Cortés e seus homens ficaram semanas hospedados no palácio de Tenochtitlán. Lá pelas tantas, Cortés atacou Montezuma e o fez de refém. Sabendo que seria impossível enfrentar o muito mais numerosos Império Asteca, Cortés queria tentar um golpe de estado. O pretexto era que Montezuma teria ordenado um ataque contra Veracruz.

Tudo ia bem até Veracruz ser atacada, mas não pelos astecas, e sim pelos espanhóis liderados por Pánfilo Narváez com ordens de punir Cortés. Acreditando que só ele poderia lidar com essa situação, Cortés voltou para Veracruz, deixando um de seus comandantes, Pedro de Alvarado, responsável por Montezuma. Alvarado ficou alarmado com os rumores de que os astecas atacariam os espanhóis e ordenou um ataque preventivo contra astecas em reunidos em uma cerimônia religiosa, o que resultou em um massacre que ultrajou os astecas e iniciou uma rebelião.

Cortés lidou admiravelmente com a situação e convenceu os espanhóis que vieram enfrenta-lo a se juntar a ele contra os astecas, mas na volta encontrou uma Tenochtitlán beligerante. Cortés ainda mantinha preso Montezuma, mas não o imperador, cargo que é escolhido por eleição, e não hereditariedade. Montezuma morreria logo após o retorno de Cortés, o que minou a sua estratégia de conquista e tornou uma saída de Tenochtitlán inevitável, o que ocorreria no final de junho de 1520.

Só restou a Cortés um ataque direto contra os astecas. Cortés reuniria reforços entre os espanhóis e os índios, e o maior reforços seria a varíola, trazida de soldados de Narváez e que vitimou o novo imperador, Cuitláhuac, que seria sucedido por Cuauhtémoc, que já não nutria ilusões quanto aos espanhóis.

Em abril de 1521, Cortés reiniciaria a ofensiva contra os astecas. O primeiro ataque frontal foi uma falha, apesar de quase ter tomado o templo central. Cortés mudaria de tática e seria mais gradual, tentando tomar prédio por prédio já que o labirinto da cidade anulava a vantagem do uso de cavalos. Bloquear a linha de suprimentos para a cidade também foi um passo importante para uma guerra desgastante. Em 13 de agosto, os espanhóis capturaram o imperador Cuauhtémoc. Ansioso por poder recompensar seus soldados com tesouros, Cortés torturou Cuauhtémoc e o obrigou a contar onde ele mantinha os tesouros tomados dos espanhóis após a retirada do ano passado.

Com a vitória militar, Cortés passou a reconstruir a cidade e consolidar o domínio espanhol sobre os astecas e teve sucesso em trazer os astecas para o seu lado. Carlos V o recompensaria com propriedades, o direito de receber tributos dos nativos e o título de Marquês do Vale do Oaxaca. Além disso, ele seria o governadora da Nova Espanha, como os territórios seriam chamados por alguns.

Essas vitórias de Cortés suscitaram inveja e suspeita na Espanha. Em 1527, Cortés foi removido do cargo de governador, uma audiência tomou conta do governo e Cortés teve que voltar para a Espanha para se defender. Seu sucessor seria Nuño de Guzman, que recrudesceria o tratamento dispensado aos índios e em 1530 uma nova audiência assumiria para reestabelecer a ordem. Em 1535, seria criado o vice-reinado da Nova Espanha, que seria entregue para Antonio de Mendoza, um reputado administrador do Império Espanhol.


A vitória de Cortés aumentaria as expectativas da Espanha de explorar o Novo Mundo e estimularia outras pessoas a tentarem a sorte e conseguir novas conquistas. Cortés, de volta à Nova Espanha, partiria em novas expedições e chegaria até a Califórnia. Cristóbal de Olid, um dos capitães de Cortés, liderou uma expedição para a conquista de Honduras fazendo um acordo com Diego Velásquez, inimigo de Cortés, que iria atrás de Olid para tirar satisfações, mas Olid morreu antes que Cortés o encontrasse. A expedição acabou sendo inútil, já que nenhum novo reino ou veios de ouro foram encontrados. Pedro de Alvarado passaria dez anos em conquistas na Guatemala e El Salvador, sem encontrar nada próximo do que foi o império asteca. 

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