domingo, 18 de maio de 2014

Mitologia Iorubá


Sobre a Nigéria, vou falar sobre mitologia ioruba, um dos principais grupos étnicos da Nigéria. Como fonte de informação, o livro African Myths of Origin. Como gameplay, jogos dos sites nigerianos Kuluya e Maliyo.

Os iorubas são um dos maiores grupos etnolinguísticos da África, sendo a etnia majoritária na Nigéria, e se espalhou para além da África através da escravidão. O ponto de origem dos iorubas está na cidade de Ile-ife e a maior parte da história oral e documental estabelece 1500 como o início dos iorubas.

A cultura ioruba nunca foi unitária. Embora haja língua e costumes em comum, os povos eram divididos pela geografia, sistemas políticos e práticas religiosas. Um dos principais fatores de unificação é o sistema de divinação Ifa na qual o babalaô (o divinador Ifa) lê o futuro jogando búzios. Os demais aspectos são bem fragmentados e existem várias histórias sobre um mesmo assunto, nem todas fazendo sentido entre si.

Os iorubas têm muitas divindades, ou orixás, como eles chamam, sendo Olorun, Deus-Céu, o principal deles. Ele é conhecido por vários nomes e atributos, como Eleda, o Criador, Alaye, o dono da vida e Olodumare, o todo poderoso. Aqui, vou chamar todas essas manifestações de Olorun.

Acreditava-se que Olorun tinha uma consorte chamada Ododua, conhecida como Mãe da Cabaça. Isso é o que consta no livro “African Myths of Origin”, mas no “A Dictionary of African Mythology: The Mythmaker as Storyteller”, consta que Ododua era esposa de Obatala, do qual falarei depois. Enfim, os dois (Ododua e Oloru ou Ododua e Obatala) faziam um todo que envolviam o mundo encaixados como uma tigela e a tampa. Mas Ododua não concordava com essa situação, já que, sendo a parte de baixo, ela não enxergava nada. Ododua reclamou, e reclamou tanto que Olorun a cegou arrancando seus olhos. Ela respondeu o amaldiçoando dizendo que ele só comeria lesmas de agora em diante e por isso que lesmas são a oferenda apropriada para Olorun.

Eles tiveram um casal de filhos que tiveram um filho chamado Orugan, que se forçou em sua mãe, que fugiu. Orugan a perseguiu até que ela tropeçasse. No que caiu, se transformou. Seus seios viraram rios e de outras partes de seu corpo surgiram os orixás, como Shango, o orixá do trovão, e suas esposas, Oya, Oshun e Oba que são rios, Olokun, orixá do oceano, Ogun orixá dos ferreiros, caçadores e guerreiros. Isso aconteceu em Ife.

Outra história de origem dos orixás diz que eles derivaram do grande Orixá, que foi morto e seu corpo quebrado em peças por um escravo que ele mantinha como cozinheiro. Muitos fragmentos forma reunidos por Orunmila, orixá de Ifá, e mantidos na cidade de Ifé. Mas ela não conseguiu reunir todos e orixás menores surgiram desses fragmentos.

A próxima história é sobre o mito da criação do mundo. E aqui, de novo, o livro “African Myths of Origin” é um tanto inconsistente. O próprio livro alerta que a história da criação do mundo pode ter tanto Obatala quanto Odoua, como uma forma masculina, podem ser os protagonistas. Mas a parte esquisita começa com a colocação no tempo de “após Olorun criar os orixás”, e não foi bem isso que eu entendi da criação dos orixás. Mas enfim, após Olorun criar os orixás, eles passaram a viver no céu. Abaixo, havia apenas o mar. Após algum tempo, Obatala se cansou de ficar olhando para as águas cinzentas e perguntou a Olorun se era possível criar variedade para o que havia abaixo. Olorun respondeu que, se era esse o seu desejo, que ele o fizesse.

Obatala foi à Orunmila, pedindo que lesse os sinais e contasse o que seria necessário para a tarefa. Orunmila jogou sementes de dendezeiro, ele leu os sinais, cantou os versos e disse que Obatala iria cumprir a tarefa, mas precisaria de alguns itens. Ele precisava de uma cumprida corrente de ouro, uma casca de caracol, uma galinha, semente de dendezeiro e um gato.

Obatala passou algum tempo coletando ouro dos outros orixás e então levou o ouro para o ferreiro, que forjou a corrente com o ouro. Com a corrente, ele desceu o máximo que pôde até as águas. Jogou a casca do caracol na água, onde lá ficou e passou a multiplicar até cobri as águas. Obatala então jogou a galinha, que começou a remexer na areia criando colinas e vales. Depois, desceu até a terra e plantou a semente de dendezeiro, que imediatamente cresceu totalmente. E Obatala viveu debaixo da árvore, que é conhecida como Ifé. E o gato? Vai bem, obrigado por perguntar. Quer dizer, o gato ficou vivendo com Obatala.

Obatala então passou a fazer figuras de argila, depois soprando vida nelas. Essas figuras de tornariam pessoas que povoariam a terra criada por Obatala. Outros orixás desceriam dos céus e se juntariam a ele. Olorun então criou o sol e a lua e deu lua para os dois.

O sol deixou Obatala com sede e ele bebeu da seiva da palmeira. Ele ficou bêbado com a seiva e algumas das figuras que ele criou ficaram deformadas ou incompletas. Ele adormeceu e, quando acordou, viu o que tinha feito e se arrependeu. Prometeu nunca mais beber da seiva e se tornou protetor das crianças de sua bebedeira.

Uma versão alternativa para a criação do mundo com Obatala, contada no livro “A Dictionary of African Mythology: The Mythmaker as Storyteller” era a de que ele foi convocado a criar o mundo por Olodumare, a manifestação de criador do Deus Supremo da Mitologia Yorubá. Ele teria levado uma galinha de cinco dedos, um pombo e uma cabaça com terra. Ele jogou a terra e depois soltou o pombo e a galinha, que espalhariam a terra. Obatala então retornaria para Olodumare para anunciar o seu sucesso. Olodumare mandaria um camaleão para examinar a situação e receberia a confirmação da criação do mundo. A próxima tarefa seria a criação do homem. Aqui, o mito é parecido com a versão anterior, com o acréscimo de que o trapaceiro Esu teria embebedado Obatala por inveja de seu sucesso. Olodumare via que Obatala não estava fazendo seu trabalho e mandou Odoua (na forma masculina) para terminar o trabalho. Odoua criaria a sua própria raça de homens, povoaria o mundo e colocaria os homens sob sua liderança. Obatala acordou, viu que foi substituído e começou um conflito com Odoua.

Há outra versão da criação do mundo, a de que Odoua criou o mundo. O começo é o mesmo, com os orixás vivendo no céu com apenas mar abaixo deles. Os orixás queriam criar alguma coisa e consultaram Orunmila após permissão de Orolun. Orunmila sugeriu que os orixás enchessem de areia a casca de um caracol e que encontrassem cinco galinhas com cinco dedos. Obatala e Odoua foram escolhidos para criar o mundo e partiram para encontrar um caminho para descer dos céus. No caminho, eles encontraram uma árvore de palmeira. Obatala bebeu da seiva, se embebedou e adormeceu.

Odoua invejava Obatala pelo seu papel primordial no processo de criação. Enquanto Obatala dormia, Ondua pegou os itens necessários e prosseguiu por conta própria. Chegando perto das águas, jogou a areia e depois soltou as galinhas. A areia se espalhou e cobriu as águas e as galinhas ficaram sob a areia, ciscaram e criaram colinas. O local central onde Ondua e as galinhas primeiro vieram à terra é a árvore Ife e Ondua se proclamou rei desta terra. E é porque Ondua usurpou o papel de Obatala que o mundo conheceu guerras e outras catástrofes.

No livro “A Dictionary of African Mythology: The Mythmaker as Storyteller”, outra história de criação. A terra e o céu costumavam ser mais próximos, mas os humanos irritaram Orolun ao usar o céu como comida e limpar suas mãos nele. Orolun então separou mais céu e terra e governaria o mundo à distância. Para criar a terra sólida, Orolun convocaria Obatala para fazer o serviço. Ele deu terra em uma casca de caracol e uma galinha e pombo. O resto segue igual à outra história de Obatala, com o acréscimo de que, depois de criar a terra, Obatala levaria Orunmila para equipá-la. Orunmila deu a árvore de palmeira que serviria de alimento, bebida, óleo e abrigo. Daria outras árvores que serviriam de bebida, já que não existia chuva. Já havia humanos, mas não em grande número, então Obatala criava um molde sem vida e Orolun sopraria vida neles.

Origem da adivinhação ifá
Para terminar, duas origens para a adivinhação ifá, que inclui jogar búzios. No começo, havia poucos humanos fazendo sacrifícios para os orixás, o que os deixavam com fome. Ifá então partiria para procurar comida e encontrou Exú, que contaria que se tivesse dezesseis sementes de dendezeiro poderia mostrar a Ifa como ler o futuro. Ifá pediria para Orungan, o primeiro humano, e sua esposa, Orishabi, pelas sementes e eles concederiam à Ifá.


Em outra história, o homem que descobriria a adivinhação é um homem chamado Setilu, que nasceu cego. Com o tempo, ele foi mostrando uma enorme capacidade de adivinhação sobre quem iria visitar a família e depois para eventos maiores. Ele usava dezesseis seixos em sua adivinhação. Ele teria sido expulso pelos muçulmanos e ido para a cidade de Ifé, onde congregaria seguidores, para os quais ensinaria as suas práticas. Com o tempo, passaria a usar sementes de dendezeiro no lugar de seixos.

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