terça-feira, 20 de maio de 2014

Conquista Espanhola (#4) - Conquista do Peru


Na continuação da série sobre América Latina, vou falar sobre a Conquista do Peru. A fonte de informação é o livro The Penguin History of Latin America. A gameplay é do jogo Expeditions: Conquistador.

Francisco Pizarro e Diego de Almagro receberiam do governador de Castilla del Oro, Pedro Dávila, a permissão de explorar a América do Sul enquanto Dávila estava mais ocupado mais ao norte, esperando encontrar uma nova civilização mais perto de onde Cortés encontrou os astecas.

Pizarro e Almagro esperavam encontrar a lendária terra de Birú, onde haveria um grande estoque de ouro. Uma primeira expedição em 1524 fracassaria, mas uma segunda em 1527 chegaria até Tumbes, no nordeste do Peru, trazendo de lá itens de ouro e prata que indicariam uma grande civilização. Em 1528, Pizarro enviaria um pedido à Espanha para conquistar e depois explorar o Peru independente de Pedro Ávila. Na volta, trouxe um grande número de reforços, que se juntariam àqueles recrutados por Almagro na colônia do Panamá.

Tanto Pizarro quanto Almagro eram conquistadores experientes na casa dos 50 anos, uma idade avançada para a época, ainda mais na atividade deles. Pizarro tinha participado de várias expedições antes, incluindo aquela que descobriria o Oceano Pacífico em 1513 liderada por Vasco Nuñes Balboa. E, ao contrário de Cortés, era um homem chucro e semiletrado. Almagro não era muito melhor nesse sentido. E a parceria estremeceu depois da volta de Pizarro da Espanha, Pizarro conseguindo para si o título de Governador e Capitão-Geral do Peru, enquanto Almagro ficaria com o governo da cidade de Tumbes. Apesar disso, eles continuaram a parceria, mas o ressentimento permaneceria e explodiria mais para frente.

Em 1530, Pizarro lançaria a expedição, com 180 homens e 27 cavalos. Desembarcou na costa do Equador e começou marcha até Tumbes, que seria acidentada por doenças e ataques de índios. Chegando em Tumbes, descobriram que o Império Inca estava em convulsão interna provocada pela morte do imperador pela varíola trazida pelos espanhóis. A disputa pela sucessão envolvia Huascar, filho do antigo imperador, e Atahuallpa, meio-irmão dele que iniciou a rebelião. Quando Pizarro chegou, Atahuallpa estava a caminho da cidade sagrada de Cuzco, onde suas tropas mantinham Huascar prisioneiro.

Pizarro descobriria que Atahuallpa estava em Cajamarca, uma cidade que estava abandonada por conta da guerra civil. Pizarro então iria atrás de Atahuallpa para captura-lo como Cortés havia feito com Montezuma. Em novembro de 1530, Pizarro chegou em Atahuallpa e lá se acomodou, convidando Atahuallpa para um encontro. Os emissários espanhóis tentaram impressionar os incas com cavalos, o que deve ter dado certo, já que cavalos eram desconhecidos pelos nativos.

Atahuallpa chegou em Cajamarca com 80 nobres escoltados por 6 mil soldados. Ele entrou na cidade, mas não encontrou ninguém, vendo nisso um sinal de medo por parte dos espanhóis. Até que apareceu o padre Vicente de Valverde, que leu o Requerimento para Atahuallpa, estabelecendo a soberania da coroa espanhola e o ensino do cristianismo. Atahuallpa, obviamente, rejeitou e mandou atacar. Mas já tinha caído na armadilha, com os espanhóis atacando de canhões instalados nos prédios e com cavalos que estava ocultos. Com poucas centenas de homens, Pizarro destruiu um exército bem superior de incas.

Atahuallpa além de subestimar os espanhóis, entendeu errado as suas intenções. Ele não imaginava que os espanhóis queriam dominar o Império, pensava que eles estavam meramente atrás de ouro. Por isso, ofereceu uma grande quantia de ouro aos espanhóis a título de resgate, aceita de bom grado por Pizarro. No cativeiro, Atahuallpa ordenaria a execução de Huascar, para que ele não aproveitasse a situação para tomar o poder.

Os espanhóis esperaram oito meses pelo resgate. Em Cajamarca, eles estavam em uma situação delicada, vulneráveis a ataques dos incas caso eles decidissem agir. Para reduzir as forças incas, Pizarro persuadiu que um dos generais, Chalcuchima, visitasse o imperador cativo e fez dele prisioneiro também, enfraquecendo ainda mais a estrutura de poder dos incas.

O resgate chegou, mas Atahuallpa não foi libertado. No planejamento do ataque à Cuzco, Pizarro e Almagro discutiam sobre o que fazer com o imperador, até que Pizarro finalmente se convenceu a estrangulá-lo (a discussão era sobre se matava ou não, e não sobre o método de execução). Essa decisão repercutiria muito mal até na Coroa Espanhola, que exigia alguns parâmetros éticos mínimos e preferiria que Atahuallpa fosse exilado.

Na conquista de Cuzco, Pizarro usou a estratégia do “dividir e conquistar”, valendo-se da disputa pelo poder que eclodiu em Cuzco após a morte de Atahuallpa. A família de Huascar se aliou aos espanhóis e pretendiam recuperar o poder que foi usurpado deles. Pizarro se apresentaria como o restaurador da legítima linha de sucessão aos nativos e com isso esperava obter apoio de uma das facções em guerra. Ele fez com que um dos irmãos de Huascar, Tupcac Huallpa, fosse escolhido imperador e assim ele chegasse em Cuzco como um libertador.

Mas a estratégia deu errado quando o novo imperador morreu. No caminho até Cuzco, Pizarro teve que enfrentar os incas em batalha aberta. Mas um novo imperador fantoche foi escolhido (Manco Inca, irmão do falecido) e Pizarro conseguiu vencer as tropas incas do outro lado da guerra civil que estava contra ele. Em novembro de 1533, Pizarro chegou em Cuzco e iniciou a pilhagem que tanto ansiava.

Mas a conquista ainda não estava completa. Faltava capturar Quito, cidade natal de Atahuallpa e de onde vinha a maior parte da resistência. Ao sul, restava territórios que hoje fazem parte da Bolívia e do Chile. Havia ainda questões a resolver, como a dominação completa de Cuzco e as divergências entre Pizarro e Almagro, este se ressentindo do tratamento preferencial dos irmãos de Pizarro e por não ter recebido a sua parte do resgate de Atahuallpa.

A conquista das províncias do norte de Quito foi feita por um dos tenentes de Pizarro, Sebastián de Benalcázar, que teve que disputar território com outros conquistadores espanhóis como Pedro de Alvarado. Os dois exércitos espanhóis entraram em conflito, até que Alvarado aceitasse recuar após receber um pagamento em ouro de Almagro. Em seguida, Benalcázar e Almagro prosseguiriam com a conquista de Quito, derrotando os aliados remanescentes de Atahuallpa.

Enquanto isso, Pizarro consolidava o domínio espanhol sobre o Império Inca. Ele construiria uma nova capital, já que Cuzco era muito longe da costa e muito alta e essa capital ficaria próxima da boca do Rio Rimac. Pizarro chamaria de Cidade dos Reis, mas logo passou a ser chamada de Lima, uma corruptela de Rimac.

Cuzco seria a principal fonte de distensões entre Pizarro e Almagro. O imperador Carlos V estabeleceria que Pizarro governaria os territórios do norte e Almagro os do sul, mas nada disse sobre Cuzco. Pizarro convenceria Almagro a ir explorar os territórios ao sul, Bolívia e Chile, mas o resultado da expedição que durou dois anos foi um desaste. Apesar de atravessar o frio dos Andes e o calor do Atacama lutando contra os índios pelo caminho, Almagro não encontrou as riquezas que estava buscando. Com isso, voltaram para o Peru querendo ainda mais Cuzco e passaram a ser inimigos declarados dos irmãos Pizarro.

Gonzalo e Juan Pizarro ficaram encarregados de cuidar de Cuzco, mas essa foi uma administração desastrosa. Os espanhóis continuaram pilhando Cuzco e convenceu o imperador fantoche Manco Inca de que os espanhóis não sairiam tão cedo, o que iniciou uma rebelião, que se espalhou por toda a região. Cuzco estava cercada com apenas 190 espanhóis e Lima também estava sob ataque. Sob o comando de Hernando Pizarro, os espanhóis resistiram como pode. Francisco Pizarro pediu reforços do Panamá, que vieram e salvaram Lima. Cuzco só seria salva de vez com a volta dos homens de Almagro, que aproveitaram para prender os irmãos Pizarro que estavam na cidade antes de ir atrás de Francisco. O Peru estava novamente em guerra civil, dessa vez entre espanhóis. Mas essa guerra civil não durou muito. Hernando Pizarro invadiria Cuzco e derrotaria os homens de Almagro e capturaria o próprio, que seria executado pouco tempo depois.

Os Pizarros eram agora os mestres do Peru, mas tinham que lidar com os seguidores de Almagro que restaram e os incas liderados por Manco. Além disso, invasores entraram no Peru atrás de ouro e a Coroa Espanhola também mostrava insatisfação com a maneira como a conquista estava sendo feita. Quando voltou para a Espanha levando ouro, Hernando Pizarro seria preso por causa da morte de Almagro. Francisco Pizarro teria pior sorte, sendo assassinado por almagristas em 1541, que proclamariam Diego Almagro como governador do Peru.

Mais uma guerra civil para o Peru, dessa vez, prontamente solucionado pela Coroa, que enviou Cristóbal Vaca de Castro com apoiadores de Pizarro para derrubar os almagristas, o que ocorreria em setembro de 1542. Dois anos depois e nova revolta, dessa vez contra o vice-rei Blasco Nuñez Vela, derrubado por Gonzalo Pizarro, que se proclamaria governador do Peru. Os irmãos Pizarros ainda tentariam a independência da Espanha proclamando Gonzalo Rei do Peru. A Coroa agiu enviando Pedro de la Gasca para enfrentar os pizarristas, os derrotando em abril de 1548 e executando Gonzalo Pizarro por traição. Isso começou um período de paz no Peru.


Mas seria ainda necessário lidar com a revolta dos incas. Manco Inca fundou um novo estado inca independente em Vilcabamba entre Cuzco e Lima, de onde ele lançava ataques contra os espanhóis até 1545, quando foi morto por almagristas. Seu sucessor, Titu Cusi foi mais comedido e procurou manter relações com os espanhóis, permitindo o batismo e a pregação do cristianismo. Mas essa experiência não duraria muito tempo e os espanhóis destruiriam esse estado neo-inca no coração de seu território e estabelecer a soberania na região. O sucessor de Titu Cusi, morto em 1571, possivelmente envenenado pelos espanhóis, seria Tupac Amaru, que acabou com a política de apaziguamento e romperia relações com os espanhóis. Isso daria ao vice-rei Francisco de Toledo o pretexto para liquidar com o estado neo-inca e em 1572 Tupac Amaru seria executado.

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