quarta-feira, 2 de julho de 2014

Crime e Castigo - Parte 1



Sobre Rússia, vou falar sobre uma das principais obras da literatura russa e mundial, Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski. A gameplay será do jogo Crime and Punishment: Who Framed Raskolnikov? Pretendo fazer uma série desse jogo e vou falar sobre o livro nessa série, primeiro com um resumo do enredo e depois se houver tempo, ou seja, se o jogo não acabar antes, falo sobre algumas análises que são feitas do livro, minha opinião, obras baseadas no livro, etc. Nesse vídeo, falo sobre a primeira parte do livro e seus sete capítulos.

O livro conta a história de Rodion Românovitch Raskólhnikov, chamado por pessoas próximas de Rodka e de Raskólnikov pelo narrador. Ele é um estudante, embora ele mesmo conteste que possa ser chamado assim, é pobre, mal vestido e tem um comportamento meio estranho, entre o deprimido e o louco. É antissocial e uma companhia desagradável, embora fosse bastante generoso, mesmo que não pudesse, e mesmo sem pensar muito, como veremos mais para frente. Ele é muito dado a falar consigo mesmo, às vezes até em voz alta, e em vários momentos do livro vemos discussões internas de Raskólhnikov. O nome deriva da palavra raskol, que significa cisão, simbolizando o conflito interno do protagonista do livro.

No primeiro capítulo, ele vai visitar uma velha usurária, Alíona Ivânovna, para levar um objeto para ser penhorado e para coloca-la a par dos empréstimos anteriores. Ele leva um objeto de pouco valor, mas promete nos próximos dias levar algo mais valioso.

No caminho de ida e de volta até a casa de Alíona Ivânovna, Raskólhnikov vai tramando alguma coisa e aparentemente usa essa viagem para acertar os detalhes de seu plano. Obviamente que o narrador não entrega que plano é esse, mas descobriremos nos próximos capítulos. Na casa da usurária, ele prestou especial atenção ao modo como ela organizava as suas chaves e onde guardava o dinheiro.

Ao final de sua ida à casa de Alíona Ivânovna, foi a uma taverna. Lá, já no capítulo dois, encontraria um homem, Marmieladóv, apelido de Siemion Zakháritch. Totalmente bêbado, ele contaria a sua história para Raskólhnikov e para quem quisesse ouvir. Ele conta a sua própria história e de sua mulher, Ekaterina Ivânovna, que não tem nada a ver com a usurária Alíona Ivânovna. Ele conta que a mulher apanhou de um tal de Liebiesiátnikov. Ekaterina era uma mulher de uma família com um pouco mais de posses, bem-educada, mas que padecia da pobreza junto com o marido. Ela é uma mulher destemida, irascível e orgulhosa, e gosta de se pavonear do passado glorioso, apesar da má situação socioeconômica do presente.

Ela ama o marido, mas é rigoroso com ele e não poderia ser diferente. Marmieladóv é um alcoólatra que vende os bens da família, inclusive de Ekaterina, para poder comprar bebida. Na época, o alcoolismo era um problema crônico na Rússia. Bom, hoje não deve ser muito diferente, mas no livro isso é retratado como um problema social grave, o que é ilustrado no caso de Marmieladóv. Ele diz que bebe para sofrer, o que é a desculpa de bêbado mais esfarrapada que eu já vi.

O casal tem três filhos pequenos e Ekaterina trabalha para ajudar a sustentar a família, porém, sofre com uma doença que pode ser tuberculose. Ela trabalhava na casa de Liebiesiátnikov de quem apanharia. Ekaterina tinha casado anteriormente e havia fugido de casa com o antigo marido. O primeiro marido dela era um oficial do exército, se envolveria com jogo, ficaria louco e morreria. Não foi um casamento muito feliz, ele batia em Ekaterina, que, mesmo assim, lembra com saudades do marido. Depois de viúva, teve dificuldades, pois tinha três filhos pequenos e passou a ser desprezada pela família.

Marmieladóv também era viúvo e tinha uma filha de quatorze anos quando encontrou Ekaterina. Ele propôs o casamento ao ver a sua situação, que realmente parecia ruim já que ela aceitou se casar com alguém de status tão inferior ao que estava acostumada. Ele tinha um emprego, mas foi demitido, e daí que passou a se entregar à bebida. Mudou de cidade, achou um novo emprego, mas voltou a perde-lo. Da primeira vez, diz ele, não era culpa da bebida, mas na segunda “o demônio o tentou”, em suas palavras. (8)

Depois, Marmieladóv passa a contar a história de sua filha, Sônia. Devido à sua condição, não pôde dar uma educação muito boa para a filha. Ela tentou trabalhar com confecção, mas fez um trabalho e não foi paga por isso. A família passava por necessidade e Ekaterina daria uma sugestão para Sônia, que primeiro a ultrajou, mas não havia muita opção. Ela saiu de casa e voltou só à noite, com trinta rublos. Nem preciso dizer qual profissão ela passou a seguir.

Sônia não vivia mais junto com o pai, pois foi denunciada e obrigada a se matricular. Não tenho muito conhecimento sobre como isso funciona e não estou muito interessado, mas o fato é que Sônia passou a viver fora de casa, mas seguiria trabalhando para ajudar a família.

Marmieladóv ganharia um novo emprego. Todos ficaram feliz, Ekaterina preparou um belo café da manhã, ela daria a notícia orgulhosamente à locatária do apartamento deles, mas... Marmieladóv estragaria tudo. Ou melhor, estava estragando tudo, pois saiu de casa, pegou o seu salário e depois foi para a taverna gastá-lo e continua fazendo. Desde que saiu de casa da primeira vez, não tinha voltado mais. Não só isso, foi até Sônia pedir mais dinheiro para beber.

Marmieladóv definitivamente não parece feliz com essa situação. Ele diz que bebe para sofrer mais e se arrepende de ter feito o que fez, mas o “demônio” é mais forte do que ele. Essa é uma história realmente triste, a de Marmieladóv e sua família.

Raskólhnikov então leva Marmieladóv de volta para casa. Lá, encontraram Ekaterina Ivânovna. Alguém poderia imaginar que ela o recebeu com um escândalo, o xingando, batendo, e puxando pelos cabelos. É, pois foi exatamente o que aconteceu. Ekaterina acusou Raskólhnikov de ajuda-lo a se embebedar. O protagonista do livro deixa Marmieladóv e sua família, mas não sem antes dar o dinheiro que tinha no bolso com Ekaterina, logo depois se arrependendo disso.

O capítulo três contaria a história de outros personagens, depois do capítulo anterior contar a de Marmieladóv. Raskólhnikov recebe em seu apartamento uma carta. É de sua mãe, Pulhiéria Raskólhnikova. Fazia um tempo que ele não recebia cartas da mãe e ele dependia de dinheiro que ela enviava para ele para se manter. A mãe recebia uma pensão pela morte de seu marido. Não era muito, mas é o que eles tinham.

A carta conta a história da mãe, mas também da irmã de Raskólhnikov, Avdótia Românovna Raskólhnikova, o nome sendo abreviado como Dúnia. Ela trabalhava como governanta na casa de um homem chamado Svidrigáilov. Ele tratava Dúnia com indiferença e até com desprezo, ao contrário da esposa, Marfa Pietrovna. Acontecia que ele estava interessado em Dúnia e em certo momento começaria a fazer investidas, prometendo-lhe várias coisas inclusive morar em outro país com ela. Marfa Pietrovna flagrou o marido dando em cima de Dúnia, e, claro, pensou que era culpa da garota, bateu nela e a pôs para correr.

Além de perder o emprego, Dúnia ficou malvista entre as pessoas da cidade, o que se aplicava também à mãe de Raskólhnikov. Inclusive, untaram de pez a porta da casa deles, o que significava que a moça tinha perdido a virgindade. Tudo obra de Marfa Pietrovna, que estava difamando Dúnia e espalhando boatos sobre ela.

Isso durou até o próprio Svidrigáilov provar que Dúnia não tinha culpa alguma. Depois, Marfa Pietrovna pediu perdão para Dúnia e passou a buscar reabilitar o nome da garota, falando com todo mundo sobre ela agora nos melhores termos possíveis e falando mal do marido. Esse episódio renderia a Dúnia um noivo, Piotr Pietróvitch Lújin, parente de Marfa Pietrovna e que se interessou pelo caso. Ele logo chegou pedindo a mão de Dúnia. Ele tinha quarenta e cinco anos, tinha posses, um bom nome. Dúnia hesitou, pensou muito, rezou, mas no final acabou concordando. Embora soubesse que não o amava, acreditava que isso podia mudar e que ela podia ser feliz com Lújin e se entusiasmou com a ideia.

Isso poderia inclusive ser bom para Raskólhnikov, já que Lújin era advogado e ele estudava direito. Mas isso estava no campo das especulações, assim como a esperança da mãe de Raskólhnikov de ir morar com o casal depois do casamento. Elas não tinham conversado sobre isso com o futuro marido de Dúnia. No final da carta, diz que pretende em breve visita-lo, junto com Dúnia, e apresentar Lújin a ele.

A leitura da carta afetou profundamente Raskólhnikov gerando várias reações, de lágrimas, até agitação e palidez. Ele saiu de casa extremamente perturbado, seguindo a esmo pelas ruas de Petersburgo.

No capítulo quatro, descobrimos o que incomodou Raskólhnikov. Ele não gostou nada desse casamento, principalmente por não ter sido consultado, e promete a si mesmo fazer de tudo para impedir que ele se realize. O incomoda a ideia de que Dúnia está fazendo isso também por ele, como um sacrifício para o bem-estar dele. Raskólhnikov não queria esse tipo de ajuda.

Enquanto seguia por ai, encontrou uma moça, que parecia embriagada. Um homem chegou perto e falou com ela, mas Raskólhnikov chegou e o afastou. O chamou de Svidrigáilov, mas não devia ser ele, já que Raskólhnikov nem o conhece. Um guarda aparece e aparta a briga que estava começando. Raskólhnikov dá dinheiro para o guarda para que arranje um meio de levar a garota para casa. Mas ela não queria isso. Outros homens chegaram tentando alguma coisa, e ele os repele.

Em seus pensamentos, Raskólhnikov havia comparado a situação de Dúnia com a de Sônia, ambas se sacrificando por algo e se questionava se Dúnia não estava em situação pior do que a de Sônia. E a ajuda à garota estranha parece fazer um triângulo entre as três situações, entre a sua contrariedade com o casamento de Dúnia e a sua solidariedade com Sônia e a moça estranha.

Depois, ia andando pelas ruas quando se sentiu mal e acabou adormecendo na rua mesmo, em um gramado afastado das vias principais. No capítulo cinco, vemos um sonho de Raskólhnikov recapitulando um certo evento de sua vida. Lembra de um episódio em que uma égua era forçada ao limite por seu dono, até que morresse de cansaço, com várias pessoas apoiando o dono e sadicamente assistindo ao sofrimento da égua. Essa é uma cena até bastante chocante.

Quando acorda, Raskólhnikov começa a balbuciar algumas palavras sobre abrir a cabeça com a machada, escorregar no sangue, quebrar a fechadura e outras possibilidades. Aqui já fica claro para o leitor atento o que Raskólhnikov trama, o que também é um choque, porque, apesar de ser um cara estranho, não parecia ser uma pessoa má.

Na volta, encontrou a irmã de Alíona Ivânovna no mercado, ela se chama Lisavieta. Ele ouviu a conversa dela, onde dizia que ficaria até tarde fora de casa no dia seguinte. Logo, a velha ficaria sozinha amanhã. E aqui o narrador é mais explícito, e declara que o plano de Raskólhnikov é de assassinar a usurária.

No capítulo seis, ficamos sabendo mais sobre as inspirações de Raskólhnikov. A feliz coincidência de que Alíona Ivânovna ficaria sozinha no período em que pretendia mata-la foi visto como um bom sinal por Raskólhnikov, assim como outra coincidência no passado. Ele tinha recebido o endereço da velha usuária de um amigo, para o caso dele precisar de dinheiro. Um dia, precisou recorrer a ela, e adquiriu uma imensa antipatia por Alíona Ivânovna na sua primeira visita. Depois foi para uma taverna.

Lá, ele ouve uma conversa de estudantes justamente sobre Alíona Ivânovna. Lá pelas tantas, um deles sugere que ela deveria morrer e seu dinheiro pego para fazer boas ações. Por uma questão de mera aritmética, em seu raciocínio, podemos sacrificar uma vida em prol de mil vidas. Se essa vida for de um ser desprezível como Alíona Ivânovna, tanto melhor. Isso não seria um crime, e sim uma boa ação que beneficiaria muita gente.

O outro estudante parecia falar sério, mas não se sabe se ele iria avançar nessa ideia. Raskólhnikov, por outro lado, gostou da ideia e passou a tramar o assassinato da usurária. Ainda no capítulo seis, Raskólhnikov começou a pôr o seu plano em ação. Ele pretendia usar uma machada para assassinar Alíona Ivânovna e essa machada seria de sua senhoria. Ela estava trabalhando na cozinha, mas pouco tempo depois sairia, permitindo que Raskólhnikov a pegasse. Ele considerou ser esse mais um sinal de que o destino conspirava a favor de seu plano.

Ele escondeu a machada em seu casaco com um mecanismo bem sofisticado que vinha praticando desde que se decidiu por esse plano. Conseguiu entrar no prédio onde a usurária morava sem ser detectado e sem se encontrar com ninguém no caminho. Alguns pintores trabalhavam em um dos andares, mas isso não colocava em risco o plano de Raskólhnikov.

Então, chegou ao apartamento de Alíona Ivânovna. Bateu várias vezes na porta. Estava prestes a desistir, quando ouve alguém mexer no ferrolho. Já no capítulo sete vemos a cena mais importante da primeira parte e uma cena capital do livro, o assassinato de Alíona Ivânovna. Raskólhnikov diz que estava lá para penhorar mais um objeto, uma cigarreira de prata. Ele entrega o objeto para ela, todo embrulhado, dificultando o trabalho da velha de inspecionar o objeto, dando tempo para Raskólhnikov agir.

Agindo mecanicamente, quase sem pensar, Raskólhnikov desfez o nó que mantinha a machada no seu casaco e depois a golpeou enquanto ela estava ocupada com o embrulho, a matando instantaneamente. Depois, revistou o corpo, pegou as chaves e abriu as gavetas usando a chave que ele viu no outro dia que serviam no local onde ela guardava o dinheiro.

Porém, o plano não saiu totalmente como o esperado. Lisavieta apareceu, apesar de ter dito a outros no dia anterior que ficaria fora. Ela viu o que tinha acontecido, mas não gritou, só conseguiu emitir um gemido surdo. Raskólhnikov avançou contra Lisavieta e a matou também.

Outra coisa deu errado. Pessoas apareceram e tentaram entrar no apartamento da velha, que não estava trancado. Raskólhnikov perceberia que Lisavieta não tinha trancado a porta e fechou o trinco. As pessoas tentaram abrir, e notaram que estava fechada com o trinco, ou seja, por dentro. Essas pessoas ficaram preocupadas, mas Raskólhnikov teve sorte e eles saíram sem deixar alguém de guarda, permitindo que ele fugisse. Eles tinham ido procurar ajuda e quando entrassem no apartamento veriam os corpos de Alíona Ivânovna e Lisavieta.

De volta ao prédio onde mora, deixou a machada em seu lugar, felizmente sem ter nenhum problema para isso, e depois foi dormir, extremamente atormentado e doentio.

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