quarta-feira, 2 de julho de 2014

Revolta Holandesa (#2) - Causas da Revolta



Nesse vídeo, vou continuar falando sobre a Revolta Holandesa, agora tratando dos eventos que levaram à rebelião contra o Império Espanhol. A fonte de informação é o livro The Eighty Years' War (Illustrated) de George Edmundson e a gameplay do jogo Europa Universalis IV, com o cenário da Guerra dos Oitenta Anos, mas agora comandando a Espanha.

Filipe II, rei da Espanha e duque da Borgonha, já acumulava uma série de cargos antes de receber a soberania dos Países Baixos de Maximiliano I. Ele já era Rei de Nápoles e da Sicília, duque de Milão e rei-consorte da Inglaterra por meio do casamento com Maria Tudor.  Da Inglaterra, onde residia, Filipe II foi para os Países Baixos. Com pouco dinheiro, convocou os Estados-Gerais para um aumento de impostos, mas teve a sua proposta rejeitada. Filipe II não conhecia os costumes e os privilégios nos Países Baixos e sempre fez questão de se manter distante, apesar de fisicamente próximo.

Filipe II deixaria os Países Baixos, colocando a irmã por parte de pai Margarida como regente, mas essa seria uma regência nominal, já que Filipe decidiria tratar os Países Baixos como um território espanhol e que todas as decisões importantes deveriam passar por ele. Três conselhos auxiliariam Margarida, o mais importante deles o Conselho de Estado, que contava com Guilherme I, príncipe de Orange, personagem dos holandeses no Civilization V.

 Guilherme de Orange, apesar de ter relações boas com Filipe II, desconfiava do rei e suas intenções quanto à Holanda e a presença de tropas espanholas na Holanda. Foi um dos líderes da rejeição em 1559 do pedido de suprimentos por parte de Filipe II, exigindo que as tropas estrangeiras fossem removidas em troca. Junto com Lamoral, Conde de Egmont, pouco a pouco Guilherme passou a adotar uma posição de hostilidade contra a interferência espanhola, com a presença de tropas e a supressão agressiva da heresia. Os dois escreveriam para Filipe em 1561 para protestarem contra a situação e colocaram seus cargos a disposição. Margarida também pediria a retirada as tropas, mas nenhum dos dois pedidos foram aceitos. No fim, Orange e Egmont deixaram o conselho e Margarida ordenaria ela mesma a retirada das tropas.

Do lado oposto, estava o bispo de Arras (e depois, cardeal), Anthony Granvelle, primeiro-ministro da regente, que era a favor da criação de novos bispados e da repressão contra os protestantes. Filipe de Montmorency, conde de Hoorn, se juntaria a Orange e Egmont e os três buscariam derrubar Granvelle, encontrando amplo apoio entre os nobres para isso. Margarida queria tirá-lo do cargo, vendo que a sua posição estava enfraquecendo por isso, mas Filipe II não queria e Margarida dependia dele. Depois de muita pressão e até com o consentimento do próprio Granvelle, o primeiro-ministro seria deposto.

Orange, Egmont e Hoorn então passaram a lutar pelo fortalecimento do Conselho de Estado (do qual faziam parte), a reorganização das finanças e um abrandamento da luta contra a heresia. Em 1564, Filipe II ordenaria que se fizesse cumprir as disposições do Concílio de Trento, endurecendo a luta contra a heresia, o que foi recebido nos Países Baixos como uma violação dos privilégios das províncias.

Egmont foi à Espanha falar com Filipe II. Foi muito bem recebido, mas saiu de mãos vazias, com vagas promessas de que haveria uma reforma financeira, mas sem nada no sentido de abrandar a perseguição à heresia. Margarida tentou convencer Filipe II a ir aos Países Baixos para verificar a situação, mas não foi ouvida. A resposta foi o Compromisso, uma iniciativa de vários nobres denunciando a Inquisição e pedindo para que todos resistissem à sua instalação nos Países Baixos, ao mesmo tempo em que se declaravam fiéis seguidores do rei da Espanha. Os nobres entregariam o Compromisso dos Nobres à Margarida, pedindo para que ela intercedesse junto ao rei para abrandar a perseguição. Essa não foi uma ocasião tão amistosa e Margarida se sentiu intimidada pelos revoltosos. Em uma das reuniões com Margarida, um de seus conselheiros, Barlaymont, chamaria os nobres como mendigos, e a confederação de revoltosos acabaria adotando esse apelido no futuro e esse seria o começo de um movimento popular que chegaria em todas as classes. (7)

Cabe ressaltar que os nobres que apresentaram o Compromisso não eram obrigatoriamente desleais ao rei nem que eram protestantes, muitos sendo católicos que não concordavam com a perseguição religiosa. Porém, isso deu força ao movimento protestante, que já não fazia mais reuniões secretas nos Países Baixos, e sim em praça pública, juntando multidões para ouvi-los, deixando a regente Margarida em uma situação delicada.

O Compromisso foi enviado para o Rei da Espanha, que continuou não abrindo mão da Inquisição, e afagou Orange e Egmont, apelando para a fidelidade deles e pedindo que apoiassem a regente. Nos Países Baixos, foi procurada uma saída negociada conforme as pregações públicas atraiam mais e mais público. No fim, a regente concordou em conceder liberdade de culto, desde que os pregadores protestantes não portassem armas e não interferissem com os católicos, já que havia casos de ataques de calvinistas contra católicos.

E esses episódios incomodariam Filipe II, que ficou ainda mais determinado a prosseguir na repressão aos protestantes e até contra os nobres que exigiam o fim da perseguição. Os alvos principais não poderiam ser outros que não Orange, Egmont e Hoorn. Orange conclamaria os seus aliados a uma resistência armada contra os espanhóis, mas a maioria não ousou se insurgir contra o rei. Isso fez com que Orange procurasse formar uma liga com príncipes alemães para proteger os protestantes e abandonaria a fé católica para se tornar luterano.

Em 1567, Filipe II daria à Margarida tropas mercenárias para suprimir a heresia e ela não hesitou em utilizar, apesar do que prometeu para os confederados, que, satisfeitos com as promessas, dissolveram a liga. Fortalecida, Margarida exigiu dos nobres que a tinham pressionado a jurarem fidelidade ao rei da Espanha. Egmont aceitou. Hoorn rejeitou e se demitiu. Orange tentou o mesmo, mas Margarida rejeitou e pediu que ele conversasse com Egmont sobre isso. Orange tentou convencer Egmont sobre sua decisão ruim, mas não conseguiu persuadi-lo. Então, Orange se auto exilou em Dillenburg.

Filipe II enviaria o Duque de Alba para os Países Baixos para cuidar da luta contra os protestantes. Alba convenceria Hoorn e Egmont a encontra-lo, mas não seria uma ocasião amistosa, muito pelo contrário. Os dois seriam presos e documentos de seus secretários foram confiscados. Margarida, cuja autoridade foi reduzida a nada, convenceu Filipe II a aceitar a sua renúncia ao cargo de governadora dos Países Baixos, cargo que iria para Alba.

Com Alba no poder, aumentou brutalmente a repressão contra os protestantes. Ele estabeleceria o Concílio dos Problemas, que basicamente era composto por Alba fazendo julgamentos sumários. Havia dois juristas espanhóis e dois nobres que trabalharam para Margarida, incluindo Barlaymont, aquele que chamou os nobres que pressionaram Margarida de mendigos, além de cinco juristas dos Países Baixos, que não tinham direito a voto. Várias pessoas eram acusadas e julgadas sumariamente e suas propriedades confiscadas.

Orange foi convocado a se apresentar ao tribunal de Alba, mas ele recusou, dizendo que o tribunal não tinha jurisdição sobre ele. Seu filho, Felipe Guilherme, foi levado à Espanha como represália. No exílio, Orange passaria a reunir um exército para lutar pelos Países Baixos. Dinheiro era um problema, e ele conseguiu financiamento em Antuérpia, Holanda e Zeeland, o resto sendo doado por pessoas individualmente e com venda de bens de Orange. Orange ainda conseguiria o apoio de Hugenotes franceses. Ele tinha como aliado outros nobres revoltosos que conseguiram fugir, como Lewis de Nassau e Hoogstraeten.

Em 1568, o exército de Orange atacou os Países Baixos em três frentes, Nassau através de Friesland, Hoogstraeten pelo leste para entrar em Maastricht e Hugenotes e refugiados pelo sul em Artois. Apenas Lewis de Nassau teve mais sucesso contra as tropas de Alba. Ele conseguiu entrar em Groningen e seguiu até Heiligerlee, mas logo o próprio Alba comandaria um contra ataque e derrotou os revoltosos. Nassau fugiria se jogando no rio e nadando pela vida.

Por conta desses ataques, Alba acelerou o fim de Egmont e Hoorn, que estavam sendo mantidos presos em Ghent. As acusações eram examinadas pelos juristas espanhóis e os dois tentaram apelar pela clemência de Felipe II. O próprio Sacro Imperador Romano Maximiliano II intercedeu, mas não conseguiu evitar a execução dos dois por alta traição.

Apesar do insucesso militar inicial, a rebelião continuaria e Guilherme de Orange teria um papel mais importante na Guerra da Independência da Holanda. Mas isso é tema para outras ocasiões.

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