quarta-feira, 2 de julho de 2014

Revolta Holandesa (#1) - Eventos Anteriores



Vou falar agora sobre Holanda, Espanha e Bélgica em três vídeos sobre a Revolta Holandesa, ou Guerra da Independência da Holanda, ou Guerra dos Oitenta Anos, como preferir. Nesse vídeo, falo sobre o contexto da Revolta Holandesa, no próximo falo sobre o estopim da Revolta e no último vou sair da cronologia e explicarei como a cerveja possibilitou a vitória dos Países Baixos e criou a Bélgica. Não será possível falar sobre a Revolta Holandesa nesse projeto, mas fica para vídeos futuros, talvez. A fonte de informação é o livro The Eighty Years' War (Illustrated) de George Edmundson e a gameplay dos três vídeos sobre Revolta Holandesa será do jogo Europa Universalis IV.

A Holanda Burgúndia
A moderna Holanda tem origem no Ducado da Borgonha, uma região que incluía a parte oriental da França e parte da Holanda. Após a morte do último duque da casa dos Capetos, o ducado foi para a coroa francesa e o rei João II deu o ducado ao seu filho mais jovem, Filipe, o Destemido, Duque de Touraine, pelos seus préstimos na Guerra dos Cem Anos. O condado da Borgonha (também conhecido como Franco-Condado) não estava incluída nessa doação, mas os dois seriam unidos através de casamento e logo Filipe governaria sobre o Franco-Condado, mais Flandres, Artois e outras regiões.

Em 1433, haveria mais um passo para a unificação dos territórios nos Países Baixos por meio de outro Felipe, o Bom, que se tornou Conde da Holanda, Zeeland e Hainault através de forçar seu primo Jacoba a renunciar a esses domínios. Esse ano seria o marco didático para o começo do reinado dos Burgúndios sobre os Países Baixos. Felipe, o Bom, ainda herdaria os ducados de Brabant, Limburg e o marquesato da Antuérpia, além da compra de territórios como Luxemburgo. O sonho de Filipe, o Corajoso, de unificar as diversas províncias dos Países Baixos avançou com Felipe, o Bom. Com o tempo, começou a haver um senso de união política no que eram províncias separadas e uma centralização administrativa.

Apesar de haver essa centralização administrativa, o governo central respeitava, por conveniência política, a autonomia das províncias e os privilégios da nobreza local, porém, restringia essas decisões para nível local, possibilitando a participação das províncias em Assembleias dos Estados-Gerais convocada pelo duque. Os Estados-Gerais foram convocados primeiro em 1465 e a maioria das convocações era por questões financeiras e até o Sacro Imperador Romano, Carlos V, se valia dos Países Baixos para arrecadar tributos.

No período de Felipe, o Bom, os Países Baixos desfrutaram de uma prolongada prosperidade. Antuérpia era a principal cidade portuária, condição que só perderia para Amsterdã durante a Guerra dos Oitenta Anos. O Duque da Burgúndia era um dos governantes mais poderosos da Europa, mais do que muitos reis, apesar de não ter esse status.

Filipe foi sucedido por Carlos, o Temerário, que, como o apelido diz, era impulsivo e tinha um temperamento autocrático, mas também eram um bom organizador e bom soldado. Carlos procurou expandir o ducado e reprimiu com mão forte revoltas contra impostos. Carlos morreria em 1477 após um cerco frustrado a Nancy sob seu comando, deixando apenas uma filha, Maria, como herdeira. Na ausência de um herdeiro homem, o ducado retornou para o rei da França, Luís XI, inimigo da casa da Burgúndia, mas Maria reteve o condado da Borgonha.

Antes que Maria pudesse assumir, diversas partes dos Países Baixos Burgúndios foram para a França, algumas partes indo voluntariamente por conta do modo como foram tratados por Carlos. No dia 3 de fevereiro de 1477, quando Maria completaria 20 anos, representantes de províncias como Flandres e Holanda foram convocados nos Estados-Gerais e emparedaram Maria. No Grande Privilégio, assinado uma semana depois, foram reestabelecidos todos os direitos das províncias e um Grande Conselho passaria a auxiliar a administração do governo. Os Estados-Gerais não precisavam ser invocados pela soberana para serem reunidos e ganharam poderes. O poder nos Países Baixos voltou a ser descentralizado e desconcentrado. (7)

Esse arranjo deu estabilidade aos Países Baixos, mas agora tinha a questão de quem iria casar com Maria. O escolhido acabou sendo o Habsburgo Maximiliano da Áustria, filho do Sacro Imperador Romano. Eles se casariam em agosto de 1477, mas o casamento não duraria muito, Maria vindo a morrer em 1482. Ele se tornaria o regente do Ducado da Burgúndia, que foi herdado por seu filho de 4 anos. Porém, Maximiliano não teve grande aceitação e teve que lidar com diversas revoltas internas nos Países Baixos. Assinaria um tratado com a França, prometendo sua filha em casamento, e com isso focaria nas disputas internas.

Em 1486, Maximiliano seria eleito o Rei dos Romanos, ou Rei da Alemanha, que podemos dizer ser um cargo abaixo do Imperador do Sacro Império Romano, que era ocupado por seu pai, Frederico III. Com isso, Maximiliano deixaria os Países Baixos, mas voltaria para enfrentar diversas revoltas, até ser capturado em Bruge. Ele foi solto após prometer abdicar do cargo de regente em prol de um conselho de flamencos, retirar tropas dos Países Baixos e deixar reféns, entre eles Filipe de Cleef, que se tornaria um general de Flandres. Maximiliano tentaria se voltar contra Flandres, sem sucesso. Por fim, Maximiliano pediria para Duque Alberto da Saxônia, eleito governador da Holanda em 1488 e que lutou para libertar Maximiliano, para cuidar da revolta holandesa. Duque Alberto conseguiria enfrentar os revoltosos holandeses e em 1492 anunciou que os Países Baixos estavam pacificados em sua maior parte.

Em 1493, foi assinado o Tratado de Senlis, encerrando as hostilidades entre França e Países Baixos. No ano seguinte, Maximiliano I se tornaria Sacro Imperador Romano após a morte de seu pai e seu filho, Filipe, o Belo, se tornaria Duque da Burgúndia. Filipe se casaria com Joana de Castela, e aqui começaria a conexão entre Países Baixos e Espanha que resultaria na Guerra de Independência dos Países Baixos.

Em 1504, a rainha Isabel I de Castela morreu e Filipe e Joana se tornariam rei e rainha de Castela, Leão e Granada. Devido aos problemas mentais de Joana, Filipe seria o soberano de fato, mas viria a morrer em 1506. O governo da Holanda seria oferecido para Maximiliano I, que repassou para a filha, Margarida, até a maioridade do filho de Filipe e Joana, Carlos. Margarida governaria habilmente os Países Baixos com o auxílio de conselhos até 1515, quando Carlos atingiria a maioridade. Porém, em 1516, o rei Ferdinando de Aragão morreria e Carlos se tornaria rei de Castela e Aragão e tinha que deixar os Países Baixos. Antes, recolocaria a tia Margarida como governadora dos Países Baixos.

Em 1519, Maximiliano I, então Sacro Imperador Romano, morreu e Carlos se tornaria o novo imperador, virando Carlos V. Margarida morreria em 1530 e Carlos V elegeria a irmã dele, Maria, como nova governadora dos Países Baixos. Maria foi uma governadora hábil e livrou Carlos V de ter que se preocupar com os Países Baixos, podendo se focar em outras questões no Sacro Império Romano.

Em 1549, Carlos V editaria a Sanção Pragmática, na prática, unificando as dezessete províncias dos Países Baixos em uma única unidade administrativa, a soberania sobre cada uma das províncias sendo passada para os seus herdeiros, independente dos privilégios nas províncias, a começar por seu filho, Filipe.

Na economia, melhorias técnicas na conservação de alimentos possibilitaram o crescimento da Marinha Mercante Holandesa e de cidades portuárias como Amsterdã, o que seria vital nas revoltas futuras. Nos períodos de Margarida e Maria, as províncias Burgúndias eram os estados mais ricos da Europa. Na religião, o protestantismo se espalhava pelos Países Baixos, apesar de combatida pelo governo.

Em 1555, Carlos V abdicaria do governo das dezessete províncias dos Países Baixos em prol de seu filho que ficaria conhecido como Filipe II da Espanha. Apesar do combate da heresia e dos aumentos de impostos, Carlos V ainda era muito querido nos Países Baixos e foi um golpe para muitos a abdicação. Maria também abdicaria do cargo de governadora dos Países Baixos Habsburgos e Filipe II, que se tornaria rei da Espanha após Carlos V também abdicar desse título, iria trazer os Países Baixos sob controle espanhol.

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